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31.1.16

2016 - 31 de Janeiro



O 31 DE JANEIRO E A HISTÓRIA

Mais um velho texto de

Pedro Baptista, escritor e investigador

Para relembrar esta data emblemática da cidade do Porto.

"Reinando até hoje grande falta de trabalho científico quanto ao ideário filosófico e político dos republicanos portuenses da década de 1880, não falta quem procure minimizar o carácter popular e revolucionário do Movimento, ora relegando-o para um acto de indisciplina, ora para uma mera revolta militar com objectivos profissionais, sublinhando, entre os mais nefandos pecadilhos, o facto de ser constituído por baixas patentes. 

Ora os factos demonstram, em primeiro lugar, que o movimento surgiu na cidade mais industrial do país, com um terço da população operária, num momento em que a crise económica e social era profunda e atravessava diversos sectores sociais. 
Em segundo lugar, que a imprensa portuense republicana há muito flagelava a monarquia decadente, num trabalho diário argumentativo onde pontificava Sampaio Bruno e onde se propagandeava, com cada vez mais sucesso, o ideário democrático e federalista, como alternativa a uma realeza que se afundava, política e moralmente, não apenas fazendo o país custear os desvarios dos Bragança, como sendo o rosto da subserviência ao Ultimatum da Rainha Vitória. Em terceiro lugar, que o movimento eclodiu sob a liderança civil dos republicanos portuenses, tendo ocorrido três semanas antes, uma cisão no Partido em Lisboa, passando a pontificar a figura de Homem Cristo no lugar da de Elias Garcia, este a par do processo, aquele também manifestando o acordo, excepto em pormenores; o facto da Maçonaria castigar os “irmãos “ do Porto e logo a seguir ser obrigada, pelo próprio protesto maçónico lisboeta, a revogar tal decisão, é significativo. 
Em quarto lugar, que o movimento teve um carácter militar, como não podia deixar de ser entre nós, constituído sobretudo por sargentos e praças, com poucos oficiais subalternos e ainda menos superiores, que pressionaram no sentido da eclosão do movimento naquela data, uma vez que o governo monárquico, ao mesmo tempo que aliciava a Guarda Municipal com melhorias do pré, decidira-se pela transferência de militares revolucionários, levando-os a pressionar a direcção civil no sentido de apressar o calendário; que se vivia um ambiente de revolta entre a tropa contra as condições profissionais e as medidas repressivas é um facto, mas não há memória de soldados satisfeitos participarem num processo revoltoso ou revolucionário. Utilizando uma expressão de um jornalista republicano e alterando-lhe o sentido, alguns gostam de repetir que estivemos perante uma “sargentada”, como se o facto do oficialato em geral se encolher, e serem sargentos e praças a constituírem a parte militar do movimento, não fosse uma honra e uma demonstração do carácter popular do próprio movimento militar. 
Em quinto lugar, que a revolução do 31 de Janeiro teve um carácter eminentemente popular não apenas pelo que já foi dito, como pela participação entusiasta das massas populares durante a madrugada, acompanhando a tropa revolucionária, arrombando, a golpes de machado, os portões de Infantaria 18, descendo para a Praça de D.Pedro, subindo a Rua Nova de S. António e partilhando com os líderes da insurreição a ilusão trágica de que a Guarda Municipal, instalada na escadaria existente a Poente da Igreja de St. Ildefonso, poderia aderir à causa revolucionária, paga num rio de sangue popular e militar numa rua juncada de cadáveres.

Pode dar-se muitos sentidos ao termo “revolta”. Mas, socialmente, revolta é um protesto, uma recusa, uma contestação a problema específico, geralmente dentro duma instituição, não tendo outro objectivo senão resolver aquele problema. Embora muita revolta possa dar em revolução quando surge liderança política, são conceitos totalmente diferentes, porque a revolução quer alterar um sistema instituído, pretende tomar o poder global para mudar o sistema de vida, incida mais nos prismas políticos, sociais, económicos ou mesmo culturais. 

Assim sendo é uma imprecisão falar de revolta do 31 de Janeiro, mas deve falar-se outrossim da Revolução do 31 de Janeiro. A sua direcção sabia muito bem o que queria, tanto assim que a República foi proclamada no Porto, pela primeira vez em Portugal, nessa manhã, para todos os efeitos históricos, gloriosa, tal como foi anunciada a lista governativa, com alguns nomes que, 19 anos mais tarde, vieram a preencher a Junta provisória saída da Revolução do 5 Outubro de 1910.

Que venceu. Como a de Janeiro de 1891 não venceu. Em 1910, o Almirante Cândido dos Reis suicidou-se quando se apercebeu que a revolução tinha falhado. 
Enganou-se. Em 1891, outros morreram na crença romântica de que os camaradas iriam aderir à fanfarra revolucionária como em 1820. 

Enganaram-se. Mas isso em nada muda o carácter dos movimentos nem a glória das revoluções que substituíram, em Portugal, na relação dos cidadãos com o poder, o princípio da hereditariedade pelo da elegibilidade. Saibamos hoje dar a este princípio republicano o conteúdo social que merece."


Este blogue continua aberto a textos sobre a cidade de outras pessoas. Normalmente peço textos a amigos para os publicar aqui mas não excluo outros autores desde o momento em que o texto tenha algo a ver com a cidade.

T. D.


25.6.15

Rua António Cândido

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Quem era este António Cândido?

A (antiga) Página da Toponímia da autarquia dizia:

"António Cândido Ribeiro da Costa. Orador e político. Considerado o maior parlamentar do seu tempo nasceu em Candemil, no concelho de Amarante, a 30 de Março de 1852, e aí morreu, a 24 de Outubro de 1922 . ( Arquivo da Toponímia )"

Mas também aqui mostro o que está publicado em Portugal – Dicionário Histórico

"Ribeiro da Costa (António Cândido).
n.    30 de Março de 1852. 
f.     

Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra e lente catedrático da mesma faculdade, deputado, par do reino, conselheiro de Estado, ministro de Estado, procurador geral da coroa, sócio efectivo da Academia Real das Ciências, etc. 

N. em Candomil, concelho de Amarante, a 30 de Março de 1852. 

Matriculou-se no 1.° ano de Direito em 1871, fazendo um curso brilhante, alcançando as primeiras distinções, doutorando-se em 21 de Julho de 1878. Seguiu também o curso de Teologia com distinção. Consagrando-se ao magistério, foi nomeado lente catedrático em 29 de Dezembro de 1881. Leccionou com rara proficiência científica, tornando-se notáveis as suas prelecções. Vindo para Lisboa, entrou na política, filiando-se no partido progressista, que tinha por chefe Anselmo José Braamcamp, de quem era amigo íntimo. 

Foi eleito deputado em sucessivas legislaturas, representando círculos importantes, entre os quais se contava o de Aveiro. A primeira vez que a sua palavra se fez ouvir na câmara, causou o maior assombro e deslumbramento. Celebraram-lhe o admirável discurso, não somente os grandes jornalistas do seu partido, como os mais temidos adversários políticos.

Diz um dos seus biógrafos, nos Perfis contemporâneos, pág. 74: 
«Entrado no parlamento, sob o peso de enormes responsabilidades, postos nele os olhos do país, rodeado das esperanças dos seus amigos e assediado já pelas invejas, quis uma série complicada de incidentes que a sua estreia parlamentar, anunciada dia a dia, não pudesse efectuar-se senão depois de esperada por longo prazo, cheias as galerias da sala pela enorme multidão que afluíra pela noticia do seu discurso, a regurgitar o recinto dos jornalistas, o qual era então quase uma lioneira de feras contra o governo, e a tribuna diplomática a desbordar. Falava Dias Ferreira. António Cândido pediu a palavra. Inesperadamente, por um preito de admiração, que só honra o espírito do ilustre jurisconsulto e estadista, mas que foi então, por muitos, interpretado como um processo insidioso para embaraçar o novo parlamentar, depois de engrandecer em palavras quentes e fervorosas os talentos de António Cândido, e descrever a ansiedade com que era esperado o seu discurso naquela sala onde deixara de ressoar a voz de José Estêvão, Dias Ferreira interrompeu a sua oração. António Cândido pareceu, durante essas palavras, que sucumbia numa síncope, tal era a palidez do seu rosto, o descorado dos seus lábios, a tremura das suas mãos. Pois mal se ergueu, transfigurou-se. Como que uma augusta e calma serenidade lhe transluzia do olhar, da gentilíssima cabeça, e as primeiras palavras, na sua cadência dominadora e doce, empolgaram logo, venceram, todo o auditório. As pouquíssimas frases, a sermo corporis, na frase dum grande escritor, a linguagem do corpo que não é toda a eloquência, mas sem a qual não há eloquência, exercia o seu influxo poderoso. Que assombro e colossal triunfo! Velhos parlamentares, duros e afeitos aos violentos combates da câmara, enterneceram-se até às lágrimas ao apertá-lo nos braços. Nos corredores, nas escadas, muitos que o não conheciam, saudavam-no com entusiasmo A oposição, pela voz do Sr. Hintze Ribeiro, declarou, como um preito de homenagem, cerrar sobre este discurso o debate, em que estavam ainda inscritos alguns dos mais notáveis oradores.» 
Desde então a sua vida parlamentar foi uma série de vitórias. Era um dos lutadores mais fervorosos e mais apaixonados do partido progressista, mas abandonou-o em 1888, pouco mais ou menos, por discordar da marcha que a sua política havia levado, e recusando a sua cadeira no parlamento. Entregou-se então ao serviço do seu emprego de ajudante do Procurador-geral da coroa, para que havia sido anteriormente nomeado, conservando-se então afastado da política. Datam desse período alguns dos seus mais importantes discursos literários. Foi então que na Academia Real das Ciências, a que depois presidiu, proferiu o Elogio Histórico do rei D. Luís, falecido em Outubro de 1889, esculpindo com amor o perfil do monarca, dedicando à sua memória uma das suas mais belas e eloquentes homenagens. Publicou por esta época, o seu primeiro livro, Discursos e Conferencias, onde reuniu o que andava disperso no Diário das Câmaras e em outras publicações literárias. 

Em 1890 reconciliou-se com o seu partido, e quando nesse ano caiu o ministério regenerador, que já havia sucedido a outros de pouca estabilidade, por causa do conflito com a Inglaterra, consequências do ultimato de 11 de Janeiro, organizou-se em Outubro um gabinete presidido pelo velho parlamentar, o general João Crisóstomo de Abreu e Sousa e o Sr. António Cândido foi nomeado ministro do reino, encarregando-se também, interinamente, da pasta da Instrução Pública e Belas Artes. Este ministério durou apenas 10 meses, podendo dizer-se, que naquela conjuntura em que seria difícil sustentar-se qualquer gabinete, como acontecera aos anteriores, foi o Sr. António Cândido, politicamente, a alma desse ministério. A sua obra de pacificação, interpondo-se às ambições e aos rancores partidários, mantendo-se entre os dois grandes grupos monárquicos, regeneradores e progressistas, permitindo que se olhasse serenamente às crises a que urgia acudir, essa obra, devida à ponderação do seu espírito e à autoridade moral do seu carácter, à confiança que a todos merecia, não teve, pela sua natureza de trabalho lento e íntimo, os fulgores que deslumbram, mas representa enorme serviço ao país e à monarquia. Quando rebentou a revolta republicana do Porto, em 31 de Janeiro de 1891, o Sr. António Cândido, então ministro, foi quem fez a liquidação dessa revolta, preparada desde muito tempo. Com energia e firmeza, sem sobressaltos, não ouvindo vozes que lhe falavam a linguagem do ódio nem se atemorizando com os gritos aterradores, procedeu serenamente ao apuramento de responsabilidades. Ao deixar de ser ministro estava extinto o pânico que passara nas regiões da política, e a ordem inteiramente restabelecida. O Sr. António Cândido Ribeiro da Costa foi nomeado par do reino em 1 de Junho de 1891, e em Março de 1902, conselheiro de Estado. Em Coimbra, no seu tempo de estudante, também se distinguiu como orador sagrado, e nas suas conferências, escutadas sempre com entusiasmo. "


Notas:

1. A sua data de nascimento não corresponde entre as 
diversas publicações que encontrámos na Internet.

2. No Dicionário Histórico a data do seu falecimento não aparece pois a edição em papel deste terminou no ano de 1915.

3. Não percebo porque foi dado o nome dele a uma artéria na cidade onde nasceu o 31 de Janeiro 1891 visto o papel repressivo que ele assumiu. Revanchismo? Provocação?



3.12.14

Rua Sampaio Bruno

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Breve biografia de Sampaio Bruno

"Jornalista, escritor e político, José Pereira de Sampaio Bruno nasceu em 1857, no Porto, e aí morreu em 1915. Foi um autor extremamente versátil, produzindo uma vastíssima obra de cariz político, religioso e filosófico, e versando temas como o problema da evolução das sociedades humanas, a teoria da ciência e do conhecimento e a ideia de Deus.

Oriundo de uma família da pequena burguesia, filho de pai mação, iniciou a sua atividade jornalística aos 14 anos, adotando nessa altura o pseudónimo Bruno (em homenagem ao renascentista Giordano Bruno), ao qual permaneceria fiel durante toda a vida. Aos 17 anos publicou o seu primeiro livro, intitulado Análise da Crença Cristã, que suscitou uma onda de revolta e polémica no seio da conservadora sociedade portuguesa de então, devido às ideias polémicas nele expressas, colhidas em Voltaire, Amorim Viana, Feuerbach e Büchner. 

Fez os estudos preparatórios para Medicina no Instituto Politécnico do Porto, mas não prosseguiu os estudos oficiais, sendo, todavia, um notabilíssimo autodidata e erudito.

Foi um acérrimo propagandista da República e toda a sua obra teve na cultura portuguesa uma forte influência. Com José de Alpoim, Júlio de Matos, Basílio Teles, Manuel Teixeira Gomes, compartilha os problemas da conjuntura política do seu tempo. Em conjunto constituem e frequentam tertúlias onde os seus espíritos de republicanos ficam cada vez mais enaltecidos.

Em 1886, coligiu uma série de ensaios sobre os modernos novelistas portugueses no volume A Geração Nova. Após o malogro do movimento revolucionário do 31 de janeiro de 1891, em que esteve implicado, foi obrigado a exilar-se no estrangeiro, viajando pela Espanha, França e Holanda. Esta experiência do exílio (escrita em Notas do Exílio, 1893) viria a acentuar as suas inquietações, conduzindo-o a uma crise pessoal e religiosa, no decurso da qual se lhe revelaria Deus (A Ideia de Deus, 1902). 

A obra bruniana apresenta-se como uma ilustração do lema "liberdade, igualdade e fraternidade", desde sempre professado pelo autor, que este fazia corresponder, no plano político, à ideia da República, mas que extrapola esse nível, revestindo-se, sobretudo a partir da crise do exílio, como bem salientou Joel Serrão, de "um significado recôndito, místico, esotérico" ("Introdução" in Os Cavaleiros do Amor), que encontra no messianismo e no sebastianismo uma possibilidade de revelação (O Encoberto, 1904). Bruno aspirou a fundar uma teoria do conhecimento total, que operasse a síntese entre a filosofia racional e o conhecimento místico e fosse subjacente a todas as correntes místicas, filosóficas e científicas, num processo dialético e contínuo: "Não mutilar, mercê do erro simétrico, a nossa alma, não a truncar - a título de a depurar. Avançar lentamente nessa estrada humana e clara, provisoriamente, em conflito de afirmação contra negação, até que acordos, provisórios igualmente, se sucedem. Quer dizer, desta arte firmar a filosofia ao mesmo tempo na natureza e na razão." (in O Brasil Mental, 1898)."










23.4.14

Personagens da República no Porto


Alguns deram nome a ruas, jardins ou outros locais da cidade.

Nascidos ou não no Porto aqui viveram ou lutaram pelo ideal da República, durante a Monarquia e durante o Estado Novo.

(Listagem, sem dúvida, incompleta)


António Amaral Leitão (capitão Leitão) - 7/3/1845 - 14/1/1903

António Luiz Gomes - 23/9/1863 - 28/8/1961

Augusto de Castro Sampaio de Corte-Real (Augusto de Castro) - 11/1/1883 - 24/7/1971

Augusto Manuel Alves da Veiga - 28/9/1849 - 2/12/1924

Augusto Rodolfo da Costa Malheiro (alferes Malheiro) - 19/1/1869 - 9/12/1924

Aurélio da Paz dos Reis - 28/7/1862 - 18/9/1931

Aníbal Augusto Cardoso Fernandes Leite da Cunha - 1868 - 16/3/1931

Abel Salazar - 19/7/1889 - 29/12/1946

Basílio Teles - 14/2/1856 - 10/3/1923

Duarte Leite Pereira da Silva - 11/8/1864 - 29/9/1950

Eduardo Ferreira dos Santos Silva - 18/3/1879 - 14/9/1960

Ezequiel Pereira de Campos - 12/12/1874 - 26/8/1965

Francisco Xavier Esteves - 8/10/1864 - 2/9/1944

Hélder Ribeiro - 19/7/1883 - 10/11/1973

Jaime Zuzarte Cortesão - 29/4/1884 - 14/8/1960

José Domingues dos Santos - 8/5/1887 - 16/8/1958

José Joaquim Rodrigues de Freitas - 24/1/1840 - 27/7/1896

José Pereira de Sampaio (Bruno) - 30/11/1857 - 6/11/1915

Joaquim de Azevedo Sousa Vieira da Silva Albuquerque - 16/8/1839 - 21/1/1912

Leonardo José Coimbra - 30/11/1883 - 2/1/1936

Manuel Maria Coelho - 6/3/1857 - 9/1/1943

Manuel Pinto de Azevedo - 27/4/1874 - 17/2/1959

Raul Germano Brandão - 12/3/1867 - 5/12/1930



31.1.14

Efeméride - 31 de Janeiro 1891 no Porto

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Para relembrar a revolta


Mas como para além dos actos colectivos também há vidas pessoais aqui vai uma pequena história escrita aqui há uns anos


(A foto é da rua 31 de Janeiro)




“O rapaz tinha à sua frente uma ladeira cheia de movimento na rua ladeada de tabernas.

Acabara de chegar à estação do Pinheiro vindo de Barcelos.

Era Janeiro, estava frio, como o dinheiro era pouco tinha que ir a pé até à morada que estava escrita num papel que tinha no bolso. Não sabia se era longe ou se era perto mas aos 16 anos chegaria até ao mar se fosse preciso.

Lá ao cimo estava o Freixo, depois seguiu por uma grande rua recta. Seguia o movimento dos carros e das pessoas. A trouxa pouca coisa tinha, não pesava.

Naquela manhã pensava que tinha a vida à sua frente, mas ia andando sempre, não tinha a noção do tempo, só sabia que era longe, que tinha que passar para além da grande praça. Mas muita gente ia naquela direcção, parecia um dia de romaria. Não se espantou.

Por fim, lá chegou à Batalha. Uma grande confusão. Muita gente, cavalos, bois. Nunca imaginara que uma cidade seria assim.

A certa altura ouviu tiros, gente a correr, balas a assobiar. Não sabia o que se passava. Agarrou com mais força a trouxa com a roupa, descalçou os tamancos. Correu na direcção contrária de onde vinham os tiros, de onde pensava que vinham os tiros. Seguiu os outros pela rua do Cimo de Vila.

Abrigou-se numa porta da rua Chã, encostado ao granito da ombreira. Não sabia onde estava, não sabia para onde ir, pensava-se protegido.

A porta abriu-se e um homem perguntou-lhe o que estava ali a fazer. Que entrasse, senão ainda apanhava uma bala perdida.

E o rapaz entrou. Inácio Ferreira da Silva tinha encontrado um marçano para o ajudar no seu comércio. Teodósio de Faria, naquele momento encontrou um patrão, não aquele a que vinha destinado. Anos mais tarde tornar-se-ia genro do Inácio. “

Foi assim que chegou o pai do meu padrinho ao Porto, na manhã do 31 de Janeiro de 1891. Talvez por esta razão todos os seus filhos se declaravam republicanos.

A história foi-me contada nos anos 90 do século XX por um irmão do meu padrinho, em S. Miguel de Ceide. Eu ainda não a conhecia apesar de ter privado muito com a família nos anos 60.





30.1.14

Porque amanhã é 31 de Janeiro






Lugar do 31 de Janeiro na História



Texto de Pedro Baptista




O período de 1873 a 1896 é marcado, na Europa, por uma grande depressão económica e financeira a que corresponde um crescendo da agitação do movimento operário. 


Em Portugal, a crise é sobretudo industrial e comercial, provocando um agravamento tributário e um excesso hipotecário e cambial, a que corresponde uma profunda crise social, com grande encerramento de postos de trabalho, que se expressa não só no levante das lutas operárias como num fortíssimo fluxo emigratório para o Brasil, autêntico “gado humano”, no dizer de Oliveira Martins. 


No Porto, a crise sente-se com grande intensidade a partir de 1889. Como se a falência do projecto de ligação Porto-Salamanca e a filoxera a destruir o Douro não bastassem, o governo decreta a lei da selagem que leva ao encerramento de armazéns contra os privilégios da Companhia Vinícola e ao agravamento da crise e agitação sociais.


Eis a terra revolvida e úbere onde cairia o ultraje do Ultimatum vitoriano, um autêntico diktat contra a soberania portuguesa, com o lanço trazido da Conferência de Berlim de 1885 onde as grandes potências procuraram redesenhar os impérios coloniais, com evidente prejuízo do português. O rei e o governo de cócoras, um clamor nacional de protesto encimado pelo partido republicano. Queda do Governo, tratado de 20 de Agosto de 1890 apresentado ao país por António Enes, num modus-vivendi como uma vitória a iludir alguns . A pena demolidora de Sampaio Bruno, depois de duas décadas de desmontagem dos fundamentos da monarquia, colocando o debate político já não entre monarquia e república mas entre república federal ou unitária, agora a demonstrar com a sua característica profundidade racional, argúcia argumentativa e cultura excepcional, que nem tudo o que luz é ouro e a despatinar a palha dourada encenada pelos monárquicos liberais de Enes, aquele que Eça acusou, nas “Farpas”, de ter desertado das fileiras republicanas para ir fazer de sentinela à porta do partido histórico . O modus-vivendi de Enes melhor seria um modus-moriendi ! !


A propósito do ambiente de Setembro, a seguir ao Tratado, Basílio Teles escreveu: “Se houve instante, nesse ano de 1890 tão fecundo em peripécias, em que o sentimento nacional estivesse incondicionalmente à disposição dessa minoria de rebeldes, foi sem dúvida alguma, este. Nesses dias de torturante ansiedade Pinheiro Chagas pode escrever sem sombra de exagero literário, que não foram os monárquicos, mas os republicanos, que mantiveram a desprezada coroa na cabeça de D.Carlos” .


E acrescentou: “Não se queria atender que a humilhação não estava nas palavras mas nas intenções e nos actos; que as amabilidades trocadas não impediam nem a realidade, nem a grandeza da extorsão; que a frase açucarada não era por isso menos cominatória e imperativa; que a iniciativa aparente de modo algum excluía a coacção. Isto viram imediatamente alguns homens, dos poucos que não corriam facilmente atrás das habilidades do escriba, entre eles, o publicista José Sampaio (Bruno) que numa série de excelentes artigos publicados no jornal republicano do Porto, desfez a teia de aranha laboriosamente estendida por Enes à crédula pacovice indígena .


Para Ruy Luis Gomes, o Porto era onde havia mais condições revolucionárias pois, dispunha de uma pequena burguesia com grande tradição e experiência na luta pelas liberdades cimentada desde 1820, dispunha de uma clara supremacia operária em relação ao resto dos sectores populares e, finalmente, por ser a cidade que dispunha de um pensamento político e especulativo mais autónomo e mais atento aos problemas da ciência e da filosofia, ou não fosse onde Sampaio Bruno pontificava . 


O Porto do Século XIX, no dizer do insigne matemático, com base nos estudos efectuados por uma comissão dirigida por Oliveira Martins, era a única cidade industrial do país, contando, em 1881, de 108 mil habitantes, 37 377 a viverem da actividade industrial, chegando a percentagem operária, em 1890 e 1900, a atingir os 50% da população . 
Ponto de vista já enunciado por Basílio Teles para quem “não resta senão o Porto capaz de conduzir uma revolução a sério” ou pelo jornalista Heliodoro Salgado para quem o Porto é a cidade “onde mais viva palpita agora a velha fibra revolucionária adormecida em 1847” .


Pontos contestados por A. H de Oliveira Marques em “a Propósito do Ultimatum e do 31 de Janeiro” que considerava que no Porto “o fermento revolucionário era sem dúvida menor do que em Lisboa” . No entanto, quando se vai procurar o fundamento da propalada indubitabilidade historiográfica, encontra-se apenas uma opinião sem suporte, vislumbrando-se, com espanto, nas considerações do grande historiador, o fermento do sectarismo bairrista que ancestralmente opõe Lisboa à Cidade do Porto.


Pelo contrário, sendo certo que a agitação revolucionária estava em levante em todos os poucos grandes centros urbanos do país, acelerado pela vergonhosa submissão da monarquia portuguesa aos ditames da Rainha Vitória durante todo o correr de 1890, e que Lisboa era um dos locais onde mais se centrava a conflitualidade política com numerosas manifestações republicanas e uma brutal repressão, ou não fosse a própria sede da Monarquia, é também certo que o Porto, além de alimentar o mesmo tipo de agitação republicana, reunia de sobremaneira as condições apontadas por Ruy Luís Gomes, onde é necessário sublinhar o papel da imprensa revolucionária, em particular da “República”, que se publicou entre Abril e Agosto de 1890, a que se seguiu a “República Portuguesa”, onde João Chagas zurzia com assinalável pontaria e audácia o cadavérico regime e, como já vai dito, o filósofo Sampaio Bruno aprofundava os pontos de vista republicanos imprimindo-lhes o mais demolidor fundamento argumentativo, racional e filosófico.


De resto não foi por acaso ter sido o Porto a eleger, logo em 1878, por grande maioria, o primeiro deputado republicano na pessoa do professor Rodrigues de Freitas…


A.H de Oliveira Marques afirma ainda que o movimento foi débil e extemporâneo, sem o acordo do PRP nem da Maçonaria que se teriam oposto, sendo tudo isto bem conhecido.
Sem dúvida e bem conhecido mas, afinal, apenas com base numa comunicação apresentada em 1990 por Fernando de Sousa onde esta opinião é expressa, mas não é mais do que uma opinião tal como a de Oliveira Marques.


Se há espírito livre em relação a tudo e crítico do 31 de Janeiro (31 J), embora sempre numa perspectiva revolucionária, é o de Basílio Teles, cujo carácter revelado na obra literária, filosófica e política e na actuação de toda uma vida merece o maior crédito.


Que nos relata que o mês de Janeiro viu assomar, no Congresso realizado em Lisboa, uma divergência profunda no Directório do Partido republicano, certamente interactiva com divergências na Maçonaria, que se saldou no afastamento de José Elias Garcia e na ascensão de Francisco Homem Cristo .


Heliodoro Salgado, por sua vez, esclarece que o novo Directório que desde há muito trabalhava na preparação da sublevação anti-monárquica, de onde ele próprio se vira afastado, não era composto por traidores mas por republicanos que queriam tanto como os anteriores fazer a revolução. No entanto, “cegara-os o ódio contra Elias Garcia”, a vetusta e carismática figura que era o líder do partido, tendo as circunstâncias em que o processo decorreu denotado profunda deslealdade e mesmo “uma traição de facto” .


É que os que se alcandoraram ao poder no Congresso estavam perfeitamente cientes do que se preparava no Porto, acalentado ainda mais pela publicação do Manifesto-Programa do PRP redigido por Teófilo Braga, Bernardino Pinheiro, José Jacinto Nunes, incluindo o novel líder Francisco Homem Cristo que vem ao Porto, fala com os operacionais e, salvo pequenas divergências, manifesta-se de acordo com a acção.


No entanto, para o plumitivo republicano, o novo Directório queria que Elias Garcia e todos os seus apoiantes fossem marginalizados, fazendo “ uma república exclusivista, sacrificando odiosamente todos os velhos elementos de acção” . 


Ora no dia 27 de Janeiro, além da condenação a prisão do jornalista João Chagas, redactor de “A República Portuguesa”e da publicação em “Debates” de uma “Prevenção”, segundo Heliodoro, da autoria do Tenente Homem Cristo, onde se denunciavam os preparativos insurrecionais, o governo, como nos narra Basílio, desistiu de remédios prontos e enérgicos e optou pelas transferências. Vendo-se ou presumindo-se descobertos os ameaçados consultaram-se e resolveram defender-se apelando para a fidelidade, na hora do perigo, do partido revolucionário .


A essas transferências de militares suspeitos de alinhamento com o levantamento republicano, estes, constituídos sobretudo por sargentos, antes que fossem inteiramente dispersos, responderam com a antecipação da data insurrecional, segundo Hediodoro, não esperando pela data que Elias Garcia tinha combinado com os militares da “província”.


Alves da Veiga conseguiu adiar de 29 para 31, mas depois teve de ceder ao dilema colocado pelas evidências apresentadas pelos militares: ou se avançava antes das transferências ou não havia mais condições para a decisiva participação dos militares disponíveis que eram sobretudo os de baixa patente. 


Diz-nos Basílio Teles que “as cousas precipitaram-se com tal rapidez que, ainda sem os motivos a que vimos aludir, seria muito difícil levar essa espécie de conselho de guerra a uma resolução unânime” . Assim se chegou ao 31J.


Ora a seguir ao 31J o GOL irradiou os irmãos das lojas do Porto onde pontificavam figuras como Alves da Veiga, mas essa condenação pode ser apenas uma expressão da má consciência de terem deixado isolada a insurreição portuense, como se pode depreender do facto de tal condenação ser tão extemporânea que levou a uma forte contestação entre os próprios maçónicos lisboetas, sendo que o próprio Oliveira Marques que tem um olhar historiográfico sobranceiro sobre a insurreição, reconhece que aqui houve exagero. Aliás o GOL tanto parece ter agido por má consciência que, pouco depois, levantou a irradiação que tinha intentado contra Augusto Manuel Alves da Veiga. De notar que Oliveira Marques acaba por reconhecer que provavelmente o 31 de Janeiro terá tido grande apoio popular mas que esse “estudo precisa ainda de ser elaborado” .


Aliás , um ou outro historiador são pródigos em referências apoucando a dimensão do 31J, tanto no que diz respeito à participação popular como à militar - reduzindo-a a uma sargentada, repetindo a expressão usada, noutra perspectiva, por Heliodoro Salgado.


Como se sendo uma capitanada ou uma generalada tivesse um papel mais digno que um insurreição que mobilizou entusiasticamente milhares de civis a enquadrarem centenas de sargentos e praças da guarnição intencionalmente debilitada da cidade do Porto. Até porque desde muito cedo que o grosso dos oficiais se mantinham fiéis ao regime que lhes tinha reforçado as prebendas, em particular o pré, sabendo-se que era na massa dos sargentos e dos soldados, lado a lado com os diversos sectores populares civis, incluindo a pequena-burguesia urbana, que fervilhava o ideal do derrube do regime monárquico.


Até se poderia dizer que a insurreição do 31J se fez contra os oficiais, não só pelo pequeno número de aderentes nessa patente, como pelo papel pérfido do comandante de Infantaria 18(I 18) lançando por terra os códigos de camaradagem militares, como ainda pelo facto de os oficiais do I18 terem tomado a iniciativa de manterem sequestrados nas casernas os soldados para estes não aderirem à insurreição.


O insuspeito Basílio Teles acentua o carácter popular, tanto na vertente militar como civil, e enfatiza a ousada iniciativa arrancada partir dos soldados. E foram os paisanos a tomar a iniciativa de investir contra o portão de I 18. “ Pela primeira vez no nosso pais, a multidão obscura que vegeta nos quartéis ou se agita vagamente nos bairros da miséria, veio gritar francamente, à luz do dia, que está farto da monarquia e dos Braganças“ . E noutro passo referindo-se ao ataque decisivo ao I 18 para libertar os soldados sequestrados pelo comando: “O assalto à porta da Lapa é, essencialmente, uma destas façanhas populares que se nos deparam com frequência na história das insurreições, e que seria absurdo, além de injusto, imputar a dois ou três cabecilhas como seus autores exclusivos” .
Ora sendo Basílio Teles crítico como ninguém do plano insurrecional do 31J, assumindo-se aliás como um estratego da necessário revolução, porque haveria de louvar o que não houvesse a louvar ou inventar factos onde eles não existissem?


Lendo os relatos fidedignos do 31J, fica-se com a ideia, evidente, de uma insurreição de planeamento insípido, em que o idealismo voluntarista substituiu o rigor dum plano operacional, a fé na vitória substituiu a exigência de confirmação dos apoios prometidos, e o romantismo substituiu a desconfiança conveniente face ao comportamento humano, enquanto se acalentam as ilusões de não-violência num acto que é violento por natureza.


Fica a ideia de uma insurreição lançada com uma grande margem de imponderabilidade, mas foram assim grande parte das revoluções em todos os lugares e em todos os tempos. O próprio 5 de Outubro foi dado como perdido, levando ao suicídio de um líder militar, quando afinal triunfava. A insurreição soviética venceu mas a alemã de Hamburgo pereceu, enquanto a da Baviera foi um sucesso, nada se podendo atestar sobre a competência operacional dos bávaros em relação aos do Norte da Germânia. 


Podemos perorar com milhares de páginas sobre as causas positivas das vitórias e as negativas das derrotas, mas depois das coisas ocorridas é fácil esse tipo de perorações analíticas… Depois do baptizado, não faltam padrinhos… A Revolução de Fevereiro de 1927 falhou por carência de adesões nacionais embora dirigida ao mais alto nível, e falhou como podia não ter falhado se Lisboa tivesse alinhado a 4 e não a 7, a intentona da Mealhada falhou porque não pegou embora se considerasse que as condições estavam maduras para que uma fagulha incendiasse a planície, falharam inúmeras tentativas em 48 anos de ditadura por um motivo ou por outro ou por motivos ignotos, falhou a antecipação spinolista do 16 de Março de 1974 e falhou por que outros não aderiram, e o 25 de Abril, sem dúvida mais bem organizado, bem comandado e bem estribado em comunicações, ainda assim podia ter falhado em lugar de vencido, porque o aspecto emocional da adesão ou não das forças que são constituídas por pessoas, para o sucesso da onda revolucionária, continua a ser de medição e prospecção dificílima e é por isso que esse é o clímax trágico dos processos insurrecionais. Mais um minuto ou menos um minuto, uma palavra mais mansa ou uma palavra mais brava, um aceno de sedução ou um tiro de revólver, uma afirmação acreditada ou pelo contrário rejeitada, um carácter mais indómito ou mais dúbio, podem determinar para que lado cai o castelo de cartas. Mas se o 25 de Abril tivesse falhado não faltaria quem verberasse a falta de madureza das condições, a falta de um plano, a actuação ridícula dos operacionais, etc. etc….


A ingenuidade do Capitão Leitão, acreditando nos cânticos sibilinos do Coronel Lencastre prometendo a adesão do I 18 e no coração revolucionário do Major Graça que haveria miraculosamente de pôr a Guarda Municipal ao lado da República, são estremes em matéria de ingenuidade humana e inépcia política, mas nada de inusual neste tipo de levantamentos. Não foi pelo desembarque de um marinheiro ferido que terá abortado a operação Dulcineia comandada pelo intrépido Capitão Galvão habituado a todo o tipo de planos e quadrículas? Não se deixou o General Delgado cair na armadilha montada pela PIDE, convencido que se ia encontrar com dois oficiais do Exército, quando caiu nas garras dos assassinos da PIDE? Todos os que perdem foram ingénuos, ou se apresentaram mal preparados, ou cometeram erros grosseiros que alguns críticos, mormente historiadores, nunca cometeriam porque nunca teriam nem o arrojo nem a dignidade de se levantarem, ai dos vencidos! 


Claro que se pode e deve analisar a posteriori os erros das batalhas perdidas, mas convém sobriedade, rigor e a competência de discernir o que são erros de decisão ou actuações pusilânimes, de acções que dificilmente poderiam ser de outra maneira, actuações de risco que tanto podem correr bem como mal mas são as necessárias porque nas condições concretas não há outro caminho.


Foi um erro de consequências incalculáveis, desistir de tomar I18 depois de arrombado o portão pelos machados da força popular, prendendo o Coronel Lencastre e portanto, como afirmava Basílio, respeitando-lhe os escrúpulos. Na análise minuciosa do pensador portuense, os dirigentes civis deviam ter imposto a sua autoridade face à incapacidade do dirigente militar. O mesmo no referente à Guarda Municipal. Numa revolução pode procurar-se o mínimo da violência mas tem de se estar preparado para os maiores embates. Houve sem dúvida um excesso de optimismo dos insurgentes pensando que se poderia repetir o cortejo triunfal de 1820 e que o facto da banda entoando “a Portuguesa” arrastar atrás de si multidões, em plena madrugada, pelas ruas do Porto, significava ipso facto adesão certa da guarnição militar em particular do seu sector mais operativo, o da Guarda Municipal.


Também a preparação política do levantamento deixou a desejar, pois os republicanos não encetaram contactos com os socialistas nem outros representantes do operariado, o que levou Ruy Luís Gomes, talvez desejoso de enviar um sinal para os tempos em que falava (1951), a apontar como um erro maior do 31 J a falta de unidade das forças populares. Só já depois de varridos da Rua de St. António e encurralados na Câmara Municipal é que gizaram in extremis um plano de contra-ataque e de diversão que contaria com o apoio organizado dos operários, através de conversações com o socialista Luís Soares. Mas era preciso tempo e já era tarde. A artilharia já despejava a bombarda e a Guarda Municipal descia St.António. Os revoltosos estavam cercados, resistiriam durante hora e meia mas depois sucumbiram. As tropas que, de Barcelos, Braga e Guimarães, se movimentavam para o Porto não poderiam chegar a tempo. E o telégrafo mantinha-se nas mãos da monarquia. Nem os últimos cartuchos se puderam queimar.
A verdade é que se alguns detalhes tivessem corrido de forma diferente do que correram, o 31 J poderia ter sido vitorioso. O combate poderia nem ter existido ou ter durado muito menos da hora e meia que durou. Em “A República Portuguesa”, às 4 da matina, vai para a máquina o número do 31 J onde transborda a certeza na vitória. Chagas está preso, foi provavelmente Bruno a escrever aquelas palavras. A República poderia ter sido proclamada em Portugal a partir do Porto, não por nove horas, mas para sempre, dezanove anos antes de ter ocorrido a partir de Lisboa.


Só que desta vez a sorte das armas, depois de também balancear para um lado e para outro, acabou por inclinar-se para o lado republicano! Demorou tempo a germinar, depois da sementeira de 1891, mas acabou por despontar e florir! 


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Agradeço ao Pedro me ter disponibilizado o texto para publicação aqui.
A imagem é minha e data de 2005 ou 2006, peço desculpa pela má qualidade.




31.1.13

31 DE JANEIRO


Para facilitar a procura sobre este tema basta fazer um simples clique sobre o

31 de JANEIRO

e encontrará algumas linhas já publicadas neste blogue. 

18.10.12

JAZIGO DE SANTOS POUSADA NO CEMITÉRIO DO PRADO DO REPOUSO


191012


António dos Santos Pousada era natural do Porto. Filho de Bernardo Pousada e de Maria Josefa Gomes, onde nasceu em 28 de Outubro de 1854.

Estudou na Escola Politécnica do Porto até 1884, tendo sido um dos estudantes contemplados com um prémio nesse ano que foi entregue em sessão solene realizada a 20 de Outubro de 1884.

Santos Pousada foi nomeado professor da escola industrial em concurso para professores em 1884, aprovado por portaria de 8 de Novembro de 1884 [Joaquim Ferreira Gomes, Estudos para a História da Educação no século XIX, Instituto de Inovação Educacional, Lisboa, 1996, p. 83, nota 3]. Santos Pousada foi colocado na Escola de Desenho Industrial Faria Guimarães, no Bonfim, cidade do Porto, por Despacho de 4 de Dezembro de 1884, tendo a escola sido inaugurada em 12 de Janeiro de 1885, com mobiliário emprestado pelo Instituto Industrial do Porto. Nessa escola matricularam-se 134 alunos para frequentar aulas nocturnas [Joaquim Ferreira Gomes, idem, p. 85]

Exerceu depois funções docentes na Escola Industrial Passos Manuel, em Vila Nova de Gaia. 

Santos Pousada foi consultado sobre as modificações necessárias à adaptação do Palácio dos Cirnes, já que ele tinha sido adquirido pela Junta de Freguesia do Bonfim para aí se instalar, bem como as escolas primárias. Foi convidado António dos Santos Pousada, que depois de um estudo exaustivo redigiu o seu parecer num documento datado de 1888.

Considerado um homem culto e trabalhador, que muito se empenhou na causa da implantação da República, em especial na região do Porto. Em 1904, Santos Pousada pertencia à comissão municipal republicana do Porto. Participou de forma activa nas campanhas contra a Monarquia e na organização do movimento republicano.

Foi ainda um dos propagandistas da mutualidade no norte de Portugal, tendo participado em inúmeras realizações. Foi relator de teses que abordavam a contabilidade e a escrituração das associações de socorros mútuos, no Congresso Regional que se realizou no Porto em 1904. Participou também de forma activa no Congresso Nacional da Mutualidade que se realizou em 1911, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Neste congresso foi eleito vogal do Conselho Central da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos e foi vice-presidente da Comissão Oficial de Reforma do Mutualismo, competindo-lhe a organização dos modelos de escrita que deviam acompanhar o novo modelo de reforma. 

António José dos Santos Pousada destacou-se como jornalista. Colaborou em diversos órgãos da imprensa republicana como Vanguarda, Voz da Beira, Voz da Justiça, Voz de Angola, O Alarme e A Democracia. Era correspondente do jornal República, em Espinho, terra onde vivia e era muito respeitado pela população. Foi ainda o fundador da obra beneficência O Vintém das Escolas.

Pertenceu à Maçonaria, desde 1885, onde desenvolveu intensa actividade, tendo prestado serviços relevantes à organização. Talvez um dos seus mais difíceis trabalhos tenha sido conseguir que a actividade maçónica não se extinguisse no Porto, após o 31 de Janeiro, tendo conseguido, com os poucos elementos que restaram reerguer a organização. Preparou em 1900 uma conferência maçónica nacional, facto que marcou a história da instituição. Tinha como nome simbólico, Championnet, tendo atingido o grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceite. Pertenceu à Loja Aurora do Lima, do Porto, onde foi venerável, mais tarde passou para a Loja Liberdade e Progresso. Em 1901 ascende ao grau 33.

Foi eleito deputado pelo Porto e colaborou em inúmeros jornais. Com a divisão do Partido Republicano após o 5 de Outubro, Santos Pousada filiou-se no Partido Republicano Evolucionista, liderado por António José de Almeida.

Faleceu a 6 de Outubro de 1912.

No dia 10 de Novembro de 1912, realizou-se na Liga das Associações de Socorros Mútuos uma sessão solene de homenagem a Santos Pousada. Presidiu à sessão João Pinto de Azevedo, presidente da direcção da liga, tendo sido escolhido para presidir à sessão José Ernesto Dias da Silva, presidente da Federação Nacional das Associações de Socorros Mútuos. Discursaram durante a sessão Luís de Queirós e Manuel Inácio Alves Pereira.

Publicado no Almanaque Republicano







11.7.12

Rua ROCHA PEIXOTO


040712


Sobre Rocha Peixoto a página camarária diz-nos: "António Augusto da Rocha Peixoto,nasceu na Póvoa de Varzim em 18/05/1866 e faleceu em Matosinhos a 02/05/1909. Naturalista, etnólogo e arqueólogo, foi uma das figuras marcantes na vida cultural portuguesa na transição do século XIX para o nosso século." E a Wikipédia poucos detalhes nos dá!


É uma rua estranha que só a partir do século XXI encontrou uma certa utilidade para quem se quer dirigir ao centro da cidade.
É uma rua estranha porque do outro lado da rua encontramos isto:

050712


Actualização | Dezembro 2013:

Por mero acaso descobri que a Universidade do Porto presta homenagem ao seu antigo aluno.

Passo a transcrever:

« António Augusto César Octaviano da Rocha Peixoto nasceu a 18 de Maio de 1866 no n.º 20 da antiga Rua da Silveira (actual Rua Rocha Peixoto), na Póvoa de Varzim.

O 11.º dos 12 filhos de António Luís da Rocha Peixoto, médico, cirurgião e militante miguelista, natural de Arcos de Valdevez, e de Constança Amélia da Costa Pereira Flores, de Vila do Conde, foi baptizado na Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, a 21 de Maio.

Em 1874 ficou órfão de pai, acontecimento que dificultou grandemente a sua vida, obrigando-o a trabalhar para prover o sustento da mãe e de três irmãs, ainda antes de completar a formação académica.
Em criança tinha um aspecto frágil que o ajudava a esconder um carácter dotado de grande força de vontade. Estudou no Colégio de Nossa Senhora do Rosário, no Porto, e, aos 15 anos de idade, ajudou a fundar a revista estudantil "Boletim Litterario. Revista Académica Mensal", que produziu 3 números.

Em 1883, com dezasseis anos e sob o nome de Augusto César, publicou artigos críticos sobre os Jesuítas no jornal da Póvoa de Varzim, intitulado "A Independência", em resposta a Afonso dos Santos Soares, defensor confesso da Companhia de Jesus.
No ano seguinte, já estudava no Instituto Escolar de S. Domingos (depois convertido na Escola Académica), nas proximidades da Rua da Sovela, no Porto, tendo por condiscípulos António Nobre e Alexandre Braga.

Aquando da mudança da Escola Académica para a Quinta do Pinheiro, conviveu com Hamilton de Araújo, Fonseca Cardoso e Ricardo Severo, organizadores do "Grémio Oliveira Martins".

Em 1887, na Academia Politécnica do Porto, fundou com Fonseca Cardoso, João Barreira, Ricardo Severo e Xavier Pinho a "Sociedade Carlos Ribeiro". Este grupo, ao qual se juntou Basílio Teles, António Arroio, António Nobre e Augusto Nobre, reunia-se numa casa na zona do Moinho de Vento para debater a crise nacional. Destas reuniões resultou a publicação da "Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes", entre 1890 e 1898, dirigida por Rocha Peixoto, Ricardo Severo e Wenceslau de Lima.
Nesses tempos de estudante, Rocha Peixoto publicou artigos a folhetos sobre a degradação do Museu Municipal do Porto, colaborou em opúsculos e jornais, como "O Primeiro de Janeiro", do Porto, e "O Século", de Lisboa, e também participou em tertúlias musicais, tocando guitarra, tendo mesmo chegado a compor uma valsa intitulada "Lavandisca".

Rocha Peixoto participou na Tumulto de 31 de Janeiro de 1891, como nos conta Basílio Teles na sua obra "Do Ultimatum ao 31 de Janeiro: esboço d' historia política". Nela refere que Peixoto e Ricardo Severo, na manhã desse dia histórico, o convocaram para aparecer na Foz para o pôr a par dos acontecimentos. Os três vistoriaram o centro do Porto, para se inteirarem das movimentações das tropas fiéis ao Governo, e Rocha Peixoto escreveu um manifesto dirigido à população civil, em especial ao operariado, com o intuito de instigar a agitação social e assim perturbar a Guarda Municipal. Com a consciencialização do fracasso desta sublevação, Basílio Teles e Ricardo Severo deixaram Rocha Peixoto e centraram-se na busca de auxílio para os revoltosos.

Foi secretário da "Revista de Portugal" (1891-1892), dirigida por Eça de Queirós, organizou o "Catálogo de Mineralogia, Geologia e Paleontologia: Extracto do Annuário de 1890-91", da Academia Politécnica do Porto. Em 1893 passou a ser sócio da Academia das Ciências e desempenhou o cargo de bibliotecário no Ateneu Comercial do Porto (1893-1900).

Em 1895 começou a colaborar com a "Revista d'Hoje" e recebeu o diploma de académico da Classe de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais.
Pela altura da extinção do grupo "Sociedade Carlos Ribeiro" e da "Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes" (1898), Rocha Peixoto leccionava Geografia e Ciências Físico-Naturais na Escola Industrial Infante D. Henrique, no Porto.

Em 1899 associou-se à nova revista "Portugália", de carácter nacionalista, que tomou o lugar da "Revista de Sciencias Naturaes e Sociaes". Esta publicação, dirigida por Ricardo Severo, contava com Fonseca Cardoso, como secretário, e com Rocha Peixoto, como redactor-chefe e articulista.

Em meados de 1900 foi nomeado Conservador do Museu Municipal do Porto, então instalado num edifício da Rua da Restauração, e, em 28 de Junho desse ano, acumulou esse cargo com o de Director da Biblioteca Pública Municipal do Porto, de que foi Director Interino entre 1900 e 1904 e Director Efectivo entre 1904 e 1909.

A sua relação com o Museu Municipal era anterior à sua entrada na instituição, pois, ainda estudante na Academia Politécnica do Porto, escrevera sobre o seu estado ruinoso, no título "O Museu Municipal do Porto (História Natural)" e no artigo "O Museu da Restauração" publicado n' "O Primeiro de Janeiro", em 1893. Em 1894, no mesmo jornal, sugeriu que a edilidade portuense comprasse a colecção de faiança de Guerra Junqueiro e, em 1897, integrou uma comissão de estudo da reorganização do museu e da sua instalação num novo edifício.

Durante a comissão de serviço no Museu, organizou as diversas secções do acervo desta instituição, a saber, a de Mineralogia, de Paleontologia, de Etnografia, de Arqueologia, de Artes Decorativas e de Numismática, melhorou os espólios de pintura e de azulejo e promoveu obras no edifício. Em 1902, com Joaquim de Vasconcelos, criou o "Guia do Museu Municipal do Porto", iniciou a transferência do Museu para as suas novas instalações, anexas à Biblioteca (1902-1905), e dotou-o de peças provenientes do Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde, iniciativa que levantou alguma polémica.

No período em que presidiu aos destinos da Biblioteca, fomentou profundas obras de restauro do edifício, a reorganização dos seus serviços e a reforma e modernização da classificação e catalogação dos livros. Criou três pequenas bibliotecas no Porto (no Bonfim, em Cedofeita e na Foz, com título modernos existentes em duplicado na B.P.M.P.), favoreceu doações às bibliotecas da Póvoa de Varzim e de Ponte de Lima e, ainda, mandou colocar nas paredes do claustro da Biblioteca Pública (antigo claustro do convento de Santo António da Cidade) azulejos quinhentistas e barrocos, oriundos de extintos conventos do Norte de Portugal (de Santa Clara e de São Bento de Ave Maria, do Porto, de Santa Clara e de S. Francisco, de Vila do Conde, de Grijó, em Vila Nova de Gaia, etc.).

No final de 1901 foi nomeado naturalista-adjunto da secção de Mineralogia da Academia Politécnica do Porto e, em 1903, foi enaltecido pelo Ministro Luís Augusto Pimentel Pinto, juntamente com os outros responsáveis da revista "Portugália".

Em 1908 passou uma temporada nas termas do Peso de Melgaço, onde fez amizade com um grupo de utentes da estância termal, entre os quais se destacavam o Dr. Teixeira de Sousa, de Chaves, o Dr. Silva Gaio, Secretário da Universidade de Coimbra, e o artista portuense António Carneiro. A esse grupo chamou "Academia".

Apesar da ligação académica, cultural e profissional ao Porto, Rocha Peixoto nunca deixou de manter um forte vínculo à sua terra natal, comprovado pelos estudos sobre o património arqueológico, histórico, e etnológico da Póvoa de Varzim. Foi responsável pelas primeiras escavações da Cividade de Terroso, do Castro de Laúndos e da vila de Martim Vaz, envolveu-se na questão da naturalidade de Eça de Queirós e empenhou-se na defesa da comunidade piscatória poveira, que influenciou, entre outros, os trabalhos de Fonseca Cardoso (estudo antropológico sobre os pescadores da Póvoa, editado na "Portugália", em 1908), de Cândido Landolt (livro sobre o Folk-Lore da Póvoa de Varzim, de 1915) e de António dos Santos Graça ("O Poveiro", de 1932). Não é, portanto, de estranhar, que tenha legado a sua biblioteca, constituída por mais de 2.000 títulos, à Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim.

Este notável naturalista, professor, antropólogo, etnólogo e escritor faleceu em Matosinhos, vítima de tuberculose aguda seguida de uma crise, a 2 de Maio de 1909.
Na altura da sua morte trabalhava no Porto como naturalista-adjunto da Academia Politécnica, como Director da Biblioteca Pública e do Museu Municipal do Porto e, ainda, como professor de Geografia e de Ciências Físico-Naturais da Escola Industrial Infante D. Henrique.

Do Cemitério de Agramonte, no Porto, onde foi sepultado, o seu corpo foi trasladado para o Cemitério da Póvoa de Varzim, em 16 de Maio de 1909, a pedido da Câmara Municipal poveira.
(Universidade Digital / Gestão de Informação, 2010) »

A Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim também publica uma cronologia de Rocha Martins nesta página.


21.6.12

Rua ALEXANDRE BRAGA

230612



220612

Há na cidade o caso de uma só pessoa ter o nome em duas ruas. Mas este nome de ruas dá para duas pessoas, o pai e o filho. Fico sem saber qual deles deu o nome a esta artéria que já se chamou Rua Oriental do Bolhão.

Se for o pai: Alexandre José da Silva Braga - Poeta romântico (Porto n. 14/03/1829 - 9/05/1895). Formou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1856. (Arquivo da Toponímia) - Como é habitual a Toponímia é parca em elementos sobre as pessoas.

Se for o filho: Alexandre Braga, filho (Porto, 18 de Novembro de 1868 (?) ou 10 de Novembro de 1871 - Lisboa, 7 de Abril de 1921), foi um conceituado advogado e político português, ligado ao Partido Republicano. E pode continuar a ler mais na Wikipédia.

O prédio do nº 94 desta rua foi desenhado pelo arquitecto José Marques da Silva (1925-1928)
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Ver igualmente esta página.