MAJESTIC. Em plena Rua de Santa Catarina, mantém a traça original e os interiores que sempre atraíram assim as atenções dos turistas. É um dos cafés mais emblemáticos do Porto
«Amáveis instituições de utilidade social, os cafés do Porto subsistem e sorveram a renovação apropriada aos novos hábitos. Outros, haveriam de degenerar ou desaparecer com as personagens que adoçaram histórias. Funcionários públicos e privados, homens da banca e de má nota; estudantes e calaceiros, damas de pusilânime trato e de duvidoso porte, esta a nata de intermináveis horas palradeiras dos cafés da cidade. Outrora, as orquestras pautavam a convivência até o cheirinho a pão quente anunciar novo dia. Era o leque e os salamaleques de uma Belle Époque, cavalheirismo de paletó esbugalhando o olhar em setins e sombrinhas bordadas. Havia esta coisa simples e preciosa, o tempo. Camilo, nascido há 180 anos, assestava a luneta no Guichard, quando não, refúgio no Chalet Suíço. Já Antero de Quental polemizava no Águia d´Ouro, onde um vinho velho seco viajava sob as queixadas de Arnaldo Gama e Júlio Dinis, que inseriu o nome do café no romance Uma Família Inglesa. Ramalho Ortigão e Sampaio Bruno entretinham-se a jogar dominó no Café Brasil, fundado em 1859, e ainda vivo, junto à estação de São Bento. No corpo do burgo havia o republicano Sport, o Suísso, tentação de Guerra Junqueiro, o luxuoso Portuense, o Excelsior, o galante Nacional Palace, o sumptuoso Monumental, com orquestras e tômbolas. A evocar, ainda, o Lusitano, aberto em 1853, famoso pelos sorvetes e chá à inglesa, Tivoli, Astória, Saban, Royal, Rialto, com frescos de Abel Salazar e Palladium (actual Fnac), projecto de Marques da Silva, e dotado de grandes áreas de bilhar e dancing. Pontificava em tais ambiências um vocabulário típico, sucedendo em 1955 Rebelo Bonito se referir, na revista Douro Litoral, à linguagem dos empregados de café. O fino (imperial), o café com cheirinho (borrifado de bagaço, oferta da casa), o galão (copo com aro e pega levando café com leite) e, claro, o cimbalino, alusão à marca da máquina de café. Assim, ao pedir-se um cimbalino marcava-se a diferença do café de saco. Em cada café uma cratera de biliosas discussões, pousio de promessas amorosas, barricada de gente do mesmo partido ou clube. Tiques intelectuais e vendas de propriedades também remoinhavam entre vozeadas e unha comprida para quebrar a cinza do tabaco. E num frenesim mecanizado, os graxas corcovados, enquanto o gravateiro tentava impingir modas e o menino vendia O Gaiato, da obra do Padre Américo. Na Baixa deram brado certas senhorecas que tinham a costumeira de beber "chá frio", verde branco servido em bules, e porque melhor convinha ao disfarce, bufavam na frescura oriunda das latadas de Amarante, em vez dos campos de chá chineses. Com a evolução dos viveres, dos interesses imobiliários, os cafés esfumaram-se ou tiveram de render--se à adulteração. A "snackbarbarização". Casos do Embaixador, do Imperial, vindo ao mundo corria 1935, e onde se interpretaram obras de Wagner e Rossini, e de A Brasileira, inauguração em 1903, com o magnífico pára-sol de ferro e vidro, agora restaurante e Il Caffè di Roma, de uma cadeia de franchising. Que pena! Triunfou a pressa, o balcão, até os avisos "É expressamente proibido estudar neste local", parecendo que a malta nova transporta sarna ou qualquer maleita transmissível. Viva o Estrela de Ouro e o emblemático marco de correio no interior do estabelecimento, o Orfeu, o Orfeuzinho. Viva o Ceuta, o Progresso, o aromático café de saco, o café dos professores. Viva o Universidade, o "Piolho" e as placas de mármore de final de curso nas paredes. E viva o Diu, o Avis, o Bela Cruz, junto ao Castelo do Queijo, também restaurado. Portos de encontro da cidade consigo própria, os cafés são ainda derradeiros monumentos de afectividade.» |
2 comentários:
não sei onde viu no caffe di roma É expressamente proibido estudar neste local.
mas bom post
Linda descrição.
Parabéns!
Enviar um comentário