Nas minhas andanças pelos blogs que mais me aprazem, encontrei este texto que publico com a devida autorização do seu autor. Talvez um dia me resolva a contar o que me resta na memória dos diversos cafés nos finais dos anos sessenta.
Até lá fiquem com a prosa de Francisco Seixas da Costa, a quem agradeço a disponibilidade.
Até lá fiquem com a prosa de Francisco Seixas da Costa, a quem agradeço a disponibilidade.
«O "Piolho" fez 100 anos e, pelo que sei, está de boa saúde, com muita gente nova a animar-lhe a sala e a esplanada. O "Piolho", ou melhor, o "Café Âncora d'Ouro", é uma bela instituição do Porto, estrategicamente situada junto aos Leões, ali à beira dos Clérigos, de Carlos Alberto e do início de Cedofeita.
É um local de profundas tradições culturais e académicas, que muito frequentei na segunda metade dos anos 60, do século passado. Por ali aportava então muita gente de esquerda, os sócios da cooperativa livreira Unicepe, os pró-associativos (não tínhamos ainda direito a associação académica), os estudantes das Faculdades de Ciências e de Economia, logo em frente, bem como os de Letras e Medicina, um pouco abaixo. E todo o Teatro Universitário do Porto, por onde andei, bebia por ali o seu café de saco. É que o "Piolho", durante muito tempo, não teve "cimbalino" (essa portuense expressão para o "expresso", derivada das máquinas italianas "La Cimbali", que já equipavam a modernidade dos cafés da cidade, a começar pelo "Montarroio" e a acabar na "Brasileira").
Para muitas gerações desaguadas da província para estudar no Porto, os cafés representavam um espaço de acolhimento, socialização e convívio. O "Piolho" era um expoente desse universo, que também tinha o "Aviz" (algo intelectual) e o "Ceuta" (em frente ao Rádio Clube Português, onde eu também "actuei"), como fóruns clássicos de conversa, o "Progresso" com o melhor café de saco do mundo (dizia-se que punham bacalhau salgado) mas com professores a mais, o "Estrela" com os seus belos bilhares no 1.º andar e o "Bissau" de Cedofeita, um oásis de serenidade onde se concentrava a gente de Engenharia e dos lares da Torrinha e Rosário. Para estudo, tínhamos o "Saban" e o "Diu" (sempre cheio de "pequenas" de Farmácia). Mais para namoro, havia o "Guarany" ao fim da tarde, o "Orfeu" na Rotunda, o "Pereira" no Marquês, ou os recatados e distantes "Bela Cruz" do Castelo do Queijo e o "Chalet" do Passeio Alegre. Na baixa, onde se parava em outras diferentes ocasiões (ao domingos, ao final da tarde, à espera do "Norte Desportivo"), ficavam os institucionais "Rialto", "Embaixador" ou "Imperial", com a estudantada menos presente. E também o "Astória", ali no passeio das Cardosas, que abria às 6 da manhã, meia hora depois de fechar a "Stadium". Curiosamente, o "Majestic" não tinha então o "glamour" turístico de hoje e, bem perto, na Batalha, já preponderava o "Chave d'Ouro", onde a gente nova não ia muito.
É um local de profundas tradições culturais e académicas, que muito frequentei na segunda metade dos anos 60, do século passado. Por ali aportava então muita gente de esquerda, os sócios da cooperativa livreira Unicepe, os pró-associativos (não tínhamos ainda direito a associação académica), os estudantes das Faculdades de Ciências e de Economia, logo em frente, bem como os de Letras e Medicina, um pouco abaixo. E todo o Teatro Universitário do Porto, por onde andei, bebia por ali o seu café de saco. É que o "Piolho", durante muito tempo, não teve "cimbalino" (essa portuense expressão para o "expresso", derivada das máquinas italianas "La Cimbali", que já equipavam a modernidade dos cafés da cidade, a começar pelo "Montarroio" e a acabar na "Brasileira").
Para muitas gerações desaguadas da província para estudar no Porto, os cafés representavam um espaço de acolhimento, socialização e convívio. O "Piolho" era um expoente desse universo, que também tinha o "Aviz" (algo intelectual) e o "Ceuta" (em frente ao Rádio Clube Português, onde eu também "actuei"), como fóruns clássicos de conversa, o "Progresso" com o melhor café de saco do mundo (dizia-se que punham bacalhau salgado) mas com professores a mais, o "Estrela" com os seus belos bilhares no 1.º andar e o "Bissau" de Cedofeita, um oásis de serenidade onde se concentrava a gente de Engenharia e dos lares da Torrinha e Rosário. Para estudo, tínhamos o "Saban" e o "Diu" (sempre cheio de "pequenas" de Farmácia). Mais para namoro, havia o "Guarany" ao fim da tarde, o "Orfeu" na Rotunda, o "Pereira" no Marquês, ou os recatados e distantes "Bela Cruz" do Castelo do Queijo e o "Chalet" do Passeio Alegre. Na baixa, onde se parava em outras diferentes ocasiões (ao domingos, ao final da tarde, à espera do "Norte Desportivo"), ficavam os institucionais "Rialto", "Embaixador" ou "Imperial", com a estudantada menos presente. E também o "Astória", ali no passeio das Cardosas, que abria às 6 da manhã, meia hora depois de fechar a "Stadium". Curiosamente, o "Majestic" não tinha então o "glamour" turístico de hoje e, bem perto, na Batalha, já preponderava o "Chave d'Ouro", onde a gente nova não ia muito.
Grande Porto!»
Francisco Seixas da Costa
Publicado em Duas ou Três Coisas
Olá!Gosto muito da cidade do Porto apesar de só aí ter vivido alguns meses.E onde é que eu costumava tomar café?!No Piolho!Só hoje ao ler o texto é que descobri o seu verdadeiro nome!Mas porque lhe chamam o Piolho?!!
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