Por meados do século XVI, quando andava a ser construído o mosteiro de S. Bento da Ave-Maria, de monjas beneditinas, aquela zona da cidade que vai da actual Praça de Almeida Garrett, pelas ruas do Loureiro e Chã, até ao cimo da Rua do Corpo da Guarda, devia ser um dos sítios mais pitorescos e de maior movimento no Porto desses tempos.
Caminho obrigatório dos arredores para o centro nevrálgico da urbe medieval, pela velhinha Porta de Vandoma até ao cimo do Corpo da Guarda, a antiga Cividade (era assim que se denominava toda aquela vasta área) deve ter sido um rumoroso mundo, álacre e guizalhante, no ambiente típico de uma cidade medieval, em que se misturavam judeus e mouros de albarnoz; clérigos de sotaina e frades de hábito, com o formigueiro dos mesteirais e das vendedeiras no alarido dos seus pregões.
Pois foi por essa época (26 de Novembro de 1527) que à Câmara do Porto chegou uma curiosa carta de D. João III.
O monarca, que escreveu de Coimbra, pedia aos edis portuenses que consentissem em que fosse tapada determinada rua ou travessa sob a alegação de que essa artéria "… ia ter ao lugar por onde havia de ir (passar) a cerca do mosteiro novo das monjas…" de S. Bento da Ave-Maria.
O rei justificava a petição com o seguinte argumento que a tal rua ou travessa "… estava num cabeço allto, de que se descobre a mór parte da orta do mosteiro novo das monjas, o que é desonesto por dhai se poderem ver as freiras sempre que elas saiem à dita orta…"
Tratava-se, portanto, de uma questão de privacidade plenamente justificada e que a Câmara atendeu.
Ocorre agora perguntar e que rua ou travessa era essa que o rei pediu para que fosse tapada ?
Vamos por partes o mosteiro de S. Bento da Ave Maria começou a ser construído, em 1518, em terrenos onde antes ficavam as hortas do bispo que ali tinha, também, um faval. Era, por isso, que a actual Praça de Almeida Garrett se chamava, em tempos idos, Praça da Faval. Este faval ocupava o terreno onde hoje está o edifício da estação e gare.
Acrescente-se, a título de informação que, ao tempo a que se reportam os acontecimentos que aqui estamos a evocar, meados do século XVI, a maior zona verde da urbe, intramuros, situava-se, exactamente, na zona contígua à Porta de Carros, atravessando uma vasta área coberta " de pomares, hortas, fontes e sua água..." como se lê num documento de doação.
Voltemos à construção do mosteiro das monjas beneditinas no faval do bispo.
Para que o convento pudesse ser construído, com a respectiva cerca, houve necessidade de encerrar a primitiva Porta de Carros que havia sido aberta, na muralha fernandina, em 1409, "junto à fonte da Teresa", num local que hoje podemos considerar como sendo ao fundo da actual Rua da Madeira, antiga Calçada da Teresa.
Para substituir aquela porta foi aberta, em 1521, uma outra , "…a pouco mais de cem passos para o lado do Oriente…" que ficava mesmo em frente à entrada principal da igreja dos Congregados e ligava, directamente, com a Rua das Flores que também andava a ser aberta por essa altura.
O acesso à primitiva porta de Carros fazia-se por um arruamento que vinha directamente da Rua Chã, de junto do sitio "onde havia uma vistosa fonte que era alimentada com água do manancial de Mijavelhas", e atravessava a parte de cima das hortas do bispo sensivelmente. Seria esta a antiga Rua do Faval ou a desaparecida Viela d a Cividade de que tanto se tem falado ? Nós não temos a certeza mas do que não há dúvidas é que foi esta a artéria que D. João III pediu para que fosse tapada a fim de garantir a privacidade das freiras que andassem na cerca do seu mosteiro.
Germano Silva
3 comentários:
Olá, Teo!
Queres dar um saltinho ao meu blog
http://eusoulouco2.blogs.sapo.pt?
Obrigado!
Abraço
Olá, Teo!
Queres dar um saltinho ao meu blog
http://eusoulouco2.blogs.sapo.pt?
Obrigado!
Abraço
olá António!
de quando em vez vou deitando uma olhadela no teu blog. é verdade que não actualizo os meus links. tenho a impressão que o teu blog no sapo ainda não está actualizado.
fico feliz por teres encontrado maneira de editar os teus escritos!
nota: eu sei que alguns têm mandado publicidade para as mensagens deste blog que não foram publicadas... mas o António Castilho Dias é um caso especial! encontrei-o aqui na "rede"! e simplesmente porque num dos seus posts ele fazia referência ao Sebastião Ribeiro e aquela sala de estudo, semi-clandestina, que existiu nos anos sessenta ali na rua de Santo Ildefonso quase em frente da rua do Castanheiro. depois trocámos umas poucas de mensagens. mas aquela descrição que ele tinha feito daquelas salas friorentas e húmidas, com os professores e alunos de sobretudo por causa do frio... fizeram-me voltar dezenas de anos para trás.
Enviar um comentário