24.12.13

Rua Morgado de Mateus

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Esta artéria já teve os nomes de Rua do Mede Vinagre e Rua da Murta.

Mas o que nos interessa aqui é o Morgado. Segundo a Wikipédia temos um certo número deles. O difícil é escolher o bom.

Estando esta rua mesmo ao lado da Biblioteca Municipal vem logo à ideia que a referência toponómica deve ter algo a ver com "aquela" edição de "Os Lusíadas".

Pois bem, o "nosso" Morgado não é mais nem menos do que 

José Maria de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos 

Só que eu estava longe de me relembrar que também tinha sido ele que editou, ou mandou editar "Les Lettres d'une Religieuse Portugaise" de D. Mariana Alcoforado. 

E passo a transcrever o que nos diz o Dicionário Histórico de Portugal :


« Mais conhecido pelo Morgado Mateus. Moço fidalgo da Casa Real, senhor e administrador dos morgados de Mateus, Sabrosa e outros vínculos; comendador da ordem de Cristo, conselheiro de fazenda, diplomata, etc. 

N. no Porto a 9 de Março de 1758, fal. em Paris em 1 de Junho de 1825. 

Seguindo a carreira diplomática, foi encarregado de negociar a paz em 1801 entre Portugal e a França, paz de que a Espanha tinha de ser medianeira. A paz não pôde celebrar-se, e pelo contrário acendeu-se a guerra 
também com a Espanha. Daí resultou a triste campanha em 1801, finda a qual se celebrou a paz com os dois países, sendo ainda o morgado Mateus o negociador, e que foi em seguida nomeado ministro de Portugal junto do primeiro cônsul Bonaparte. Desempenhou com habilidade essa missão difícil, e procedeu com energia na questão do general Lannes, que Bonaparte nomeou cônsul em Portugal, e que procedeu aqui com a maior insolência praticando toda a casta de despropósitos que o governo do regente lhe tolerou pela sua minímia fraqueza. Ao despótico primeiro cônsul não convinha um ministro como D. José Maria de Sousa, e por isso exigiu a sua transferência para outra corte, e efectivamente foi mudado para S. Petersburgo, sendo substituído em Paris por D. Lourenço de Lima. O morgado Mateus passou ainda para Estocolmo e Copenhaga; quando Bonaparte nos impôs também a obrigação de rompermos com a Rússia. 

Havia casado com D. Teresa de Noronha, filha de D. José de Noronha, e tendo enviuvado, casou segunda vez, em Paris, em 1802, com Madame Adelaide Maria Fileul de la Bellarderie, viúva do conde de Flahaut, autora de vários romances muito apreciados no seu tempo, e conhecida na república das letras por Madame de Sousa. Depois da Restauração, voltou para Paris, em 1817. Apaixonavam-no sobretudo as suas predilecções literárias. Madame Sousa era uma grande escritora e o morgado Mateus um homem de fina e cultivada inteligência. Enquanto sua mulher escrevia os seus romances, o morgado Mateus preparava a sua edição monumental dos Lusíadas, de Camões, mandando imprimir em Paris, nesse ano de 1817, o volume do célebre poema que apresentou depois à Academia Real das Ciências. Esta nomeou uma comissão composta de António Caetano do Amaral, Mateus Valente do Couto e Francisco Mendes Trigoso, que deu a respeito dessa edição um parecer muito lisonjeiro, observando apenas que o editor deveria ter seguido a edição de 1572. A este reparo respondeu D. José Maria de Sousa numa carta que foi impressa nas Memorias da Academia. Os Lusíadas eram precedidos por um artigo do morgado Mateus, sobre a Vida de Camões, trabalho muito notável. A despesa feita pelo morgado Mateus com esta edição, foi de 51.152 francos e 40 cêntimos (9.207$132 réis) os desenhadores foram Gerard, Fragonard, Visconti e Desenne; foram 12 os gravadores, e o revisor da obra foi um tal Menia. Durou 17 meses a impressão que era em magnífico papel velino, sendo os tipos fundidos de propósito. Tiraram-se 210 exemplares, de que D. José Maria de Sousa distribuiu em presentes 179, sendo 11 para o Brasil, 66 para Portugal, 22 para França, 28 para Inglaterra, 5 para Espanha, 13 para Itália, 30 para o Norte, 2 para a América, e 2 para a Ásia. Entre os presenteados, além das testas coroadas e príncipes, contavam-se o conde de Palmela, António Ribeiro dos Santos, Sismonde de Sismondi, Lord Castlereagh, Reynouard, David Hume, a condessa de Albany, o conde de Nevelrode, Metternich, e dois membros da família Bonaparte, o príncipe Eugénio, a rainha Hortênsia, etc. Esta edição foi exclusivamente destinada para presentes, mas o morgado Mateus consentiu que na imprensa Didot, onde se fizera aquele primoroso trabalho, se fizesse uma edição para o público, reimprimindo-se ainda em 1836. 

D. José Maria de Sousa também publicou: Lettres portugaises, traduzidas em portuguez com o texto francez em frente, e precedidas d'uma noticia bibliographica por D. J. M. S; Paris, 1821. São as célebres cartas atribuídas a D. Mariana Alcoforado; isto é, as últimas cinco das doze que Filinto Elísio também traduziu, visto que as outras sete são com certos fundamentos julgadas apócrifas. Fez‑se uma nova edição, em 1853, também em Paris, reproduzindo somente o texto francês, com o título: Lettres portugaises; nouvelle edition conforme à la première, avec une notice bibliographique sur ces lettres. »


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