31.10.14

Travessa da rua Formosa

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Formosa?

Às vezes até me pergunto o que pensarão os turistas que por aqui passam.



Montra antiga (2013)

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Situada na rua Formosa a Confeitaria Costa Moreira era reputada principalmente pelo seu fabrico (industrial) de marmelada.


30.10.14

Sinais do Modernismo no Porto - Anos 30

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Fui e gostei.
Não gostei muito que não fosse autorizado a fazer fotos no interior da Fundação e não gostei mesmo nada que me exigissem o nº do Bilhete de Identidade à entrada. Nunca me tinha acontecido tal coisa para ter acesso a uma exposição. O que irão eles fazer com a minha ficha?

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Sobre o pintor:

José Dominguez Alvarez

De ascendência galega, José Cândido Dominguez Alvarez nasceu na freguesia portuense de Campanhã, em 23 de Fevereiro 1906.

Fez os estudos liceais no Porto e em Pontevedra.

Em 1919 instalou-se na Galiza com o objectivo de fazer um curso para funcionário dos Correios e Telégrafos, mas voltou ao Porto, em 1920, sem o ter frequentado. Nesse ano ingressou no Colégio Almeida Garrett e, de seguida, por vontade do pai, foi trabalhar num armazém de tecidos.

Nos anos 20 colaborou na Revista Contemporânea. Em 1924 realizou os primeiros desenhos e aguarelas e, em 1926, com 20 anos, matriculou-se no curso Preparatório de Arquitectura da Escola de Belas Artes do Porto, que veio a trocar pelo de Pintura, em 1928.

Foi membro fundador do grupo "+ Além" que, em 1929, juntou no Porto diferentes artistas que se opunham às homenagens póstumas dedicadas ao mestre Marques de Oliveira. Nessa ocasião tornou-se um dos subscritores do manifesto "Em Defesa da Arte".

Em 1931 perdeu o ano por motivos de saúde e, parte do ano seguinte, passou-o na Galiza, a pintar.
Em 1934 produziu algumas das suas obras mais aclamadas, entre as quais o Homem da Cartola, Louco, Casario, Homem Compostelano ou Figura dum Sonho.
Durante esta fase criativa colaborou em várias publicações culturais e publicou, com regularidade, no periódico portuense Jornal de Notícias.

A sua única exposição individual foi realizada no Salão Silva Porto, em Junho de 1936. Em contrapartida, fez parte do elenco de algumas mostras colectivas. Integrou exposições de alunos do ESBAP (no Salão Silva Porto, em 1929, e, em 1931, no Ateneu Comercial do Porto), expôs com Artur Justino, do grupo "+ Além", no Salão Silva Porto, em 1930, participou na Grande Exposição dos Artistas Portugueses, em 1935, na V Exposição de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional, em 1939, e na Exposição Etnográfica do Douro Litoral no já desaparecido Palácio de Cristal do Porto, em 1940. Durante este ano interveio, também, na Missão Estética de Férias de Viana do Castelo.

Foi no meio de toda esta actividade criativa que concluiu o curso de Pintura, mais precisamente em 1940, tendo apresentado o trabalho Paisagem com Animais, com o qual obteve a classificação de 20 valores. Entretanto, durante a licenciatura, recebeu alguns prémios e elogios de diversos professores, tais como Aarão de Lacerda e Dórdio Gomes.

Entre 1940 e 1942 foi bolseiro do Instituto de Alta Cultura. Nesse período pintava essencialmente paisagens e foi nomeado professor da Escola Industrial Infante D. Henrique, no Porto.

A saúde frágil traiu-o a 16 de Abril de 1942, dia em que faleceu, vítima de tuberculose.

A título póstumo, a sua obra foi objecto de várias exposições. No ano da sua morte, o Instituto da Alta Cultura realizou no Salão Silva Porto uma exposição retrospectiva, organizada pelos pintores Dórdio Gomes e Guilherme Camarinha, depois repetida em Lisboa, em 1943, na Sociedade Nacional de Belas Artes – a essa exposição seguiram-se uma exposição no Ateneu Comercial do Porto, organizada por Fernando Lanhas, Alberto de Serpa e João Menéres Campos, em 1951; uma exposição na Academia Dominguez Alvarez (galeria inaugurada em 1954, no Porto, por Jaime Isidoro e António Sampaio), em 1958; uma exposição intitulada Dominguez Alvarez na Colecção de Adolfo Casais Monteiro, a qual teve lugar na Galeria Gravura, em Lisboa, em 1963; uma retrospectiva de Alvarez exibida na Casa de Serralves, no Porto, e, mais tarde, na Secretaria de Estado da Cultura, em Lisboa (1987); uma homenagem na Bienal Internacional de Cerveira, em 1997; uma exposição em sua memória na Galeria de Vilar, da responsabilidade da Cooperativa Árvore, no Verão de 2002; e uma exposição denominada "Dominguez Alvarez 770, Rua da Vigorosa, Porto", montada no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2006, no centenário do nascimento do artista.

Apesar da sua breve carreira, a qual foi praticamente coincidente com a sua formação académica e interrompida por diversas viagens a Espanha e por consecutivos períodos de doença, Dominguez Alvarez deixou centenas de obras.

Ao contrário de muitos dos seus colegas, não estudou fora do país. Pintou o Porto e as localidades dos seus antepassados, motivos que dominaram os seus horizontes de inspiração. Este "pintor oriundo de Pontevedra, residente no Porto", como se auto intitulava, foi, também, um estudioso, especialista em pintura espanhola (Zuloaga, Dario de Regoios e Gutierrez Solana), e um promotor das relações artísticas entre Portugal e a Galiza (permuta de livros e revistas entre escritores e artistas dos dois países), tendo chegado, inclusivamente, a tentar organizar no Porto, durante o Outono de 1935, uma exposição de arte galega que integraria a "Semana da Cultura Galega", projecto este que, no entanto, não se concretizou.

Construtor de paisagens rurais e urbanas que partem do natural, visitadas pelo artista durante as viagens que fez pela Península Ibérica (Porto, Minho, Galiza e Castela), representou cenas do dia-a-dia com homens a negro e torcidos, figuras à chuva, retratos de figuras com paisagens em fundo e torres de catedrais espanholas, como a de Segóvia e a de Compostela, utilizando uma linguagem expressionista e surrealista que revela um bom domínio dos materiais e das soluções plásticas.

Esta figura do "segundo modernismo português" está representada no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian com 39 obras (pinturas e desenhos), em Lisboa, no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, na Casa-museu de José Régio, em Vila do Conde, no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante, e no Museu do Abade de Baçal, em Bragança. 


(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2010)



Para saber mais sobre a obra e o artista pode também ler o blogue de Alexandre Pomar.


Rua Cidália Meireles (2013)

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Pode comparar com o que já foi publicado aqui.



29.10.14

Insólito 2006

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Estação de S. Bento. 




Rua Barão de S. Cosme

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João Nepomuceno de Macedo   

Barão de São Cosme 

Comendador das ordens de Avis e da Torre e Espada; brigadeiro do exército, condecorado com as medalhas da Guerra Peninsular, e com a Estrela de Ouro do Rio da Prata; inspector-geral de cavalaria, etc. 

N. a 15 de Maio de 1793, fal. a 28 de Agosto de 1837. Era filho de António Eliseu Raimundo de Macedo, e de D. Teresa Faustina Calhamar.

Alistando-se no exército tomou parte na Guerra Peninsular, no regimento de cavalaria, onde tinha o posto de tenente quando acabou a guerra. Oferecendo-se para entrar na divisão de Voluntários do Príncipe, que se organizou em 1815 com destino a Montevideu, foi promovido a capitão para o primeiro corpo do cavalaria dessa expedição, e em Novembro do mesmo ano embarcou para o Rio de Janeiro. Desta cidade seguiu à ilha de Santa Catarina, e dali por terra para Montevideu fazendo parte da coluna da vanguarda que, sob o cominando do general Sebastião Pinto de Araújo Correia, foi como era natural, a primeira a entrar em fogo com os insurgentes daquela província. No combate da Índia Morta a 19 de Novembro de 1816, sendo gravemente ferido o primeiro comandante dos dois esquadrões que entraram na acção, e morto o major Duarte de Mesquita, recaiu o comando no capitão Macedo, que carregou o inimigo com grande bravura e intrepidez, merecendo por isso ser graduado no posto de major. Investido logo em seguida do comando dessa força de cavalaria, conservou o até ao dia 1.º de Dezembro de 1817 em que se desmembrou a coluna da vanguarda, e sendo a 22 de Janeiro de 1818 promovido a major efectivo, foi nomeado em Junho comandante do 1.° regimento de cavalaria da divisão portuguesa. Pela forma notável como se houve em todos estes serviços, foi repetidas vezes elogiado pelos seus chefes, e tendo assistido, além de muitos outros combates, às acções de Passo do Coelho e de Passo de Areias, deu as mais decididas provas de lealdade e bravura nas difíceis circunstancias em que esteve durante os anos de 1822 e 1823 a posição de Montevideu, entrando em todos os combates que se travaram contra as forças dissidentes do Brasil e sustentando com a maior intrepidez e estratégia a posição de Casavalle, que defendeu brilhantemente com uma coluna móvel, cuja direcção lhe foi entregue. Regressando a Portugal também se distinguiu na campanha da Liberdade, devendo-se-lhe um dos mais arrojados feitos na luta travada nas linhas do Porto. Na manhã de 29 de Setembro de 1832 os miguelistas deram um grande ataque à cidade, e uma das colunas vindas de Campanhã, não só se assenhoreou das cortaduras exteriores da quinta do Prado, mas conseguiu até alcançar as paliçadas que os seus sapadores pretenderam derrubar. O combate continuou sempre com vantagem para as tropas de D. Miguel e os sitiantes tomando uma barreira que estava colocada na estrada de S. Cosme, penetraram segunda vez nas trincheiras ganhando o princípio da rua do Prado. O momento era extremamente crítico e o perigo enorme quando João Nepomuceno de Macedo, então coronel graduado e comandante do corpo de guias, sem atender ao risco que corria e pensando unicamente em salvar a causa da Liberdade, carregou impetuosamente o inimigo à frente dos 25 homens que tinha consigo no largo do Bonfim. Diante desse punhado de bravos, os miguelistas recuaram, os constitucionais recuperaram ânimo, e o Porto era salvo pelo heroísmo do destemido coronel. O homem que tantas vezes arrostara as balas e que por elas havia sido poupado, caiu mortalmente ferido na pequena acção do Chão da Feira em 1837, quando à frente da cavalaria cartista carregava o batalhão de caçadores que fazia parte das forças do barão de Bonfim. O valente militar foi agraciado com o título de barão de S. Cosme, por decreto de 12 de Outubro de 1835. 

Era casado com D. Josefa Castanheda de Moura, filha de D. Romão Ximenes Castanheda e de D. Francisca de Moura. Deste consórcio houve, entre outros filhos, João Nepomuceno de Macedo, que nasceu em 1825, e foi deputado nas legislaturas de 1861 a 1864. Uma sua filha, chamada D. Josefa Henriqueta Girão de Macedo, foi quem herdou o título de seu avô, sendo a segunda baronesa de S. Cosme, por decreto de 24 de Outubro de 1878. Esta senhora casou a 28 de Agosto de 1889, na Chamusca, com D. António de Portugal. 






28.10.14

Cemitério da Lapa

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O Cemitério da Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa (V.I.N.S.L.) encontra-se desde 2011 concessionado a uma agência funerária e é um dos três cemitérios privados da cidade.



Se desejar saber algo mais sobre a Ordem da Lapa pode ver mais aqui. 


Rua Visconde de Bóbeda

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Quem foi o Visconde de Bóbeda?

« Joaquim de Sousa Quevedo Pizarro, nasceu em Novembro de 1777 e faleceu em 23de Abril de 1838. Foi fidalgo cavaleiro da Casa Real por sucessão (alvará de 10.12.1792). Alistou se como cadete no regimento de Cavalaria de Chaves, em 27.2.1791, de onde passou a servir no corpo da Armada. Concluiu estudos matemáticos na Real Academia de Marinha. Foi promovido a guarda marinha em 24.11.1794, a 2.° tenente em 7.9.1796, a 1.° tenente em 27.7.1799, a capitão tenente em 27.7.1813 e, por distinção, foi promovido a capitão de fragata graduado, em 17.10.1817. Participou na campanha do Mediterrâneo e na expedição a Tripoli, sendo louvado pela sua boa prestação. Em 1816 acompanhou no Brasil, do Rio de Janeiro para Santa Catarina, a divisão de Voluntários reais de el rei. Dali seguiu para Montevideu, onde foi encarregado do Comando da Marinha, da Capitania do Porto e da Inspecção do Arsenal Real, até Abril de 1818. Em 27 de Agosto transitou para o exército com o posto de tenente coronel. Logo depois foi graduado em coronel adido ao Estado Maior do Exército do Brasil. Em Junho de 1822, por parecer do Conselho de Estado, passou para o governo das Armas da província do Espírito Santo. Desempenhou ainda o cargo de ajudante de ordens do capitão general do Maranhão, General Bernardo da Silveira. Foi promovido a coronel efectivo, em 5.11.1818. Finalmente foi reformado, em 18.6.1827 com o posto de Brigadeiro. Encontrava-se, em 1828, como governador da Praça de Chaves, quando se deu a revolta do Porto. Avançou, então, com dois esquadrões de Cavalaria e apresentou se à Junta do Porto que o nomeou 2.° comandante da chamada Divisão Volante. Participou nos combates da Cruz de Morouços e do Vouga. Em 2 de Julho assumiu o comando da Leal Divisão do Porto que conduziu à Galiza, depois de bater em Braga as tropas realistas, que sob o comando do coronel Raimundo José Pinheiro tentavam impedir a sua passagem. Da Galiza passou à Inglaterra e em 1829 participou na expedição que se dirigiu aos Açores, sob o comando do General Saldanha. Como essa expedição não pôde acostar na Terceira, devido à oposição dos navios ingleses, seguiu para França e ancorou no porto de Brest. Só em 1831 conseguiu chegar aos Açores. Em 2.7.1831 foi nomeado ministro da Guerra, Marinha e Estrangeiros da Regência. Veio a ser exonerado desse cargo em 3.3.1832. Participou no contigente de tropas que desembarcou no Mindelo, em 5.8.1832 e regressou ao activo, com a sua nomeação para governador das Armas da Província de Trás-os-Montes, funções que desempenhou até 27.5.1834. Em 1.7.1837 voltou a ser nomeado ministro da Guerra e interino da Marinha e do Ultramar. Foi durante esse período que foi promovido a marechal de campo. Recebeu as mais importantes condecorações e louvores. Morreu solteiro, mas legitimou uma filha: D. Constança de Sousa. O título foi lhe concedido por Decreto de 28.9.1835 e Carta de 9.2.1837 de D. Maria II. »




É nesta rua que se encontra a Contrastaria do Porto. Para saber mais sobre o que é e para que serve este serviço da Casa da Moeda pode consultar: https://www.incm.pt/portal/uco_atividade.jsp




27.10.14

26.10.14

Street-Art no Beco Passos Manuel

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Que o leitor não se preocupe, eu não estava à procura do Estúdio 111. Estava sim a procurar novas imagens de sítios centrais onde ninguém passa durante o dia.

A arte pública é efémera, os graffs ainda mais.


22.10.14

Rua Aristides de Sousa Mendes

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Nota biográfica do antigo Cônsul de Portugal em Bordéus (1940):

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu a 19 de Julho de 1885, em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), localidade situada a cerca de 30km a sul de Viseu. Pertencia a uma família aristocrática e católica da Beira-Alta. O pai, José de Sousa Mendes, terminou a carreira de juiz no Tribunal da Relação de Coimbra. A mãe, Maria Angelina do Amaral e Abranches, também da região, descendia da “Casa de Midões”, uma Casa com tradições “Liberais”.  Aristides de Sousa Mendes tinha um irmão gémeo, César, e um irmão mais novo, José Paulo.

Aristides cursou Direito na Universidade de Coimbra, juntamente com seu irmão César, tendo sido um dos seis melhores estudantes do seu curso. Depois de se licenciar, em 1907, com 22 anos, fez o estágio de advocacia, tendo defendido alguns casos no início da sua carreira.

Em 1910, ainda durante a monarquia, Aristides e César ingressaram na Carreira Diplomática. Aristides exerceu funções como Cônsul de
Carreira na Guiana Britânica, em Zanzibar, no Brasil (Curitiba e Porto Alegre), nos Estados Unidos, (San Francisco e Boston), em Espanha (Vigo), no Luxemburgo, na Bélgica  e, finalmente, em França (Bordéus).

Casado com sua prima direita Maria Angelina, em 18 de Fevereiro de 1909, a família de Aristides de Sousa Mendes foi crescendo a par da sua carreira diplomática. Assim, quatro dos seus filhos nasceram em Zanzibar, dois no Brasil, dois nos Estados Unidos, um em Espanha, dois na Bélgica e três, perfazendo o total de 14, em Portugal. Valorizando a presença da família, Aristides de Sousa Mendes optou por nunca dela se separar, assegurando a educação dos seus filhos, em todos os países por onde passou. Assim, para além da educação académica, todos tiveram acesso a aulas de pintura, desenho e música. “Lá em casa, havia uma verdadeira orquestra de câmara e, regularmente, convidavam-se pessoas para assistir a concertos. Tocava-se Chopin, Mozart, Bach, Beethoven, etc", disse um dos filhos.

Detentor de uma grande cultura geral, era uma pessoa com muita delicadeza e “savoir-faire”. Facilmente fazia amigos. Em Zanzibar, por exemplo, o Sultão foi padrinho de dois dos seus filhos. O Rei Leopoldo da Bélgica terá dito uma vez em público: “ah, voilà mon ami, le Consul Général du Portugal!” Durante os 9 anos em que viveu na Bélgica, Aristides de Sousa Mendes conviveu com o dramaturgo Maeterlinck, Prémio Nobel da Literatura, assim como com Albert Einstein, que “lá foi a casa”, em 1935, quando deixou a Alemanha.

A 23 de Junho de 1940, Salazar determina o seu afastamento do cargo, e envia o Embaixador Teotónio Pereira. Em Portugal, Sousa Mendes solicita, em vão, uma audiência a Oliveira Salazar, mas este Salazar determina, a 4 de Julho, a abertura de um processo disciplinar ao diplomata que é instaurado a 1 de Agosto de 1940.

Como consequência, Aristides de Sousa Mendes é afastado da Carreira Diplomática e afastado de qualquer actividade profissional, sendo ostracizado pelos seus pares, familiares e amigos. Os filhos, perseguidos e não podendo encontrar trabalho em Portugal, são obrigados a emigrar.

Dois deles, logo em 1943, juntam-se ao exército americano e até participam na invasão da Normandia a 6 de Junho de 1944.

A 4 de Julho de 1940, Salazar ordena a abertura de um processo disciplinar contra Aristides de Sousa Mendes.

O processo é instruído por Francisco de Paula Brito Júnior a partir de 19 de Agosto

A 30 de Outubro Salazar condena-o a «um ano de inactividade, com direito a metade do vencimento, devendo em seguida ser aposentado». No entanto, esta determinação não é cumprida, sendo Sousa Mendes pura e simplesmente expulso da carreira, sem passar à situação de aposentação. Fica interdito até de trabalhar como advogado.

Elabora a sua própria defesa, argumentando que agiu em defesa dos valores éticos e humanitários e solicita por diversas vezes uma audiência a Salazar, que nunca o recebe e se mantem implacável na sua decisão.

Entre 1940 e 1954, Aristides entra num processo de “decadência”, perdendo, mesmo, a titularidade do seu gesto salvador pois, Salazar apropria-se desse acto. Através da propaganda do Estado Novo, os jornais do regime louvam Salazar: “Portugal sempre foi um país cristão” é o título de um Editorial do Diário de Notícias do mês de Agosto de 1940, em que Salazar é louvado por ter salvo refugiados no Sul de França. Até Teotónio Pereira, reclama, nas suas “Memórias”, a acção de Aristides de Sousa Mendes como sendo de sua autoria! O cônsul morre a 3 de Abril de 1954.

Pode continuar a leitura na página de Fundação Aristides de Sousa Mendes.



19.10.14

Jaime Inácio dos Santos

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Foi preciso eu ter passado pelo Museu de Arte Nova de Aveiro para descobrir este ilustre cidadão nascido em Miragaia. Eu aqui tão perto nunca tinha ouvido falar nele.



Jaime Inácio dos Santos em algumas palavras:

Nasceu na Freguesia de Miragaia no Porto em 1874. Frequentou a Escola de Belas Artes do Porto, casou em Aveiro com Dª Teresa Cunha dos Santos.
Como arquitecto, são conhecidos trabalhos seus em Coimbra, Lisboa, Cúria, Mealhada e Aveiro.

   Integrou o executivo aveirense, e cumpriu várias tarefas na Administração Pública.

   -1905 – (?) fez o projecto de um chalet da Cúria.
   -1906 – (?) fez a remodelação interna dos Paços do Concelho de Aveiro
  -1908-1918 projectou o palacete de João Augusto de Morais Machado, em Aveiro.
   -1908-1909 realizou “seis casas” de Arte Nova para Alfredo Esteves.
   -1908-1911 riscou a casa da Mealhada, actualmente do Dr. Seabra de Bastos.
   -1921-1927 projecto para Manuel F. da Rocha Leitão.
   -1915-1917 desenhou o mausoléu da família de Domingos dos Santos Leite.
   -1923 terminou a fachada neo-manuelina do Café-Restaurante Santa Cruz em Coimbra.
   

   Faleceu com 68 anos, em 1942.


E mais um pouco:

«Jaime Inácio dos Santos - Arquiteto hábil e figura cimeira do movimento artístico Arte Nova, em Portugal, que nasceu em 1874 e faleceu em 1942. 

Este conceituado profissional, que fez parte da elite cultural da vida aveirense, foi aluno da Escola de Belas Artes no Porto, e exerceu extraordinárias funções na Direcção das Obras Públicas, nomeadamente presidindo às comissões de inspecção aos prédios urbanos do distrito e exercendo funções de fiscal, em obras promovidas pelo erário público ou municipal como ao Asilo-Escola e ao novo Hospital da Misericórdia. Foi, enquanto arquitecto chefe, na secção de obras da Câmara Municipal de Aveiro, responsável por muitas das autorizações de construção civil na década de 30 do século XX e ainda membro do executivo. 

Individualidade muito viajada e de raras capacidades, devemos-lhe obras de gramática Arte Nova e de carácter ecléctico como a planta da casa nº. 13, na Rua Eça de Queirós, datada de 1908, e a do edifício da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, nº. 158 a 162, datado de 1923.

No Arquivo Municipal de Aveiro constam várias plantas assinadas pelo seu punho, umas desvelando soluções de compromisso com as correntes estéticas de feição académica, outras de maior autonomia na confecção arquitectónica. 

Como arquiteto são ainda conhecidos trabalhos em Coimbra, Lisboa, Curia / Mogofores e Mealhada.»

in: http://www.cm-aveiro.pt/www/output_efile.aspx?id_file=29449&id_object=35897



18.10.14

Travessa Coronel Pacheco

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Sobre o CORONEL PACHECO: Em Setembro de 1833, para as bandas da Areosa travou-se um violento combate entre miguelistas e o Regimento de Infantaria nº 10 que era comandado pelo Coronel José Joaquim Pacheco que foi ferido. Faleceu dois dias depois na Quinta do Mirante onde o seu Regimento estava aquartelado. O seu nome foi dado ao antigo Largo do Mirante, como também à Travessa do Mirante hoje Rua do Mirante e à então Rua do Mirante que agora se chama Rua do General Silveira (Conde de Amarante, depois Marquês de Chaves). 

in http://ruasdoporto.blogspot.pt/2007/11/praa-coronel-pacheco.html


15.10.14

Manuel Pinto de Azevedo e o Primeiro de Janeiro (OBRIGADO, MANUEL PINTO DE AZEVEDO)


Ontem quando publicava o artigo sobre a rua Manuel Pinto de Azevedo (pai) lembrei-me que o Onofre Varela possuia um texto sobre a sua chegada ao jornal "O Primeiro de Janeiro".

Na verdade que o recebeu não foi este mas o seu filho.

Desde já agradeço ao Onofre o facto de me ter disponibilizado o texto e o desenho que o acompanha.


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OBRIGADO, MANUEL PINTO DE AZEVEDO

Publicar desenhos no jornal O Primeiro de Janeiro  (PJ) era coisa
impensável para mim. Um jornal tão sério, com tão ilustres
colaboradores, feito e lido por pessoas tão importantes, não teria,
seguramente, um lugar para alguém tão insignificante como eu. Por isso
decidi oferecer os meus serviços a O Comércio do Porto e ao Jornal de
Notícias, jornais que considerava mais populares.
De ambos, porém, obtive resposta negativa.
Estavamos em 1964.

A vontade de fazer desenhos para um jornal tomara conta de mim, e no
Porto sobrava O Primeiro de Janeiro para tentar essa sorte.
Esperei quatro anos! Três deles cumprindo o serviço militar e o outro
ganhando forças e coragem para vencer a timidez que me atava,
impedindo-me de lhes ir bater à porta.

Por fim escrevi ao director do PJ, e à carta juntei alguns desenhos.
A resposta não foi demorada. Trouxe-ma o carteiro: "Passe por cá para
conversarmos". e assinava-a o senhor Daniel Constant.
Foi um dia feliz! o Jornal Grande, onde eu não antevia lugar de
colaborador, aceitava conversar comigo com vista a uma possível
colaboração como ilustrador!

O pior para mim foi passar por lá!...
E a ideia de ter de conversar... queimava-me as entranhas!
Deixei passar o tempo com o peso medonho do contacto pessoal a
atormentar-me os dias.
Passava em Santa Catarina e ficava parado à porta do jornal a olhar o
átrio amplo e marmóreo. E as montras. Aquelas montras onde tantas
vezes admirei as decorações desenhadas pelo mestre Júlio Resende... e
os bonecos do Matulinho!

O PJ tem grande responsabilidade no meu gosto pelo desenho.
Em miúdo passei horas a copiar o Reizinho e toda a sua corte de
personagens, e o D. Lucas e a Dona Periliquitetes! E os retratos de
Allan Lad, Toni Curtis. Gina Lollobrígida, Errol Flyn... e tantas
outras estrela de Hollywood com fotografia publicada a cores nas
páginas de Teatro e Cinema.

Foi essa intimidade de longos anos com O Primeiro de Janeiro que me
empurrou escada acima.
O imenso vitral e o relevo do alto das paredes esmagavam-me.
O coração queria saltar do peito.
Um austero porteiro de farda cinzenta, em secretária de estilo,
indicou-me uns assentos de couro duro em corredor cinzento. Esperei.
O austero porteiro, vim a conhecê-lo depois, era o senhor Dias; um
bondoso homem.

Fui atendido pelo senhor Daniel Constant que se lembrava de me ter
escrito e estranhou a minha demora em comparecer. Bom conversador,
envolveu-me em intensas palavras e no aroma agradável do seu charuto.

Depois fez-me entrar no gabinete do director: uma imensa sala com
altos reposteiros e maples de couro semi-ocultos por montes de jornais
e revistas.
Sobre uma das pilhas, um televisor permanecia em difícil equilíbrio.

O senhor Manuel Pinto de Azevedo atendeu-me cordialmente.
Agradou-me aquele rosto sereno que me falava com um sorriso e onde eu
encontrava impressionantes semelhanças com Walt Disney!

O que aconteceu depois não me parecia ser real: Manuel Pinto de
Azevedo aceitou a minha colaboração de ilustrador, e ali mesmo me
encomendou uma série de desenhos humorísticos para publicação diária
nas páginas de férias cuja data de saída se avizinhava.
Depois endossou-me para o senhor Adalberto Sampaio, artista gráfico e
colaborador permanente do jornal, que me disse das condições técnicas
em que devia apresentar os desenhos.

Foi o abrir da porta grande por onde entrei no mundo fascinante do jornalismo.
Da camaradagem que n'O Primeiro de Janeiro encontrei, guardo as
melhores recordações.
As ilusões, os desenganos e as oportunidades que vieram depois povoar
o meu percurso profissional, são elementos de outras histórias. Nesta,
apenas cabe o abrir do portão dourado do castelo da comunicação
social, pelas mãos desse mago cuja memória me merece a mais profunda
gratidão.
Obrigado, Manuel Pinto de Azevedo.

Onofre Varela

(Texto e ilustração inseridos no catálogo da exposição "Onofre Varela,
25 anos de Cartoon e Ilustração de Imprensa. Coliseu do Porto, Salão
Jardim. Janeiro de 1994")


Do mesmo autor encontrarão também aqui no blogue "A Casa da Rata do CICA".

14.10.14

Rua Manuel Pinto de Azevedo

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Breve nota biográfica

«Natural do Porto, freguesia do Bonfim, onde nasceu em 27 de Abril de 1874 e onde veio a falecer, em 17 de Fevereiro de 1959.
Após ter frequentado a Escola Técnica de Faria Guimarães, no Porto, onde se matriculou no ano de 1891, iniciou a sua actividade profissional como operário da indústria têxtil, um sector em franca expansão na Cidade Invicta, nos finais do século XIX. O seu espírito de iniciativa, aliado a uma assinalável competência técnica, possibilitaram-lhe uma rápida afirmação profissional, de tal modo que ainda antes de completar 30 anos de idade já tinha ascendido ao cargo de Director da Fábrica de Tecidos do Bonfim. A experiência e os conhecimentos aí adquiridos irão ser-lhe de grande utilidade para os projectos e empreendimentos que irá concretizar nos anos seguintes. De facto, volvidos apenas alguns anos, Manuel Pinto de Azevedo era já um industrial de renome, desdobrando-se em múltiplas iniciativas, em seu nome próprio ou associado com outros industriais e capitalistas, fundando novas fábricas e adquirindo outras, ampliando-as e renovando os seus equipamentos, afirmando-se cada vez mais como um dos principais empresários do país no sector da indústria têxtil algodoeira.
Ao mesmo tempo que consolida e desenvolve a Fábrica de Tecidos do Bonfim – dotando-a, em 1914, de uma tinturaria – Manuel Pinto de Azevedo inicia a constituição de um verdadeiro império industrial, com sucessivas aquisições de fábricas têxteis, algumas delas de grande importância no panorama económico nacional. É o caso da Fábrica de Fiação e Tecidos de Soure, por ele arrendada em Outubro de 1917, a qual vem a adquirir em 1924, em associação com o empresário Manuel Alves Soares (1879-1941), seu parceiro em múltiplos negócios. A partir de então, e durante uma década, a estratégia de Manuel Pinto de Azevedo será a de criar um forte grupo industrial no sector têxtil algodoeiro adquirindo, sucessivamente, algumas das mais importantes unidades daquele ramo que então laboravam no Porto e nos concelhos limítrofes.
Actuando, em regra, através de sociedades formadas com outros industriais, Manuel Pinto de Azevedo vai constituindo, em apenas uma década, um autêntico império industrial. Uma das primeiras unidades então adquiridas será, em 1920, a Fábrica de Fiação de Tecidos da Areosa, no Porto, um importante estabelecimento industrial que tinha sido fundado em 1907 por Pantaleão C. R. Dias e Lobão Ferreira. Seguidamente, adquire em 1922 aquela que virá a ser a mais importante fábrica do seu empório industrial, a Empresa Fabril do Norte, na Senhora da Hora, Matosinhos, a conhecida fábrica de carrinhos e linhas de algodão, que tinha sido fundada em 1905 por Delfim Pereira da Costa (1862-1935). Manuel Pinto de Azevedo irá renovar e ampliar esta fábrica de uma forma notável, sendo de destacar a introdução de um importante conjunto de equipamentos sociais para os seus operários. O passo seguinte passará pela aquisição, em 1928, de duas outras unidades têxteis, a Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde e a Fábrica de Tecidos Aliança, em Rio Tinto, completando assim uma primeira fase de uma estratégia marcada pela sua afirmação no sector têxtil algodoeiro.
Uma parte considerável da produção destas unidades têxteis – composta por tecidos leves destinados a serem estampados com cores garridas – estava orientada para o abastecimento dos mercados coloniais. Tal orientação correspondia à segunda parte da estratégia que Manuel Pinto de Azevedo tinha estabelecido para o sector têxtil, cujos contornos se tornam claros em 1924 com a constituição do Entreposto Comercial e Industrial do Norte – onde, precisamente com esse objectivo, reuniu as suas empresas fabris -, complementada em 1933 com a constituição de duas sociedade distribuidoras, em cada uma das principais colónias africanas.
Efectivamente, a fim de aí desenvolver o consumo de tecidos de algodão instalou, nos principais distritos de Moçambique e de Angola, estabelecimentos para a venda e a propaganda dos seus produtos: a “União Industrial Algodoeira, Lda”, para o mercado moçambicano, e a “A Algodeira Colonial, Lda”, a sua congénere em Angola, onde possuía vastas plantações de algodão, nomeadamente no distrito de Quanza Sul. Na década de cinquenta, juntamente com outros industriais, criou a Sociedade Algodoeira de Portugal, com o objectivo de fomentar a indústria têxtil nas colónias de África.
Manuel Pinto de Azevedo não limitou a sua actividade empresarial exclusivamente ao sector têxtil algodoeiro. Ainda no domínio da indústria, interessou-se pelo sector conserveiro, fundando em 1929 a Continental Sociedade de Conservas, em Matosinhos, investindo, mais tarde, na Companhia Portuguesa do Cobre, com fábrica no Porto, assim como na importante firma portuense “António Maria Tavares, Júnior, Lda”, e na “Sociedade Corticeira Robinson Bros., Lda”, de Portalegre.
Particularmente importante foi a sua actuação no sector da imprensa, nomeadamente nas empresas dos jornais “O Norte” e “Jornal de Notícias”. Mas, foi na empresa do jornal “O Primeiro de Janeiro” – da qual, em Abril de 1923, tinha passado a ser o maior accionista e onde exerceu a presidência do seu Conselho de Administração, até à sua morte, em 1959 – onde a sua intervenção neste domínio se revelou particularmente notável. Introduzindo importantes transformações e melhoramentos, tanto na componente gráfica como redactorial, o jornal veio a afirmar-se como um dos mais bem elaborados no panorama da imprensa diária nacional, posição que manteve durante décadas.
Os seus interesses voltaram-se ainda para o investimento na vinicultura, na grande exploração agrícola, nos sectores eléctrico (União Eléctrica Portuguesa), bancário (Banco Borges & Irmão), de seguros (A Mutual do Norte) e ainda no sector da saúde, através da Clínica Heliântia.
Desenvolveu também uma activa intervenção em vários domínios da vida pública da cidade do Porto. Republicano desde a sua juventude, integrou a primeira vereação da Câmara Municipal da Cidade Invicta, eleita logo após a queda da monarquia, mantendo-se na municipalidade até 1917. Nos anos do primeiro conflito europeu organizou, por delegação da autarquia, os serviços de abastecimento da cidade, evitando que o acesso aos mesmos só pudesse ser efectuado através do mercado negro. Voltou a ser eleito vereador em 1919, cargo que desempenhou até Outubro de 1921, ano em que se afastou voluntariamente, abandonando toda a actividade política. Contudo, a sua acção ao serviço da causa pública prosseguiu, vindo a desempenhar durante doze anos, a partir de 1926, o cargo de Mesário da Santa Casa da Misericórdia daquela cidade, sendo reeleito para um novo período, entre 1941 e 1945. Nessa qualidade, assumiu a administração do Hospital-Sanatório Rodrigues Semide, ao qual facultou inúmeros benefícios e melhoramentos, procedimento que exerceu, igualmente, em relação a vários hospitais e casas de caridade do Norte e Centro do país.
Galardoado com o grau de Grande Oficial da Ordem de Cristo e de Oficial da Ordem da Instrução Pública, desenvolveu também uma actividade filantrópica nas suas empresas, criando bairros operários, creches, lactários, cantinas, bibliotecas e outros benefícios para o operariado.»

CORDEIRO, José Manuel Lopes (2004), O Rasgo e a Vontade. [Porto] : Associação Empresarial de Portugal, pp. 87-89.

Publicada aqui



9.10.14

Rua das Oliveiras | Outubro 2014



A oliveira franzina, depois de ter sido massacrada, foi substituída por outra mais robusta.





Também Hazul Luzah passou por aqui.





mais ou menos







8.10.14

Águas do Campo Grande e Arca do Poço das Patas



" As obras de construção de um prédio, na esquina da Avenida de Rodrigues de Freitas com a Rua das Fontainhas, começadas já há alguns meses, puseram a descoberto uma parte de um aqueduto do século XVIII que os passantes ocasionais tiveram a oportunidade de observar durante vários dias. 

Um habitual leitor destes trabalhos, que teve a oportunidade de ver a obra, escreveu a perguntar se havia a possibilidade de se saber de onde vinha e para onde ia a água que era suposto ter corrido ao longo do referido aqueduto. 

A água era proveniente do manancial do Campo Grande, denominação que em 1839 se dava ao actual Campo de 24 de Agosto. Lê-se num relatório da Câmara do Porto, referente aquele ano, que avia por ali "muita e boa água nativa que fornece a Fonte de Mijavelhas, a um lado do Campo Grande…" Mas não era a única nascente que havia naquela zona.

Ao sítio onde a Rua de Santos Pousada confina com o Campo de 24 de Agosto, chamava-se, antigamente, Póvoa de Baixo. Aqui havia uma mina numa propriedade de um tal José de Melo Peixoto, cuja água seguia, através de encanamento "para a Arco do Campo Grande". 

Na "Estrada do Senhor do Bonfim", actual Rua do Bonfim, havia uma nascente de onde brotava abundante água que se reunia "na arca da Ponte do Poço das Patas". Esta ponte existia sobre um ribeiro um pouco a poente da sede da Junta. Há muito que foi soterrada, bem como uma capela que também por ali existia. 

A água desta nascente seguia encanada "pela Rua da Murta", actual Rua do Morgado de Mateus, até ao Jardim de S. Lázaro, onde "no sítio defronte da igreja velha dos religiosos Antoninos (onde está a Biblioteca) saia um anel de água para o Recolhimento das Órfãs.

Quem costuma frequentar a estação do Metro do Campo de 24 de Agosto já deve ter reparado numa antiga mas curiosa e muito interessante estrutura de pedra ali conservada como uma espécie de relíquia. É quanto resta da "Fonte de Mijavelhas (antigo nome de local) a que estava associada uma arca ou reservatório onde se "armazenava" a água que dali seguia, através de vários encanamentos, para diversos pontos de uma vasta zona da cidade que se estendia até à beira rio e daqui até à Batalha.

Consta também do referido relatório camarário que as "vertentes" e as águas "perdidas" da arca atrás citada, depois de serem utilizadas nos lavadouros públicos que havia no local, eram utilizadas, "no cumprimento de antigos prazos", para a rega dos campos do Cirne, da família Cirne de Madureira que tinha o seu palácio onde hoje está a sede da Junta de Freguesia do Bonfim. Os campos ficavam nas traseiras da residência a alongavam-se até à antiga Quinta do Prado, hoje cemitério do Prado do Repouso. Mas as águas não ficavam pelos campos do Cirne. Continuavam a correr e iam fazer rodar as mós das azenhas das Fontainhas.

E é tempo de voltar ao aqueduto que as obras acabaram por descobrir na esquina da Rua das Fontainhas com a Avenida de Rodrigues de Freitas. 

Julgamos tratar-se do aqueduto que desde o Campo Grande seguia encanado por baixo do Jardim de S. Lázaro onde alimentava o respectivo chafariz. A parte que chegou a estar exposta à curiosidade pública, começava debaixo do pavimento da rua, em frente do cunhal do já mencionado Recolhimento das Órfãs, "um pouco adiante do portão e escada do mesmo jardim, indica o relatório, do lado poente" e continuava pela Rua de S. Lázaro, até defronte da casa do abastado negociante Custódio Teixeira Pinto Basto que tinha direito "a duas penas de água". Este negociante vivia na Rua de S. Lázaro, 447. Resta acrescentar que se dava por aquela altura o nome de Rua de S. Lázaro à parte da Avenida de Rodrigues de Freitas que vai do Jardim até à Rua de Entreparedes. 

Há uma escritura de 12 de Abril de 1724 que nos dá conta de que a Santa Casa da Misericórdia do Porto, naquela data, comprou a Manuel Correia Espadeiro e Mulher, moradores ao Poço das Patas, "huma Poça d'Àgua no monte de Mija Velhas, junto aonde antigamente estivera a forca", para ser conduzida por aqueduto para o Recolhimento das Órfãs. 

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Foi a 1 de Agosto de 1860 que a Câmara Municipal do Porto deliberou dar ao antigo Campo da Feira do Gado, a denominação de Campo de 24 de Agosto, para comemorar a Revolução Liberal de 1820. Antes o sítio teve outros nomes Campo Grande, Campo do Poço das Patas e, em épocas medievais, a pitoresca denominação de Campo de Mijavelhas. Foi sempre um lugar alagadiço, de muita água o que, em certa medida, dificultou, por vezes, a sua urbanização. Como aconteceu, por exemplo, em 1865 quando se projectou a construção de uma escola industrial na parte nascente do largo. O rei D. Luís chegou a assistir ao lançamento da primeira pedra mas a obra não foi por diante porque o terreno pantanoso criou dificuldades ao projecto. Em 1909 o amplo logradouro foi ajardinado. As obras para a construção da estação do Metro acabaram com o pequeno jardim e a situação actual é de completa e confrangedora degradação."


Texto da autoria de Germano Silva publicado aqui.

Nota: Aviso aos leitores

1. O link que figura já não está activo.

2. Tenho a impressão que nunca cheguei a publicar este texto, mas se já o conhecem, pior para mim, estou a envelhecer e a esquecer-me dos papeis no fundo dos bolsos.



6.10.14

Rua José da Silva Passos

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José da Silva Passos era irmão de Passos Manuel, até parece evidente pois também era conhecido por Passos José.

Nasceu em Guifões no dia 18 de Novembro de 1800 e faleceu no Porto na Viela da Neta, no Porto, a 12 de Novembro de 1863.


Breve biografia que pode ser encontrada aqui:

« Bacharel formado em Leis e em Cânones pela Universidade de Coimbra, sub-secretário de estado dos negócios da fazenda, deputado em diversas legislaturas, sub-inspector do tesouro publico, vice-presidente da Junta do Porto, sócio honorário da Academia de Belas Artes, etc. N. na freguesia de S. Martinho de Guifões, concelho de Bouças, distrito do Porto, a 18 de Novembro de 1800, fal. no Porto a 12 de Novembro de 1863. Era filho de Manuel da Silva Passos, lavrador, e de sua mulher, D. Antónia Maria da Silva Passos.

Com seu irmão Manuel da Silva Passos foi para Coimbra, matriculando-se na Universidade em 1817, recebendo o grau de bacharel nas faculdades acima citadas. Estavam os dois irmãos em Coimbra quando rebentou a revolução de 1820, que ambos acolheram com entusiasmo. Nesta cidade fundaram então em 1823 um jornal intitulado O Amigo do Povo, que poucos números publicou, por causa da reacção desse mesmo ano de 1823. 
Partiram ambos os irmãos para o Porto, e sendo ali perseguidos pelo partido absolutista, viram-se obrigados a emigrar a Espanha, com mais outros perseguidos, formando eles a que então se denominou oposição constitucional, ou a esquerda dos emigrados. 
De Espanha passaram a Inglaterra; e dali para França. No exílio a vida dos dois irmãos, sempre tão unidos, completamente se confunde. Seguiram a mesma politica, em França colaboraram ambos em diversas publicações, combatendo não só os actos do governo de D. Miguel, como alguns excessos e doutrinas doutra facção, ou a direita dos emigrados. 

Voltando a Portugal, e conseguindo entrar no Porto, que estava sofrendo um rigoroso cerco, cingiu logo, e à pressa, a espada de oficial do batalhão nacional provisório de Santo Ovídio. 
Foi então que se acentuou a sua vida revolucionária, mostrando toda a bravura e intrepidez. Levantou-se o cerco, e estabelecendo-se o regime constitucional, elegeu-se a primeira câmara municipal do Porto, e para seu presidente foi eleito José da Silva Passos. 
Nessa qualidade resistiu energicamente à lei de indemnizações de 15 de Agosto de 1833, que seu irmão depois combateu na câmara. Um e outro defendiam assim generosamente a causa dos vencidos, e levantavam bem alto a bandeira da verdadeira liberdade. 
Corria o ano de 1834; a efervescência dos partidos proclamava os seus eleitos para as cortes que iam inaugurar, à luz dos novos princípios, a representação nacional. José de Passos não podia deixar de ser dos primeiros entre os escolhidos, e a província do Douro o elegeu. Tomando assento na câmara ao lado de seu irmão, falaram ambos pela mesma voz contra a regência de D. Pedro, e protestaram com a mesma palavra generosa contra as indemnizações que humilhavam a causa vencida. Reeleito na legislatura seguinte, aderiu à revolução de Setembro; profundamente conhecedor dos negócios de administração, deu um contingente valioso para a redacção do código administrativo de 31 de Dezembro de 1834, de que foi o principal autor. 

Voltando à câmara fazendo parte das cortes constituintes, e nomeado membro da comissão da lei eleitoral, cooperou eficazmente para a constituição de 20 de Março e para a lei das eleições directas de 9 de Abril do ano de 1838. Decididamente empenhado em contribuir com toda a sua esclarecida actividade para o engrandecimento da causa publica, exerceu os cargos de sub secretario de estado dos negócios da fazenda, quando seu irmão era ministro, e de sub-inspector do tesouro, sem que por esse ou outro cargo aceitasse retribuição, como jamais a aceitou em troca dos relevantes serviços que prestou ao país. 

Depois de seu irmão ter saído do poder, foi José Passos muitas vezes convidado para fazer parte de novos ministérios que se organizaram, o que ele recusou sempre, apesar das instâncias da própria rainha D. Maria II. Sublevadas em 1837 as províncias do norte pelos dois marechais, Saldanha e Terceira, o governo nomeou José Passos e o visconde de Sá da Bandeira, para a difícil missão de irem restabelecera ordem. José Passos encarregou-se da parte financeira da missão, com que o serviço público muito lucrou. Depois da queda da constituição de 1838, e da restauração da Carta em 27 de Janeiro de 1842, José Passos, que era verdadeiramente odiado pelos cartistas por causa da sua infatigável actividade e dos serviços que prestara à revolução de Setembro, foi espancado e arrastado pelas ruas. Suspensas as garantias em 1844, José Passos foi preso duas vezes sem haver motivos para isso, porque não só não entrara em conspirações, mas até reprovava publicamente as revoltas, enquanto fosse possível recorrer aos meios constitucionais. 

Quando rebentou a revolução de 6 de Maio de 1846, José Passos tornou a ser eleito presidente da câmara municipal do Porto, e exercia esse cargo, quando se deu em Lisboa o golpe de Estado, conhecido pela Emboscada de 6 de Outubro, para a restauração da Carta Constitucional. O administrador de Vila Franca comunicou a notícia para o Porto; a cidade ficou inquieta, mas ainda duvidosa, e só no dia 9 do citado mes de Outubro, foi que teve a absoluta certeza do que se passara. Então José Passos, com uma energia assombrosa, dirigiu-se ao segundo comandante da guarda municipal Montenegro, chamou-o aos interesses da causa liberal, fez com que a guarda se pronunciasse, mandou tocar os sinos a rebate, disse a todos quantos encontrava no caminho que se resistia ao golpe de Estado, e que se não consentia que o duque da Terceira exercesse as funções de lugar-tenente da rainha nas províncias do norte, e depois de ter obtido a adesão do regimento de artilharia n.º 3 e do de infantaria n.º 6, dirigiu-se ao palácio do governo civil onde estava o duque da Terceira, e pediu-lhe urbanamente que se considerasse preso. O duque, sabendo que toda a guarnição do Porto estava pronunciada no sentido revolucionário, e que não tinha por conseguinte meio algum de resistência, aceitou tranquilamente a sua situação, que não deixava de ser perigosa, porque o povo exaltado ameaçara tirar vingança no duque do procedimento do governo de Lisboa. José Passos colocou-se então ao lado do duque, declarando que respondia com a sua vida pela vida dele. O povo exigia que o duque fosse preso para o castelo da Foz, José Passos desejava que ele reembarcasse para Lisboa, mas não aparecia barco nem escaler, e o duque foi o primeiro a reconhecer que se não podia seguir outro caminho senão o que o povo exigia, e nesse mesmo dia 9 de Outubro se recolheu ao castelo da Foz. No dia seguinte o governador civil interino, António Xavier de Barros Corte Real, propôs à câmara a nomeação duma junta provisória do governo, junta que ficou assim organizada: presidente, conde das Antas; vice-presidente, José da Silva Passos; vogais: António Dias de Oliveira, Sebastião de Almeida e Brito, Justino Ferreira Pinto Basto, conde de Resende, barão de Lordelo, António Luís de Seabra, Francisco de Paula Lobo de Ávila. Organizaram-se logo outras juntas filiais em Guimarães, Barcelos, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu, Castelo Branco, Guarda, Évora, Portalegre, Beja, Faro, Leiria, Santarém, Cascais, Palmela, Aveiro, Coimbra, Oliveira de Azeméis, Funchal, S. Miguel e Terceira. 
Organizado o governo da junta, José Passos encarregou-se das pastas da fazenda e da dos negócios estrangeiros, mas era ele verdadeiramente a alma da junta, e a ele se devem quase todos os prodígios que a junta operou. 
Os portuenses faziam todos os sacrifícios que se lhes pediam, quando José Passos lhes chamava patriotas, e lhes falava no bem da nação. Verdadeiro presidente da junta, porque o conde das Antas dirigia as operações militares, José da Silva Passos não hesitou diante das mais graves responsabilidades. Foi preciso levantar alguns empréstimos forçados, era sempre José Passos quem ia aos bancos, ás companhias ou só ou acompanhado por Justino Pinto Basto exigir o que era indispensável. 
Foram pequeníssimos os recursos levantados por esse meio, e contudo a junta levantou e teve em armas um exército numeroso, equipou uma pequena esquadra quase sem ter recursos tributários. Demais, muito infeliz militarmente, a junta precisava a cada instante estar reparando os seus desastres. O visconde de Sá da Bandeira, vencido em Valpaços, via passar ao inimigo dois dos seus melhores regimentos, e perdia um grande número de prisioneiros. Depois caiu em Torres Vedras prisioneira uma divisão toda de 4.000 homens, comandada pelo conde de Bonfim. As províncias do Minho e Trás-os-Montes, donde a junta do Porto podia tirar mais recursos, estavam também no poder do inimigo. Pois apesar disso, José Passos soube sempre apresentar a Francisco de Paula Lobo de Ávila, ministro da guerra, os recursos necessários para ele pôr em campo forças consideráveis. Como ministro dos negócios estrangeiros prestou também muitos serviços, protestando energicamente contra o procedimento do comandante do cruzeiro inglês, que aprisionou em 31 de Maio a esquadra, que saíra do Porto deixando o conde das Antas com uma nova expedição; votou pela rejeição dos quatro artigos do Protocolo, na sessão de 5 de Junho do mesmo ano. 
Este golpe foi mortal e decisivo. Desde o momento que a Espanha e a Inglaterra se tinham resolvido a intervir, em cumprimento do tratado da quádrupla aliança a causa estava imediatamente perdida. Apesar disso, José Passos infundia confiança em toda a gente, e ainda levava os patriotas do Porto a empreender qualquer acção heróica. Quase à vista do exército espanhol, comandado por Concha, repeliram as tropas da junta as avançadas de Saldanha, mas tudo isso era inútil, a junta estava condenada a entrar em negociações, e o convénio de Gramido assinado da parte da junta pelo marquês de Loulé e César de Vasconcelos a 29 de Junho de 1847, e pela parte dos ingleses e espanhóis pelo general D. Manuel de la Concha, W. Wylde e Buenage, pôs termo a essa revolução, que durante 9 meses dominou em todo o norte do país e assoberbou, apesar de sucessivos desastres militares, o poder e a guarnição do governo do reino. 
Pois fora José Passos quem fizera a revolução, tudo se devia à sua energia e à sua actividade. Terminada a luta, José Passos voluntariamente, como seu irmão, retirou-se entregando-se tranquilamente aos seus trabalhos e aos seus negócios, rodeado sempre da estima dos seus concidadãos e da maior popularidade. 

Em Abril de 1851, quando o duque de Saldanha fez o seu pronunciamento, e desanimado por não encontrar no exercito a adesão que esperava, já se refugiara na Galiza, José Passos pôs-se em movimento, escreveu-lhe para que viesse ao Porto, dispôs os espíritos para se lhe preparar uma recepção condigna, e para o acompanharem no movimento que empreendia. 
Foi José Passos um dos que mais contribuíram para o êxito da Regeneração. Eleito deputado pela primeira vez, conservou-se, como seu irmão, muito afastado das lutas parlamentares. 
A sua saúde estava profundamente abalada, e por efeito de paralisia agravou-se-lhe de ano para ano, apagando-lhe a razão. Faleceu obscuramente. Foi casado com D. Ana Margarida Soares da Silva Passos.  »