30.10.08

Rua CIDÁLIA MEIRELES

29|10|08

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A página da Toponímia da Câmara Municipal informa-nos que:
«Cidália Meireles (Porto n. 9/05/1925 - Lisboa f. 1972) - Cançonetista.»


Anteriormente teve o nome de Rua do Castanheiro.


29.10.08

Rua do INSTITUTO DE CEGOS DE S. MANUEL

27|10|08

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Sobre o Instituto de Cegos de S. Manuel



Origens


No dia 5 de Maio de 1903, o Governador Civil do Porto, Adolpho da Cunha Pimentel, bacharel em direito, aprovava o alvará que José Cândido Branco Rodrigues lhe apresentou com os respectivos estatutos, datados de 1 de Abril anterior, para administrar uma instituição de beneficência denominada «Escola de Cegos do Porto», destinada a instruir e educar crianças cegas de ambos os sexos. Como os estatutos não continham disposição alguma a que se opusessem as leis gerais, foram os mesmos aprovados pelo referido Governador Civil, usando da faculdade que lhe conferia o n.º 8 do art. 252 do Código Administrativo.

A «Escola de Cegos do Porto» ficou a funcionar na Rua Ferreira Cardoso. e foi dirigida gratuitamente pelo seu fundador - Branco Rodrigues - e na parte financeira administrada pela Santa Casa da Misericórdia do Porto ( Art. 9º ).

Quando da fundação desta Escola, já existia no Porto o Asilo de Cegos de S. Manuel, criado em 12 de Novembro de 1899 graças à generosidade de beneméritos como Manuel António Monteiro dos Santos e, destinado à formação profissional de invisuais adultos do sexo masculino. Depois da sua fundação, este asilo foi doado à Misericórdia do Porto.

Em 1 de Outubro de 1938 a Escola de Cegos passou a ser totalmente administrada pela Misericórdia, quando era seu Provedor o Dr. António Luís Gomes e Mesário o Dr. Mário de Vasconcelos e Sá. Existiam então ali 18 alunos, a quem eram ministradas aulas de Braille e actividades profissionais pelo seu Director, o Prof. Miguel Mota.

No ano de 1945 a Escola foi transferida da Rua Ferreira Cardoso para as instalações do Asilo de Cegos, na Rua da Paz, resultando desta fusão o Instituto Asilo de Cegos de S. Manuel. A Escola tinha agora uma média de 25 alunos e alguns asilados. Nesta data era Director o Dr. Bertino Daciano da Rocha Guimarães e Professor de Música e Braille o Prof. Albuquerque e Castro. Foram estes dois homens os grandes impulsionadores da transformação do Asilo de Cegos e Instituto de S. Manuel.

Em 1958 José Ferreira de Albuquerque e Castro foi nomeado Director dos Serviços Tiflológicos da Santa Casa da Misericórdia do Porto, sendo substituído nessas funções por sua mulher, Dr.ª Pilar Ribas de Albuquerque e Castro, quando faleceu em 15 de Abril de 1967.



Remodelação do Instituto


A 12 de Maio de 1969 celebrou-se o primeiro acordo de cooperação entre o Instituto da Família e Acção Social (IFAS) e a Misericórdia, com vista ao melhor funcionamento do Instituto S. Manuel.

Com o decorrer dos tempos deixaram de ser admitidos asilados e, assim, quando em 1969 o Instituto encerrou para obras, os educandos em idade escolar foram transferidos para o Internato de S. José, que abriu nessa altura, indo os restantes para um Lar instalado num prédio da Misericórdia, na Rua do Rosário.

Em 1972 foram concluídas as obras e o Instituto foi remodelado, não só quanto a instalações, mas ainda nos seus variados aspectos de funcionamento, nomeadamente nas áreas administrativa, pedagógica, educativa e social.

Em 1976, foi revisto o acordo com o IFAS passando, por via dele, para os quadros do Centro de Educação Especial do Porto (CEEP) todo o pessoal técnico do Instituto.

Em Novembro de 1977 graças ao esforço conjunto da Santa Casa e do Centro de Educação Especial do Porto iniciou-se a construção de um ginásio, especialmente concebido para cegos.




Rua SACADURA CABRAL

26|10|08

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Mas quem foi Sacadura Cabral?

Artur de Sacadura Freire Cabral (Celorico da Beira, 23 de Maio de 1881 — algures no mar do Norte, Novembro de 1924), conhecido simplesmente como Sacadura Cabral, foi um oficial da Marinha portuguesa que realizou a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, junto com Gago Coutinho, em 1922.

Serviu nas colónias ultramarinas no decurso da Primeira Guerra Mundial, foi um dos instrutores iniciais da Escola Militar de Aviação, director dos serviços de Aeronáutica Naval e comandante de esquadrilha na Base Naval de Lisboa.

Unanimemente considerado um aviador distintíssimo, pelas suas qualidades de coragem e inteligência, notabilizou-se a nível mundial, ultrapassando as insuficiências técnicas e materiais que na época se faziam sentir. Realizou diversas travessias aéreas memoráveis, notabilizando-se especialmente em 1922, ao efectuar, juntamente com Gago Coutinho, a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.

Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram aclamados, em Portugal e no Brasil, por este feito, tornando-se objecto de múltiplas homenagens. Uma das mais significativas, mas ocorrida já postumamente, foi a iniciativa do Banco de Portugal de colocar as efígies dos dois navegadores em papel-moeda.

Faleceu num desastre de aviação no Mar do Norte em Novembro de 1924, quando voava em direcção a Lisboa, pilotando um avião que se despenhou. O cadáver nunca foi encontrado.

Publicado na Wikipédia


28.10.08

Nomes e actividades de certas ruas da cidade

Na história da toponímia portuense, há um trabalho que está por fazer o levantamento dos nomes já desaparecidos de algumas artérias da cidade. Um trabalho que se nos afigura de muito interesse para o cidadão comum e de grande utilidade para os estudiosos da história do Porto. Mas esse trabalho não se deve limitar à enumeração pura e simples dos topónimos que foram erradicados das esquinas de múltiplas ruas portuenses. Será imprescindível informar sobre a sua origem e, fundamentalmente, explicar quais foram as razões que originaram tais substituições.

Em regra, essas mudanças obedecem a objectivos políticos de todo arredados dos critérios que devem ter em conta os interesses históricos do Porto. Como exemplo vou citar alguns casos servindo-me de apontamentos que em tempos coligi para um trabalho que trago em mãos sobre a zona do antigo Campo do Olival. Mas não me cingirei unicamente, a esta interessante área da cidade. Oficialmente não temos no Porto nenhum topónimo que recorde a antiga e importante actividade dos cordoeiros.

Continuamos a dizer Cordoaria quando nos referimos ao actual Jardim de João Chagas. Mas, oficialmente, aquela denominação já não existe. Este topónimo designou também uma rua - da Cordoaria Velha para a diferenciar da nova. Trata-se da artéria que tem agora o nome de Francisco da Rocha Soares.

As mudanças de nomes de ruas que mais bradaram aos céus, ocorreram em 1875 e foram produzidas através de um edital camarário. Meia dúzia de casos para amostra na zona do Campo Alegre havia a Rua dos Coutos, denominação que foi substituída pela de Beco do Campo Alegre, quando já havia a rua deste nome.

No Bonfim substituíram a curiosa e popular denominação de Travessa da Feiticeira pela de Travessa do Campo 24 de Agosto. Outra repetição, se calhar, desnecessária. Mas há mais na actual Travessa da Rua Chã funcionou a cadeia. Por isso a artéria se chamou, durante anos e anos, Viela da Cadeia. O que terá levado os "entendidos" destas coisas a substituir a antiga nomenclatura ? O local até é interessante do ponto de vista histórico. Esteve ali uma capela dedicada à Santíssima Trindade cuja construção lembrava um memorável sermão que o padre jesuíta Francisco Estrada pregou em 1546 na Porta do Olival.

E como eu gostava de saber onde ficava a Travessa Donatária, em Cedofeita? E a localização precisa da medieval Rua do Mend'Afonso e da Viela do Pasteleiro, nas imediações do actual Largo dos Lóios ?

Sabe o leitor onde ficavam no Porto as oficinas dos homens que faziam os foguetes para serem queimados nas romarias nortenhas ? Pois se não sabe poderia saber se não tivessem mudado o nome à antiga Rua dos Fogueteiros. É da actual Rua de Azevedo de Albuquerque, ali para as bandas das Virtudes. Claro que Azevedo de Albuquerque merecia ter o seu nome perpetuado numa rua do Porto. Além de professor da Escola Politécnica, foi um dos artífices da Revolta Republicana do 31 de Janeiro.

Mas não seria possível honrar a sua memória sem eliminar um topónimo que tinha inegável interesse histórico local ?

Um caso de recuperação de um topónimo antigo ocorreu nos finais do século XIX quando a ermida de S. Crispim e S. Crispiniano teve que ser demolida por causa da abertura da Rua de Mouzinho da Silveira.

Com a capela também desapareceram alguns arruamentos típicos daquela zona ribeirinha a Rua da Ponte de S. Domingos; a Rua da Biquinha, alusão a uma curioso fonte que por ali havia e cuja água, segundo antiga tradição, tinha propriedades extraordinárias que curavam certas moléstias dos olhos; e a Rua de S. Crispim.

Quando, nos finais do século XIX, se reconstruiu a capela, ao cimo da actual Rua de Santos Pousada, deu-se a uma nova artéria desta zona o nome de Rua Nova de S. Crispim. Do mal, o menos. De um documento do arquivo do mosteiro de S. Domingos retiro esta informação curiosa "… o Senado (leia-se Câmara Municipal) cedeu ao convento (dos dominicanos) a maior parte da pedreira de Belomonte até à Porta do Olival, em troca de umas casas que faziam face para a Rua da Ponte de S. Domingos, sobre e escadinha da volta que faz a dita rua para as Cangostas…"

À antiga Rua das Cangostas corresponde a Rua de Sousa Viterbo dos nossos dias. Foi um dos mais pitorescos trechos do Porto antigo da zona ribeirinha. Dessa parte da cidade velha resta o Pátio de S. Salvador onde ainda existem vestígios do medieval Hospital de Santa Clara.

Subindo um pouco voltamos às imediações da Rua Chã, a antiga Rua Chã das Eiras. E perguntamos sabe o leitor onde ficava a Calçada da Chancelaria ? Era actual Rua do Corpo da Guarda também sacrificada, em parte, com a abertura da chamada Avenida da Ponte. E mais acima, ainda, algures em Cima do Vila, ficava a Travessa dos Entrevados ou da Caridade.

Que interessante seria fazer o levantamento dos nomes antigos das artérias da cidade, incluindo, naturalmente, as desaparecidas !

Germano Silva

Jornal de Notícias




27.10.08

Rua RODRIGUES LOBO

24|10|08

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Francisco Rodrigues Lobo (1579-1621) é um dos mais importantes discípulos de Camões. Tendo sido influenciado por Gôngora, é considerado o iniciador do Barroco na literatura portuguesa. Era de uma família de cristãos-novos, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, não se conhecendo quaisquer cargos públicos que tenha exercido. Morreu afogado numa viagem de barco que fazia entre Santarém e Lisboa. A nível poético, escreveu romances bucólicos, éclogas e sonetos Éclogas, Primavera, Condestabre e O Pastor Peregrino). Em prosa escreveu a Corte na Aldeia (1619), que é uma colecção de diálogos didácticos sobre preceitos da vida na corte. Esta obra reflecte a frustração da nobreza portuguesa pelo desaparecimento da corte nacional sob a dominação filipina.






Rua de S. PAULO

24.10.08

Travessa do CARREGAL

para a Carlota



O Edifício que eu conheci como o "Conservatório", e tinha sido dos Viscondes de Vilarinho, é hoje o Colégio Horizonte. A escola primária da Ordem do Carmo, já está abandonada há mais de uma década, agora funciona no piso térreo uma Clínica de Radioterapia. É uma rua com pouca passagem, é uma rua esquecida no centro da cidade, com uns passeios que dão para se estrocegarem os tornozelos e uma calçada em paralelo que deve ainda datar do século XIX. Uma parte desta travessa sobrepõe-se ao Rio Frio. No tempo em que eu frequentava a escola primária, ainda não estava totalmente aberta a rua Diogo Brandão.



CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO PORTO

«Foi António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, 1.º Visconde de Vilarinho de S. Romão, quem mandou edificar este magnifico edifício. Por sua morte, sem descendência, passou o titulo para seu sobrinho, Álvaro Ferreira Girão, casado com D. Julia Clamowse Brown (filha da poetisa por­tuense Felicidade Brown), que aqui viveram muito tempo e aqui lhes nasceram os seus quatro filhos. Faziam gala do uso da sua capela dedicada a Santo António do Carregal, que ficava (e fica) logo a seguir ao portão da entrada, mas perfeitamente autónoma, com porta para a rua, encimada por uma coroa condal e, no granito, sobrepujando a porta, a pedra de armas da família e a data "1487 - 1903".

Em 1851, estava aqui alojado o Asilo da Infância, com a particularidade de ter a porta da rua uma caixa de esmolas, solicitando donativos aos transeuntes. Em 1 de Junho de 1917, foi aqui fundado, sob a direcção de Valentim Moreira de Sá, o Conservatório Superior de Musica, que aqui se conservou ate 13 de Marco de 1976, quando, sob direcção de Fernanda Wandschneider, ocupou o antigo palacete da família Pinto Leite, na Rua da Maternidade, ate o D.L. 310/83 o ter transformado em escola secundaria.»





CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO PORTO II

«Desde finais do séc. XIX que o Porto sentia a necessidade da criação de uma instituição pública destinada ao ensino da Música, à imagem do que em Lisboa aconteceu com a criação do Conservatório Nacional, em 1835.

Após algumas tentativas falhadas, da qual se destaca uma proposta nesse sentido elaborada por Ernesto Maia a pedido da Direcção Geral de Instrução Pública, uma aparece finalmente com mais consistência, desta vez da responsabilidade do pianista e director de orquestra Raimundo de Macedo. Desde Dezembro de 1911, logo após a implantação da República, que esta importante figura da vida musical portuense vinha desenvolvendo um conjunto de iniciativas, que culminaram na definitiva sensibilização do poder local para tal empreendimento. Assim, em reunião levada a efeito a 17 de Maio de 1917, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, composta pelo então Presidente Eduardo dos Santos Silva, por Armando Marques Guedes e Joaquim Gomes de Macedo, foi incumbida de estudar a organização de um conservatório de música nesta cidade. Finalmente, a 1 de Julho de 1917, o Senado da Câmara Municipal do Porto aprovou por unanimidade a criação do Conservatório de Música do Porto.

O número de alunos matriculados no ano lectivo de 1917/18 foi de 339, distribuídos pelos cursos de Piano, Canto, Violino e Violeta, Violoncelo, Instrumentos de Sopro e Composição. O Corpo Docente fundador era constituído por Raimundo de Macedo, Joaquim de Freitas Gonçalves, Luís Costa, José Cassagne, Pedro Blanco, Óscar da Silva, Ernesto Maia, Moreira de Sá, Carlos Dubbini, José Gouveia, Benjamim Gouveia e Angel Fuentes. Por indicação do Conselho Escolar e decisão da Câmara Municipal, a primeira direcção foi constituída por Moreira de Sá como director e Ernesto Maia como subdirector. Oficialmente inaugurado no dia 9 de Dezembro de 1917, o Conservatório de Música do Porto ficou instalado no n.º 87 da Travessa do Carregal até ao dia 13 de Março de 1975, quando passou a ocupar o palacete municipal, outrora pertencente à família Pinto Leite, no nº 13 da Rua da Maternidade, Porto.

Até Abril de 1974, altura em que novos modelos de gestão foram adoptados nas escolas, o Conservatório de Música do Porto teve como Directores Moreira de Sá, Ernesto Maia, Hernâni Torres, Luís Costa, José Gouveia, Joaquim Freitas Gonçalves, Maria Adelaide Freitas Gonçalves, Cláudio Carneyro, Stella da Cunha, Silva Pereira e José Delerue.»





Sobre o primeiro Visconde de Vilarinho de S. Romão



GIRÃO, António Lobo de Barbosa Ferreira

«Nasceu em 5.11.1785 em Vilarinho de S. Romão. Ficou conhecido, sobretudo, como 1.° Visconde de Vilarinho de S. Romão. Faleceu em 17.03.1863. Jornal Vos do Nordeste de 28.09.1999 publicou uma longa nota biográfica acerca deste ilustre transmontano. A Voz de Trás-os- Montes transcreveu essa nota na sua edição de 4.11.1999. Pela sua oportunidade aqui se reproduz: "Iniciamos esta crónica com um dos deputados transmontanos que mais se distinguiu nas Cortes vintistas e um dos nomes mais importantes do liberalismo e da história parlamentar portuguesa. Teixeira Girão foi um dos grandes oradores e uma das vozes que normalmente era ouvida e admirada pelos outros deputados. Foi também autor de diversas obras de cariz económico, com destaque para a vitinicultura, onde deixou de forma clara as suas ideias. Comecemos com uma pequena biografia deste ilustre transmontano. Um Nobre Liberal O primeiro Visconde de Vilarinho de S. Romão nasceu em 5 de Novembro de 1785. Era filho de António José Girão Teixeira Lobo de Barbosa, senhor do morgado de Vilarinho de S. Romão e de Dona Teresa Luísa de Jesus Sousa Maciel Teixeira Girão. Faleceu na terra natal, em 17 de Março de 1863, após uma vida rica em peripécias e marcada por uma brilhante carreira política e literária. Podemos dizer que António Girào foi um autodidacta, uma daquelas personalidades que aproveitavam todas as ocasiões para se instruir, bem ao jeito de Luzes e também um espírito prático e inventivo. A primeira educação recebeu a no próprio domicílio, onde teve como preceptor António Pinheiro de Azevedo, famoso professor de Provesende. Com ele aprendeu Latim, Filosofia e Eloquência. Em 1804, aproveitando uma viagem que com seu tio, António Caetano Girão. tez a Lisboa. estudou Francês. Inglês e adquiriu uma boa biblioteca, composta por livros de Física e Ciências Naturais. Reforçando a componente prática da formação, estudou Desenho. Geometria e .Arquitectura com arquitecto Francisco Correia de Matos, que estudara em Roma. Dedicou-se à agricultura, como era tradição na família, e introduziu nas terras de S. Romão muitas inovações, baseadas nos conhecimentos empíricos e nos estudos e experiências. Um bom exemplo foi a máquina de extracção do mosto, que ofereceu à Academia das Ciências de Lisboa e lhe valeu ser admitido como sócio da ilustre corporação. A inovação agrícola era já uma tradição na família dos morgados de S. Romão. Com efeito, sua mãe, Dona Teresa Maciel, recebeu em 1798 uma medalha de ouro da Academia das Ciências, como prémio de qualidade e inovação agrícola, por ter desenvolvido, com grande sucesso, a cultura da batata na Quinta de Vilarinho de S. Romão. Quando triunfou a Revolução de 1820, apesar da sua condição de nobre, declarou se liberal; considerando que a nobreza deveria guiar as novas ideias em vez de a elas se opor. Foi então eleito deputado às Cortes pela Província de Trás os Montes e nelas fez parte da Comissão de Agricultura. Nos debates assumiu uma posição nitidamente liberal e pela sua grande influência foi o principal responsável pela orientação de voto dos deputados transmontanos. Foi reeleito deputado para as cortes ordinárias de 1822. para as cartistas de 1826-28 e posteriormente Par do Reino (1834). Após a Vilafrancada foi exilado para o Algarve (Sagres) onde teve como companheiro Manuel Gonçalves Miranda, outro deputado transmontano. Aproveitou o exílio para aprender Matemática com o colega. Com o estabelecimento do Governo absolutista homiziou se nas terras de S. Romão e só voltou a aparecer publicamente em 1833. Durante cinco anos esteve escondido no sótão do seu solar, gozando apenas da companhia dos seus pincéis e livros. As únicas visitas que teve foram da mulher e de alguns amigos, que, tal como ele, se encontravam escondidos para fugir ao terror miguelista e, por isso, eram obrigados a vestir se de soldados, de criados, ou até a usar trajes de mulher, para se deslocarem. Aproveitou António Girão este quinquénio para se dedicar ao estudo e redigir grande parte das obras numa das quais narrou esta experiência e significativamente intitulada: Histórias de Meninos, para quem não for creança. escriptas por um homisiado que sofreu o marmrio de estar escondido cinco annos e dou meies. Em 1833 alistou se para combater ao lado de D. Pedro e teve papel preponderante. durante o cerco de Lisboa, ao fazer os planos para reabastecer de água a cidade que se encontrava cercada pelas tropas miguelistas. Regressado à vida política foi nomeado Par do Reino e recebeu diversos cargos e honras dos quais se destaca o título de visconde de S. Romão, que lhe foi concedido por decreto de D. Maria II de 17.11.1835. Recebeu e desempenhou ainda outros importantes cargos: Inspector das Águas Livres e das Fábricas Anexas; Provedor do Papel Selado; Presidente Honorário de Instituto de África; Fidalgo e Cavaleiro da Casa Real; Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição; Administrador da Casa da Moeda: Prefeito de Trás-os-Montes e da Estremadura. Era também importante agricultor e reconhecido economista e nesta qualidade foi sócio da Sociedade Promotora da Indústria Nacional. As ideias económicas dum viticultor O primeiro visconde de S. Romão deixou uma extensa e interessante bibliografia. Nela sobressaem os estudos sobre a agricultura, especialmente das vinhas. sendo o mais conhecido a Memória histórica e analytica sobre a Companhia dos Vinhos denominada da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1833), que, de acordo com Inocêncio Silva, é o que de mais completo se escreveu sobre esta instituição. São também muito interessantes os seus estudos sobre economia, e nomeadamente sobre economia doméstica e até a culinária. Citemos aqui apenas dois títulos: Memória sobre a economia do combustível por meio de vários melhoramentos que se devem fazer nos lares ordinários, fornalhas, fornos e fogões (1834); e Arte do Cosinheiro e do Copeiro, compilada dos melhores que sobre isto escreveram modernamente (...) (1841). Alguns dos seus trabalhos foram publicados nas Memórias da Academia das Ciências e escreveu ainda diversos artigos para a Revista Universal Lisbonense, para os Annaes da Sociedade Promotora da Indústria Nacional e para outros periódicos. A sua obra constitui um bom exemplo do modo como a herança do movimento das luzes, e do reformismo que o caracterizou, se fez sentir entre nós, durante a primeira metade do século XIX. Além da grande variedade de temas abordados, nela perpassa a defesa da instrução e do saber como bases do progresso e do desenvolvimento económico do país. Dotado de espírito prático e inventiva, para ele a aquisição de conhecimentos tinha, acima de tudo, um sentido pragmático e operativo. Divisamos na obra e intervenção política de Teixeira Girão duas ideias bases: em primeiro lugar a defesa do desenvolvimento agrícola e sobretudo o aumento da produção vinícola. A quantidade e a qualidade eram para ele conciliáveis. Deveriam, assim, eliminar se todos os entraves que bloqueavam a expansão da produção e do comércio livre e por isso insurge se contra os tributos e monopólios. Em segundo lugar, considerava que para conseguir este desenvolvimento económico do país, a instrução e inovação científica e tecnológica, que ela origina, eram as estratégias indispensáveis. Era preciso pôr em prática os ensinamentos dos economistas, modernizar e inventar novas máquinas, divulgar e introduzir novas culturas agrícolas, como a batata e, enfim, aprofundar os estudos agronómicos.
O romantismo e ardor que colocou na defesa das novas ideias conduzem a situações que podem parecer paradoxais, tais como, vermos um morgado a combater os morgadios e a reclamar a liberdade das terras, o fim dos vínculos. dos dízimos e de todas as formas que entravem a produção. Valorizando a terra livre e o trabalho livre, base da inovação, as ideias económicas de Teixeira Girão continuam a ser uma referência obrigatória para todos os que consideram o sector vinícola e, em especial a vitivinicultura duriense, como uma das melhores apostas para o progresso moral e económico da nação. Muito teríamos a escrever sobre a vida e obra de Teixeira Girão, que aguardam, tal como a de muitos outros portugueses, por investigadores ou até por cineastas em busca de inspiração.
In "A Voz do Nordeste" 28/09/2000»

Publicado em: Notícias do Douro



23.10.08

Rua BARROS LIMA

23|10|08

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«A rua de Barros Lima foi aberta à roda de 1845, e recebeu o nome de, Francisco José de Barros Lima, (1763-1843), rico negociante portuense, e um dos homens de Sinédrio de 1820. Destinava-se a ligar as estradas de Valongo e de Campanhã, servindo ao mesmo tempo a vasta quinta que Barros Lima aí possuía.»

"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas



«... Barros Lima, que deu o nome à rua, chamava-se Francisco José de Barros Lima e era bisavô materno do actual Conde de Campo Bello, Senhor D. Henrique. Barros Lima foi um dos heróis do Movimento Vintista que eclodiu em 1820, no Porto, e se traduziu na revolta contra a presença dos interesses britânicos em Portugal e contra consequências nefastas sobre o comércio portuense do Tratado de 1810. que abrira as portas do Brasil à navegação do comércio mundial. Esse movimento pretendia o regresso de D. João VI a Portugal e sonhava ainda trazer de volta o Brasil, em vias de separar-se por completo, da sua antiga condição de colónia e retomar a preponderância comercial portuguesa. Barros Lima distinguiu-se nessa luta e no movimento liberal consequente, de que em 1834 saiu vitorioso, inaugurando a monarquia constitucional e o liberalismo político...»


Texto de: João Carlos Lobato Costa
Adaptação de: Maria Aurora Pereira

in Escola Secundária Alexandre Herculano



22.10.08

Praça dos POVEIROS

inverno

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Recebeu a actual denominação, em homenagem aos pescadores portugueses residentes no Brasil, rebeldes contra a lei que em 1921, os obrigava a naturalizarem-se cidadões brasileiros. A designação, como já notou Horácio Marçal, é infeliz, porque nada diz da intenção, e nem mesmo todos os pescadores eram naturais da Póvoa de Varzim; havia-os de muitas outras procedências.

Arquivo da Toponímia



Já teve o nome de Largo de Santo André.


21.10.08

Cruzes e cruzeiros da devoção da cidade

«Mais ou menos a meio da Rua da Vitória, na freguesia deste nome, e na confluência da Rua do Monte dos Judeus com a Calçada das Virtudes, no típico bairro de Miragaia, há duas cruzes rudemente talhadas no granito duro da nossa região.

A primeira está sobre um muro, num recanto da artéria, meio escondida por estar envolta em arbustos que crescem livremente por efeito da chuva e do sol. A segunda serve de adorno à parte cimeira de um portal de acesso a um pequeno aglomerado populacional e parece querer abençoar o casario agachado por ali abaixo a morrer junto a S. Pedro de Miragaia.

Tanto num caso como no outro, não ressuma de nenhuma dessas cruzes, nem arte nem poesia. São coisas pequenas, muito simples, envoltas na mudez excelsa da resignação que escapam aos olhares menos atentos. No fundo são, simplesmente, um sinal de atenção dos tempos velhos e quase ninguém repara nelas.

Mas uma leitora destas crónicas viu-as e quer saber se esses humildes cruzeiros têm algum significado especial por estarem nos locais onde se encontram. Julgo que não. Ambos têm de comum o facto de estarem em sítios por onde passou a judiaria.

Consta de um velho documento que a cruz que está em Miragaia, se situa "… junto à pedra escorregadia onde ficava o almocáver , ou cemitério dos judeus…"

Uma e outra devem ter sido ali colocados nos locais onde estão , já depois da saída dos judeus daqueles bairros, com o significado, naturalmente, de que, agora, por detrás daquele muro ou para além daquela porta vive outra gente que tem a cruz como símbolo da sua fé.

Venerado pelos peixeiros

Outra questão colocada pela referida leitora foi esta "… qual a procedência do cruzeiro que encontrei no interior da capela de S. José das Taipas e qual a sua invocação... "

Trata-se do Senhor dos Peixeiros. Estava no cimo de uma rampa que dava a cesso à actual Rua da Lage, a dois passos do templo para onde foi removido, em Maio de 1869, e onde ainda se encontra, junto, portanto, ao antigo Mercado do Peixe, demolido para no seu lugar se construir o Palácio da Justiça.

Era da invocação do Senhor da Saúde e muito venerado pelos peixeiros que todos os anos, a 20 de Agosto, lhe faziam uma grande festa. Por essa altura a cruz era envolta em ricos damascos e sedas e adornada com flores e luzes votivas. A festa que assumia as características de uma típica romaria de aldeia, contava com uma banda de música e foguetes.

O Mercado do Peixe começou a ser construído em 1869, no antiquíssimo Campo do Olival, no local onde anteriormente haviam funcionado "os Armazéns chamados Celeiros da Cordoaria ou Celeiros do Pão da Cidade" criados em 1699 no mesmo sítio onde haviam estado os Quartéis Militares do Terço, destinados à guarnição da cidade.

Imposição do bispo

Até 1331 o vasto Campo do Olival era propriedade do bispo. Mas naquele ano, reinando D. Afonso IV e sendo bispo do Porto D. Vasco Martins, houve uma concertação amigável entre o rei e o prelado segundo a qual o Campo do Olival passou para a administração da Câmara passando a partir daí a ser um logradouro público.

Nesta transacção houve uma curiosa imposição feita por parte do bispo. A de que naquele local não seria nunca permitida a instalação de uma cordoaria, nem de feira, nem de matadouro, nem de igreja. Só matadouro é que não houve por ali. Do resto houve de tudo cordoaria, igreja e feira.

O Campo do Olival passou mesmo à história com o nome de Cordoaria depois que, em 1661, ali se instalaram os cordoeiros que antes trabalhavam, com as sua rodas, nas actuais ruas de Tomás Gonzaga e de Francisco da Rocha Soares que, por causa disso, se chamavam, ainda há pouco tempo, a Cordoaria Velha.

Já agora uma pequena nota acerca da Capela das Almas de S. José das Taipas. Tem esta designação porque o templo primitivo ficava na Rua das Taipas, em frente à entrada para a mosteiro beneditino, num prédio que depois serviu de armazém e que foi demolido em 1860.

O templo actual começou a ser construído em 1795 à custa de esmolas da cidade mas só ficou concluído em 1878. À Irmandade de S. José das Taipas, que zelava pelo bom funcionamento do culto nesta capela, juntou-se, em 1780, a Confraria de S. Nicolau Tolentino e Almas, que desde 1634 funcionava na igreja de S. João Novo e era administrada pelos negociantes de bacalhau.

Desta fusão resultou uma nova irmandade a das Almas de S. José das Taipas que após o desastre da Ponte das Barcas em 29 de Março de 1809, no decurso da segunda invasão francesa, passou a realizar o sufrágio anual em intenção das vitimas daquela catástrofe.»

Germano Silva
in Jornal de Notícias

Rua CÂMARA PESTANA

22|10|08

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Luís da Câmara Pestana (Funchal, 28 de Outubro de 1863 — Lisboa, 15 de Novembro de 1899) foi um higienista e professor universitário português que se destacou como um dos pioneiros da bacteriologia. Formou-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1889), com a tese O Micróbio do Carcinoma. Nomeado professor Higiene, Medicina Legal e Anatomia Patológica daquela Escola em 1890, foi também cirurgião dos hospitais de Lisboa. Criou em 1892 o Instituto Bacteriológico de Lisboa, que hoje recorda o seu nome. Celebrizou-se ao demonstrar que o bacilo isolado na epidemia de Lisboa de 1894 não era o vibrião da cólera, afirmando-se como uma autoridade em matéria de higiene e saúde pública. Morreu prematuramente vítima da espidemia de peste que combatia na cidade do Porto. Fez parte de várias comissões científicas, nacionais e estrangeiras. Publicou numerosas obras sobre temática médica, com destaque para A Raiva em Portugal (1896, em colaboração com Miguel Bombarda) e Bakteriologische Untersuchungen über die Lissaboner Epidemie von 1894 (1898). Para além do instituto, o seu nome é ainda recordado num prestigioso prémio na área da microbiologia.

Se estiver interessado em consultar uma biografia mais completa de Câmara Pestana pode continuar a ler na Wikipédia.




Rua JOSÉ TEIXEIRA BARRETO

21|10|08

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JOSÉ TEIXEIRA BARRETO

pintor portuense (1763-1810)



20.10.08

Ilha

20|10|08

Publicada no Flickr


Perto da TRAVESSA DAS EIRINHAS em Outubro 2008, numa rua que ainda não tem nome.



Rua das EIRINHAS

18|10|08

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«A Rua das Eirinhas é mais um topónimo recordando os arrabaldes rurais da cidade em tempos não muito

afastados. E esta artéria ainda conserva esse aspecto rústico....»

"Toponímia Portuense"
Eugénio Andrea da Cunha e Freitas



Esta artéria já apareceu sob o nome de Travessa da Prata nos roteiros de 1891 e 1933.



Rua GOMES LEAL

17|10|08

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Quem foi Gomes Leal?


«António Duarte Gomes Leal nasce em Lisboa em 1848. Filho ilegítimo de um funcionário público, vive com a mãe e a irmã, a sua principal fonte de inspiração. No ano da morte de sua irmã, em 1875, publica Claridades do Sul, a sua primeira obra poética. Quando a mãe morre, converte-se ao catolicismo, o que tem influência na sua obra. Poeta e jornalista, é escrevente de um notário e publica inúmeros textos panfletários de denúncia político-social. A sua poesia oscila entre os três grandes paradigmas literários do final do século XIX: romantismo, parnasianismo e simbolismo. De 1899 a 1910, compõe e publica quase diariamente. Termina os seus dias na miséria, primeiramente vivendo da caridade alheia, na rua, e depois sustentando-se com uma pensão anual do Estado português que lhe foi conseguida por um grupo de amigos, dos quais se destaca Teixeira de Pascoaes. Morre em 1921.

Gomes Leal é considerado um precursor do Modernismo Português, tendo sido referido por Fernando Pessoa como um dos seus mestres. Este dedica-lhe o soneto Gomes Leal, publicado pela Ática na edição das Obras Completas de Fernando Pessoa, em 1967.

Apesar de se mover literária e pessoalmente nos círculos próximos da Geração de 70, não integra o grupo dos “Vencidos da Vida”, referindo, porém, o apreço que Eça de Queirós e Antero de Quental lhe dedicam, num comentário feito pelo próprio Gomes Leal na obra “A Morte do Rei Humberto” (1900), citado por Gomes Monteiro, em O Drama de Gomes Leal. Com inéditos do Poeta. Gomes Leal tem aliás o cuidado de se distanciar das correntes estéticas da altura, fazendo-o nomeadamente na Nota a Claridades do Sul, acrescentada e publicada na segunda edição, em 1901. Na Nota a “A Morte do Rei Humberto”, Gomes Leal afirma ter publicado antes de Fradique Mendes na Revolução de Setembro e assevera ter sido contactado por Antero de Quental para assinar textos daquele pseudónimo, o que recusou. Na referida Nota, menciona que Cesário Verde tece encómios à poesia de Claridades do Sul.

Gomes Leal estreou-se aos dezoito anos, em 1866, publicando a poesia “Aquela Morta”, na Gazeta de Portugal. Em 1869, publica o folhetim "Trevas" na Revolução de Setembro.

O cariz interventivo da sua obra é marcado não só pelos folhetins publicados nos jornais, mas também pela fundação do jornal satírico O Espectro Juvenal, em 1872, em parceria com Magalhães Lima, Silva Pinto, Luciano Cordeiro e Guilherme de Azevedo. É também um dos fundadores do jornal O Século (1881). Aí publica, por exemplo, “A banalidade nacional irritada” (30 de Janeiro de 1881).

Poeta joco-satírico, são deste autor vários textos que vieram a lume na Revolução de Setembro, dos quais destacamos “A batalha dos astros” (20 de Abril de 1870); “Descrença” (31 de Agosto de 1870); “Flor de perdição” (2 de Outubro de 1870); “No Calvário” (Outubro de 1870). Em 1873, publica “O Tributo de Sangue” e “A Canalha”. Em 1874, um ano antes da primeira edição de Claridades do Sul, escreve para o Diário de Notícias (19 de Maio) “Duas palavras sobre a poesia moderna”, onde reflecte sobre a utilidade que a poesia deve ter face às atribulações morais do final do século.
Claridades do Sul


Em 1875 sai a primeira edição de Claridades do Sul, cuja segunda edição é de 1901. Para celebrar Camões e Bocage, publica “A Fome de Camões” (1880) e “A Morte de Bocage” (1881). Datam igualmente de 1881 os panfletos poéticos “A Traição” e “O Herege”, pondo em causa o trono na pessoa do rei D. Luís, as Instituições burguesas e a Igreja, o que gerou um verdadeiro escândalo literário e político. Aliás, o primeiro texto leva-o à prisão do Limoeiro, onde escreve uma carta publicada no número comemorativo da Tomada da Bastilha de O Século (14/7/1881). A edição do almanaque O António Maria de 7 de Julho de 1881 é dedicada por Bordalo Pinheiro a Gomes Leal.

Outros poemas da sua autoria são “O Renegado” (1881), "A Orgia" (1882), “História de Jesus para as criancinhas lerem” (1883), “O Anti-Cristo” (1884 e 1886), “Fim de Um Mundo” (1899), “Serenadas de Hilário no Céu” (1900), “A Mulher de Luto” (1902), "Mefistófeles em Lisboa" (1907) “A Senhora da Melancolia” (1910). Publica até tarde. Data de Março de 1915 o poema “A Dama Branca” que vem a lume na Águia.

Na sua obra poética e panfletária, este poeta finissecular manifesta apego a entidades históricas e religiosas, numa atitude por vezes pessimista e acusadora. Todavia, é através desse apelo à História que procura um sentido para a vida. Este tipo de poesia enquadra-se na estética parnasiana cujas preocupações, além das de ordem formal e plástica, se inscrevem na procura da pureza original dos tempos, da História. Como exemplo, surgem as poesias de Claridades do Sul “Os Santos”; “D. Quixote”; “O Publicano”; “A Lira de Nero”; “Caim”; “A Lenda das Rosas”; “O Triste Monge” e “A Senhora de Brabante”. Ainda em Claridades do Sul, muitos dos seus poemas reflectem sentimentos de desalento e aflição relacionados com a temática da miséria e da pobreza, num tom neo-romântico do poema “As Aldeias”, “Misticismo Humano” e “De Noite”; outros reflectem sobre a imagética feminina romântica, como em “Romantismo”; “Idílio Triste” e “Senhora dos olhos verdes”.

Por outro lado, a dimensão decadentista-simbolista dessa obra de Gomes Leal leva a que se considere este poeta como o “verdadeiro precursor do Decadentismo em Portugal”, nas palavras de Seabra Pereira. “Licantropia” e “Aquela Orgia” são dois poemas que se inscrevem nessa tendência marcadamente simbolista que assumem algumas composições deste autor.

A filiação de Gomes Leal em Baudelaire é um dos tópicos mais tratados, porque o poeta português se inspirou no mestre das correspondências. De facto, Gomes Leal trabalha com mestria a ideia das “correspondances” do romântico francês nos quatro sonetos de Claridades do Sul intitulados “O Visionário ou Som e Cor”.

A perspectiva do poeta enquanto ser incompreendido e infeliz surge em vários textos de Gomes Leal, composições poéticas em que o sujeito lírico se assume como alguém singularmente distante do comum dos mortais. Não se distanciando da visão romântica do poeta, Gomes Leal define-se como um génio inadaptado à sociedade, num misticismo visionário. Inúmeros são os exemplos desta perspectiva do “poeta proscrito e infeliz”, como “Soneto dum poeta morto”, “Aquele Sábio”, “El Desdichado” e “Noites de Chuva” de Claridades do Sul.

Outra característica deste poeta finissecular prende-se com a preocupação que manifesta em relação aos seus leitores, nomeadamente na Nota à primeira edição e acrescentada na segunda edição de Claridades do Sul (1901). Aí debruça-se sobre a tarefa do escritor explicitando que a este compete “trabalhar a sua ideia, lapidá-la, poli-la, desenvolvê-la, facetá-la, de maneira que ela seja como um grande elo em que se vão encatenar um rosário luminoso doutras novas, e que ela saia transformada desse vasto laboratório intelectual, por um processo misterioso semelhante ao que dá a Natureza, transformando da lagarta a borboleta, do carvão o diamante, e da ostra doente a pérola.”

Na poesia de Gomes Leal confluem o Ultra-Romantismo, o satanismo byroniano, as correspondências baudeleirianas, o Parnasianismo e o Simbolismo. Há ainda alguns elementos que deixam já adivinhar o Surrealismo.

Respondendo ao Inquérito Literário organizado por Boavida Portugal (realizado entre Setembro e Dezembro de 1912 e publicado em 1915), Gomes Leal afirma: “Em mim há três coisas: o poeta popular e de combate, nas sátiras e panfletos; o poeta do sonho e do mistério, na Nevrose Nocturna, nas Claridades do Sul, na Lua morta e na Mulher de Luto; e o poeta místico, na História de Jesus, na Senhora da Melancolia e no segundo Anti-Cristo.”

No número 2 da ABC – Revista portuguesa (22 de Julho de 1920), sob o título “O grande poeta Gomes Leal faz a sua biografia ao A B C, publica o soneto autobiográfico”, que transcrevemos, antecedido do seguinte texto:

Gomes Leal, o poeta ilustre, que é uma glória nacional, quis dar ao A B C uma impressão da sua vida, da sua acção, das suas lutas. Em vez duma entrevista foram aos seus versos lapidares que chegaram a explicar como se passou uma infância, uma velhice e como a velhice chegou com as suas dores a focar essa cabeça coroada de louros. Só Gomes Leal poderia definir o que A B C desejava saber: a vida do primeiro poeta português.

Outr’ora, outr’ora, em épocas passadas,
Tive uma santa Mãe de ideias maneiras,
Um recto Pai de barbas prateadas,
Tive prédios, jardins, fontes, roseiras.

Nos colégios, nas aulas, nas bancadas,
Não quebrei bancos, não parti carteiras;
Fiz bons exames, contas, taboadas,
Mais tarde amei patrícias feiticeiras.

Fui amigo do Eça e do Ramalho,
João de Deus, mais do excêntrico Fialho,
E tive que emigrar para o estrangeiro.

Chorei, gemi! Qual Dante nas estradas!
E ao regressar, por causas avanças,
- fui por três vezes parar ao Limoeiro.



Bibliografia sumária

Activa:

Foram publicadas em 2000 pela Assírio & Alvim, com edição de José Carlos Seabra Pereira, as seguintes obras, até à data esgotadas ou de difícil acesso:

A Fome de Camões e Outros Destinos Poéticos

A Mulher de Luto – Processo Ruidoso e Singular

Claridades do Sul

Fim de um Mundo – Sátiras Modernas

História de Jesus (Para as Criancinhas Lerem)

Mefistófeles em Lisboa e Outros Humorismos Poéticos

O Anti-Cristo – Primeira Parte – Cristo é o Mal

O Anti-Cristo – Segunda Parte – As Teses Selvagens


Passiva:

Álvaro Manuel Machado, “Gomes Leal, Baudelaire e o Pós-Romantismo Finissecular”, in Intercâmbio, publicação anual do Instituto de Estudos Franceses da Universidade do Porto, 1992

Álvaro Manuel Machado, Poesia Romântica Portuguesa, Lisboa, ICALP, 1982

Francisco da Cunha Leão e Alexandre O’Neill, Gomes Leal, Antologia Poética, Lisboa, Guimarães editores, 1959

Gomes Monteiro, O Drama de Gomes Leal. Com inéditos do poeta, Lisboa, editora Minerva, s/d

José Carlos Seabra Pereira, Decadentismo e Simbolismo na Poesia Portuguesa, Coimbra, Centro de Estudos Românticos, 1975

Ladislau Batalha, Gomes leal na Intimidade, Lisboa, Lisboa Peninsular editora, 1933

Vitorino Nemésio, Destino de Gomes Leal, Lisboa, Bertrand, s/d»



Teresa Soares Correia

Publicado no Instituto Camões


18.10.08

Reconstrução da capela do Senhor dos Aflitos


«Há anos, quando se deu inicio às obras de construção da nova fase do Hospital de Santo António, por exigência do andamento da própria obra, foi demolida uma pequena capela da invocação do Senhor dos Aflitos que, desde há muitos anos, estava na cerca daquele antigo edifício hospitalar.

Algum tempo depois da demolição da capela perguntei, nesta mesma coluna, pelas suas pedras. Fundamentalmente, eu queria saber se haviam sido guardadas, com vista a uma futura reconstrução ou se, simplesmente, tinham levado sumiço - como é por norma acontecer no Porto em casos semelhantes.

Tive então, por parte da Administração do Hospital de Santo António, a garantia de que a capela seria reconstruída no renovado adro daquela instituição hospitalar.

Na passada quinta-feira testemunhei o cumprimento daquela promessa.

A capela do Senhor dos Aflitos acaba de ser reconstruída no interior da cerca do Hospital de Santo António onde, naquele mesmo dia, foi sagrada pelo bispo do Porto, D. Manuel Clemente.

E que linda que ficou no enquadramento ajardinado especialmente concebido para, digamos assim, a receber.

Numa cidade, cuja auto-estima tão mal tratada tem sido nos últimos tempos; em que a regra parece ser destruir e não construir, e muito menos reconstruir, é reconfortante verificar que ainda há quem se preocupe com a preservação do nosso património histórico.

Parabéns, portanto, ao dr. Fernando Sollari Allegro, presidente do Conselho de Administração do Hospital da Santo António, pelo empenho e pela dedicação com que desde sempre apadrinhou e acompanhou o projecto da reconstituição da Capela do Senhor dos Aflitos.

Vale a pena recordar aqui um pouco da história da Capela do Senhor dos Aflitos.

A evocação, se outro mérito não tiver, pode servir, no mínimo, para que o benévolo leitor possa aquilatar, por si só, da importância que esta ermida teve e tem para a história da cidade.

Desde praticamente a sua fundação que a Santa Casa da Misericórdia do Porto sempre acompanhou até ao local onde eram enterrados, os cadáveres dos infelizes que morriam na forca.

Um desses sítios ainda hoje é muito recordado trata-se do local onde, entre 1748 e 1763, se construíram a igreja e a Torre dos Clérigos. O sítio era conhecido pelo Campo das Malvas e também pelo cerro dos enforcados.

A partir de meados do século XVIII os enterramentos dos que acabavam os seus dias nas forcas passaram a fazer-se num dos extremos de um vasto terreno denominado Casal do Robalo, entre a Cordoaria e a Rua dos Quartéis (actual Rua de D. Manuel II), que a Santa Casa da Misericórdia havia comprado para nele construir "o hospital novo" que viria a ser o actual Hospital de Santo António.

Deve ter sido já neste cemitério que se enterraram os cadáveres dos indivíduos que estiveram implicados na chamada "Revolta dos Taberneiros" que ocorreu, como é geralmente sabido, no tempo do Marquês de Pombal e teve origem num protesto público contra a recém criada Companhia dos Vinhos do Alto Douro.

O terreno da Santa Casa confinava com uma serventia pública que viria a ter, depois, a designação de Rua dos Carrancas, mais tarde Rua da Liberdade e que é a actual Rua de Alberto Aires de Gouveia.

Tanto no Campo das Malvas como, posteriormente, nos terrenos do Casal do Robalo, a existência do cerro dos enforcados era assinalada pela presença de um cruzeiro com a imagem do Senhor dos Aflitos junto do qual ardia sempre, de dia e de noite, uma votiva lamparina de azeite.

Para protecção desta cruz os devotos daquela imagem mandaram construir uma espécie de alpendre que viria a dar origem a uma capela dentro da qual se guardou o cruzeiro com a imagem do padroeiro.

Inicialmente a capela ficava mesmo à margem do tal caminho que veio a dar origem à actual Rua de Alberto Aires de Gouveia.

Em Junho de 1857, "por conveniência urbanística", o pequeno templo, bem como o cemitério, no dia em que se celebrava a festa do patrono do hospital, foram transferidos da beira da artéria pública, onde estavam, para o interior da cerca do Hospital de Santo António.

Os enforcados passaram a ter sepultura num terreno situado atrás da capela.

Neste local esteve o pequeno templo até à sua recente demolição. Voltou agora à cerca do hospital e com ele o cruzeiro do Senhor dos Aflitos com lugar de honra no altar-mor.

A partir de 1857, ano da restauração da capela e do cruzeiro e da mudança de ambos para o interior da cerca do hospital, a data, o dia a seguir aos festejos a Santo António, padroeiro do hospital, passou a ser dedicado ao Senhor dos Aflitos em honra do qual se celebrou, durante muitos anos a fio, uma bonita festa com missa cantada, música e sermão. Agora que a capela foi reconstituída, por que se não retoma o antigo costume ?»


Germano Silva
Jornal de Notícias



Travessa ALFERES MALHEIRO

17.10.08

Painel na rua de Ceuta

15|10|08

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Cada vez que passo por aqui, penso naquele painel que ainda há pouco existia no extinto "Café S. Paulo" no início da rua do Rosário e que eu não consegui fotografar antes de ter sido destruído pela implantação de mais uma agência bancária!

Este painel é da autoria de Augusto Gomes, aqui vai um pouco da sua biografia:

«Augusto Gomes de Oliveira, filho de António Gomes de Oliveira e de Ana Gomes da Silva, nasceu a 12 de Julho de 1910 em Matosinhos.
Frequentou, na Escola de Belas Artes do Porto, o curso superior de pintura, tendo obtido a classificação final de 19 valores.
Nos anos de 1939 a 1944 foi professor provisório nas escolas Industriais de Viana de Castelo, de Viseu, de Bragança, Marquês de Pombal em Lisboa, e Faria Guimarães no Porto, tendo, nesse último ano, abandonado o ensino para se dedicar inteiramente à sua actividade artística.
Alguns dos seus trabalhos figuram em colecções particulares de Portugal, Brasil e Estados Unidos da América do Norte e nos museus de Bragança, Luanda e Soares dos Reis, no Porto.
Entre os diversos trabalhos que executou contam-se retratos, cartões para tapeçarias e mosaicos, quadros diversos, painéis decorativos e pinturas murais em vários edifícios, entre os quais os frescos da Capela - mor de Nossa Senhora da Conceição, no Porto, um fresco no Hotel Ofir, um mural no Posto de Turismo de Matosinhos, um mural de cimento colorido e pedra, no exterior do edifício Vouga, no Porto, mosaico na fábrica da Companhia União Fabril Portuense e vários painéis em hotéis. Um no Hotel da Batalha, no Porto, outro no Hotel Porto - Mar em Matosinhos, Livraria Portugália, no Porto, etc.

De 1953 a 1958 trabalhou longamente para o Teatro Experimental do Porto, responsabilizando-se por inúmeros trabalhos de figurinos e " maquetes" de cenário.
Em 1964, foi nomeado membro da Junta Nacional da Educação e, entre 1964 e 1970, acompanhou diversas viagens de estudo a centros de arte estrangeiros, com os alunos da E.S.B.A.P.. Assim, como professor daquele estabelecimento de ensino superior, deslocou-se nomeadamente a Paris, Bruxelas e diversas cidades de Itália e Inglaterra. Em 1974, aposentou-se do seu lugar de professor da E.S.B.A.P.. Ainda no mesmo ano, participa numa exposição colectiva dos artistas do concelho de Matosinhos, realizado nas instalações do Orfeão de Matosinhos.
Em 1975, teve trabalhos seus integrados na exposição " Levantamento da Arte do Séc. XX no Porto".
Faleceu em Matosinhos, em 20 de Outubro de 1976.

Fonte: Rede Nónio



Travessa FERNÃO DE MAGALHÃES

MUSEU SERRALVES

12|10|08

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Museu de Arte Contemporânea




Ver mais aqui sobre a arquitectura.



16.10.08

Rua D. AGOSTINHO DE JESUS E SOUSA

10|10|08

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«D. Agostinho de Jesus e Sousa - (1877 - 1952) - Nasceu na freguesia de Pensalves, concelho de Vila Pouca de Aguiar em 1877 e faleceu no Porto em 1952. Depois de ter sido nomeado de Lamego coadjutor em 1921, foi elevado a Bispo do Porto em 1942. Grande teólogo economista, muito se distinguiu no Concílio Plenário Português celebrado em 1923, sendo as suas cartas pastorais consideradas um primor quer pela segurança da doutrina quer pela cuidada forma literária.»

Arquivo da Toponímia


15.10.08

JUNTA DE FREGUESIA DO BONFIM

11|10|08

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A Junta de Freguesia do Bonfim situa-se no Campo 24 de Agosto.


"O edifício que hoje alberga a Junta de Freguesia do Bonfim foi construído em 1812 por Francisco de Sousa Cirne de Madureira, um dos conjurados de 1820, para ser a residência habitacional da Quinta do Reimão, a propriedade da sua familia, a familia Cirne, influente família portuense, que gerou um dos nossos Feitores da Flandres. Trata-se de uma casa apalaçada, que por causa do terreno alagadiço (que deu nome e fama à zona do Poço das Patas, hoje Campo 24 de Agosto, teve que ficar sobre estacas. O edifício foi pertença da família Cirne até ser comprado por Joaquim Domingos Ferreira Cardoso em sociedade com Eduardo Ferreira Pinheiro, no ano de 1882, por 95 contos de reis. Eram então donos da quinta D. Maria Ana Isabel de Sousa Cirne Teixeira Blanco e o seu irmão António de Azevedo Cabral Teixeira Cirne.

A quinta foi então loteada e urbanizada. Nos antigos terrenos de cultivo e jardins construiram-se casas e rasgaram-se as ruas dos duques de Palmela, de Saldanha e da Terceira, do Conde de Ferreira, do Barão de S. Cosme, de Joaquim António de Aguiar e a de Ferreira Cardoso. As armas dos Cirnes, que ornamentavam o cimo da fachada principal, foram picadas em 1890 e substituídas pelo ornato de granito que encima o edificio. Em 1896, o edifício principal da quinta foi comprado pela Junta de Freguesia, por 20 contos de reis, para lá instalar a escola primária. Posteriormente veio a albergar o Liceu do Porto, já desaparecido, e incorporado no Liceu Rodrigues de Freitas, até sofrer obras em 1955 que lhe permitiram acolher a sede da Junta de Freguesia, que ocupa presentemente o edifício."

Publicado na Wikipédia



13.10.08

Onde ficava o cruzeiro da Aldeia da Formiga?


Antigo campo da feira do gado


Quem pretender estudar a toponímia da freguesia do Bonfim tropeça, forçosamente, em quatro antiquíssimas quintas a do Reimão, a de Sacais, a da Fraga e a do Prado. Com excepção desta, que deu lugar ao actual Cemitério do Prado do Repouso, as outras quatro enormes propriedades foram todas urbanizadas.

A Quinta da Fraga, que em 1805 ainda pertencia à família do sargento-mor Alexandre José da Costa, deve ter começado a ser retalhada, em quarteirões, nos finais daquele ano. Ao longo dessa propriedade, que era enorme, rasgou-se, por exemplo, a Rua de S. Vítor, cujo nome foi buscar à capela desta invocação que, por alturas do Cerco do Porto, andava a ser construída na Quinta do Prado, então ainda propriedade do bispo do Porto que ali tinha a sua casa de campo ou de recreio.

Nos finais do século XIX havia uma viela que ligava a antiga estrada do Bonfim, agora rua, com o Largo da Quinta do Prado, actual Largo de Soares dos Reis.

Esse velho e tortuoso caminho rural viria a ser, posteriormente, substituído pela Rua de Ferreira Cardoso.

E era aqui que eu pretendia chegar para responder a um leitor que deseja saber que personalidade foi esta e que feitos cometeu ela para que o seu nome merecesse figurar numa rua do Porto.

Uma boa e oportuna questão a que vou tentar responder, naturalmente.

Joaquim Domingos Ferreira Cardoso, grande proprietário e abastado capitalista, em sociedade com o negociante Eduardo Ferreira Pinheiro, compraram, em 1882, por 95 contos de reis, como então se dizia, a casa e a Quinta do Reimão à família Cirne, então representada por Maria Ana Isabel de Sousa Cirne Teixeira Blanco e seu irmão António de Azevedo Cabral Teixeira Cirne.

A casa era o edifício onde hoje funciona a sede da Junta de Freguesia do Bonfim.

O brasão de armas dos Cirnes, influente e importante família portuense, um dos quais chegou a ser nosso Feitor na Flandres, figuravam no cimo da fachada principal da casa. Foi picado em 1890 e substituído por um simples adorno gravado no granito.

Nos terrenos da enorme propriedade que era a Quinta do Reimão, abriram-se as ruas dos duques de Palmela, Saldanha e da Terceira; do Conde de Ferreira e do Barão de S. Cosme; a Rua de Joaquim António de Aguiar e a de Ferreira Cardoso que foi, como atrás se refere, um dos compradores da propriedade.

Claro que muito boa gente se interrogou à posteriori, como agora o fez, também, e com toda a legitimidade, o ilustre leitor destes trabalhos, como é que foi possível incluir entre tão ilustres personalidades ligadas ao Liberalismo o nome de um individuo que se distinguiu, somente, por ser um abastado proprietário local... !

Eis aí um dos insondáveis mistérios em que a toponímia portuense é fértil.

Sacais é um dos topónimos que desapareceram, incompreensivelmente, da toponímia portuense.

Andava ligado à Quinta de Sacais, também conhecida por Quinta do Cativo, de que existe ainda uma ampla residência com seu jardim com frente voltada para a Rua de António Granjo.

Andrêa da Cunha e Freitas, na sua sempre muito apreciada "Toponímia Portuense" diz que nuns registos paroquiais de 1781, que compulsou, encontrou referências a uma Viela de Sacais da Rua do Reimão; e a uma Rua da Boavista de Sacais, junto ao Padrão do Reimão.

Corresponderão aquelas designações a uma só serventia ou identificam mais do que uma ?

Não o sabe dizer aquele probo historiador mas avança para hipótese, mais do que plausível, de que a aquela Viela de Sacais, existente já no século XVII, corresponde à actual Travessa do Bom Retiro muito desfigurada com a construção da estação do metro do Heroísmo.

Sem que, contudo, tenha perdido a ambiência e a garridice de tempos idos palpável, ainda agora, no registo de azulejos que esmaltam as fachadas de alguma das suas casas e onde a devoção popular estampou as imagens dos santos da devoção de cada um.

A Travessa do Bom Retiro mau grado ter hoje casas apenas do lado poente, ainda começa na Rua do Heroísmo e termina na actual Rua de António Carneiro, antiga Rua de Barros Lima.

Muito perto do sitio onde ainda agora confluem a referida travessa com a Rua do Heroísmo ficava um antigo cruzeiro, igual a muitos mais que a fé dos passantes fazia erigir ao longo de ruas, estradas ou simples caminhos.

Fazendo fé no que sobre o assunto escreveu Andrêa da Cunha e Freitas (e não há, pelo menos da minha parte, qualquer motivo para duvidar disso), esse cruzeiro, a que já se referem documentos de 1724, era conhecido como sendo o Padrão da Aldeia da Formiga, nome que lhe veio, naturalmente de alguma propriedade que por ali existiu com aquela designação. A cruz erguia-se do lado norte da rua e estava resguardado de intempérie por um modesto alpendre.

Com base ainda em informações colhidas pelo já citado historiador, o cruzeiro, por meados do século XIX foi levado do sitio onde o povo o venerava para o interior de uma capela da invocação da senhora da Saúde que existiu nas imediações do actual Campo de 24 de Agosto, em frente, mais ou menos, à Rua do Duque de Terceira.

Com este arrazoado, julgo ter respondido às questões mais prementes do amável leitor.


O leitor a que aludo na peça ao lado faz menção na sua missiva ao estado "degradante a que chegou o jardim do Campo de 24 de Agosto" e pergunta desde quando é que deixou de fazer-se naquele sítio a célebre Feira de Gado. Antes de mais, uma observação infelizmente não é só o jardim do Campo de 24 Agosto que está votado ao mais confrangedor abandono. A Cordoaria, o Marquês de Pombal, a Praça da República, para não ir mais longe, estão nas mesmas condições ou piores. Em tempos idos, o Campo de 24 de Agosto foi uma espécie de Manchester portuguesa, tantas e tão produtivas eram as fábricas que por ali proliferavam. No século XVIII, no Porto, ergueram-se igrejas com suas torres que faziam o encanto místico da cidade. No século seguinte, em vez de torres de templos ergueram chaminés de fábricas. Uma espécie de espigas da imensa seara urbanística surgida a par com a industrialização. Agora, a resposta à pergunta pertinente: havia duas feiras - a do gado bovino, que se realizava às terças e sextas-feiras, já funcionava em 1833 e passou, em 1868, para o Largo da Póvoa de Cima, actual Praça da Rainha D. Amélia; a de cavalos, que era mensal, só em 1892 foi mudada para a Praça da Corujeira.

Germano Silva





12.10.08

Rua ÁLVARO CASTELÕES

08||1008

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Em 1891 tinha o nome de Rua da Lealdade. (A meu ver mais uma rua da cidade com um nome cuja origem remonta ao "Cerco do Porto".)


Mas quem foi ÁLVARO DE CASTELÕES?


"Álvaro de Castro Araújo Cardoso Pereira Ferraz, mais conhecido nos círculos literários por Álvaro de Castelões, foi o 3.º Visconde de Castelões, cujo título foi concedido por Decreto de 27 de Fevereiro de 1905 pelo rei D. Carlos. Nasceu no Porto a 1 de Abril de 1859 e faleceu na mesma cidade a 9 de Julho de 1953, embora residisse e passasse temporadas da sua vida na Quinta que possuía na freguesia de Castelões, concelho de Vila Nova de Famalicão.

Tirou o curso de Engenharia na Escola Politécnica de Lisboa, ingressando, pouco depois, voluntariamente, numa missão (expedição científica de Serpa Pinto) enviada a Moçambique, em 1889, tendo sido encarregado pelo ministro da Marinha de estudar o traçado de uma linha férrea que ligasse a parte alta à parte baixa do chire, sem prejudicar o percurso das cataratas, com a directriz de desviar, para aquele rio, a actividade do Niassa.

Sucedendo o Ultimatum inglês, Álvaro de Castelões colocou-se à frente dum punhado de landins, travando o forte combate de Mupassa, sendo o inimigo destroçado. Daqui que, o Parlamento Português, na sessão de 15 Agosto de 1891, proclamado Álvaro de Castelões «Benemérito da Pátria».

Foi Director-Fiscal do caminho-de-ferro de Mormujão, (Índia) Director das Obras Públicas da Índia e Director dos caminhos-de-ferro do Minho e do Douro.

Foi sócio honorário da associação dos Jornalistas e Homem de Letras do Porto e pertenceu à Sociedade de Geografia de Lisboa. Fundou, colaborou e foi director, em parceria com Júlio Brandão, da revista Soneto Neo-Latino, assim como também colaboraria nas revistas, Nova Alvorada, Ilustração Moderna e na Revista de Portugal, esta sob a direcção de Eça de Queirós em 1892, com o artigo A Questão Colonial. Conviveu com João de Deus, Gomes lLal, Marcelino Mesquita, Guerra Junqueiro, António Feijó, Gonçalves Crespo, João Penha, Campos Monteiro, entre outros."




8.10.08

Rua Professor MENDES CORREIA

01|10|08

Foto publicada no Flickr


António Augusto Mendes Correia (1888-1960) - Notável cientista, antropólogo e arqueólogo, professor da Universidade do Porto, fundador e presidente da Sociedade Portuguesa de Antropologia e de Etnologia. Presidente da Câmara Municipal do Porto.


Quem foi Mendes Correia?

António Augusto Mendes Correia, nasceu no Porto, a 4 de Abril de 1888. Licenciou-se em Medicina na Escola Médico-Cirúrgica em 1911. Nesse mesmo ano, encetou na Faculdade de Ciências o ensino da disciplina de Antropologia.
Criou na Faculdade de Ciências, em 1912, o museu e o laboratório antropológicos (que, em 1926 havia de adquirir o estatuto de Instituto) ligados ao ensino e à investigação. Foi director do instituto e do Museu.
Foi fundador, em 1918, conjuntamente com Luís Viegas, Aarão de Lacerda e José Ferreira, da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, de que foi presidente.
Tornou-se professor catedrático da Faculda de Ciências em 1921.
Foi director da Faculdade de Ciências entre 1929 e 1935.
De 1936 a 1942 foi presidente da Câmara Municipal do Porto e Procurador à Câmara Corporativa. Entre 1945 e 1956 foi deputado da Assembleia Municipal.
Em 1946 foi nomeado director da Escola Superior Colonial, mais tarde designada Instituto Superior de Estudos Ultramarinos.
Foi presidente, desde 1951, da Sociedade de Geografia de Lisboa. Jubilou-se em 1958.
Faleceu em Lisboa em 1960.
Os seus estudos trouxeram-lhe renome internacional, tendo obtido inúmeras condecorações em todo o mundo:
Doutor honoris causa das Universidades de Lyon, Montpellier e Johannesbug.
Cavaleiro da Ordem Civil de Afonso XII (Madrid, 1921)
Colar da Academia Pontifícia de Ciências - "Novi Lyncaei" (Roma, 1924)
Grande-Oficial da Ordem da Isntrução Pública (Lisboa, 1931)
Comendador da Ordem da Corôa da Bélgica (Bruxelas, 1931)
Oficial da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul (Rio de Janeiro, 1937)
Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo (Lisboa, 1937)
Comendador da Ordem da Corôa de Itália (Roma, 1939)
Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (Lisboa, 1941)
Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra (Paris, 1941)
Comendador da Ordem de Afonso X, o Sábio (Madrid, 1945)
Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada (Lisboa, 1957)
Grande Oficial da Ordem do Império (Lisboa, 1958)

Publicado em "Portuense"