22.7.09

Casa-oficina António Carneiro


Sobre a Casa-oficina António Carneiro pode ver na Wikipédia, e, mais actual, aqui: http://culturanoporto.canalblog.com/archives/2009/05/28/13887689.html


21.7.09

Sobre o Piolho e outros cafés do Porto nos anos sessenta

Nas minhas andanças pelos blogs que mais me aprazem, encontrei este texto que publico com a devida autorização do seu autor. Talvez um dia me resolva a contar o que me resta na memória dos diversos cafés nos finais dos anos sessenta.
Até lá fiquem com a prosa de Francisco Seixas da Costa, a quem agradeço a disponibilidade.


«O "Piolho" fez 100 anos e, pelo que sei, está de boa saúde, com muita gente nova a animar-lhe a sala e a esplanada. O "Piolho", ou melhor, o "Café Âncora d'Ouro", é uma bela instituição do Porto, estrategicamente situada junto aos Leões, ali à beira dos Clérigos, de Carlos Alberto e do início de Cedofeita.

É um local de profundas tradições culturais e académicas, que muito frequentei na segunda metade dos anos 60, do século passado. Por ali aportava então muita gente de esquerda, os sócios da cooperativa livreira Unicepe, os pró-associativos (não tínhamos ainda direito a associação académica), os estudantes das Faculdades de Ciências e de Economia, logo em frente, bem como os de Letras e Medicina, um pouco abaixo. E todo o Teatro Universitário do Porto, por onde andei, bebia por ali o seu café de saco. É que o "Piolho", durante muito tempo, não teve "cimbalino" (essa portuense expressão para o "expresso", derivada das máquinas italianas "La Cimbali", que já equipavam a modernidade dos cafés da cidade, a começar pelo "Montarroio" e a acabar na "Brasileira").

Para muitas gerações desaguadas da província para estudar no Porto, os cafés representavam um espaço de acolhimento, socialização e convívio. O "Piolho" era um expoente desse universo, que também tinha o "Aviz" (algo intelectual) e o "Ceuta" (em frente ao Rádio Clube Português, onde eu também "actuei"), como fóruns clássicos de conversa, o "Progresso" com o melhor café de saco do mundo (dizia-se que punham bacalhau salgado) mas com professores a mais, o "Estrela" com os seus belos bilhares no 1.º andar e o "Bissau" de Cedofeita, um oásis de serenidade onde se concentrava a gente de Engenharia e dos lares da Torrinha e Rosário. Para estudo, tínhamos o "Saban" e o "Diu" (sempre cheio de "pequenas" de Farmácia). Mais para namoro, havia o "Guarany" ao fim da tarde, o "Orfeu" na Rotunda, o "Pereira" no Marquês, ou os recatados e distantes "Bela Cruz" do Castelo do Queijo e o "Chalet" do Passeio Alegre. Na baixa, onde se parava em outras diferentes ocasiões (ao domingos, ao final da tarde, à espera do "Norte Desportivo"), ficavam os institucionais "Rialto", "Embaixador" ou "Imperial", com a estudantada menos presente. E também o "Astória", ali no passeio das Cardosas, que abria às 6 da manhã, meia hora depois de fechar a "Stadium". Curiosamente, o "Majestic" não tinha então o "glamour" turístico de hoje e, bem perto, na Batalha, já preponderava o "Chave d'Ouro", onde a gente nova não ia muito.

Grande Porto!»

Francisco Seixas da Costa


Publicado em Duas ou Três Coisas

15.7.09

Mobilidade, Tranquilidade, Liberdade, Salubridade!

Como alguns que me conhecem, alguns que já ouviram falar de mim, um dos raros moradores do centro da cidade que ainda, de vez em quando, do alto de alguns andares, do alto de ter nascido aqui e morar ainda aqui, vai deixando uns bitaites para alertar os adormecidos.

Mobilidade - gostaria de poder andar nos passeios, sem carros incomodativos, sem passeios estropiados e sem cagalhotos da cães tão bem educados como os respectivos donos.

Tranquilidade - gostaria de poder viver em plena zona pedonal de Cedofeita sem ser incomodado durante a noite pelos bandos que vão para a "noite". Gostaria de passar noites tranquilas sem os ruídos incómodos das máquinas ruidosas da SUMA, gostaria de não acordar com o barulho provocado pelos veículos que vêm despejar o "ecoponto" por volta das cinco da manhã. Gostaria de não ser incomodado pelas "palhaçadas" das praxes universitárias, dos vai-e-vem dos caloiros e outros cortejos. Como estamos no Verão, também
agradecia que as cáfilas que desfilam depois das "não-sei-quantas" fossem menos ruidosas, gostaria que durante o dia não houvesse automóveis estacionados diante das entradas para a dita "zona" - nem quero imaginar um incêndio ou de um acesso de veículos de socorro. Gostaria ver aplicada a dita lei contra o ruído nocturno. Gostaria não acordar matinalmente com energúmenos a jogar futebol ou a vomitarem perto de uma esquina.

Liberdade - gostaria de poder entrar e sair do prédio onde habito sem ter que encontrar um "molho de lata" diante da porta a qualquer hora do dia ou da noite. (numa sondagem pessoal constatei que a média de idade dos habitantes se situa muito acima dos 70 anos e que o acesso de médicos, INEM e outros profissionais da Saúde é superior a duas por ano). Gostaria de poder chegar ao meu domicílio sem encontrar gente em mau estado de saúde etílica ou mental. Gostaria de poder encontrar ao cair da noite aqueles morcegos, que há uns anos atrás, ainda vinham passear diante da minha janela. Gostaria de poder dormir com a janela aberta e de manhã ouvir aquele melro que vem passear por aqui perto.

Salubridade - gostaria de encontrar a rua suficientemente limpa quando de manhã lá ponho os pés. Gostaria de não encontrar pontas de cigarros na Travessa de Cedofeita, quando lá passo à tarde. Gostaria que, passando perto de certos contentores ou esquinas, não me subisse às narinas um odor a urina. Gostaria que alguns dos bueiros da minha rua não exalassem um fedor pútrido. Gostaria que as ruas fossem limpas durante o dia e não durante a noite.

Finalmente, gostaria que os candidatos à Junta de Freguesia, os candidatos às eleições municipais, os candidatos a candidatos de tudo e mais alguma coisa, etc, tomassem uma posição em relação contra a desertificação do centro desta cidade em que eu ainda habito mas que tanto me magoa.