Algumas pessoas lamentaram não haver um pouco de texto a acompanhar esta imagem que reencontrei nos meus arquivos.
Inicialmente este bairro começou a ser construido num dos programas de rehabilitação do SAAL- Norte. Terminada a primeira fase ficou décadas à espera de ser concluído.
Aqui vão umas linhas anteriormente publicadas pelo jornal Público:
« Siza Vieira retoma antigo projecto de urbanização no Porto
Iniciado na sequência do processo revolucionário que seguiu ao 25 de Abril, o Bairro da Bouça não teve uma existência fácil, mas bem se pode dizer que, afinal, acabará por ter duas vidas. As habitações da primeira fase nunca chegaram a ser completadas e ficaram à mercê de alguma degradação, mas, em 1999, Nuno Cardoso, então presidente da Câmara do Porto, entendeu retomar o processo, associando-lhe o movimento cooperativo. Para tal, as cooperativas Sete Bicas e Ceta e a Associação de Moradores da Bouça criaram a Cooperativa das Águas Férreas, tendo, entretanto, sido necessário remover alguns obstáculos, como os relacionados com a propriedade dos terrenos, o financiamento da obra pelo INH e a demolição da vivenda ocupada pelo Centro de Formação de Jornalistas. "O dr. Paulo Morais [então vereador da Habitação] assumiu o processo de forma verdadeiramente notável e a nossa vontade nunca esmoreceu", sublinhou ontem Guilherme Vilaverde. No início de 2004, o processo de construção das 72 novas habitações entrou definitivamente nos eixos, tendo a primeira pedra sido lançada em Abril. Em Dezembro próximo, o bairro vai, finalmente, iniciar a sua segunda vida.
A Cooperativa de Habitação das Águas Férreas apresentou ontem o andar-modelo do Conjunto Habitacional da Bouça, no Porto, permitindo um primeiro vislumbre sobre o que vai ser esta urbanização a custos controlados projectada pelo arquitecto Siza Vieira há cerca de trinta anos, no âmbito do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL). O projecto chegou a ser iniciado no período que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974, mas ficou incompleto e só agora está a ser terminado, graças à colaboração do movimento cooperativo com a Câmara do Porto, o Instituto Nacional da Habitação (INH) e o Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado (IGAPHE).
O andar-modelo ontem apresentado não difere muito, em termos estruturais, das 56 habitações que já ali existiam e que foram objecto, agora, de uma intervenção que melhorou o isolamento das casas, com a construção de uma parede exterior e a substituição das caixilharias. A principal diferença, salientou Siza Vieira, diz respeito à "execução impecável" dos novos fogos e ao mobiliário desenhado pelo arquitecto que ontem recheava o apartamento de dois pisos. "Esta cadeira é do salão de chá da Boa Nova, é mais antiga que o projecto da Bouça", gracejava Siza, sentado numa das peças por si desenhadas há mais de 40 anos.
Orçado em cerca de cinco milhões de euros, o empreendimento passará a contar, no final do ano, com um total de 128 fogos. Aos dois edifícios que a cidade se habituou a reconhecer como "o bairro do Siza Vieira" foram agora acrescentados quatro novos corpos, dois deles de estrutura semitriangular, e um parque de estacionamento subterrâneo. O local está já irreconhecível e António Madureira, arquitecto responsável pelo acompanhamento dos trabalhos, explicou ao PÚBLICO que foram apenas feitas pequenas modificações de pormenor em relação ao projecto original. "Este bairro vai trazer muita gente para visitá-lo, por ter como arquitecto um nome como o de Siza Vieira e também pela sua grande qualidade", sublinhou Teixeira Monteiro, presidente do INH.
"Em determinada altura não acreditei [que fosse possível concluir o projecto], parecia que não era possível", disse Siza Vieira aos jornalistas, declarando-se ainda "muito satisfeito" por ver, enfim, o bairro tornar-se realidade.
Uma das principais curiosidades do complexo reside, ao que o PÚBLICO apurou, no facto de as novas habitações terem sido adquiridas por uma camada social bastante diversa daquela que ocupa as habitações da primeira fase, mais jovem e qualificada, dado o desinteresse dos tradicionais cooperantes pela aquisição das novas casas. Um dado que contribuirá não apenas para o objectivo de estimular o "regresso à Baixa", ontem recordado pelo vice-presidente da Câmara do Porto, Paulo Morais, mas também, espera-se, para um reforço da auto-estima dos actuais moradores e para a melhoria da qualidade de vida naquele local.
O presidente da Cooperativa das Águas Férreas e da Federação Nacional das Cooperativas de Habitação, Guilherme Vilaverde, reconheceu, aliás, a existência de problemas na resolução de alguns casos sociais mais complicados entre os moradores das casas da primeira fase, mas mostrou-se confiante de que os engulhos serão ultrapassados sem que ninguém fique nas habitações "de borla". »
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