31.1.14

Efeméride - 31 de Janeiro 1891 no Porto

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Para relembrar a revolta


Mas como para além dos actos colectivos também há vidas pessoais aqui vai uma pequena história escrita aqui há uns anos


(A foto é da rua 31 de Janeiro)




“O rapaz tinha à sua frente uma ladeira cheia de movimento na rua ladeada de tabernas.

Acabara de chegar à estação do Pinheiro vindo de Barcelos.

Era Janeiro, estava frio, como o dinheiro era pouco tinha que ir a pé até à morada que estava escrita num papel que tinha no bolso. Não sabia se era longe ou se era perto mas aos 16 anos chegaria até ao mar se fosse preciso.

Lá ao cimo estava o Freixo, depois seguiu por uma grande rua recta. Seguia o movimento dos carros e das pessoas. A trouxa pouca coisa tinha, não pesava.

Naquela manhã pensava que tinha a vida à sua frente, mas ia andando sempre, não tinha a noção do tempo, só sabia que era longe, que tinha que passar para além da grande praça. Mas muita gente ia naquela direcção, parecia um dia de romaria. Não se espantou.

Por fim, lá chegou à Batalha. Uma grande confusão. Muita gente, cavalos, bois. Nunca imaginara que uma cidade seria assim.

A certa altura ouviu tiros, gente a correr, balas a assobiar. Não sabia o que se passava. Agarrou com mais força a trouxa com a roupa, descalçou os tamancos. Correu na direcção contrária de onde vinham os tiros, de onde pensava que vinham os tiros. Seguiu os outros pela rua do Cimo de Vila.

Abrigou-se numa porta da rua Chã, encostado ao granito da ombreira. Não sabia onde estava, não sabia para onde ir, pensava-se protegido.

A porta abriu-se e um homem perguntou-lhe o que estava ali a fazer. Que entrasse, senão ainda apanhava uma bala perdida.

E o rapaz entrou. Inácio Ferreira da Silva tinha encontrado um marçano para o ajudar no seu comércio. Teodósio de Faria, naquele momento encontrou um patrão, não aquele a que vinha destinado. Anos mais tarde tornar-se-ia genro do Inácio. “

Foi assim que chegou o pai do meu padrinho ao Porto, na manhã do 31 de Janeiro de 1891. Talvez por esta razão todos os seus filhos se declaravam republicanos.

A história foi-me contada nos anos 90 do século XX por um irmão do meu padrinho, em S. Miguel de Ceide. Eu ainda não a conhecia apesar de ter privado muito com a família nos anos 60.





30.1.14

Porque amanhã é 31 de Janeiro






Lugar do 31 de Janeiro na História



Texto de Pedro Baptista




O período de 1873 a 1896 é marcado, na Europa, por uma grande depressão económica e financeira a que corresponde um crescendo da agitação do movimento operário. 


Em Portugal, a crise é sobretudo industrial e comercial, provocando um agravamento tributário e um excesso hipotecário e cambial, a que corresponde uma profunda crise social, com grande encerramento de postos de trabalho, que se expressa não só no levante das lutas operárias como num fortíssimo fluxo emigratório para o Brasil, autêntico “gado humano”, no dizer de Oliveira Martins. 


No Porto, a crise sente-se com grande intensidade a partir de 1889. Como se a falência do projecto de ligação Porto-Salamanca e a filoxera a destruir o Douro não bastassem, o governo decreta a lei da selagem que leva ao encerramento de armazéns contra os privilégios da Companhia Vinícola e ao agravamento da crise e agitação sociais.


Eis a terra revolvida e úbere onde cairia o ultraje do Ultimatum vitoriano, um autêntico diktat contra a soberania portuguesa, com o lanço trazido da Conferência de Berlim de 1885 onde as grandes potências procuraram redesenhar os impérios coloniais, com evidente prejuízo do português. O rei e o governo de cócoras, um clamor nacional de protesto encimado pelo partido republicano. Queda do Governo, tratado de 20 de Agosto de 1890 apresentado ao país por António Enes, num modus-vivendi como uma vitória a iludir alguns . A pena demolidora de Sampaio Bruno, depois de duas décadas de desmontagem dos fundamentos da monarquia, colocando o debate político já não entre monarquia e república mas entre república federal ou unitária, agora a demonstrar com a sua característica profundidade racional, argúcia argumentativa e cultura excepcional, que nem tudo o que luz é ouro e a despatinar a palha dourada encenada pelos monárquicos liberais de Enes, aquele que Eça acusou, nas “Farpas”, de ter desertado das fileiras republicanas para ir fazer de sentinela à porta do partido histórico . O modus-vivendi de Enes melhor seria um modus-moriendi ! !


A propósito do ambiente de Setembro, a seguir ao Tratado, Basílio Teles escreveu: “Se houve instante, nesse ano de 1890 tão fecundo em peripécias, em que o sentimento nacional estivesse incondicionalmente à disposição dessa minoria de rebeldes, foi sem dúvida alguma, este. Nesses dias de torturante ansiedade Pinheiro Chagas pode escrever sem sombra de exagero literário, que não foram os monárquicos, mas os republicanos, que mantiveram a desprezada coroa na cabeça de D.Carlos” .


E acrescentou: “Não se queria atender que a humilhação não estava nas palavras mas nas intenções e nos actos; que as amabilidades trocadas não impediam nem a realidade, nem a grandeza da extorsão; que a frase açucarada não era por isso menos cominatória e imperativa; que a iniciativa aparente de modo algum excluía a coacção. Isto viram imediatamente alguns homens, dos poucos que não corriam facilmente atrás das habilidades do escriba, entre eles, o publicista José Sampaio (Bruno) que numa série de excelentes artigos publicados no jornal republicano do Porto, desfez a teia de aranha laboriosamente estendida por Enes à crédula pacovice indígena .


Para Ruy Luis Gomes, o Porto era onde havia mais condições revolucionárias pois, dispunha de uma pequena burguesia com grande tradição e experiência na luta pelas liberdades cimentada desde 1820, dispunha de uma clara supremacia operária em relação ao resto dos sectores populares e, finalmente, por ser a cidade que dispunha de um pensamento político e especulativo mais autónomo e mais atento aos problemas da ciência e da filosofia, ou não fosse onde Sampaio Bruno pontificava . 


O Porto do Século XIX, no dizer do insigne matemático, com base nos estudos efectuados por uma comissão dirigida por Oliveira Martins, era a única cidade industrial do país, contando, em 1881, de 108 mil habitantes, 37 377 a viverem da actividade industrial, chegando a percentagem operária, em 1890 e 1900, a atingir os 50% da população . 
Ponto de vista já enunciado por Basílio Teles para quem “não resta senão o Porto capaz de conduzir uma revolução a sério” ou pelo jornalista Heliodoro Salgado para quem o Porto é a cidade “onde mais viva palpita agora a velha fibra revolucionária adormecida em 1847” .


Pontos contestados por A. H de Oliveira Marques em “a Propósito do Ultimatum e do 31 de Janeiro” que considerava que no Porto “o fermento revolucionário era sem dúvida menor do que em Lisboa” . No entanto, quando se vai procurar o fundamento da propalada indubitabilidade historiográfica, encontra-se apenas uma opinião sem suporte, vislumbrando-se, com espanto, nas considerações do grande historiador, o fermento do sectarismo bairrista que ancestralmente opõe Lisboa à Cidade do Porto.


Pelo contrário, sendo certo que a agitação revolucionária estava em levante em todos os poucos grandes centros urbanos do país, acelerado pela vergonhosa submissão da monarquia portuguesa aos ditames da Rainha Vitória durante todo o correr de 1890, e que Lisboa era um dos locais onde mais se centrava a conflitualidade política com numerosas manifestações republicanas e uma brutal repressão, ou não fosse a própria sede da Monarquia, é também certo que o Porto, além de alimentar o mesmo tipo de agitação republicana, reunia de sobremaneira as condições apontadas por Ruy Luís Gomes, onde é necessário sublinhar o papel da imprensa revolucionária, em particular da “República”, que se publicou entre Abril e Agosto de 1890, a que se seguiu a “República Portuguesa”, onde João Chagas zurzia com assinalável pontaria e audácia o cadavérico regime e, como já vai dito, o filósofo Sampaio Bruno aprofundava os pontos de vista republicanos imprimindo-lhes o mais demolidor fundamento argumentativo, racional e filosófico.


De resto não foi por acaso ter sido o Porto a eleger, logo em 1878, por grande maioria, o primeiro deputado republicano na pessoa do professor Rodrigues de Freitas…


A.H de Oliveira Marques afirma ainda que o movimento foi débil e extemporâneo, sem o acordo do PRP nem da Maçonaria que se teriam oposto, sendo tudo isto bem conhecido.
Sem dúvida e bem conhecido mas, afinal, apenas com base numa comunicação apresentada em 1990 por Fernando de Sousa onde esta opinião é expressa, mas não é mais do que uma opinião tal como a de Oliveira Marques.


Se há espírito livre em relação a tudo e crítico do 31 de Janeiro (31 J), embora sempre numa perspectiva revolucionária, é o de Basílio Teles, cujo carácter revelado na obra literária, filosófica e política e na actuação de toda uma vida merece o maior crédito.


Que nos relata que o mês de Janeiro viu assomar, no Congresso realizado em Lisboa, uma divergência profunda no Directório do Partido republicano, certamente interactiva com divergências na Maçonaria, que se saldou no afastamento de José Elias Garcia e na ascensão de Francisco Homem Cristo .


Heliodoro Salgado, por sua vez, esclarece que o novo Directório que desde há muito trabalhava na preparação da sublevação anti-monárquica, de onde ele próprio se vira afastado, não era composto por traidores mas por republicanos que queriam tanto como os anteriores fazer a revolução. No entanto, “cegara-os o ódio contra Elias Garcia”, a vetusta e carismática figura que era o líder do partido, tendo as circunstâncias em que o processo decorreu denotado profunda deslealdade e mesmo “uma traição de facto” .


É que os que se alcandoraram ao poder no Congresso estavam perfeitamente cientes do que se preparava no Porto, acalentado ainda mais pela publicação do Manifesto-Programa do PRP redigido por Teófilo Braga, Bernardino Pinheiro, José Jacinto Nunes, incluindo o novel líder Francisco Homem Cristo que vem ao Porto, fala com os operacionais e, salvo pequenas divergências, manifesta-se de acordo com a acção.


No entanto, para o plumitivo republicano, o novo Directório queria que Elias Garcia e todos os seus apoiantes fossem marginalizados, fazendo “ uma república exclusivista, sacrificando odiosamente todos os velhos elementos de acção” . 


Ora no dia 27 de Janeiro, além da condenação a prisão do jornalista João Chagas, redactor de “A República Portuguesa”e da publicação em “Debates” de uma “Prevenção”, segundo Heliodoro, da autoria do Tenente Homem Cristo, onde se denunciavam os preparativos insurrecionais, o governo, como nos narra Basílio, desistiu de remédios prontos e enérgicos e optou pelas transferências. Vendo-se ou presumindo-se descobertos os ameaçados consultaram-se e resolveram defender-se apelando para a fidelidade, na hora do perigo, do partido revolucionário .


A essas transferências de militares suspeitos de alinhamento com o levantamento republicano, estes, constituídos sobretudo por sargentos, antes que fossem inteiramente dispersos, responderam com a antecipação da data insurrecional, segundo Hediodoro, não esperando pela data que Elias Garcia tinha combinado com os militares da “província”.


Alves da Veiga conseguiu adiar de 29 para 31, mas depois teve de ceder ao dilema colocado pelas evidências apresentadas pelos militares: ou se avançava antes das transferências ou não havia mais condições para a decisiva participação dos militares disponíveis que eram sobretudo os de baixa patente. 


Diz-nos Basílio Teles que “as cousas precipitaram-se com tal rapidez que, ainda sem os motivos a que vimos aludir, seria muito difícil levar essa espécie de conselho de guerra a uma resolução unânime” . Assim se chegou ao 31J.


Ora a seguir ao 31J o GOL irradiou os irmãos das lojas do Porto onde pontificavam figuras como Alves da Veiga, mas essa condenação pode ser apenas uma expressão da má consciência de terem deixado isolada a insurreição portuense, como se pode depreender do facto de tal condenação ser tão extemporânea que levou a uma forte contestação entre os próprios maçónicos lisboetas, sendo que o próprio Oliveira Marques que tem um olhar historiográfico sobranceiro sobre a insurreição, reconhece que aqui houve exagero. Aliás o GOL tanto parece ter agido por má consciência que, pouco depois, levantou a irradiação que tinha intentado contra Augusto Manuel Alves da Veiga. De notar que Oliveira Marques acaba por reconhecer que provavelmente o 31 de Janeiro terá tido grande apoio popular mas que esse “estudo precisa ainda de ser elaborado” .


Aliás , um ou outro historiador são pródigos em referências apoucando a dimensão do 31J, tanto no que diz respeito à participação popular como à militar - reduzindo-a a uma sargentada, repetindo a expressão usada, noutra perspectiva, por Heliodoro Salgado.


Como se sendo uma capitanada ou uma generalada tivesse um papel mais digno que um insurreição que mobilizou entusiasticamente milhares de civis a enquadrarem centenas de sargentos e praças da guarnição intencionalmente debilitada da cidade do Porto. Até porque desde muito cedo que o grosso dos oficiais se mantinham fiéis ao regime que lhes tinha reforçado as prebendas, em particular o pré, sabendo-se que era na massa dos sargentos e dos soldados, lado a lado com os diversos sectores populares civis, incluindo a pequena-burguesia urbana, que fervilhava o ideal do derrube do regime monárquico.


Até se poderia dizer que a insurreição do 31J se fez contra os oficiais, não só pelo pequeno número de aderentes nessa patente, como pelo papel pérfido do comandante de Infantaria 18(I 18) lançando por terra os códigos de camaradagem militares, como ainda pelo facto de os oficiais do I18 terem tomado a iniciativa de manterem sequestrados nas casernas os soldados para estes não aderirem à insurreição.


O insuspeito Basílio Teles acentua o carácter popular, tanto na vertente militar como civil, e enfatiza a ousada iniciativa arrancada partir dos soldados. E foram os paisanos a tomar a iniciativa de investir contra o portão de I 18. “ Pela primeira vez no nosso pais, a multidão obscura que vegeta nos quartéis ou se agita vagamente nos bairros da miséria, veio gritar francamente, à luz do dia, que está farto da monarquia e dos Braganças“ . E noutro passo referindo-se ao ataque decisivo ao I 18 para libertar os soldados sequestrados pelo comando: “O assalto à porta da Lapa é, essencialmente, uma destas façanhas populares que se nos deparam com frequência na história das insurreições, e que seria absurdo, além de injusto, imputar a dois ou três cabecilhas como seus autores exclusivos” .
Ora sendo Basílio Teles crítico como ninguém do plano insurrecional do 31J, assumindo-se aliás como um estratego da necessário revolução, porque haveria de louvar o que não houvesse a louvar ou inventar factos onde eles não existissem?


Lendo os relatos fidedignos do 31J, fica-se com a ideia, evidente, de uma insurreição de planeamento insípido, em que o idealismo voluntarista substituiu o rigor dum plano operacional, a fé na vitória substituiu a exigência de confirmação dos apoios prometidos, e o romantismo substituiu a desconfiança conveniente face ao comportamento humano, enquanto se acalentam as ilusões de não-violência num acto que é violento por natureza.


Fica a ideia de uma insurreição lançada com uma grande margem de imponderabilidade, mas foram assim grande parte das revoluções em todos os lugares e em todos os tempos. O próprio 5 de Outubro foi dado como perdido, levando ao suicídio de um líder militar, quando afinal triunfava. A insurreição soviética venceu mas a alemã de Hamburgo pereceu, enquanto a da Baviera foi um sucesso, nada se podendo atestar sobre a competência operacional dos bávaros em relação aos do Norte da Germânia. 


Podemos perorar com milhares de páginas sobre as causas positivas das vitórias e as negativas das derrotas, mas depois das coisas ocorridas é fácil esse tipo de perorações analíticas… Depois do baptizado, não faltam padrinhos… A Revolução de Fevereiro de 1927 falhou por carência de adesões nacionais embora dirigida ao mais alto nível, e falhou como podia não ter falhado se Lisboa tivesse alinhado a 4 e não a 7, a intentona da Mealhada falhou porque não pegou embora se considerasse que as condições estavam maduras para que uma fagulha incendiasse a planície, falharam inúmeras tentativas em 48 anos de ditadura por um motivo ou por outro ou por motivos ignotos, falhou a antecipação spinolista do 16 de Março de 1974 e falhou por que outros não aderiram, e o 25 de Abril, sem dúvida mais bem organizado, bem comandado e bem estribado em comunicações, ainda assim podia ter falhado em lugar de vencido, porque o aspecto emocional da adesão ou não das forças que são constituídas por pessoas, para o sucesso da onda revolucionária, continua a ser de medição e prospecção dificílima e é por isso que esse é o clímax trágico dos processos insurrecionais. Mais um minuto ou menos um minuto, uma palavra mais mansa ou uma palavra mais brava, um aceno de sedução ou um tiro de revólver, uma afirmação acreditada ou pelo contrário rejeitada, um carácter mais indómito ou mais dúbio, podem determinar para que lado cai o castelo de cartas. Mas se o 25 de Abril tivesse falhado não faltaria quem verberasse a falta de madureza das condições, a falta de um plano, a actuação ridícula dos operacionais, etc. etc….


A ingenuidade do Capitão Leitão, acreditando nos cânticos sibilinos do Coronel Lencastre prometendo a adesão do I 18 e no coração revolucionário do Major Graça que haveria miraculosamente de pôr a Guarda Municipal ao lado da República, são estremes em matéria de ingenuidade humana e inépcia política, mas nada de inusual neste tipo de levantamentos. Não foi pelo desembarque de um marinheiro ferido que terá abortado a operação Dulcineia comandada pelo intrépido Capitão Galvão habituado a todo o tipo de planos e quadrículas? Não se deixou o General Delgado cair na armadilha montada pela PIDE, convencido que se ia encontrar com dois oficiais do Exército, quando caiu nas garras dos assassinos da PIDE? Todos os que perdem foram ingénuos, ou se apresentaram mal preparados, ou cometeram erros grosseiros que alguns críticos, mormente historiadores, nunca cometeriam porque nunca teriam nem o arrojo nem a dignidade de se levantarem, ai dos vencidos! 


Claro que se pode e deve analisar a posteriori os erros das batalhas perdidas, mas convém sobriedade, rigor e a competência de discernir o que são erros de decisão ou actuações pusilânimes, de acções que dificilmente poderiam ser de outra maneira, actuações de risco que tanto podem correr bem como mal mas são as necessárias porque nas condições concretas não há outro caminho.


Foi um erro de consequências incalculáveis, desistir de tomar I18 depois de arrombado o portão pelos machados da força popular, prendendo o Coronel Lencastre e portanto, como afirmava Basílio, respeitando-lhe os escrúpulos. Na análise minuciosa do pensador portuense, os dirigentes civis deviam ter imposto a sua autoridade face à incapacidade do dirigente militar. O mesmo no referente à Guarda Municipal. Numa revolução pode procurar-se o mínimo da violência mas tem de se estar preparado para os maiores embates. Houve sem dúvida um excesso de optimismo dos insurgentes pensando que se poderia repetir o cortejo triunfal de 1820 e que o facto da banda entoando “a Portuguesa” arrastar atrás de si multidões, em plena madrugada, pelas ruas do Porto, significava ipso facto adesão certa da guarnição militar em particular do seu sector mais operativo, o da Guarda Municipal.


Também a preparação política do levantamento deixou a desejar, pois os republicanos não encetaram contactos com os socialistas nem outros representantes do operariado, o que levou Ruy Luís Gomes, talvez desejoso de enviar um sinal para os tempos em que falava (1951), a apontar como um erro maior do 31 J a falta de unidade das forças populares. Só já depois de varridos da Rua de St. António e encurralados na Câmara Municipal é que gizaram in extremis um plano de contra-ataque e de diversão que contaria com o apoio organizado dos operários, através de conversações com o socialista Luís Soares. Mas era preciso tempo e já era tarde. A artilharia já despejava a bombarda e a Guarda Municipal descia St.António. Os revoltosos estavam cercados, resistiriam durante hora e meia mas depois sucumbiram. As tropas que, de Barcelos, Braga e Guimarães, se movimentavam para o Porto não poderiam chegar a tempo. E o telégrafo mantinha-se nas mãos da monarquia. Nem os últimos cartuchos se puderam queimar.
A verdade é que se alguns detalhes tivessem corrido de forma diferente do que correram, o 31 J poderia ter sido vitorioso. O combate poderia nem ter existido ou ter durado muito menos da hora e meia que durou. Em “A República Portuguesa”, às 4 da matina, vai para a máquina o número do 31 J onde transborda a certeza na vitória. Chagas está preso, foi provavelmente Bruno a escrever aquelas palavras. A República poderia ter sido proclamada em Portugal a partir do Porto, não por nove horas, mas para sempre, dezanove anos antes de ter ocorrido a partir de Lisboa.


Só que desta vez a sorte das armas, depois de também balancear para um lado e para outro, acabou por inclinar-se para o lado republicano! Demorou tempo a germinar, depois da sementeira de 1891, mas acabou por despontar e florir! 


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Agradeço ao Pedro me ter disponibilizado o texto para publicação aqui.
A imagem é minha e data de 2005 ou 2006, peço desculpa pela má qualidade.




Rua John Whitehead

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John Whitehead nasceu no Lancashire em 1726. Homem cultivado - produto do Século das Luzes - interessado pelas ciências, amigo do saber e bibliófilo, residiu no Porto de 1756 até à sua morte (18/12/1802). Foi cônsul de Grã Bretanha, indigitado pela Feitoria Inglesa.

Exerceu uma notável influência no urbanismo da cidade (devemos-lhe a parte almadina da praça da Ribeira entre outras realizações), autor do risco do edifício da Feitoria, sem dúvida graça à sua influência foi escolhido John Carr para a realização do Hospital de Santo António. Trabalhou com Joaquim da Costa Lima Sampaio na altura arquitecto da cidade.

Foi o fundador do Cemitério dos Protestantes, em 1788, (também conhecido por Cemitério dos Ingleses) no Campo Pequeno em cujo centro se encontra sepultado.



Nota: Levou muito tempo mas finalmente o município prestou a homenagem devida ao Cônsul atribuindo o seu nome a uma rua. 


29.1.14

Rua António Cardoso

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No número 175 desta artéria situa-se a moradia de Joaquim Ayres Gouveia Allen, projecto de 1927 do arquitecto Marques da Silva.

Nos seus jardins, mas com entrada pela rua Rúben A existe a Casa das Artes - cujo projecto é da autoria de Eduardo Souto Moura (1981-1988).

Actualmente o palacete Allen, como também é conhecido, está ocupado pelos serviços da Direcção Regional de Cultura do Norte.




27.1.14

Rua Fernando Cabral

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Fernando Soares Cabral Monteiro nasceu em 1928, na freguesia da Vitória, no Porto. Licenciado em Direito e diplomado em Ciências Pedagógicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi vice-governador civil do Porto, entre 1974 e 1976. Após o 25 de Abril integra o núcleo fundador do PPD, com Francisco Sá Carneiro, ocupando vários cargos de representação política.

Presidente da Câmara Municipal do Porto, eleito em 1986, exerceu o mandato até finais de 1989, estando ligado, entre outros projectos, ao lançamento da Via de Cintura Interna (VCI), criação do Parque da Cidade e compra do Teatro Rivoli.




24.1.14

Praceta

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No meio de um condomínio mas acessível. Entre a rua Fernando Cabral e a rua Domingos Machado, ali em Francos perto da Carcereira.


23.1.14

Casa de Saúde da Carcereira

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A Casa de Saúde da Boavista é pertença da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. 

É uma Instituição de saúde privada, de inspiração Católica e de utilidade pública.

Inaugurada em 08 de Setembro de 1934, surgiu para dar resposta à necessidade de preparar, técnica e cientificamente, as Irmãs Enfermeiras. Ao longo da sua história tem sido alvo de grandes remodelações e ampliações sendo a primeira, a construção de um Bloco Operatório, cuja inauguração data de 1940, tendo sido considerado, na época, o melhor da Península.

Em 1935 abriu uma Escola de enfermagem, que foi oficializada em 1937, com o nome de “Instituto de Ensino da Associação das Franciscanas”, para formar Irmãs Enfermeiras. Em 1950, modelarmente montada, abre as suas portas a alunas seculares. Em 01 de Outubro de 2006 esta Escola é integrada na Universidade Católica Portuguesa.

Em 04 de Outubro de 1952 é inaugurado o Serviço Permanente de Medicina e Cirurgia, mais vulgarmente designado por “Urgências da Carcereira”, que ao longo dos anos desenvolveu um importante serviço na cidade do Porto.
 Por falta de condições físicas, técnicas e económicas, a Congregação decidiu encerrar este serviço ao público em 1982 e reconverter aquele espaço num Serviço de Consultas e de Imagiologia.

Em 1997, a Congregação, apoiada no parecer da Direcção da Casa de Saúde e nas exigências da legislação em vigor, decidiu empreender a grande remodelação e ampliação das suas instalações.

As prioridades seriam: Bloco Operatório Central, toda área de Internamento, Pavilhão de consultas e construção de um Bloco de Cirurgia de Ambulatório.
Sendo reconhecida ao longo dos tempos a grande lacuna deixada pelo encerramento do serviço de Urgência, o projecto de obras contemplou, também a construção de um novo espaço destinado a um serviço de Atendimento Permanente, que de novo abriu as suas portas ao Público em 05 de Março de 2003.

Foi construída também uma área destinada a uma Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente (UCIP), cuja inauguração ocorreu em Março de 2004 e que permitiu o desenvolvimento da Cirurgia Cardío-Torácica, na Casa de Saúde da Boavista.

No mesmo projecto foi ainda prevista a criação de um serviço de Obstetrícia que entrou em funcionamento em Dezembro de 2004.

As restantes remodelações e ampliações encontram-se finalmente concluídas.



22.1.14

Universidade Intergeracional Fernando Pessoa

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Ao passar por ali, rua das Cruzes, bem me parecia que era coisa nova. 

Fui à procura por essa net fora e encontrei um artigo da Junta de Freguesia de Ramalde:

«Decorreu no dia 9 de Abril a inauguração das instalações da Universidade Intergeracional Fernando Pessoa (UIFP), um projeto conjunto e inovador da Universidade Fernando Pessoa e da Junta de Freguesia de Ramalde.

Pretende-se com o funcionamento da UIFP proporcionar, aos jovens e séniores, o acesso à igualdade e a novas oportunidades, numa perspetiva de inserção e coesão social; o acesso ao meio ambiente académico universitário, reforçando os elos de partilha entre gerações distintas, contribuindo para uma melhor qualidade de vida humana e social.

Este projeto é aberto aos cidadãos jovens (entre os 15-25) e seniores (a partir dos 50 anos), da freguesia de Ramalde, do concelho e da área metropolitana, e localiza-se na ex - escola primária das Cruzes (Rua das Cruzes,847, Ramalde/Porto).

O auditório “Fernando Pessoa” foi pequeno para acolher as personalidades da área política, social, religiosa, cultural e associativa da freguesia e da cidade, para além dos séniores, crianças e jovens, que assistiram à cerimónia de inauguração, presidida pelo Prof. Doutor Salvato Trigo, Magnifico Reitor da Universidade Fernando Pessoa e pelo Dr. Manuel Maio, Presidente da Junta de Freguesia de Ramalde.

O Dr. Manuel Maio destacou o carácter inovador do projeto a nível nacional, assente na intergeracionalidade. Deu enfoque à II Assembleia Mundial para o envelhecimento, das Nações Unidas (Madrid: 2002) e à “Década das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (2005/2014), salientando qua a “solidariedade intergeracional é o instrumento de organização de uma sociedade para todos, daí resultando a verdadeira coesão social”. Assim, e neste contexto, serão criadas sinergias com o Projeto Raiz, cuja entidade gestora e promotora é o Colégio do Rosário; o Projeto Ramal(de) Intervenção, do qual a autarquia é a entidade promotora e o ASAS de Ramalde a entidade gestora (sendo a UFP é parceira), ambos integrados no Programa Escolhas e com o Projeto Crescer e Formar, promovido igualmente pela Junta em parceria com a Escola de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade do Porto.

 O Prof. Doutor Salvato Trigo, na sua intervenção afirmou que “a intergeracionalidade é igual a educação, uma vez que é pela memória que nos educamos”.
Sublinhou, ainda, que a atual crise civilizacional se deve ao facto “de se dar mais valor aos objetos antigos do que às pessoas antigas” e, que o papel da Universidade é o de contrariar a tendência atual de “desviar os objetos do seu fim, deixando-se dominar por eles”. 
Seguiu-se a bênção das instalações e das pessoas presentes, pelo Padre Correia Fernandes, Paróquia Nossa Senhora do Porto, em concelebração com o Padre Almiro Mendes, da Paróquia de Ramalde e pelo Padre Feliciano Garcês, da Paróquia Nossa Senhora da Boavista.

Foi, posteriormente realizada uma visita guiada às instalações da UIFP, que conta com duas salas de aulas, uma biblioteca/centro de recursos, um auditório, um espaço convívio e uma sala para “ Espaço Criança” do Asas de Ramalde.
Atuaram em seguida os Grupo Coral Infantil e Juvenil e Sénior de Ramalde, que receberam fortes aplausos. »








21.1.14

Urbanização Central de Francos

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Esta placa encontra-se numa das esquinas da rua cidade de Iena. Aqui há dias quando publiquei esta artéria não referi que é uma das ruas em U. Não é a única nem na cidade nem em Ramalde (ver rua François Guichard). Consigo perceber as ruas em zig-zag e até as ruas em cotovelo, mas as ruas em U e com os dois sentidos de trânsito é daquelas coisas que ultrapassam o meu entendimento.




20.1.14

D. Quixote na rua

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Diogo Brandão acompanhado por Sancho Pança.




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O coração, que se renova, que muda de cor, em Miguel Bombarda. Obra a quatro mãos de Hazul e Costah.

Janeiro 2014




17.1.14

Rua Cidade de Iena

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O Porto está geminado com a cidade de Iena (ou Jena) desde 1984.

Quando vejo este nome, não sei porquê, penso nas velhas ópticas que eram fabricadas pela Zeiss.


12.1.14

Travessa das Cruzes (2014)

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Para travessa é uma longa travessa na freguesia de Ramalde. Imagem dela em Ramalde do Meio. Cortada pelas novas vias de circulação automóvel que anularam a comunicação no interior da freguesia. 



10.1.14

Lavadouro

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Rua de Requesende

Dezembro 2013

Ali mesmo em Ramalde do Meio ainda existe um antigo lavadouro colectivo como, em tempos, existiam pela cidade. Nas zonas centrais (do chamado Porto Histórico) já existem  outros mais modernos, mesmo equipados com máquinas de secar. 

Não sou saudosista, longe de lá. Mas nos novos lavadouros já não há a conivialidade que existia nestes. 


8.1.14

O Atelier do Escultor José Rodrigues

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O Atelier do escultor está inserido nos locais da Fundação José Rodrigues que ocupam desde 2008 os locais da Real Fábrica Social, situada no Alto da Fontinha. Mas sobre isso haverá num futuro próximo outra página deste blogue.


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Algumas linhas sobre a biografia:

José Joaquim Rodrigues nasceu em Luanda em 21 de Outubro de 1936, filho de um casal natural de Alfândega da Fé.

A vocação para as artes parece tê-lo sempre acompanhado. Ainda muito jovem, a sua mãe dizia que seria um barrista por tanto gostar de moldar barro.
Depois de persuadir o pai a deixá-lo estudar em Portugal, viveu, primeiro, no distrito de Bragança, em casa de familiares, e, depois, aos catorze anos fixou-se no Porto, com o intuito de estudar Belas Artes. Concluiu o curso de Escultura em 1963 na Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde foi professor.

Em 1968, com os colegas Ângelo de Sousa, Armando Alves e Jorge Pinheiro, que com ele terminaram o curso com a classificação máxima, formou o grupo "Os Quatro Vintes". 

No Porto, onde passa a maior parte da sua vida, presidiu à Direcção Cooperativa de Actividades Culturais Árvore durante 32 anos. Também se ligou ao Minho, mais concretamente a Vila Nova de Cerveira, onde recuperou o convento de São Paio e foi um dos promotores da Bienal Internacional de Cerveira, instituída no ano de 1978. Promoveu diversas iniciativas de cariz cultural em Alfândega da Fé.

Desde 1964 que expõe individualmente, em cidades como o Porto, Amarante, Alfândega da Fé, Vila Nova de Cerveira, Cascais, Tóquio, Paris e Macau. Nesta última, por exemplo, apresentou Esculturas e Desenhos no Leal Senado, em 1992.

É autor de poderosas esculturas e de arte pública espalhada por muitos pontos do país (Porto, Viana do Castelo, Monção, Arcos de Valdevez, Vila Nova de Cerveira, Vila Real, Lisboa, Alfândega da Fé, etc.). 

Desde 1973 que participa em exposições colectivas, realizadas em Portugal, na Áustria, em Espanha, na Hungria, nos EUA, na Alemanha, no Luxemburgo, em Itália, no Brasil, na Índia e na China, etc.

Além da escultura dedica-se igualmente a outras expressões artísticas. Fez ilustração para livros de escritores e poetas, como Eugénio de Andrade, Jorge de Sena, Vasco Graça Moura e Albano Martins. Produz cerâmica e medalhística. Realiza cenografias – em Espanha, colaborou com a Companhia Nacional de Teatro da Galiza e com a Companhia de Teatro de Madrid, e, em Portugal, com o Teatro Universitário do Porto, com o Teatro Experimental do Porto, com a Seiva Trupe, com o Teatro Experimental de Cascais e com o Teatro D. Maria II e, ainda, com a Câmara Municipal Porto, para quem desenhou o cenário da cerimónia de classificação do Porto como Património da Humanidade, naquela instituição em 1996.

Está representado em várias colecções particulares e instituições, no país e no estrangeiro.


7.1.14

Rua A Voz dos Ridículos

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O programa de rádio mais longo e popular que existiu na cidade finou-se nos meados do ano passado.

Deixo aqui um pequeno texto sobre ele.

«A Voz dos Ridículos (1945-2013), um programa de humor na rádio do Porto

A Voz dos Ridículos, programa de humor radiofónico, começou a ser transmitido na estação Portuense Rádio Clube a 17 de abril de 1945 e acabou na Rádio Festival no final de julho de 2013. Juntamente com programas infantis, variedades e desporto, o humor foi um tipo de programa que despertou, desde cedo, muito carinho junto do auditório da rádio [imagens do livro de honra do programa: a primeira contém a fotografia dos diversos elementos constitutivos do programa]. Programa de maior duração na história da rádio portuguesa, A Voz dos Ridículos foi o resultado da confluência de diversos fatores. Um deles foi a longevidade do seu criador principal, João Manuel Antão, mais conhecido simplesmente como João Manuel. Outro dos fatores essenciais para o longo êxito foi a sua popularidade junto de camadas sociais médias e baixas da sociedade do Porto.

Um terceiro elemento a realçar do programa foi o de ser feito por amadores, com ocupação de tempos livres dedicada à rádio e que ilustra um modo particular de estar nos media. Como quarto e último elemento, o programa reuniu à sua volta duas gerações, pais e filhos, permitindo a entrada de mulheres na segunda geração. Os pioneiros foram todos do sexo masculino. Possivelmente, as condições de protocolo social inibiram o ingresso de mulheres na geração inicial, o que levou a uma escolha de papéis femininos atribuídos a alguns elementos. Além de Portuense Rádio Clube, o programa esteve sucessivamente em Ideal Rádio, onde se manteve durante décadas, Rádio Comercial, Rádio Clube de Matosinhos e Rádio Festival, sempre na cidade portuense e refletindo questões e problemas da região. »

Publicado no blogue Indústrias Culturais.