28.1.09

Cafés do Porto - A Brasileira

Nos meus arquivos de artigos de jornais encontrei este publicado há meses no Jornal de Notícias.

Sou de uma geração que ainda conheceu os últimos suspiros dos grandes cafés da cidade, em que os cafés eram uma razão de serem de certos percursos da cidade. Cafés sem televisão, cafés onde regularmente as pessoas se encontravam, onde se tratavam de negócios e comércios, onde se estudava ou onde se namorava.

«A notícia de que "A Brasileira" corre o risco de desaparecer, a concretizar-se, será mais uma machadada no já tão depauperado património histórico do Porto. Não é possível dissociar a história do antigo café da baixa portuense, da vida cultural, cívica e política da própria cidade, dos últimos cem anos. Adriano Teles, antigo farmacêutico da Rua do Bonjardim que, em Minas Gerais, no Brasil, para onde emigrou nos finais do XIX, se dedicou ao negócio do café, fundou "A Brasileira" em 1903, no regresso ao Porto, com o objectivo de criar e difundir uma marca própria de café. O acto inaugural do novo estabelecimento constituiu um acontecimento social sem precedentes na cidade. Foi de tal modo elevado o número de pessoas presentes que, contam as notícias da época, houve necessidade de requisitar dois polícias para regularem o trânsito que se tornara caótico. Logo após a inauguração, e durante 13 anos consecutivos, com o intuito de difundir a nova marca, foi servido gratuitamente café à chávena aos balcões de "A Brasileira". A pouco e pouco o novo estabelecimento foi-se impondo no mercado ao mesmo tempo que as sua s salas se ia transformando em ponto de encontro de tertúlias culturais - das mais animadas da baixa portuense. O edifício actual é dos anos 30. Foi desenhado pelo arquitecto Januário Godinho e decorado com esculturas de Henrique Moreira, espelhos franceses de Max Igram e decorações de alabastros de Vimioso. Inaugurou-se em Março de 1938. Com o titulo de "A Brasileira", a firma proprietária do café publicou, desde praticamente o início e até aos anos 40, um quinzenário. Nas décadas de 50 e 60 era um lugar onde se reunia a nata dos literatos, jornalistas, políticos e gente do Teatro. Com uma curiosidade os homens da Esquerda sentavam-se ao lado direito; e os da Direita ocupavam as mesas dispostas no lado esquerdo. Que pena que um local com tanta história possa vir a desaparecer»

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