30.4.14

Gualtieri Fotografia

Gualtieri



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Gualtieri foi um fotógrafo da cidade especializado em retratos. O estúdio existiu na rua 31 de Janeiro e ainda estava em funcionamento em 2006. A segunda imagem é de finais de 2013. 
Ainda me lembro da grande máquina de fole que ele usava quando uma nova geração de fotógrafos trabalhava em 6X6, sobretudo com Rolleiflex. 







29.4.14

Rua do Rosário (detalhes)

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Quando está bom tempo e temos tempo à nossa frente podemos apreciar determinados detalhes.

Abril 2014 em domingo de sol.




28.4.14

24.4.14

Poema


esta noite ouvi este poema


Uma vez não é costume!

Hoje transcrevo um poema de um homem que viveu numa rua bem perto do sítio onde eu habitei. 
Antifascista, resolveu exilar-se em 1967 para o Brasil. Esteve preso nos locais da PIDE do Porto (ver foto). Tem vários poemas publicados sobre a sua triste experiência nos cárceres.

MANHÃ

-Bom dia. Diz-me um guarda.
Eu não ouço… apenas olho
das chaves o grande molho
parindo um riso na farda.

Vómito insuportável de ironia
Bom dia, porquê bom dia?

Olhe senhor guarda
(no fundo a minha boca rugia)
aqui é noite, ninguém mora,
deite esse bom dia lá fora
porque lá fora é que é dia.


Luís Veiga Leitão


(Na imagem podemos ainda ler PVDE - antiga denominação da polícia política do Estado Novo)

Os espaços verdes da cidade.


Por vezes é difícil imaginar o Porto e a vida dos portuenses há uns séculos atrás.

Por acaso encontrei um texto de Horácio Marçal que situa bem no tempo a evolução dos espaços verdes públicos. 

São excertos de um artigo originalmente publicado em "O Tripeiro" de Fevereiro de 1984. 


Aproveito a ocasião para deixar uma pequena nota biográfica sobre este historiador da cidade que encontrei na página da Câmara Municipal de Matosinhos.


HORÁCIO MARÇAL (1906-1988)

Investigador e divulgador de enorme profundidade, da história e cultura regionais, conferencista, participante ativo em diversos congressos.

Horácio António de Almeida Marçal
Horácio Marçal nasceu e morreu no Porto.
Profissional de comércio na cidade do Porto, atividade da qual se veio a reformar em 1982, foi um dos exemplos mais eloquentes do intelectual interessado e empenhado na busca da história do Grande Porto, em geral, e do concelho de Matosinhos, em particular.

Investigador e divulgador de enorme profundidade, da história e cultura regionais,o seu trabalho publicado ultrapassa, largamente, um milhar de artigos, entre prosa e poesia.

Em 1928, iniciou a sua atividade literária no quinzenário académico Alma Lusa, não mais tendo parado no que respeita à investigação e publicação dos mais variados aspetos da cultura e história portuenses. Desde o Jornal de Notícias à revista O Tripeiro, são incontáveis os seus artigos.

Conferencista de grande qualidade, concedeu o seu largo saber em palestras e conferências nas mais diversas coletividades: Orfeão de Matosinhos; Câmara Municipal de Matosinhos, Santa casa da Misericórdia e Associação Recreativa Aurora da Liberdade.

Participante ativo em diversos congressos, foi membro auxiliar da extinta Comissão de Etnografia, anexa ao Museu de Etnografia e História, desde 1950. Durante um quarto de século, e até 1975, ocupou vários cargos na Associação Cultural Amigos do Porto, incluindo os de secretário e secretário-geral da mesma, tendo sido nomeado Sócio de Mérito em 1985. Foi membro da Junta de Conciliação da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, entre 1972-75 e membro da Comissão Executiva da Exposição Cerâmica Portuense – Séculos XIX/XX, realizada na Casa do Infante em 1973.





* * * * *


«Os artísticos e viridentes jardins que ornametam e embelezam a cidade do Porto, como poderá imaginar-se, não são antigos. São relativamente modernos. O primeiro, que é o de S. Lázaro, tão-somente data do ano de 1834. Todos os restantes começaram a surgir na segunda metade do século passado e alguns são mesmo obra da primeira vintena do século em curso [século XX]. Outro tanto não podemos dizer das alamedas que, essas, sem dúvida, são de origem mais remota.

No tocante às alamedas, a mais antiga foi a do Olival. Porém, igualmente antiga e mais concorrida foi a das Virtudes, embora não faltasse o povo nos outros raros parques da cidade. As Virtudes, diz-nos o jornalista Firmino Pereira, viram passar as mais lindas mulheres dos séculos XVII e XVIII, que foram o ponto de reunião elegante de peraltas e faceiras do velho burgo episcopal, que serviram de recreio a fidalgos, desembargadores e frades.

Com realidade, a Alameda das Virtudes, por fruir atracções fora do comum, foi, sem contestação, o passeio predilecto dos habitantes do Porto de há 300 anos, e tão desejado que, como nos deixou escrito o beneditino Manuel Pereira de Novais, a Porta das Virtudes, ali próxima erguida, teve de ser alargada para "a fácil salida de coches y carrosas y literas que salian a esparcirse por detrás de aquellos assientos prodigiosos de vista".

Como o local entrasse a cair no agrado dos portuenses, a Câmara Municipal, no ano de 1619, para repouso dos frequentadores daquele aprazível logradouro, mandou colocar bancos de pedra ao correr da ladeira de acesso à bonita Fonte do Rio Frio, hoje Monumento Nacional.

Mais tarde, em 1682, a mesma Câmara ordenou a abertura de uma alameda bastante arborizada, para recreação pública, que é o denominado Passeio das Virtudes, belo de verdade, mas pouco ou nada visitado. Das Virtudes, não obstante a concisão, supomos ter dito o suficiente.

Quanto à Alameda do Olival, sabe-se que por Alvará Régio de 28 de Setembro de 1611, ordenou D. Filipe II, com a superintendência do corregedor Manuel Sequeira Novais, que se transformasse o Campo do Olival numa formosa alameda, por lhe parecer que a dita seria de muito ornato e comum beneficio da cidade e demais que as poucas árvores - oliveiras - lá enraizadas, apresentavam-se ressequidas.

Convocados os homens-bons do Porto, para discussão de tão magno problema, ficou resolvido, nessa assembleia, expor os diversos inconvenientes (nele se faziam os alardos e exercícios militares) a D. Filipe, ao que ele, em 13 de Junho de 1612, respondeu peremptoriamente: "Todavia vos advirto e encarrego de novo que, nas coisas que se fizerem por ordem minha não admitais nunca novidade que possa impedir o efeito delas, que assim é conforme vossa obrigação, maior-mente quando se ordenam em beneficio e ornato dessa cidade".

Perante tão firme estimativa, tratou logo o mencionado corregedor de dar andamento à plantação de arvoredo na vasta alameda, arvoredo esse que até ao seu perfeito crescimento ficou guardado, de dia e de noite, por quatro homens.

Essa arborização, constituída por olmeiros ou negrilhos, conservou-se pelo transcorrer de dois séculos; e mais se conservaria se não fora a falta de combustíveis observada durante o memorável Cerco do Porto, que obrigou ao derrube dos ditos olmeiros e de outras árvores, o que não obstou, diga-se de passagem, a que tivesse escapado um,  que hoje e desde 1938, está considerado imóvel de interesse público. Trata-se do robusto negrilho, a que o povo, sem justificação plausível cognominou de Árvore da Forca, presentemente com a existência de três séculos e meio.

Depois das duas alamedas anteriores, em importância, deve colocar-se a das Fontaínhas, mandada construir, sobranceira ao rio Douro. Por D.  Francisco de Almeida e Mendonça, no derradeiro quartel do século XVIII. A espaçosa Alameda das Fontaínhas foi passeio obrigatório dos nossos antepassados, dos que se regozijavam em mostrar a elegância e o requinte das suas vestimentas. Não faltava lá o frondoso arvoredo a dar ao recinto a tão desejada frescura, não faltavam os indispensáveis bancos de granito para descanso dos mais debilitados, nem tão pouco faltava o adorno poético de um chafariz com o respectivo tanque (...).

De muita afluência, também, era a Alameda da Lapa, franqueada ao público no alvorejar do século XIX. Nela, durante longos anos, em despique com os festejos do Bonfim e de Cedofeita, se efectuaram animadas festas ao S. João, com grande arraial e fulgurantes iluminações. No seu leito as senta hoje o edifício do Hospital da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, a quem pertence, desde 1925, o antigo terreno da alameda, parte dele ainda ajardinado como nos tempos primitivos.

 Menos procurada, embora bem localizada, era a Alameda de Massarelos,       
na beira-rio, rasgada a volta do ano de 1875 num chão oferecido à Câmara Municipal por Joaquim Kopke, Io Barão de Massarelos.

A Alameda do Bonfim, já existente em meados do século passado e que circundava a Igreja Paroquial, era sobre-modo visitada pelo povo das redondezas em virtude da paisagem aliciante que do alto se  vislumbrava numa extensão de muitas léguas em redor. Actualmente, chamam Alameda de Cláudio Carneiro ao espaço ajardinado, de risco moderno, que antecede a escadaria de acesso a igreja.

Ao fundo da Rua de S. Bento da Vitória, de igual forma, havia um lindo miradouro com bancos de pedra e arvoredo, conhecido por Alameda da Vitória (...). Esta pitoresca alameda, durante o nefasto cerco do Porto, por lhe terem lá posto uma bateria de artilheiros, ficou sobremaneira danificada com os projécteis lançados de Vila Nova de Gaia, pelas tropas de D. Miguel. Contudo, depois de terminada a Guerra Civil, foi convenientemente alinhada e resguardada por gradaria de ferro e portão. Nessa altura, substituíram-lhe o designativo toponímico, passando desde então, pelo facto apontado, a chamar-se Jardim da Bateria tia Vitória ou só Jardim da Bateria. (…)

Mais distante, para o Norte da cidade, tivemos outrossim a acolhedora Alameda da Aguardente, mais tarde, como adiante se dirá, transformada em jardim.

Não todos, mas quase todos os jardins do Porto, foram recortados em praças onde outrora se realizavam feiras (ou mercados), no género das muitas ainda hoje em funcionamento por essas terras fora, com pavimentos de natureza terrosa, casas de negócio em redor (mormente de pasto) e ensombradas por árvores de grande porte, que além de proporcionar benéficas sombras, outrossim serviam para nos seus troncos os vendilhões (enquanto comerciavam os seus produtos) amarrarem, pela arreata, as cavalgaduras utilizadas no transporte das mercadorias.

Era a movimentada Feira de S. Miguel, no Campo do Olival, depois transferida para a Rotunda da Boavista e daqui para o Largo da Arca d'Água; era a secular Feira da Farinha, na Praça dos Voluntários da Rainha; a do Pão, na Praça de Santa Teresa, que ao depois mudou para o Mercado do Anjo, quando este, em 1839, abriu ao público; a característica Feira dos Bois e as curiosas Feiras dos Moços da Lavoura, dos Tamancos e das Caixas, todas elas na Praça dos Ferradores, actual Praça de Carlos Alberto; a tradicional Feira da Erva, Lenha e Carvão (em sacos), na Praça do Mirante; a do Gado Suíno, no Campo de S. Lázaro e mais tarde na Praça da Alegria.

No Campo de S. Lázaro, aí pelo século XVII, laboravam os fabricantes de louça grosseira, no qual essa indústria - a olaria - esteve concentrada, bem assim como, anos adiante, ali se efectuava a interessante Feira de S. Lázaro (anual), removida em 1876 para o Campo 24 de Agosto por ser lugar mais amplo; e, tão amplo, que ali se realizavam duas importantíssimas feiras: a do Gado Cavalar (mensal) e a do Gado Bovino (bi-semanal). Com a urbanização e a industrialização do local, levaram a Feira do Gado Bovino, em 1868, para o Largo da Póvoa de Cima; e, a dos Cavalos, em 1892, para a Corujeira.

No Largo de Santo André, pelo alvorecer do século XIX, havia a Feira de Hortaliças e Legumes, Mercado de Leite e a Feira de Sementes, Utensílios Agrícolas, Ferragens, etc, esta última anual.

Na Alameda da Aguardente houve também, desde 1883, um mercado coberto, de estrutura metálica, que foi desmontado, após 12 anos de existência, bem como outro no mesmo género do anterior localizado ao sul do referido Campo 24 de Agosto, desfeito no ano de 1897. (…)

Entre nós, portugueses, nunca foi grande, infelizmente, a paixão pela floricultura. Esse desprendimento ou desinteresse manteve-se, imutável, durante séculos. Pensava-se em tudo, "inclusivamente em luxos, menos em plantas. Cortava-se uma árvore, que leva dúzias de anos a desenvolver-se, como quem corta a pescoceira a um galináceo. A facilidade era a mesma. Não havia o mínimo respeito pela sua conservação. Os particulares, unicamente se preocupavam com as hortas e os pomares. A sedução pelas flores ou plantas decorativas não existia (...).

Só no século XIX é que, verdadeiramente, por diligência de alguns homens de fina sensibilidade, cheios de entusiasmo e boa vontade, co­meçou a prestar-se o devido culto à flor e a dedicar-se-lhe a estima de que ela, por direito, é merecedora. Esses beneméritos a quem a floricultura tanto ficou a dever foram, entre vários outros de menor nomeada, José Marques Loureiro, José Duarte de Oliveira Júnior, o Visconde de Vilar d'Allen e o Conselheiro Aureliano da Silva e Sousa.

Destes, todavia, é justo salientar-se o nome do saudoso floricultor Marques Loureiro que, por volta de 1860, quando tomou de trespasse o Horto das Virtudes, entregou-se de alma e coração, diremos mesmo apaixonadamente, à horticultura, consagrando-lhe toda a sua actividade, todo o seu fervor. Com propriedade podemos afirmar que Marques Loureiro (falecido com 68 anos apenas) foi o precursor da floricultura portuense.

Da propaganda intensiva destes quatro carolas surgiram os jardins da Cordoaria e do Palácio de Cristal, que foram, por assim dizer, o início de tudo quanto em matéria de jardinagem se fez no Porto e até no país (...)»






23.4.14

Personagens da República no Porto


Alguns deram nome a ruas, jardins ou outros locais da cidade.

Nascidos ou não no Porto aqui viveram ou lutaram pelo ideal da República, durante a Monarquia e durante o Estado Novo.

(Listagem, sem dúvida, incompleta)


António Amaral Leitão (capitão Leitão) - 7/3/1845 - 14/1/1903

António Luiz Gomes - 23/9/1863 - 28/8/1961

Augusto de Castro Sampaio de Corte-Real (Augusto de Castro) - 11/1/1883 - 24/7/1971

Augusto Manuel Alves da Veiga - 28/9/1849 - 2/12/1924

Augusto Rodolfo da Costa Malheiro (alferes Malheiro) - 19/1/1869 - 9/12/1924

Aurélio da Paz dos Reis - 28/7/1862 - 18/9/1931

Aníbal Augusto Cardoso Fernandes Leite da Cunha - 1868 - 16/3/1931

Abel Salazar - 19/7/1889 - 29/12/1946

Basílio Teles - 14/2/1856 - 10/3/1923

Duarte Leite Pereira da Silva - 11/8/1864 - 29/9/1950

Eduardo Ferreira dos Santos Silva - 18/3/1879 - 14/9/1960

Ezequiel Pereira de Campos - 12/12/1874 - 26/8/1965

Francisco Xavier Esteves - 8/10/1864 - 2/9/1944

Hélder Ribeiro - 19/7/1883 - 10/11/1973

Jaime Zuzarte Cortesão - 29/4/1884 - 14/8/1960

José Domingues dos Santos - 8/5/1887 - 16/8/1958

José Joaquim Rodrigues de Freitas - 24/1/1840 - 27/7/1896

José Pereira de Sampaio (Bruno) - 30/11/1857 - 6/11/1915

Joaquim de Azevedo Sousa Vieira da Silva Albuquerque - 16/8/1839 - 21/1/1912

Leonardo José Coimbra - 30/11/1883 - 2/1/1936

Manuel Maria Coelho - 6/3/1857 - 9/1/1943

Manuel Pinto de Azevedo - 27/4/1874 - 17/2/1959

Raul Germano Brandão - 12/3/1867 - 5/12/1930



21.4.14

Rua do Heroísmo (1974-2014)


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Naquele sinistro casarão, que faz esquina da Rua do Heroísmo com o Largo de Soares dos Reis (agora Largo de Catarina Eufêmia), e onde muitas pessoas mudavam de passeio para se afastarem da sua proximidade, funcionou, durante longos anos, a Delegação no Porto da PIDE, a que Marcelo Caetano, numa mera mudança de designação, passou a chamar DGS. A PfDE-DGS do Porto tinha duas entradas : uma pelo Largo de Soares dos Reis, com escadas de passadeira e contínuos fardados, era a entrada para «inglês ver», a entrada «oficial», onde eram atendidos os que ali eram chamados ou iam tratar de qualquer problema de passaportes, nomeadamente os estrangeiros; a outra era a face real da PIDE, na Rua do Heroísmo (e nunca o nome de uma rua foi tanto o símbolo dos que lá entravam e conseguiam resistir às torturas), um portão de ferro, com uma pequena porta de entrada, a dois palmos do chão, que só se abria para deixar entrar os presos ou os seus familiares, que os iam visitar, e que estabelecia contacto com o átrio de acesso às prisões (celas, quartos e salas) e ao curto lanço de escadas de acesso, pelo lado real, do edifício onde funcionavam todos os departamentos da PIDE-DGS, desde as salas de escuta telefónica e gravações, até aos gabinetes dos chefes, inspectores e director, e àqueles, no último andar, onde os presos eram interrogados e torturados. Quem entrava pela escada de passadeira do Largo de Soares dos Reis, e assim não passava desta parte do edifício, nunca podia fazer ideia de tudo aquilo que constituía a verdadeira PIDE, e que estava para lá daquela fachada. Esta série de fotografias da Delegação no Porto da PIDE-DGS, obtidas logo após o 25 de Abril, desde a complicada aparelhagem de escuta telefónica e gravação, os montes de livros apreendidos, as pastas de processos individuais, que vão até ao número 53067, o enorme ficheiro de 80 gavetas, o parlatório das visitas, o arsenal de armas amontoadas, o luxo do gabinete do director contrastando com a pobreza rudimentar das saias dos presos, até aos relatórios, meio calcinados, de gravações telefónicas, o envelope apreendido duma carta, agentes da PIDE-DGS ocultando as caras, já conduzidos sob prisão, a alegria da saída dos presos e a essa extraordinária imagem de um soldado erguendo um ramo de cravos no meio da alegria de milhares de populares, que, até à hora da rendição da PIDE, apoiaram as Forças Armadas, estando sempre a seu lado, constituem imagens que se não podem esquecer. Sem serem tudo o que era a sede da PIDE no Porto — basta lembrar a falta de fotografias das celas subterrâneas onde os presos, às escuras ou com a escassa luz dos estreitos postigos gradeados à altura das pernas de quem passava na Rua do Heroísmo, cumpriam longos períodos da chamada incomunicabilidade, com um balde a substituir as funções de retrete, constituem, porém, um primeiro documentário sobre as instalações da PIDE-DGS que ilustra os brutais e maquiavélicos métodos de actuação desta polícia do fascismo português, que foi um dos seus órgãos fundamentais para a implantação e a sobrevivência do regime de domínio violento das mais reaccionárias camadas do grande capital monopolista sobre o povo português, durante quarenta e oito anos.

Forçada a organizar-se, em moldes de legalização, em 1945, com a vitória das Nações Unidas sobre o fascismo, a PIDE apresentava, em relação aos processos crimes de direito comum, a insólita peculiaridade de os seus processos políticos, após as declarações dos arguidos, apresentarem em seguida a afirmação, subscrita por dois agentes, de que aquelas declarações tinham sido prestadas «sem qualquer espécie de coação ou violência», como se coação não fosse só por si a própria entrada do preso na PIDE, dado o pavor que a sua actuação despertava na generalidade das pessoas, e como se violência não fosse também a prisão por meros delitos de opinião e todo o regime penal dos presos políticos, sujeitos, além do mais, a um regime «legal» de seis meses de prisão preventiva! Durante perto de vinte anos, todos os processos organizados pela PIDE aos presos políticos não deixavam de acrescentar às declarações dos arguidos esta afirmação abonatória, subscrita por dois agentes, de que as declarações, afinal obtidas através dos mais sórdidos meios de tortura, «tinham sido prestadas sem qualquer espécie de coacção ou violência». E só depois de, nos julgamentos dos Tribunais Plenários, os advogados que defendiam os presos políticos começarem a denunciar tal fórmula como prova indirecta da coacção e da violência nos interrogatórios e respectivas declarações, pois se elas não existissem não seria preciso admitir a sua probabilidade e negá-la sistematicamente, a PIDE acabou por abandonar a fórmula, que mais a comprometia do que a defendia, ao contrário das suas intenções.

Era, de resto, tal o estado de coacção dos presos que, em 1931, após o assassínio pela PSP dó estudante João Martins Branco, ao oficial da PSP que comandara o assalto à reunião dos estudantes do Porto, estudantes de Medicina, mandaram, pelo correio, a cabeça dum cadáver; a PIDE prendeu diversos estudantes, entre eles António Ramos de Almeida, que viria a ser um conhecido escritor e lutador antifascista, infelizmente já há anos falecido, e que tinha então apenas 17 anos. Conduzido à presença de um chefe da PIDE para ser interrogado, em cuja secretária estava a cabeça do cadáver enviada ao oficial da PSP, e à pergunta se sabia de quem era aquela cabeça, Ramos de Almeida, tal era já em 1931 a reputação da PIDE, e tão alheio estava à acusação, que respondeu ser aquela a «cabeça dum preso».

A quem, desde 1949, pôde prestar, a mais de setenta presos políticos, a solidariedade de tomar a sua defesa, em trinta e dois processos, estas imagens são inseparáveis dos nomes de tantos dos melhores filhos do nosso Povo que passaram peta Delegação no Porto da PIDE-DGS e ali foram torturados, com as mais requintadas torturas, desde o isolamento de semanas e meses, em celas subterrâneas, até às selváticas agressões a soco, a pontapé e a cavalo-marinho, aos insultos mais soezes e à «estátua» e privação do sono, durante dias e noites consecutivas. Rever as instalações da PIDE é, necessariamente, recordar, além de tantos outros, os 16 mineiros de São Pedro da Cova, ali presos em 1959, os 15 trabalhadores de Fafe, ali presos em 1951, os 5 trabalhadores de Custóias, igualmente ali presos em 1950, os 4 padeiros do Porto, também ali presos em 1959, e até praticamente uma aldeia inteira de Montalegre, com homens e mulheres, velhos e novos, que encheu as prisões da PIDE, sob a acusação de ter ajudado dois guerrilheiros espanhóis que se haviam refugiado em Portugal, após o termo da guerra civil espanhola.

E recordar igualmente tantos antifascistas que por ali passaram, a maior parte várias vezes, e ali sofreram corajosamente longas prisões, com todo o seu cortejo de arbitrariedades e prepotências, como Ruy Luis Gomes, Óscar Lopes, Virgínia Moura, Lobão Vital, António Macedo, Mário e Carlos Cal Brandão, do Porto; Vítor de Sá e Humberto Soeiro, de Braga; Lino Lima, de Vila Nova de Famalicão; António Ribeiro da Silva, de Viana do Castelo; e tantos outros cuja enumeração seria praticamente infindável.

E evocar ainda os militantes do Partido Comunista Português, o grande Partido da resistência contra o fascismo em Portugal, sobre os quais a PIDE desencadeou sempre a mais feroz repressão, submetendo-os às mais violentas formas de tortura, sem conseguir vergar a sua permanente atitude de luta contra o fascismo até com desprezo da própria vida, para o que bastará lembrar os nomes de alguns desses heróis da luta antifascista que continuam hoje um combate que iniciaram há já longos anos, em plena juventude, e que na Delegação no Porto da PIDE começaram a sofrer as brutais torturas, como Carlos Costa, de Fafe, em 1948, com pouco mais de vinte anos, mantido isolado durante cinco meses, e cujo pai foi preso como refém, durante 20 dias, como odiosa tentativa de obrigar Carlos Costa a ceder, e cuja absoluta negativa lhe haveria de valer a absolvição no Plenário mas a condenação em medida de segurança de internamento de 6 meses a 3 anos, por ser considerado «perigoso», o que constituiu o único caso de aplicação somente de medida de segurança no Plenário do Porto; Jorge Araújo, do Porto, preso a primeira vez em 1958, com 22 anos, e que ali viria a ser agredido a soco, a pontapé, e à régua, nas partes mais sensíveis do corpo, e que esteve 11 dias e 11 noites sem dormir; Mário Sena Lopes, do Porto, preso em 1961, agredido a soco e a pontapé, e batendo-lhe com a cabeça nas paredes, 7 dias e 6 noites sem dormir, um ano e quatro meses em regime de isolamento; Maria José Ribeiro, de Matosinhos, presa em 1962, com 26 anos, agredida a soco e com um chicote, um mês incomunicável; Hernâni Silva, do Porto, preso a primeira vez em 1950, com 23 anos, agredido a soco por 5 agentes, ao ponto de lhe rebentar o sangue pelo nariz e ouvidos, e chicoteado nas pernas durante sete horas, um dia; e 5 horas noutro dia, 14 dias às escuras numa cela subterrânea, e novamente preso em 1952, e cinco meses e meio isolado nas celas subterrâneas; Mário Araújo, de Fafe, preso, a primeira vez, em 1956, com 20 anos, mantido 6 meses numa cela subterrânea; e muitos outros que nas instalações no Porto da PIDE começaram a ser vitimas da sua abnegada e heróica luta contra o fascismo e em defesa do povo português.

E, finalmente, não se pode deixar de recordar os nomes de alguns dos assassinados pela PIDE no Porto, como Gervásio da Costa, operário têxtil de Fafe, que em consequência das torturas tuberculizou, em 1949, na Delegação no Porto da PIDE, vindo a morrer pouco depois; Manuel da Silva Júnior, de Viana do Castelo, que a PIDE pretendeu ter-se «suicidado» em 3 de Março de 1957, tal como pretendeu também apresentar como «suicídio», em 13 de Fevereiro de 1957, a morte do barbeiro de Fafe, Joaquim Lemos de Oliveira, após nove dias e nove noites da tortura da «estátua» e com as agressões de que foi vitima a soco, a pontapé e a cavalo-marinho.

As imagens da Delegação da PIDE-DGS no Porto estão indissoluvelmente ligadas a tantos vivos e mortos que ali foram torturados. E será com a trágica recordação dessas imagens que o povo português saberá dizer não ao fascismo. O fascismo não voltará a Portugal. O fascismo não passará.

Raul Castro

Texto publicado em "O ÚLTIMO DIA DA PIDE 26 DE ABRIL NO PORTO"
(edição do Movimento Democrático do Porto - 1974)

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Duas notas sobre a rua do Heroísmo:

- Já teve o nome de Rua do Alecrim, rua de S. Lázaro e rua do 29 de Setembro.

- "Na planta de Costa Lima, de 1839, aparece como Rua de 29 de Setembro. Derivava aquele topónimo da evocação do mais sanguinolento combate durante o cerco, na Quinta da China, nesse dia e mês de 1832, entre liberais e miguelistas. Recebeu o nome de Rua do Heroísmo para lembrar os actos valorosos praticados nesse recontro de 29 de Setembro. Já assim se chamava em 1877... "
"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas


Sobre o edifício: Actualmente é ocupado pelo Museu Militar do Porto. Alguns anexos do tempo da Pide já foram destruídos, nomeadamente aqueles que se encontravam junto do portão da rua do Heroísmo. Bem ao fundo ainda se encontra um pavilhão onde há poucos anos era visível a inscrição "P. V. D. E." (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado). 


20.4.14

Calçada portuguesa na Avenida dos Aliados


Avenida dos Aliados


Os técnicos, os urbanistas, o Arquitecto não têm culpa! Um dia, em 2005, fui eu que destruí a calçada portuguesa da Avenida dos Aliados antes que outros o fizessem. Na verdade ela já estava em muito mau estado!

O humor e o photoshop por vezes antecipam-se ao tempo. 



19.4.14

Cinema no Conservatório de Música do Porto

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Em 2004 o Conservatório de Música ainda estava instalado no Palacete Pinto Leite na rua da Maternidade.

Party de Manoel de Oliveira. Preparação da instalação do "Cinema Fora do Sítio".



17.4.14

Maternidade de Júlio Dinis

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O edifício da maternidade foi concebido de origem numa propriedade que tinha pertencido a um britãnico. A sua inauguração ocorreu em 1939.

Frente à entrada principal existiu um agradável jardim actualmente ocupado por pavilhões de consulta. Ainda subsiste uma pérgola à volta de uma fonte que parece já existir na propriedade antes da construção da maternidade.

O projecto é da autoria do arquitecto Georges Épitaux (Lausanne 26/11/1873 - 17/4/1957). Este arquitecto também desenhou o antigo edifício da O.I.T. (inaugurado em 1926) conhecido também como Centro William Rappard actualmente ocupado pela O. M. C. (Organização Mundial do Comércio). Nele existe um azulejo realizado por Jorge Colaço (1928).

Os locais começaram a ser construidos em 1928 e a obra terminou em 1937. Problemas financeiros arrastaram a sua concretização e inauguração.

Dentro de semanas será inaugurado, em terreno anexo, o C M I N (Centro Materno-Infantil do Norte). 


16.4.14

D. Quixote e Sancho Pança

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Na rua Diogo Brandão.

Demorou algum tempo mas já está terminado. Durante umas semanas, os autores andaram à procura de um andaime. "Uma manhã, chegou uma carrinha com os andaimes. Demoraram toda a manhã a montá-los. Depois os "rapazes" acabaram isto depressa" - disse-me um vizinho. 

Já anteriormente foram publicadas imagens desta empena.



Campo Piqueno

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Também conhecido por: largo da Maternidade Júlio Dinis.




15.4.14

Praça General Humberto Delgado (1975)

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Fotos digitalizadas (arquivo pessoal) - Verão 1975




Dr. Alfredo de Magalhães (busto)

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Busto do Dr. Alfredo de Magalhães, do escultor Pinto do Couto; obra em bronze, que originariamente se encontrava no átrio da entrada principal do edifício da Maternidade.

O pedestral de granito que o suporta, foi desenhado pelo arquitecto Rogério de Azevedo.

Sobre este antigo presidente da Câmara do Porto pode ver mais aqui.



11.4.14

Bairro Parceria e Antunes

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(2014)


A 14 de maio de 1975 foram aprovados os estatutos da "Associação de Moradores do Bairro Parceria Antunes. 


Este bairro estava situada numa zona de Intervenção do Serviço de Apoio Ambulatório Local e o arquitecto responsável pela brigada técnica foi Fernando Távora.


O novo bairro (municipal) ficou terminado em Agosto de 2005. Anteriormente era um velho bairro de habitação como tantos outros que existiam junto das zonas fabris. A demolição do velho bairro começou em 2002.


O Centro Materno-Infantil do Norte está já em fase de acabamentos num terreno que anteriormente pertencia parcialmente a este bairro.


Ainda me lembro que existia uma ruela e uma escadaria que ligavam o "Campo Piqueno" ao largo "do Infante" (Alexandre Sá Pinto).




5.4.14

Rua Afonso de Albuquerque

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A estátua de Afonso de Albuquerque que foi realizada para a Exposição Colonial Portuguesa de 1934 (nos jardins do Palácio de Cristal) encontra-se no largo D. João III, que em parte é bordado por esta artéria.




3.4.14

Rua António da Silva Marinho (2014)

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Esta rua já aqui foi publicada. Hoje juntamos alguns dados biográficos do industrial que lhe deu nome.

António da Silva Marinho (1858-1920) Parcos são os dados que encontramos na internet sobre ele. A página da C. M. P. também nada nos diz, o que lamentamos.

A sua fábrica de texteis ficava situada na rua da Saudade, zona em que até finais dos anos sessenta do século XX ainda existiam algumas indústrias entre as quais a fábrica de cerveja da CUFP. A EFI ficava ali a dois passos na rua Júlio Dinis.

Foi membro da Associação Industrial Portuense e seu Presidente entre 1908 e 1910. Existem registos que acolheu o rei D. Manuel II quando da sua visita à cidade. Um artigo de "O Tripeiro" de Junho de 2012 também lhe é dedicado.

Mais dados sobre a pessoa ou sobre a fábrica que dirigiu são bem acolhidos aqui neste blogue.


Esta artéria começa na rua Conde da Covilhã


e termina na rua da Preciosa.


2.4.14

Rua Conde da Covilhã

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Júlio Anahory de Quental Calheiros (Oliveira do Hospital, 18 de Novembro de 1899 - Lisboa, 16 de Abril de 1970), que usou o título de 3.º Conde da Covilhã, foi um empresário agrícola, industrial e banqueiro e dirigente desportivo português.

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, foi destacada figura da sociedade portuguesa, bem como das atividades bancárias e industriais do país que ocupou no Porto, Cidade da sua residência, lugares de relevo na Banca e na Indústria de Seguros, assumindo a Presidência do Conselho de Administração do Banco Borges & Irmão desde que nele transformou a antiga Casa Bancária portuense da mesma denominação e ao qual o seu nome fica indestrutivelmente ligado ao desenvolvimento nele operado, e dirigindo empresas agrícolas, industriais e comerciais nortenhas àquele Banco ligadas. 
Foi um dos criadores e fundadores da Manufatura Nacional de Borracha (MABOR), pioneira da indústria de pneus em Portugal e hoje ocupando lugar destacado na indústria europeia da mesma especialidade, da Empresa das Termas de Monfortinho, sendo responsável pela sua valorização turística, e da Indústria Têxtil do Ave, subsidiária da MABOR, a qual constituiu, organizações a que presidiu. 
Foi também Fundador das Indústrias de Construção e Empreendimentos (ICESA), responsável pelo grande conjunto urbano de Santo António dos Cavaleiros, estando também ligado ao Banco de Crédito Comercial e Industrial, que alargou a sua esfera de ação pessoal a Angola e Moçambique, e a muitos outros empreendimentos a que não ficou alheia a própria vida económica do Brasil, onde permaneceu durante alguns anos e onde a indústria de construção naval e o popular Banco Borges, que criou com sede no Rio de Janeiro, atestam o impulso forte da sua invulgar personalidade, de forte tempra, de espírito multifacetado e invulgar capacidade de iniciativa. 
Foi Vice-Presidente do Automóvel Club de Portugal e ocupou vários cargos na Direção do Sporting Clube da Covilhã, onde tomou posse em 1961 como Presidente do Conselho Fiscal, em que o Presidente da Direção era o seu irmão mais novo o Dr. José Borges de Albuquerque Calheiros, tornando-se pela primeira vez Presidente do Clube na época de 1965/1966, onde permaneceu até 1967, tendo sido um seu grande obreiro, principalmente pelo seu apoio financeiro e dedicação.
Usou o título de 3.º Conde da Covilhã por Autorização de D. Manuel II de Portugal no exílio de 10 de Julho de 1931.

Ver igualmente: Casa da D. Maria Borges neste blogue


1.4.14

Rua José Régio

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José Régio (1901-1969)

Escritor português, natural de Vila do Conde, onde viveu até completar o quinto ano do liceu, após o que continuou a estudar no Porto. 
José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira, publicou, em Vila do Conde, nos jornais O Democrático e República, os seus primeiros versos. Aos 18 anos, foi para Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925), com a tese «As Correntes e As Individualidades na Moderna Poesia Portuguesa». Esta foi pouco apreciada, sobretudo pela valorização que nela fazia de dois poetas então quase desconhecidos, Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. Esta tese, refundida, veio a ser publicada com o título Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa (1941). 
Com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões fundou, em 1927, a revista Presença (cujo primeiro número saiu a 10 de Março, vindo a publicar-se, embora sem regularidade, durante treze anos), que marcou o segundo modernismo português e de que Régio foi o principal impulsionador e ideólogo. Para além da sua colaboração assídua nesta revista, deixou também textos dispersos por publicações como a Seara Nova, Ler, O Comércio do Porto e o Diário de Notícias. No mesmo ano iniciou a sua vida profissional como professor de liceu, primeiro no Porto (apenas alguns meses) e, a partir de 1928, em Portalegre, onde permaneceu mais de trinta anos. 
Só em 1967 regressou a Vila do Conde, onde morreu dois anos mais tarde. Participou activamente na vida pública, fazendo parte da comissão concelhia de Vila do Conde do Movimento de Unidade Democrática (MUD), apoiando o general Norton de Matos na sua candidatura à Presidência da República e, mais tarde, a candidatura do general Humberto Delgado. Integrou ainda a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), nas eleições de 1969. 
Como escritor, José Régio dedicou-se ao romance, ao teatro, à poesia e ao ensaio. Centrais, na sua obra, são as problemáticas do conflito entre Deus e o Homem, o indivíduo e a sociedade, numa análise crítica das relações humanas e da solidão, do dilaceramento interior perante a relação entre o espírito e a carne e a ânsia humana do absoluto. Levando a cabo uma auto-análise e uma introspecção constantes, a sua obra é fortemente marcada pelo tom psicologista e, simultaneamente, por um misticismo inquieto que se revela em motivos como o angelismo ou a redenção no sofrimento. A sua poesia, de grande tensão lírica e dramática, apresenta-se frequentemente como uma espécie de diálogo entre níveis diferentes da consciência. A mesma intensidade psicológica, aliada a um sentido de crítica social, tem lugar na ficção. 
Como ensaísta, dedicou-se ao estudo de autores como Camões, Raul Brandão e Florbela Espanca. Na revista Presença, assinou um editorial («Literatura Viva») que constituiu uma espécie de manifesto dos autores ligados a este órgão do segundo modernismo português, defendendo a necessidade de uma arte viva, e não livresca, que reflectisse a profundidade e a originalidade virgens dos seus autores. Estreou-se, em 1926, com o volume de poesia Poemas de Deus e do Diabo, a que se seguiram Biografia (1929, poesia), Jogo da Cabra-Cega (1934, primeiro romance), As Encruzilhadas de Deus (1936, livro de poesia e tido como a sua obra-prima), Primeiro Volume de Teatro: Jacob e o Anjo e Três Máscaras (1940), Davam Grandes Passeios aos Domingos (novela publicada em 1941 e incluída, em 1946, em Histórias de Mulheres), Fado (1941, livro de poesia com desenhos do irmão Júlio, principal ilustrador da sua obra), O Príncipe Com Orelhas de Burro (1942, romance), A Velha Casa (obra inacabada, mas de que chegaram a sair os volumes Uma Gota de Sangue, em 1945, As Raízes do Futuro, em 1947, Os Avisos do Destino, em 1953, As Monstruosidades Vulgares, em 1960, e As Vidas São Vidas, em 1966), Mas Deus É Grande, (1945, poesia), Benilde ou a Virgem-Mãe (1947, peça de teatro adaptada ao cinema, em 1974, por Manuel de Oliveira), El-Rei Sebastião (1949, «poema espectacular em 3 actos»), A Salvação do Mundo (1954, tragicomédia em três actos), A Chaga do Lado (1954, sátiras e epigramas), Três Peças em Um Acto: Três Máscaras, O Meu Caso e Mário ou Eu Próprio-O Outro (1957), O Filho do Homem (1961), Há Mais Mundos (1962, livro de contos, pelo qual recebeu o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores), Cântico Suspenso (1968, poesia) e, a título póstumo, Música Ligeira (1970, poesia), Colheita da Tarde (1971, poesia) e Confissão Dum Homem Religioso (1971, obra de reflexão). 
Na sua obra ensaística, destacam-se ainda os Três Ensaios Sobre Arte (1967), que reúnem textos publicados anteriormente, e Páginas de Doutrina e Crítica da Presença, recolha feita por Alberto Serpa, relativamente à colaboração de Régio na Presença (1977). 
Partilhou ainda, com o irmão Júlio, o gosto pelas artes plásticas, tendo chegado a desenhar uma capa para a Presença e feito os oito desenhos que, a partir da 5ª edição, ilustram os Poemas de Deus e do Diabo. 
É considerado, por alguns, como um dos vultos mais significativos da moderna literatura portuguesa. Recebeu, em 1961, o prémio Diário de Notícias e, postumamente, em 1970, o Prémio Nacional de Poesia, pelo conjunto da sua obra poética. As suas casas de Vila do Conde e de Portalegre são hoje museus.




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