Nasci a dois passos da rua de Cedofeita.
Cresci, fui à escola e o meu caminho era essa rua.
Por lá passavam os eléctricos e havia descargas e cargas de manhã. Muita gente na rua. Uns a irem para o trabalho, outros para a escola...
Comércio de proximidade não faltavam. Mercearias, talhos, uma mão cheia de drogarias, padarias, etc. Os outros também não. Botões logo no ínicio, sapatarias e chapelarias, tabacarias e ourivesarias, casas de ferragens e uma loja da Singer, farmácias e papelarias. Havia também o engraxador e a apanhadeira de malhas. O movimento matinal das peixeiras, hortaliceiras, amoladores e cauteleiros abafava o zumbido dos eléctricos e o chiar dos carros.
Era o senhor Mota dos chapéus, o senhor Barros da drogaria, o senhor Costa e o Alfredo e o Rui que lá moravam.
Nessa altura eu conhecia muita gente da rua de Cedofeita e ouvia muitas histórias sobre as igrejas (a nova e a velha), as pessoas célebres que tinham vivido na freguesia, essas coisas que em criança ouvimos falar. Depois li algumas linhas sobre a rua, sobre a freguesia, sobre a história da cidade.
Na verdade foi uma coisa que não retive: O conde de Cedofeita. A viscondessa do Seixo com o palacete encostado à esquadra, essa sim. Os outros barões e restantes nobres tinham moradias mais na periferia ou só pertenciam a lugares longínquos.
Mas francamente o Conde de Cedofeita não existia na minha memória.
Há umas semanas um amigo abordou a personagem. Escondi a minha ignorância. Nem tudo está à mão. Documentos no computador. Livros na estante ou em cima da mesa. Mas cheguei a casa e procurei na sagrada rede (net) algo de concreto. Pouco ou quase nada. Uma referência a Cedofeita no Brasil, não era a minha Cedofeita.
Depois folheando um dicionário de personalidades encontrei dados que me permitiram elaborar uma muito breve nota biográfica.
«Henrique Coelho de Sousa emigrou para o Brasil. Sabemos que durante anos foi vendedor de bigigangas e que se casou com Maria da Silva Rezende, proprietária da fazenda de Belmonte (em Matias Barbosa, Minas Gerais) cuja actividade principal era a cafeícultura.
Consta que foi cônsul de Portugal em Juíz de Fora.
Como outros emigrantes enriquecidos no Brasil, e noutras paragens, comprou o título de Visconde. Seis anos depois, em 1875, um decreto assinado pelo rei Luiz I elevou-o ao título de conde. No Brasil foi comendador da ordem de Cristo e da ordem da Rosa.
Aparentemente nunca chegou a morar na freguesia de Cedofeita.
Na sua fazenda chegou a receber a visita do imperador do Brasil Pedro II.
Arruinado veio a falecer no hospital da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro.»
Nota: Aparentemente a antiga rua do Conde na extinta freguesia de Cedofeita nada tem a ver com Henrique Coelho de Sousa mas com o Conde de S. Salvador de Matosinhos.
1 comentário:
Na Rua de Cedofeita recordo os alfarrabistas que lá existiram também. Recordo também o "Salão Silva Porto" , nos anos 50 /60 um dos poucos mas muito importantes locais de exposição de Artes Plásticas, designadamente de Pintura .
Enviar um comentário