15.12.06

Rua AZEVEDO DE ALBUQUERQUE



Anteriormente chamou-se Rua dos Fogueteiros. Foi a primeira das ruas da cidade a ter passeios.

A Cooperativa Cultural Árvore tem a sua sede na casa brasonada que foi a de Azevedo de Albuquerque.
Nesta rua também existiu, pelo menos até aos anos setenta, o Horto das Virtudes, actualmente ocupado pelo Jardim das Virtudes.


Quem foi AZEVEDO DE ALBUQUERQUE?

Engenheiro JOAQUIM DE AZEVEDO SOUSA VIEIRA DA SILVA E ALBUQUERQUE, que foi professor ilustre na Academia Politécnica do Porto. Nasceu no Porto em 16 de Agosto de 1839, cursou com distinção a Politécnica, na qual obteve a carta de engenheiro civil em 3 de Agosto de 1861 e casou na igreja de Miragaia em 5 de Abril de 1869 com D. Helena Eulália Gonçalves Pinto de quem teve 4 filhos. Participou na revolta de 31 de Janeiro de 1891.


RUA dos FOGUETEIROS - Assim denominada por nela terem tido assento vários artífices de pirotecnia, forma hoje juntamente com a também antiga Calçada dos Carrancas a rua que hoje se chama Azevedo Albuquerque que liga o Largo do Viriato ao Passeio das Virtudes. Por volta de 1841 construiu-se o Paredão dos Fogueteiros, que veio dar continuidade à rua da Restauração. Antes deste paredão o acesso da rua dos Fogueteiro à Cordoaria fazia-se por um escabroso e alcantilado caminho aberto entre penedos. Este paredão dos Fogueteiros por o local ser bastante pantanoso, havia uma nascente e por lá passava o rio das Virtudes que antes fora chamado de rio Frio, assenta sobre um alicerce feito em estacaria e a grande profundidade. O Paredão possui três grandes arcos à face da rua Azevedo de Albuquerque, dos quais, um, o do lado nascente, dá entrada para os armazéns subterrâneos do Hospital de Stº António, visto que o Paredão lhe obstruiu uma porta. No interior do arco do lado poente, fizeram uma casa de habitação. Ainda actualmente o é (1961) e há ainda um estabelecimento de vinhos no rés-do-chão. No arco central havia uma fonte — a fonte dos Fogueteiros — cuja água proveniente de uma nascente na cerca do Hospital, caía num espaçoso tanque construído em 1843. Esta fonte já existia antes de 1820 então encostada à parede do Hospital. O primeiro passeio que se fez no Porto com lancis, guias de pedra na margem do passeio, foi o da rua dos Fogueteiros, lado sul, lado do rio Douro, na parte que ia da fonte até à rua da Bandeirinha, passando pelo Largo. Foi em Março de 1852 e daqui para diante as ruas do Porto tiveram guias nos seus passeios.

dados recolhidos por Jorge Rodrigues

7.12.06

Travessa do CARMO

5.12.06

Rua da VITÓRIA


foto de Francisco Oliveira


Antiga Viela da Esnoga e depois Viela Luís Coelho.


Depois foi Viela de S. Roque por causa de uma ermida que por ali existiu e cuja memória resta hoje num nicho incrustado na frontaria de um prédio.

A Rua da Vitória, que tomou a designação da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, sede de freguesia, criada em 1583 pelo Bispo D. Fr. Marcos de Lisboa.

Começa na Rua das Taipas e termina na Rua dos Caldeireiros. Tem também acesso pela Rua do Ferraz a partir da Rua das Flores.


2.12.06

Largo da MATERNIDADE JÚLIO DINIS


Antigo Campo Pequeno ou Largo dos Ingleses. Conhecido igualmente por Largo da Maternidade.
Onde se construiu o primeiro templo[1] e o primeiro cemitério protestante.


[1] O terreno foi comprado por JOHN WHITEHEAD em 1887, em 1822 começou a construir-se mas só foi consagrado em 1843.






MATERNIDADE JÚLIO DINIS[1]. Conhecido igualmente por Largo da Maternidade.


CEMITÉRIO INGLÊS.
Sobre o Cemitério Britânico


[1] Os terrenos para a construção da Maternidade foram adquiridos em 1927(?) mas o edifício só ficou completamente terminado em 1937. O autor da traça foi o suíço GEORGE ÉPITAUX que já tinha desenhado a maternidade de Lausanne. No jardim existe um busto em bronze do Dr. ALFREDO DE MAGALHÃES datado de 1937.



Largo de S. DOMINGOS

1.12.06

Rua CLEMENTE MENÉRES


Já se chamou rua do Paço e Praça do Duque de Beja.

Tem o nome actual pelo menos desde 1945.

Sobre Clemente Menéres descobri há pouco tempo isto:


«A Quinta do Romeu nasceu da visão de Clemente Guimarães Menéres.

Clemente da Fonseca Guimarães, nascido em 1843 na Vila da Feira, tinha uma energia enorme.
Foi para o Rio de Janeiro aos 15 anos onde então residiam parentes seus. Regressou cinco anos depois, dedicou-se ao comércio e voltou lá mais tarde. Percorreu a Europa Central e de Leste e o Médio Oriente à procura de mercados. Tinha um caminho novo a percorrer. Talvez por isso, acrescentou um nome, Menéres, ao Guimarães que já tinha. Não cabia no País nem na família. Fundou imensas sociedades para exportar produtos portugueses, nomeadamente vinhos, conservas e cortiça. Criou a primeira fábrica de conservas e a primeira fábrica de rolhas em Portugal.

Aos 31 anos, em 1874, parte em carro de cavalos para Trás-os-Montes para comprar os sobreirais que ouviu dizer que por lá havia. Cria uma propriedade, a Quinta do Romeu, com uns milhares de hectares dispersos por oito concelhos do distrito de Bragança. Refaz as vinhas que encontra dizimadas pela filoxera e alarga os olivais que existiam. Como a qualidade dos vinhos e o “terroir” o justificavam, na remodelação da Região do Douro de 1907 é autorizado a produzir Vinho do Porto.
Participou em muitas feiras na Europa e na América do Norte e do Sul. O diplomata Venceslau de Morais no seu livro “Cartas do Japão” refere, com elogios, a sua presença na Feira de Osaka de 1903.

Em 1902 funda, com os filhos, a actual Soc. Clemente Menéres Lda. Depois de falecer, em 1916, sucedem-lhe os filhos, netos e bisnetos.
Um dos filhos, Manoel Menéres, na década de 60, pessoalmente restaura e renova três aldeias locais, cria infantários para as crianças e um restaurante para as sustentar com a sua receita, o Maria Rita, e faz também o Museu de Curiosidades.
Com o mesmo espírito, os seus descendentes continuam e aperfeiçoam a Quinta do Romeu. Com carinho e dedicação. Também com persistência, muita. Passou esta Sociedade os tempos da implantação da República, das duas grandes guerras, da revolução de Abril, da integração europeia e actua agora no palco global. Produz um dos melhores azeites do mundo e vinhos do Porto e de consumo de muita categoria. Vende para a Europa, América e Ásia.

Procura-se, no Romeu, uma harmonia entre as pessoas, as culturas agrícolas, o ambiente e a economia. Como se fosse música. Para lá da agricultura biológica, com alma. Eticamente empenhados. Conscientes dos pés na terra e do Divino no “céu”. Alimentados por Ambos.

Se nos visitar, isso sente-se. Mesmo no Restaurante Maria Rita.»

publicado em Quinta do Romeu

Descendentes de Clemente Menéres também criaram um blogue (infelizmente não faz referência à actualização que já houve neste artículo. Tem dados interessantes para o conhecimento da actividade deste empreendedor.   

29.11.06

Praça D. João I

Praça onde se situa o Teatro Rivoli (inaugurado em 1932) e tendo face a face dois "enormes" prédios um dos quais foi chamado o Arranha-Céus quando da sua construção, o outro foi a sede do Banco Português do Atlântico de Cupertino de Miranda.


Esta praça foi completamente redesenhada em 2001, integrada no Porto - Capital da Cultura. A fonte desapareceu. Em 2006 esta fonte foi implantada na Praça do Marquês.

detalhe painel - setembro 2006

Abel Salazar

No Banco Millenium - antigo café Rialto existe um painel da autoria de Abel Salazar.



2005



janeiro 2005

RIVOLI Teatro Municipal.Os frisos de escultura são da autoria de Henrique Moreira. O projecto original de Júlio de Brito data de 1929. A remodelação do Teatro, da autoria de Pedro Ramalho foi concluída em 1997. 



2005




ARRANHA-CÉUS - MAURÍCIO CARVALHO DE MACEDO, natural da freguesia de Telões, Amarante, nascido a 3 de Abril de 1896, mandou construi-lo. O prédio mais alto de Portugal em Maio de 1945. Traça de Rogério de Azevedo e de Baltasar de Castro.



painel de azulejos do "Palácio Atlântico" da autoria de Jorge Barradas


2006

O "Palácio Atlântico" (1951) deve-se à traça de ARS (arquitectos Fortunato Cabral, Cunha Leão e Morais Soares)



Acabo de encontrar este postal que mostra como era anteriormente a praça e o prédio do Banco Português do Atlântico. Nele existiam vários consultórios médicos assim como escritórios de empresas, como podemos observar: Gazcidla, Sacor e Companhia de Seguros Ourique. O consulado de França no Porto estava localizado no último andar, onde se nota um mastro de bandeira. Neste mesmo edifício também chegou a existir a escola de dactilografia Maratona.(actualização de Junho de 2011)

Se desejar ler e rever fotos do Rivoli pode consultar o blogue Restos de Colecção que em Novembro de 2013 divulga um interessante artigo.

27.11.06

Rua dos MERCADORES


A Rua dos Mercadores foi, juntamente com a Bainharia e a Rua Escura, um dos eixos de circulação vital para o Porto Mediévico, ligando a zona ribeirinha, centro
mercantil, ao burgo episcopal e assegurando a comunicação com as principais vias medievais que saiam do Porto em direcção ao Entre-Douro-e-Minho e a Trás-os-Montes. Percorrendo a zona extra-muros desde as imediações da Porta de Sant'Ana até à Praça da Ribeira, junto ao Douro - ia, segundo documento antigo, "de Sant'Ana para baixo até a Praça da Ribeira" - ela seria, como o seu nome indica, um dos locais eleitos pelos mercadores portuenses para instalarem as suas moradias e estabelecimentos. Era assim, uma zona rica da cidade, com estruturas bem cuidadas, embora algumas, desde cedo oferecessem problemas de conservação.


texto e foto de
Francisco Oliveira



O tempo em que a Ribeira foi centro cívico da cidade


Os "mercatores do Porto"

A partir da conquista de Lisboa aos mouros, por D. Afonso Henriques, em 1147, cessaram, por assim dizer, as incursões árabes aos territórios do Norte do país e a costa portuguesa deixou de andar, como acontecia até ali, infestada de navios
mouriscos, cujas tripulações assaltavam os barcos dos mercadores portuenses, mal eles saíam barra fora.

Tentando aproveitar, entretanto, as vantagens foraleiras concedidas, anos antes, pela "Carta de Foral", dada pelo bispo D. Hugo à cidade, novos moradores, provenientes especialmente das terras do interior, chegam ao velho burgo para se empregarem nos mesteres e, sobretudo, nas actividades ribeirinhas, porque o rio começava a ser a via dorsal de todo o comércio, não apenas com as terras do interior mas, fundamentalmente, com o exterior.

A cidade expandia-se para fora do primeiro muro defensivo, crescia em prestígio económico, assistia ao aumento cada vez mais acentuado do seu comércio com o exterior e via a sua população a aumentar de dia para dia.

Com o interesse que começa a despertar o intenso labutar da vida mercantil, mas não só, na zona ribeirinha da cidade, a população arrisca descer de Cimo de Vila para ao pé do rio, onde a vida fervilhava de tal modo que o Senado Municipal, a certa altura, teve que tomar medidas para evitar brigas e morticínios, tão intensa era a actividade que ali se desenvolvia no carregar e descarregar de navios, que ali chegavam todos os dias vindos das mais distantes paragens.

Da parte do Porto, eram os próprios burgueses da cidade que em seus navios faziam o comércio com a Flandres e outros portos do Norte da Europa e da França. E os pescadores da Lada, de Miragaia e de Massarelos também iam, em seus próprios barcos, até aos mares afastados da Bretanha e da Inglaterra. Levavam o sal das salinas de Matosinhos e de Guifões e traziam o pescado com que abasteciam os mercados do burgo.

A população aumentou com tal rapidez na zona ribeirinha que, em 1249, o bispo D. Julião Fernandes, para prover essa gente de assistência religiosa condigna, designou um capelão para a ermida de S. Nicolau, na Reboleira, precursora da actual igreja paroquial de S. Nicolau.

Desde muito cedo que os homens de negócios, que actuavam com seus barcos a partir do rio Douro, procuravam furtar-se ao pagamento dos impostos, levando as suas embarcações para o entreposto de Vila Nova de Gaia, criado por iniciativa de D. Afonso III, no ano de 1255.

O monarca, para retirar ao bispo do Porto e ao Cabido as pingues rendas que ambos recebiam da intensa actividade comercial que os mercadores da cidade desenvolviam, mandou ordem aos mestres e capitães dos navios que entrassem no Douro, para que "desembarcassem as mercadorias que trouxessem nos seus barcos no novo bairro de Vila Nova, afim de lhe pagarem aí a ele Rei os direitos devidos e não ao bispo nem ao Cabido…"

Esta atitude de D. Afonso III viria a gerar, no futuro, uma série de questões, pendências e conflitos entre a Mitra e os burgueses da cidade que, por seu vez, deram origem a excomunhões, interditos e queixas dos bispos ao Papa.

Numa data que não é possível determinar, mas que coincidiu com este surto de desenvolvimento do comércio marítimo, criou-se no Porto a primeira Bolsa destinada a acudir aos percalços da navegação e do comércio dos barcos do Porto que comercializavam com os portos do Norte da Europa. A iniciativa, para que não fiquem dúvidas, foi dos próprios armadores de navios da cidade. Muito anterior à que D. Dinis instituíra em Lisboa.

Na base desta iniciativa esteve o naufrágio na costa flamenga, em 1149, no tempo de D. Sancho I, portanto, de um navio da praça do Porto.

Pode dizer-se que se o progresso mercantil se fazia sentir especialmente na Ribeira, junto ao rio, onde se criara o novo centro cívico da urbe, a indústria, com os seus mesteres, prosperava nas encostas da Penha Ventosa e da Vitória como ainda hoje o atestam os nomes de arruamentos que nos trazem à memória os mesteirais de antanho agora evocados nos nomes de algumas das ruas portuenses Caldeireiros, Pelames, Mercadores, Bainharia.

No reinado de D. Pedro I (1357-1367 ), havia no Porto mais naves e navios do que em todos os outros portos do país. E a maior parte dessas embarcações de alto bordo eram construídas nos estaleiros da Ribeira e de Miragaia que competiam em qualidade e quantidade com os maiores estaleiros da Europa.

O tempo em que a Ribeira foi centro cívico da cidade

Nas inquirições de Entre Douro e Ave, de 1258, há frequentes referências aos "mercatores do Porto" e ao seu comércio com as praças do Norte da Europa e da Flandres. São aí mencionados muitos produtos agrícolas e industriais, a maioria deles portugueses com origem nas terras do interior ou manufacturados por artesãos portuenses vinhos, panos, sal, peles, couros. Gado cavalar, asinino, suíno, bovino e caprino. Alfaias agrícolas como ferros de arado, enxadas, ferraduras e cravos. Picões e cutelos. Caldeiras, grelhas e trempas. Mantas de Ferreira, de Barcelos e mesmo de Castela. Ourelos (panos grosseiros) , tecidos de algodão, sedas, sapatos e botas. E ainda cera, unto, sebo, vinagre, queijo e manteiga. Pelos séculos fora, de 1300 a 1700, através de tantas vicissitudes da vida nacional, a cidade do Porto continuou a singrar como principal centro mercantil e isto devido, fundamentalmente, às condições de navegabilidade do seu rio e do seu entreposto ribeirinho firmado na Ribeira ainda hoje uma verdadeira atracção porque continua a ser a varanda aberta sobre o Douro…

texto de Germano Silva publicado aqui


25.11.06

Rua da BANDEIRINHA


A Rua da Bandeirinha, que conserva a primitiva denominação e em grande parte o seu antigo perfil, é a artéria segundo cremos setecentista. Encontramo-la assim chamada em emprazamentos da Misericórdia, a partir de 1789, e é natural que venha, pelo menos de meados do século. Tomou o nome de "bandeirinha da saúde", que noutros tempos marcava a linha de atracagem das embarcações, em limite que não podia ser ultrapassado em caso de peste.


foto de Jorge Leigo

Não deixar de apreciar a fachada da “Casa das Sereias”, antigamente chamada pela população de “mamudas”, esta casa já pertenceu aos Cunha Portocarrero e durante alguns anos foi o "Hospital dos Ingleses" no século vinte.

(consultar também "Toponimia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)

23.11.06

Rua das FLORES



A Rua de Santa Caterina das Froles ou (rua de Santa Catarina das Flores), aberta em 1521 para ligar os conventos de S. Francisco e de S. Domingos aos de Santo Elói e de S. Bento da Ave Maria.
Os terrenos onde se abriu a rua, entre o rio da vila e o morro da “Vitória”, pertenciam todos à Mitra, que por isso os dividiu em chãos (lotes) e ficou senhoria directa de todas as casas que na nova artéria se vieram a construir. Uma casa podia ocupar vários chãos; como a casa da Santa Misericórdia que ocupava sete chãos.
Nesta rua e logo quando da sua abertura tiveram casa as melhores famílias
burguesas. A casa da Companhia Velha na esquina da Viela do Ferraz, do lado de S. Domingos, eram duas moradas que possuía o contador João de Figueiroa Pinto.
Nesta rua teve casa e viveu Simão Pacheco rico mercador portuense da era de seiscentos, da estirpe de que provieram os Pachecos Pereiras, da Rua de Belomonte tinham loja de panos a S. Domingos, mas breve se afidalgaram, com cartas de brasão de armas e foros na Casa Real. Em 1860 abriu-se a continuação da rua das Flores desde a rua Dona Maria II hoje Trindade Coelho, (aberta em 1838), até ao largo da porta dos Carros, depois largo da Feira de S. Bento hoje Praça de Almeida Garrett.


Curiosidades

MEDICINA E CRENDICES
O dr. Cristiano Morais à roda do ano de 1928, com o seu “curioso tratamento o método Asuero” por meio de uma picadela num dos nervos do nariz, alvoroçou Portugal de lés-a-lés. Eram bichas intermináveis de doentes, vindos de todas as terras, de perto e de longe, que se aglomeravam à porta do consultório.
Um êxito inigualável. Deu para fazer a melhor vivenda da Rua de Camões. Outra história deste médico: o toureiro João Froes, dado como totalmente incapaz para o toureio pela ciência lisboeta, foi curado graças ao cirurgião dr. Cristiano de Morais que o operou com excepcional êxito. Em 1865 havia anúncios na imprensa para vender Cruz Milagrosa contra a Peste na Rua das Flores nº 224 a 226 por 10 réis.

(dados recolhidos por Jorge Rodrigues, fotos de Francisco Oliveira, aos quais agradeço a colaboração)

_________
Nesta rua:

Um alfarrabista: Chaminé da Mota
Uma Igreja: Igreja da Misericórdia

21.11.06

Esplanada do CASTELO


O Forte de S. João da Foz que foi construído em 1570.


- Para o seu arquivo ou para publicar, aqui lhe envio uma fotografia, feita ontem, do ângulo mais atirado ao rio e mar, bem como o seguinte pequeno texto:
"O Castelo de S. João da Foz é uma edificação iniciada no século XVI, por ordem de D. Catarina de Áustria - regente do reino e avó de D. Sebastião - e concluído no século XVII por D. Jão IV.
Serviu de calabouço do Duque de Terceira e alguns dos seus oficiais, aquando da revolta da Patuleia, em Outubro de 1846 e, mais recentemente, de armazém e paiol."

Saudações
Francisco Oliveira -



A primeira Igreja de S. João da Foz, situava-se dentro do castelo. Em 1640 com as obras a efectuar na fortaleza foi necessário transferi-la para outro lugar.

Actualmente o Castelo é ocupado pelas instalações do Instituto de Defesa Nacional (IDN)

20.11.06

Rua do ATENEU COMERCIAL DO PORTO

Já foi Travessa Passos Manuel.


Nesta rua (então Travessa Passos Manuel) existia, nos anos 60, o Teatro de Bolso "António Pedro" do T.E.P. - Teatro Experimental do Porto.




A história da benemérita e velha instituição tão portuense que é o Ateneu Comercial está há muito feita, e vamos apenas esboçá-la para quem de todo a desconhece. No dia 29 de Agosto de 1869, na Rua da Porta do Sol, António Bernardino Alves Costa, Pedro Pinto Gonçalves Pimenta e Manuel José Alves de Azevedo fundavam uma sociedade recreativa que denominaram Nova Euterpe. Foi graças a estes cavalheiros que pôde sobreviver e prosperar. Em 1877 ou 78, começaram a funcionar ali cursos de escrituração e geografia comerciais entre outros. Desde 10 de Janeiro de 1885 estava o Ateneu instalado na Rua de Passos Manuel. Uma das mais belas coisas que o Ateneu possui é a sua bibliotéca, que começou com 326 volumes num gabinete de Leitura e que já em 1944 ascendia a mais de 50 000, com verdadeiras preciosidades, tal como « um precioso e raríssimo exemplar» da 1º edição de «Os Lusíadas». Foi em 1884, um ano antes de se mudar para a nova sede, que se trocou o nome de Nova Euterpe pelo de Ateneu Comercial. E foi cremos, pelo seu centenário que à antiga Travessa de Passos Manuel foi dado o nome de Ateneu Comercial do Porto.

Mais sobre o Ateneu Comercial do Porto


Plateia e Balcão do Teatro de Bolso António Pedro.
(foto do Círculo de Cultura Teatral)


16.11.06

Rua de BELOMONTE

foto de Francisco Oliveira
Outrora chamada de S. Domingos.

foto de Francisco Oliveira

A realçar a existência nesta rua do Solar dos Pacheco Pereiras (actualmente ocupado pela ESAP).

A primitiva Rua de Belmonte correspondia a parte inferior da Rua das Taipas.

«...A Rua de Belomonte aparece assim em princípios do século XVI, graças à iniciativa dos frades. As primeiras trinta varas de chãos foram por eles aforadas, em 1503, ao armeiro Álvaro Gonçalves, o personagem tão conhecido da «A Última Dona de S. Nicolau», para construir cinco moradas de casa --- «assim como pegava da escada que sobe para para a viela da Esnoga, pela Rua de Belomonte acima, da parte da vitória», reza a respectiva escritura. No fim da rua, antes de chegar ao largo de S. João Baptista, hoje de S. João Novo, havia um cruzeiro que deu nome ao local: O Padrão de Belmonte.»

"Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas

Jardim da CORDOARIA

Mais conhecido como Jardim da Cordoaria. Também conhecido por Campo dos Mártires da Pátria, tem o nome oficial de Jardim João Chagas.


Estátuas:
"Flora" de TEIXEIRA LOPES, inaugurada em 1904,
"RAMALHO ORTIGÃO" obra de LEOPOLDO DE ALMEIDA.


Busto de ANTÓNIO NOBRE, bronze de TOMÁS COSTA, inaugurado em 1926.

Palácio da Justiça - começado em 1958 e terminado em 1961, risco do arquitecto RODRIGUES LIMA.

A actual configuração do jardim fica a dever-se a: Camilo Cortesão e Mercês Vieira


Quem foi João Chagas:
JOÃO CHAGAS - Republicano, director de “A República Portuguesa” cujo primeiro número foi publicado a 1 de Setembro de 1890.

Quem lá morou:
O Dr. FRANCISCO DE ASSIS E SOUSA VAZ, que se doutorou em Paris, e foi professor na nossa Escola Médico-Cirúrgica. «O Médico Assis», como era conhecido na cidade, dedicou-se largamente ao cuidado dos expostos e ao problema das rodas, ao mesmo tempo que era o clínico da primeira sociedade portuense do seu tempo. Morreu em 6 de Abril de 1870, e Alberto Pimentel retratou-o no seu curioso livro «O Porto por Fora e por Dentro». «Nos últimos anos de sua vida era um velho seco, que se arrastava coxeando, em consequência de um desastre que sofrera, mas ainda tão animado de espírito, que empreendeu a reedificação do prédio onde nascera, na Praça da Cordoaria, chegando a convertê-lo num, palacete...». Foi ele quem deu o nome à Viela do Assis.«Tinha um nome de tal maneira conhecido e respeitado que não esqueceu mais» escreve ainda Alberto Pimentel. Foi também o clínico assistente do rei Carlos Alberto, razão por que foi médico honorário da casa Real de Sardenha.

De onde vem o nome "Cordoaria":

CORDOARIA - Campo onde havia fábricas de cordas. Acabou quando a Câmara nos dias 4 e 5 de Outubro de 1852, mandou — por não concordarem com a intimação — arrasar todas as rodas, pias, caldeiras e mais apetrechos dos cordoeiros. Estes foram obrigados a procurar pelos vários sítios da cidade, em regime de aluguer, quintais, campos ou terrenos devolutos. Um dos terrenos para onde foram situava-se na esquina de Gonçalo Cristóvão e Praça da República onde mais tarde se construiu o Palacete das águias no qual esteve a cooperativa “O Problema da Habitação”. Aí estiveram dois cordoeiros que trabalhavam com 4 rodas, não obstante, devido à amplidão do terreno, haver espaço para funcionarem dez ou doze rodas. Para recolha do material e para se abrigarem da intempérie, mandaram os dois artífices de cordoaria, como era uso, construir um espaçoso telheiro.


Curiosidade:

ÁRVORE DA FORCA - Havia uma lenda na cidade do Porto, penso que em 2000 já não se houve falar no quotidiano, mas que eu ainda ouvi, que aponta uma certa árvore do jardim da Cordoaria como sendo a “árvore da forca”. Já não existe esse olmo ou negrilho gigantesco que tinha um ramo também gigantesco que lhe saía do tronco à altura de uns 2,5 metros em forma de ângulo recto e que a 2,5 metros de distância subia à vertical acompanhando a linha do tronco. Realmente tinha a forma de uma forca. Diz-se que foi plantado no tempo dos Filipes em 1611. Em 2000, desaparecido há poucos anos. Mas já Camilo demonstrava que nunca ali se tinha enforcado ninguém. No entanto, a devassa de Pombal a propósito do motim contra a Companhia Velha resultou no enforcamento de alguns dos revoltosos no campo da Cordoaria, mas no devido local, isto é, logo ao pé da cadeia. A lenda é uma forma de eternizar sobre algo de real, um acontecimento chocante. (texto de Jorge Rodrigues)

também sobre o jardim

15.11.06

Rua COSTA CABRAL







"A RUA DE COSTA CABRAL OU ESTRADA DA CRUZ DAS REGATEIRAS"



Em 1845 foram “reformadas”, segundo o novo plano de estradas do Reino, as da província de Entre Douro e Minho. Vitais, neste plano, eram aquelas que cobriam os acessos ao Porto: as de Guimarães, de Braga e de Penafiel por onde se escoava a maioria do tráfego entre a cidade e as regiões minhotas e durienses. (O terrestre, porque o rio desempenhava, na época, um papel inultrapassado na circulação de mercadorias e pessoas.)

Em substituição da Rua do Lindo Vale, estreita, irregular e mal pavimentada, uma empresa encarregada de efectuar aquelas reformas abriu a grande e moderna via de penetração (inovadoramente pavimentada a macadame) até ao Porto. Atribuíram-lhe o nome do político António Bernardo da Costa Cabral, na altura ministro do Reino que não era ou não veio a ser uma figura apreciada pelos portuenses que preferiram chamar à nova artéria a “”estrada da Cruz das Regateiras””. Em 1851, em sinal de repúdio por aquele baptismo e quando o ministério de Costa Cabral caiu, a população tratou de derrubar a pedra que, junto ao Marquês, assinalava o início e a designação da rua. Porém, a tradição e a vontade dos populares não conseguiram impor-se e tanto o nome de Cruz das Regateiras como o de estrada desapareceu definitivamente – ao contrário de outros topónimos – e Costa Cabral ficou nome assente e enraizado. Curiosamente aponte-se que, nos meados do século XIX, os lugares atravessados pela rua eram tão excêntricos que o Município recusou arcar com a despesa da abertura da mesma, alegando tratar-se de uma obra “”fora das barreiras” da cidade…

Atravessando terrenos rurais, quintas e casas, a Rua de Costa Cabral rompeu com a imagem dos arruamentos da zona, caminhos mais ou menos aldeãos e irregulares. Alguns eram, todavia, inegavelmente, úteis e calcorreados, pois, através deles, viajantes e vizinhos dirigiam-se para as Antas ou para o Campo Grande (24 de Agosto). Passavam pelas Goelas de Pau e Bonfim. Seguiam ainda para Campanha e, por outro lado, para as diversas aldeias de Paranhos (então campos e mais campos).

Centro de irradiação de caminhos e referência obrigatória na saída da cidade, eis a Cruz das Regateiras (aliás Largo 25 de Março, aliás, Largo da Cruz).

Lojas de merceeiro e de vinhos animavam o local, povoado e construído. Algumas casas do século XIX e uma pequena escadaria, uma viela tranquila e praticamente rural é tudo o que resta do sítio antigo. Mas, com as suas árvores vigorosas, o seu chafariz de ferro fundido, de lampião em cima, raro, o mictório de ferro que ainda subsiste, na entrada da Rua de Contumil, o Largo da Cruz é um pedaço da Porto arrabaldino que se desagrega, tragado pelos apetites imobiliários. Da Cruz para poente seguia, no século passado, um caminho que deu origem à viela (e depois rua) do Relógio, hoje com a metade norte absorvida pela abertura da Avenida de D. João II. A origem daquele nome radica no relógio de sol do palacete do Dr. Jaime Magalhães, já demolido, que ficava na esquina da Rua Pereira Reis (este relógio está depositado no Museu de Etnografia e História).

Ligando a Praça do Marquês à estrada da Circunvalação, na Areosa, a Rua de Costa Cabral é a mais extensa do Porto. Desenvolve-se em linhas rectas que lhe dão um traçado uniforme; inflecte, porém, decididamente para o interior sem que disso o transeunte se dê conta. Essas parcelas rectilíneas definem zonas residenciais com diversos estilos de construções. Do Marquês até Silva Tapada encontra-se uma fileira de habitações (só interrompida por alguns cruzamentos), algumas notáveis no quadro da arquitectura portuense oitocentista. São de referir as que, ao nível dos telhados (no 2º. Ou 3º. Andares), apresentam uma varanda-miradouro «para apanhar o fresco». Antes da Avenida dos Combatentes aponta-se o Palacete do Lima que abriga a sede do Académico, clube que chegou a atingir grande nível no panorama desportivo da cidade e do país (o seu recinto de jogos, o «Estádio do Lima», foi, durante décadas, o único relvado do Porto, tendo assistido a alguns dos maiores acontecimentos em inúmeras modalidades. Futebol, caseiro ou internacional; andebol de 11, que enchia o estádio quando era contra a Espanha; ciclismo – as noites das «perseguições» e das voltas a Portugal; atletismo… Tudo por ali passava: desde o S. Lorenzo de Almagro – que «deu onze ao Porto» - até ao Elvas do Patalino… Numa miseranda operação a que ninguém teve coragem de se opor, o Estádio do Lima foi destroçado há anos para construírem «arranha-céus». Lá deveria ter ficado um parque desportivo polivalente ao serviço da juventude da cidade.

Logo a seguir ao Palacete do Lima está o grande edifício que pertenceu a uma das fábricas portuenses do Tabaco. Nele é magistral a marquise que cobre o vão de uma das entradas, bem como a grade do muro junto da rua, admirável conjugação das artes de ferreiro e vidraceiro. Depois, quase fronteiro à Rua do Lima, está o edifício do cinema Júlio Dinis, dos anos 40. Uma empresa alemã adquiriu-o para exibição de filmes daquela procedência. Trata-se de um imóvel evidentemente estranho ao padrão arquitectónico do local. De um desenho geometrizado em linhas rectas, funcional, sem efeitos decorativos e pintado de cor rosada, sempre se destacou do ambiente da rua. O projecto, importado da arquitectura modernista da época, dá, afinal, ao cinema, o valor de um documento estético que a cultura portuense assimilou e que deve ser conservado. Vem, depois, o cruzamento com a Avenida dos Combatentes (convite para uma deambulação sob o túnel dos plátanos do seu passeio central).Próximo da Igreja das Antas, dentro de um alto muro, encontram-se os magníficos parques e Casa dos Cepedas, armoriada, do século XVIII, um paraíso de sossego. (É interessante a cor amarela de todo o conjunto construído e notável o portão de ferro).

E sigamos por Costa Cabral. Alguns vandalismos recentes e gaiolas abstrusas se nos deparam. Depois da Rua de Joaquim Pires de Lima e até ao cruzamento que os portuenses conhecem como «Silva Tapada» (nome da rua que lá principia) há uma série de boa arquitectura em habitações no estilo do fim do século: a harmonia cuidada da porta lateral, uma ou duas janelas ao lado, primeiros andares com varandas ou janelas, etc. Tudo alinhado. Tudo certo. No granito, no ferro, no azulejo. Sabia-se construir… Pelo meio, aparecem os caixotes. Nesta correnteza, pode visitar a Casa Museu de Fernando de Castro, onde viveu o poeta, coleccionador e homem rico que, se não se destacou nas letras, ao menos legou à cidade as suas obras de arte, com relevo para uma colecção importante de pintura portuguesa.

Após Silva Tapada e até ao Largo da Cruz, a rua alarga um tanto em nova recta. Aqui a burguesia portuense – já do século vinte – fez construir as suas moradias que assinalam uma época de excelente arquitectura, com pormenores de grande requinte decorativo (portas, varandas, lavrados de cantaria, grades, azulejos) formando um conjunto extraordinariamente correcto (que, como seria de esperar, corre riscos, pois alguns atentados já o atingiram). Passado o Largo da Cruz, Costa Cabral começa a transformar-se numa rua incaracterística, de péssima arquitectura, nem moderna nem antiga, ou que nem é arquitectura, mas indigência cultural. Aqui e ali alguns bons prédios sobrevivem miraculosamente. Antes da Areosa pressente-se, em construções baixas, nalguns muros desalinhados, em certas habitações (especialmente umas muito pequenas, recuadas, próximo do cruzamento com a Rua de Santa Justa) a marca rural da antiga (e que continua a ser) estrada de Guimarães, restos de um tempo em que ela era um distanta, muito distante, caminho através dos campos, no território maiato.”

Helder Pacheco
in Porto
Novos Guias de Portugal
Editorial Presença

agradeço a Francisco Oliveira a colaboração em recolha de texto e de oferta de fotografias para a elaboração desta página

8.11.06

Rua da PICARIA




Actualização de Dezembro 2008:

Artigo publicado no Público de 15 de Dezembro:

«Ainda se compram móveis aqui, mas a rua onde nasceu Sá Carneiro está a mudar

15.12.2008, João Pedro Barros

Nesta artéria conhecida pelas marcenarias já há um bar e uma galeria, e começam
a chegar novos habitantes. Estará a nascer um novo centro cosmopolita?

A Para a maior parte dos portuenses, a Rua da Picaria é sinónimo de móveis. A carpintaria e a marcenaria, a par da venda de mobiliário, ainda é a actividade dominante, mas o negócio atravessa um período de acentuada decadência. Ao mesmo tempo, sente-se nesta rua um sopro de modernidade que promete mudar a sua face nos próximos anos.
O expoente máximo desta renovação é a galeria de ilustração e desenho Dama Aflita, que abriu em Novembro. O espaço é pequeno, mas suficiente para albergar obras nestes suportes. "Queremos fomentar coisas de bairro, criar situações de diálogo, por exemplo, com as lojas de mobiliário", adianta Júlio Dolbeth, ilustrador, docente universitário e um dos promotores. O artista madrileno Luís Urculo, com trabalhos em técnica mista, é o primeiro a expor na galeria, que é "pioneira em Portugal" na sua abordagem. Na sala das traseiras está a Cinbol, uma empresa de organização de eventos e consultoria, nomeadamente de imagem. Estará a rua a ser contaminada pelos ares cosmopolitas da vizinha José Falcão, ou mesmo de Miguel Bombarda? Inês Costa e Simão Bolívar, os dois sócios da Cinbol, e Júlio Dolbeth, todos moradores na Baixa do Porto, acham que sim, e que as indústrias criativas vão dar cartas.
Nas lojas de móveis, o sentimento é distinto. O PÚBLICO visitou algumas (garantiram-nos que há seis em actividade, mas nem todas estavam abertas) e percebeu que está a terminar um ciclo. Há falta de condições de estacionamento e a maioria das peças tem um design datado. A actividade sobrevive graças a um punhado de clientes fiéis e de meia-idade. Os comerciantes resignam-se e também aceitam culpas: "Nunca estivemos unidos, e há coisas que não se pode mudar sozinho", admite José Carvalho, da Carvalho & Cunha, Lda.
Rua de "boas famílias"
Quem chegou a prometer mudar o país foi a mais célebre personalidade nascida nesta artéria íngreme, em 1934: Francisco Sá Carneiro. O primeiro presidente do PSD cresceu no número 49, uma casa ampla e própria de uma família burguesa, e montou ainda, do outro lado da rua, o seu escritório de advocacia. Hoje, é Miguel Veiga, também ele fundador do partido, que exerce a actividade na Picaria.
Ao andar de porta em porta, encontrámos o cicerone ideal para conhecer a história da vizinhança: Reinaldo Pereira, gerente de O Ernesto, restaurante de cozinha tradicional portuguesa, no número 85. O actual proprietário tomou conta do negócio em 1990, depois de o herdar do seu pai, Ernesto Pereira, que comprou o estabelecimento em 1968. Reinaldo Pereira viveu na Picaria desde os 14 anos, mesmo por cima do restaurante, e fala de uma rua de "boas famílias", onde antigamente "até vinha gente de Lisboa" comprar mobiliário. Do passado, guarda um episódio marcante: o dia da morte de Sá Carneiro, quando a massa humana que aguardava o comício em que o político deveria estar presente, no Coliseu, se dirigiu para a rua, após a notícia do acidente em Camarate. "Isto estava cheio de gente aos gritos, a gritar contra os comunistas. Era de arrepiar", relembra. Quanto ao restaurante, não se deixe enganar pelos azulejos datados da entrada: eles são o que resta dos distantes anos 60, porque agora O Ernesto tem duas acolhedoras salas (e até um pátio) nas traseiras, com uma pequena cascata e quadros de Henrique do Vale e Augusto Canedo. A comida é tradicional e de sabor caseiro e um cliente ponderado até pode sair de lá com uma conta de apenas dez euros.
Onde também há quadros nas paredes é na Moldursant, uma loja de molduras e materiais para Belas-Artes que já data de 1917. Esta casa é uma das referências do Porto para artistas e estudantes da área e consegue escapar à crise mais profunda dos "vizinhos" do mobiliário. Obras de artistas como Sobral Centeno e Júlio Resende foram sendo doadas à gerência e servem agora de decoração à loja. Alguns jovens artistas também deixam trabalhos em exposição na Moldursant, o que a torna numa espécie de galeria. Continuando nas artes, acrescente-se que o Teatro Art'Imagem tem aqui instalações. E resta-nos falar do Rosa Escura (o nome vem do seu papel de parede), por ora o único bar da rua. Só abre à noite, e o ambiente é calmo e acolhedor. Nesta antiga loja de bicicletas, há sempre peças de joalharia, quadros e esculturas em exposição.
Para quem se questiona sobre a origem do nome da rua, aqui vai a resposta: falar em picaria é o mesmo que falar em equitação e sabe-se que a artéria tinha várias actividades relacionadas com os cavalos, até ao primeiro quartel do século XX. Depois vieram os móveis. Estaremos na fase da transição para uma nova Picaria? Reinaldo Pereira julga que sim, e garante que um prédio recentemente recuperado tem os seus sete apartamentos "já alugados", e que se fala em mais projectos de reabilitação.
O PÚBLICO pôde verificar obras em pelo menos um imóvel. A Picaria parece estar a recuperar alguns moradores, principalmente jovens, depois de um processo de desertificação iniciado nos anos oitenta.»

7.11.06

Rua RODRIGUES SAMPAIO


No edifício da esquina com a rua do Bonjardim, a sede da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto . Nesta rua existe igualmente a sede dos Bombeiros Voluntários do Porto.

Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto - Fundada em Setembro de 1882, ficou instalada na rua Formosa n° 337 (Sociedade de Geografia). O seu primeiro presidente foi HENRIQUES CARLOS DE MIRANDA, um dos fundadores de "O Comércio do Porto”. Depois de ter tido vários locais ocupa a actual sede desde 1906.


Sobre Rodrigues Sampaio


Sobre a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto



Quem era Rodrigues Sampaio?

António Rodrigues Sampaio (São Bartolomeu do Mar, Esposende, 25 de Julho de 1806 — Sintra, 13 de Setembro de 1882)

Jornalista e político português que, entre outras funções, foi deputado, par do Reino, ministro e presidente do ministério (primeiro-ministro).
Rodrigues Sampaio foi um dos maiores vultos do liberalismo português de oitocentos, jornalista ímpar e parlamentar de excepção. Personalidade controversa, polémica, mesmo revolucionária, mas sempre coerente e fiel aos seus princípios e desígnios, foi um agitador de renome nacional, o que lhe valeria a alcunha de o Sampaio da Revolução, já que se notabilizou como redactor principal do periódico A Revolução de Setembro. Era um jornalista de causas, não de notícias, como aliás era o jornalismo do século XIX. Apesar da violência verbal e da forma assertiva que sempre utilizou nos seus ataques políticos, Rodrigues Sampaio nunca promoveu o ataque ad hominem. Mesmo quando os seus correligionários lhe pediram que pusesse em causa a dignidade e honradez de D. Maria II e da Corte, negou-se terminantemente, escrevendo que um antro de corrupção política não faria da Corte um lugar de devassidão moral.
Foi esta postura de grande escrúpulo, associado a um incansável labor na defesa dos valores pelos quais pugnava, que lhe concede um lugar cimeiro no jornalismo político português. Era membro importante da Maçonaria.


Na esquina desta artéria com a rua Guilherme da Costa Carvalho situa-se o Bloco de Gaveto cujo projecto de 1955 é da autoria do arquitecto Viana de Lima.

Rua dos CALDEIREIROS

Antiga Rua do Souto. Antiga Rua dos Ferreiros ou da Ferraria de Cima (1850). Desce da Porta do Olival até à rua das Flores.

No prédio com o n° 259 existem as "alminhas" do Senhor da Boa Fortuna.
foto de Francisco Oliveira
A denominação actual da Rua dos Caldeireiros encontramo-la pela primeira vez em 1780, mas temos referências à Rua da Caldeiraria em 1616. Não será preciso dizer que esta designação, bem como a da Ferraria lhe vem de ali terem estado arruados ferreiros e caldeireiros, com o seu hospital de S. João Baptista e confraria de Nossa Senhora da Silva, hospital que vemos mencionado em um prazo de 1603 --- na «Rua da Lajem, defronte do Hospital de Ferreiros.

rua de S. MIGUEL

foto de Francisco Oliveira
Já foi chamada rua da Judiaria Nova.


ver também aqui e aqui

3.11.06

Praça PARADA LEITÃO

Foto de Francisco Oliveira
Café "Âncora de Ouro" mais conhecido pelo "Piolho" (remodelado em 2006).


Quem era "Parada Leitão"?

O Major José de Parada e Silva Leitão, lente de Física da antiga Academia Politécnica do Porto e do Instituto Industrial da mesma cidade, (1809-1880 ), nasceu em Sernache do Bonjardim; despachado alferes do Regimento de Infantaria nº 19 (1827), seguiu as ideias liberiais. Emigrado na Galiza, em Plymouth, em Ostende, na Bélgica e nos Açores, desembarcou no Mindelo e combateu no cerco. Concluindo o seu curso em 1837, foi convidado a requerer o lugar de lente da 8ª cadeira ( Fisica e Mecânica ) da Academia Politécnica desta cidade, que então se estava organizando. Exerceu este magistério por muitos anos, enquanto a saúde lho permitiu. Em 1853 era nomeado director da Escola Industrial do Porto. No exercício destes cargos fundou o «Industrial Portuense», o primeiro periódico deste género que houve em Portugal.
O sábio professor FERREIRA DA SILVA escreveu uma «Homenagem à memória de José de Parada e Silva Leitão», publicada em 1917, dizendo dele que "era um nobilíssimo carácter, qualidade primacial de todo o homem culto. Mas foi também um dos mais ilustres representantes do professorado superior português do seu tempo".

31.10.06

Rua ANÍBAL CUNHA

Já se chamou rua da Carvalhosa. outubro 2006

Nesta rua existem:

DISTRIBUIDORA DE FILMES: "Cinema Novo"

IGREJA: Paroquial de Cedofeita

Faculdade de Farmácia (A Faculdade de Farmácia foi criada em 1911) - actualização em 2014: A actual faculdade de Farmácia já não se situa nesta artéria mas sim na rua Jorge Viterbo Ferreira.


Breve nota sobre Aníbal Cunha:

ANÍBAL AUGUSTO CARDOSO FERNANDES LEITE DA CUNHA, nasceu no Porto em 1868. Como sargento, tomou parte na revolta de 31 de Janeiro. Exilou-se para Espanha e para o Brasil, amnistiado, regressou em Julho de 1894; habilitou-se com o Curso Superior de Farmácia, a cujo corpo docente veio depois a pertencer, contribuíndo sempre para o engrandecimento desta profissão, designadamente na transformação das Escolas de Farmácia em Faculdades, e na, construção do edificio actual nesta cidade. Foi desta Faculdade muitos anos professor, director, e ainda internamente, vice-reitor da Universidade. Morreu em São Mamede, em 1931, no posto de tenente-coronel farmacêutico, deixando impressos alguns trabalhos sob química e farmácia.

30.10.06

Rua da PONTE NOVA

foto de Francisco Oliveira

A Rua da Ponte Nova rasgava-se desde a zona central da Rua da Bainharia (sensivelmente a meio do seu percurso), passando o Rio da Vila (na ponte que lhe dava o nome) e subindo pelo morro fronteiro á Sé, a caminho da Porta do Olival. A Rua da Ponte Nova seria grandemente prejudicada com a abertura da Rua Mouzinho da Silveira, que com os seus 19 metros de largura veio retirar coesão e unidade a esta artéria. Regista Sousa Reis que "Para communicar a rua do Bainharia, com a das Flores edificou se huma ponte de pedra, para atravessar o rio da Villa, d'ahi que vem o nome a esta rua."

Na realidade, o nome desta rua teve origem na existência dessa Ponte, que assegurava a comunicação entre a Rua da Banharia (e portanto o velho burgo episcopal) e o lado oposto do Rio da Vila (com a Rua de Stª. Catarina das Flores e, prosseguindo no mesmo eixo da Rua da Ponte Nova, com a Rua de Ferraz,para se alcançar a Rua da Vitória). No entanto, é possível que antes dessa ponte (que significativamente chamam de novo), existisse uma outra, talvez em madeira, bem mais antiga, que definiu esse eixo de circulação. Efectivamente, a Ponte Nova, a de pedra, foi apenas construída nos inícios da segunda metade do Século XVI, em 1556-58. Ora, antes dessa data já existia aí uma ponte, que poderíamos designar de velha, e que servia, embora deficientemente, as necessidades de circulação. E a rua onde essa ponte se localizava era conhecida como a travessa da Fonte dos Ferreiros. Sublinhemos, primeiro, que a Rua da Bainharia era, inicialmente, designada por Rua de Fferrays ou seja, das ferrarias, aspecto que ajuda a enquadrar melhor essa designação toponímica. A Fonte dos Ferreiros não pode deixar de estar ligada a essa actividade que se desenrolava na vizinha Rua de Fferrays. Ora, um documento de 1532 revela que a Rua de Stª. Catarina das Flores foi aberta em parte através do Campo dos Ferreiros. E, em 1551, uma carta régia refere que "em essa cidade está uma travessa que se chama a Fonte dos Ferreiros, por onde há pouco serventia por ser muito estreita e fragosa,sendo muito necessária para serventia de duas ruas principais da cidade, a saber: a rua das Flores e a rua da Bainharia, e para muito parte da cidade, e que seria grande enobrecimento dela abrir-se na dita travessa rua pública".

Essa viela estreita, que servia mal os propósitos dos portuenses que se queriam deslocar para as bandas do Olival, seria a actual Rua da Ponte Nova, que teria sido alargada a partir dos meados do séc. XVI. No entanto, importa sublinhar que, se a queixa de 1551 diz que tinha pouca serventia por ser estreita e fragosa, e que era muito necessária para as Ruas das Flores e da Bainharia, isso é um sintoma claro de que já ali existia uma passagem, possivelmente uma ponte de madeira, também ela estreita. Não se compreenderia o lamento de1551 se não existisse já uma comunicação entre ambas as margens do Rio da Vila.

Como a designação de Rua da Ponte Nova ocorre já em 1564 é de supôr que essa ponte de pedra tenha sido erguida entre 1551 e 1564. E, efectivamente,podemos com segurança precisar que a construção dessa Ponte deve ter tido lugar pouco depois de 1556. Na realidade, Horácio Marçal divulgou um documento da Rainha D. Catarina, mulher de D. João III, datado de 7 de Fevereiro de 1556, onde esta determina e autoriza a construção da Ponte Nova: "A Rainha D. Catarina de Áustria autoriza a Câmara do Porto a realizar obras de interesse público, entre elas o de construção da ponte nova que, sobre o rio da vila, viria a ligar a Rua das Flores com (…) a Bainharia". Trata-se de uma Carta Régia prorrogando por mais 2 anos a Imposição do Real de Casa, aplicando-a para as despesas de compra das casas e para a construção da ponte da rua que se rasgava entre a Rua da Bainharia e a Rua das Flores, e que, segundo o diploma estavam avaliadas em 200.000 Reais. Uma outra carta régia, datada de 19 de Setembro de 1558 revela que se andava a fazer a Ponte, então designada "Ponte da Rua das Flores", e que a obra estava a ser custeada pelos rendimentos do cofre da Imposição do Sal.

Segundo Horácio Marçal, "(…) A Ponte Nova , que se mostrava, de um e outro lado, definido por parapeitos de pedra, era formado apenas por um arco de meia volta.(…) Junto da ponte ou do arco, para a banda do poente, encontrava-se uma escadaria de pedra com dois lanços de degraus separados por largo patamar. No fundo do último lanço, via-se um outro arco de menores dimensões e também sobre o rio, pelo qual se passava a um outro lanço de escadas mais pequeno, que punha em comunicação a Rua da Ponte Nova, com a da Biquinha evice-versa. Chamavam a este passadouro, Escadas da Biquinha Na Ponte Nova, o montante existia um moinho." No que respeita ao moinho que refere Marçal, podemos adiantar que existe uma Planta, executada em 20 de Dezembro de 1819, por Luís Ignácio Barros Lima, que mostra a zona da Ponte Nova, com o respectivo moínho, escadas públicas e fonte.

Ainda nas palavras de H. Marçal, "(…) A Rua da Ponte Nova, tinha o seu pavimento, de pedra miúda e de seixos. Passeios laterais, não tinha. Os prédios, apesar da estreiteza da rua, eram todos altos a alguns de boa construção, embora antigos. Novos, havia poucos. Os mais modernos, em meados do século passado, eram os que se erguiam nos dois ângulos da Bainharia, cuja construção data de 1844. Na Rua da Ponte Nova, entroncava (e entronca) a Viela do Anjo que, tortuosamente, corria pela retaguarda das casas da Bainharia até à Rua do Souto. (…) No prédio nº 54 da Rua da Ponte Nova e na época a que nos reportamos, nasceu a 11 de Novembro de 1850 o insigne pintor António Carvalho da Silva Porto. (...) A Rua da Ponte Nova, era bastante comercial. Havia estabelecimentos de mercearia, tabernas, tendas, oficinas de torneiro e, em grande número, os lojas de roupa feita.".

Na realidade, e conforme Horácio Marçal salientou, os prédios da Rua da Ponte Nova que confinam com a Viela do Anjo e com a Rua da Bainharia são obra relativamente recente, do séc. XIX. Os prédios que outrora aí se erguiam ofereciam diversos problemas de conservação, tendo sido reconstruídos. Efectivamente, em 29 de Outubro de 1770 foi levantado um Auto de Vistoria para demolição da casa que fazia esquina da Rua da Ponte Nova com a Rua da Bainharia, a fim de se alargar a Rua da Ponte Nova e se poder melhorar as condições de trânsito. Em 9 de Julho de 1845 foi feita escritura camarária do alinhamento da Rua da Ponte Nova e parte da Rua da Bainharia, no sítio do cunhal Norte destas duas artérias, tendo para isso sido necessário derrubar uma casa que tinha frente para ambas as ruas. E, em 7 de Janeiro de 1846 seria vendido o terreno que sobrou do alinhamento da Rua da Ponte Nova a Manuel da Monta e a sua mulher; Margarida Rosa, declarando-se que o referido terreno confinava a Nascente com outra propriedade a Poente com a Rua da Ponta Nova, a Sul com a Rua da Bainharia e a Norte com outra propriedade particular. O processo para a construção desta casa dera entrada algum tempo antes na Câmara, tendo sido aprovado em 3 de Dezembro de 1846. No Livro de Plantas de Casas Nº 9, fl. 138, encontramos o desenho do alçado da casa que Manuel da Monta (ou Mouta) pretendia construir na esquina entre a Rua da Bainharia e a Rua da Ponte Nova .

Desde sempre, a Rua da Ponte Nova apresentou escadas junto da Viela do Anjo, e não muito longe da Bainharia, por forma a vencer o desnível abrupto que se registava nessa zona. Efectivamente, há uma planta executada em 1821 que documenta a existência ancestral desses degraus - a "Planta mandada fazer em acto de Vistoria para milhoramento das Escadas da Rua da Ponte Nova, por Luís Ignácio de Barros Limo, 1821".

Henrique Duarte e Sousa Reis ainda teve oportunidade de nos deixar uma descrição dessa velha ponte quinhentista, no seu manuscrito redigido em 1866, escassos dez anos antes da destruição da Ponte Nova. Nas suas palavras, "Debaixo da ponte de pedra, chamado Ponte Nova, está huma Arca também de pedra muito bem trabalhada, e que he o receptaculo de huma porção d'agoa saloba (sic), que cahe em huma antiquissima fonte situado quozi a par dessa mesma Arca: esta agoa tiverão a sempre por milagroza para as molestias d'olhos, e da sua bica veio o nome a esta rua, que he toda ou quazi toda cortada pelo rio da Villa.". A fonte a que se refere Sousa Reis encontra-se já documentada em 1669, em diploma que revela que "por baixo da dita rua está uma fonte, tem meio manilha de água muito fria e a sua arca é muito antiga e feita de cantaria, tem por dentro duas rosas e serafins".

A Ponte Nova, que lhe deu o nome, foi destruída com a criação da Rua Mouzinho da Silveira em 1875, quando deixou de ser necessária para transpor o Rio da Vila.

Com a criação da Rua Mouzinho da Silveira seriam irremediavelmente alteradas as construções da Rua da Ponte Nova. E, efectivamente, como já referimos, no troço desta rua que cabe analisar neste Projecto as casas devem ser atribuídas ao último quartel do Séc. XIX.



Sobre ANTÓNIO CARVALHO DA SILVA PORTO:

ANTÓNIO CARVALHO DA SILVA PORTO, nasceu no Porto a 11 de Novembro de 1850 (na Rua da Ponte Nova) e faleceu em Lisboa a 1 de Junho de 1893. Pintor. Acrescentou o apelido Porto por ser natural desta cidade. Em 1865 (15 anos) matriculou-se na Academia Portuense de Belas-Artes. Portugal atravessava crise aguda no campo do pensamento. Reinava D. Luís, e as única evoluções tentadas ou preparadas, no tempo, eram mais de natureza espiritual que política ou social. No mesmo ano em que Silva Porto se matriculou na Academia Portuense de Belas-Artes, Antero de Quental frequentava a Universidade de Coimbra e escrevia um panfleto em nome da sua geração que deu impulso à famosíssima "Questão Coimbrã" que agitou a nossa estagnada vida mental. Depois do curso na Academia Portuense de Belas-Artes, caldeado nas chamas do vulcão de aspirações mil que fez na segunda metade do século XIX o mais luminoso da História da Arte e da Literatura portuguesas, Silva Porto quis empreender longínquos voos, seguindo, após concurso, para Paris em 1873, onde, como pensionista do Estado, recebeu, na Rua Bonaparte, os ensinamentos de Cabanel. À noite frequentava o curso de Yron, sendo também discípulo dos paisagistas Daubigny, Grosseiller e Bauverie. Acompanhado por Marques de Oliveira, Silva Porto frequentou a «velha» Montmartre, relacionou-se, criou fama e nas tertúlias de arte o nome António Porto, como o conheciam, era lembrado e a sua personalidade discutida. Não se cansou em Paris, mas dominaram-no outras aspirações. Seguiu para Roma (1879) a completar a educação artística, no convívio de colegas como Placência, Comerre, Pelousse e outros que o estimavam e tinham em muito apreço o seu comprovado valor. E fez-se romeiro de imprevistos, visitando toda a Itália, a Bélgica, a Holanda e a Espanha. Concorreu a «Salons», amealhou triunfos, ganhou prémios e conquistou honrarias. Em 1879 regressou a Portugal. Coincidindo o seu regresso com a morte de Tomás da anunciação, professor da aula de paisagem da Academia de Belas-Artes de Lisboa, foi nomeado professor interino, e em 1883 passou à efectividade regendo o curso geral de desenho e paisagem. Em 1881 expôs alguns quadros em Madrid, por ocasião do centenário de Calderon, sendo-lhe conferido, como honraria excepcional, o hábito da Ordem de Carlos III. Mestre indiscutível do naturalismo português, viu reunir-se à sua volta, no mesmo ano, o «Grupo do Leão», de que foi chefe e fundador com ANTÓNIO RAMALHO e JOÃO VAZ e ao qual se juntaram muitos outros, pintores, escritores e jornalistas. Em 1882 à exposição do «Grupo do Leão» levou Silva Porto 21 telas; trinta telas à exposição de 1893, etc. Em 1887 e 1889 realizaram-se as últimas exposições do «Grupo do Leão», e nesta dava nas vistas o trabalho de Silva Porto «A volta para a arribana». Neste último ano também concorreu à Exposição Industrial de Lisboa, conquistando a Medalha de Ouro. Dissolvido o «Grupo do Leão», formou-se o «Grémio Artístico», de que Silva Porto foi o primeiro presidente. O Grémio inaugurou as suas exposições em 1891, sendo o Mestre representado por elevado número de quadros, com relêvo para «A porta da venda», «O Moínho do Gregório» e «Guardando o gado». Na segunda exposição, a maior parte dos seus quadros foi inspirada pelas margens do rio Lima, como o magnífico «Barca de Passagem em Serreleis», e o «Lugar do Prado». Na exposicão do Grémio artístico de 1892, foi-lhe atribuída a 1ª Medalha. Na exposição de 1893 (a última a que concorreu), Silva Porto foi mais do que nunca o grande Mestre. Os expressivos quadros «Conduzindo o Rebanho» e «Ceifeiras», fecharam, gloriosamente, o ciclo do seu trabalho.

Rua GUILHERME DA COSTA CARVALHO

Já foi rua da Cancela Velha.


Guilherme da Costa Carvalho (nasceu no Porto em 1921 e faleceu a 25/03/1973) foi militante do Partido Comunista Português. Esteve preso em Peniche, de onde se evadiu em companhia de Álvaro Cunhal e outros.


sobre Guilherme da Costa Carvalho



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Actualização de Julho 2014

GUILHERME DA COSTA CARVALHO (1921- 1973)

Nasceu no Porto, numa família de grandes posses que o apoiou sempre na sua opção e na sua dedicação à luta antifascista. Guilherme da Costa Carvalho cedo trocou uma vida, que podia ter sido igual à de tantos jovens da sua idade pertencentes a uma elite da burguesia portuense, pela de “funcionário” clandestino do Partido Comunista Português.
Esteve no Tarrafal, no Aljube, em Peniche e em várias outras prisões, num total de 16 anos e seis meses de cativeiro. Foi durante vários anos membro do Comité Central do PCP.
Participou naquelas que são, porventura, as duas mais espectaculares fugas das prisões do fascismo: Peniche, em Janeiro de 1960, e Caxias, em Dezembro do ano seguinte.


Morreu novo, com 52 anos de idade – exactamente a idade com que falecera sua Mãe, Herculana Carvalho - no Instituto de Oncologia de Lisboa. Tinha sido posto em liberdade pelo facto de estar já muito doente. Não chegou a ver a Democracia pela qual dera a sua vida de adulto quase toda.

Em complemento aos poucos dados biográficos formais que conseguimos recolher, deixamos-vos algumas notas e testemunhos pessoais, a que tivemos acesso.

Raúl de Castro (dirigente do MDP/CDE e da Intervenção Democrática, deputado, vereador e membro da Assembleia Municipal do Porto) definiu-o assim, em 2002, quando se deliberava a atribuição do seu nome a uma rua do Porto: «um comunista, um exemplo de militante do PCP a cujos ideais, e ao serviço do seu povo, dedicou toda a sua vida, desde a juventude. Embora fosse então estudante da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e a fortuna de seu pai lhe pudesse garantir que vivesse com todas as comodidades, Guilherme da Costa Carvalho trocou essa vida pela dura vida de funcionário do PCP, conheceu o Campo de Concentração do Tarrafal e outras prisões fascistas, tendo sido um dos participantes na fuga do Forte de Peniche, e só foi libertado pela PIDE quando esta verificou que a sua vida em breve terminaria»

Foi Armando Bacelar, o prestigiado antifascista dedicado às causas da «oposição democrática», competente e generoso advogado de vários presos políticos durante a ditadura fascista, quem defendeu Guilherme da Costa Carvalho no Tribunal Plenário. Eva Bacelar, sua filha, falou-nos daquela família num interessante testemunho:

«Nunca conheci pessoalmente Guilherme da Costa Carvalho, porque na minha juventude esteve sempre preso ou na clandestinidade. Portanto, só indirectamente o conheci através da família. O pai dele, Luís Alves Carvalho, era corretor da Bolsa do Porto, onde tinha ganho uma enorme fortuna. Lembro-me de alguém dizer que os “papéis” que ele tinha davam para forrar a Rua de Santa Catarina de um lado e de outro, no Porto….O Sr. Carvalho, como eu lhe chamava, era uma pessoa de grande generosidade, que sempre lembro no seu trato afável – um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis, com um amplo sorriso e um ar muito distinto.

Guilherme da Costa Carvalho teve 2 filhos gémeos. Um menino e uma menina, com cerca de 5 ou 6 anos nos anos 1960. É possível que a mãe dos meninos estivesse na clandestinidade ou presa – isso não sei. A verdade é que eles foram educados pelos avós, D. Herculana Carvalho e Sr. Luis Carvalho.

Nos meus 16 anos, quando o meu pai (Armando Bacelar) andava fugido da PIDE numa quinta do Douro, a minha família mandou-me para Londres, para me afastar de todas as dificuldades políticas e familiares. Acontece que o neto do Sr. Carvalho era asmático, e o avô resolveu mandá-lo a Londres na mesma altura, para consultar médicos especialistas em asma. A senhora que o levava (militante do PC de cujo nome não me lembro, mas de quem tenho fotografias) não falava inglês e eu, estudante e futura tradutora de inglês, fui contratada pelo Sr. Carvalho para servir de intérprete dos médicos e apoiar o neto dele na visita a Londres. Claro, que a visita foi acompanhada de um envelope recheado com algumas notas, que muito agradeci ao Sr. Carvalho. A partir daí, sempre que, nas férias, eu ia estudar para o estrangeiro, o Sr. Carvalho mandava-me sempre um envelope com um dinheirinho de bolso. (E que bem me sabia…)

Fiquei, portanto, com a recordação de pessoas muito generosas e dedicadas. O menino, Manuel Carvalho, chegou a Londres e passou a dar-se bem com o clima, sem ter ataques de asma. Eu estava instalada num lar de freiras irlandesas, muito severas, que a troco de poucas libras por semana me fizeram trabalhar loucamente. Valeu-me a companhia do “Manelinho” e da senhora que vinha com ele, para passearmos por Londres.

Infelizmente perdi de vista o Manuel Carvalho (filho de Guilherme da Costa Carvalho). Pode ser que um dia o reencontre e que ele se lembre de mim em Londres...»

Em 1949, num período que contrasta com os anos de chumbo vividos antes, Salazar autoriza a visita a Cabo Verde e ao Tarrafal dos pais de Guilherme da Costa Carvalho. Herculana Carvalho e Luís Alves Carvalho ( primeiro corretor da Bolsa do Porto e figura influente) viajam de paquete, levam alimentos e bens. Herculana homenageia, um a um, todos os tarrafalistas ali falecidos e enterrados, colocando flores em cada campa. São autorizados a fazer fotografias. O campo vive uns dias de festa; e, no regresso, Herculana Carvalho viaja pelo país a distribuir fotos dos presos e notícias pelos seus familiares. (ver biografia de Herculana Carvalho).

Luís Carvalho, no 15º aniversário da morte do filho, editou, para circulação entre amigos, um conjunto de 42 pequenos poemas de Guilherme da Costa Carvalho, dedicados à memória de sua mãe e das suas avós, quando tinha 42 anos. O livro intitula-se «42 Hai-Kais, Relâmpagos do meu coração». Esses poemas foram escritos por Guilherme em papel de mortalha. A letra das palavras era tão minúscula que só foi possível decifrá-las à lupa e, segundo a própria irmã, também deverão ter sido escritas do mesmo modo. Os papéis com os poemas saíram da prisão do Aljube onde se encontrava, muito escondidos nos enchumaços de um casaco que fora entregue à família para a lavandaria.

http://www.pcp.pt/avante/20020801/496t4.html

http://www.avante.pt/pt/1985/pcp/117748/

http://silenciosememorias.blogspot.pt/2013/12/0421-herculana-de-jesus-da-costa-dias.html

“Senegâmbia”, Boletim Cultural da Guiné-Bissau e regiões vizinhas”, senegambia.blogspot.pt, 17.9.2004)

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