Um habitual leitor destes escritos, também ele dado à pesquisa histórica, mandou carta com uma dúvida " Casal do Pombal e Campo do Pombal, são a mesma coisa ?"
Claro que não.
Comecemos pelo primeiro.
Antes, porém, julgamos necessário esclarecer que, neste caso, a palavra "casal" tem que ser entendida com o significado de "pequeno povoado" ou " conjunto de pequenas propriedades rústicas" ou seja o lugar ou lugarejo de uma determinada freguesia.
Agora sim, a dúvida do leitor.
O Casal do Pombal, segundo um documento de 1805, ficava "junto da Torre de Pedro Sem e do cemitério dos ingleses", nas imediações, portanto, do actual Largo da Maternidade de Júlio Dinis que, ainda há relativamente pouco tempo, se chamava Campo Pequeno.
O referido documento, datado de 1805, é uma petição do negociante Jerónimo Pereira Leite em que solicita autorização Régia para poder "subemprazar chãos ( alugar terrenos) do seu Casal do Pombal" a fim de neles poderem ser construídas casas. Acontece que o tal Casal era senhorio directo da Colegiada de Cedofeita que se mostrou contrária ao empreendimento. O caso, por isso, teve que ser resolvido nos tribunais.
O Casal do Pombal era atravessado por um tortuoso caminho, espécie de estreita azinhaga que após a urbanização do sítio se transformou em artéria pública tomando o nome da propriedade com a designação de Rua do Pombal. Trata-se da actual Rua de Adolfo Casais Monteiro.
E agora o Campo do Pombal que ficava no sentido oposto da cidade, ou seja nas imediações da actual Praça da Batalha.
A mais antiga referência que se conhece ao Campo do Pombal data de 1590 e consta de um documento em que se diz que o tal "campo" era "… todo cercado sobre si (todo murado) entestando (confinando) da parte do sul com a estrada que vai entre as paredes (actual Rua de Entreparedes) para S. Lázaro; e da banda da cidade com o rio de Nossa Senhora da Batalha".
Aquilo que no documento aparece como sendo "o rio de Nossa Senhora da Batalha" , não passava de um simples riacho cuja água, proveniente do manancial do então chamado "Campo de Mijavelhas" (actual Campo de 24 de Agosto), alimentava um pequeno chafariz que ficava da parte de fora da muralha.
Tendo em conta as limitações apresentadas para a localização do tal "Campo do Pombal", não é difícil concluir, tendo em conta a situação da actual Praça da Batalha, que essa propriedade ficava onde agora está o palacete que foi da família Guedes, da Quinta da Aveleda, em Penafiel, antiga sede da estação central dos CTT.
Já que temos vindo a falar de topónimos com o mesmo significado mas designando sítios diferentes da cidade, vem a propósito lembrar que com o nome de Quinta do Pinheiro também houve duas grandes propriedades no Porto.
Uma começava, exactamente, onde hoje é a Praça da Batalha.
Era uma enorme propriedade rural que já existia com aquela designação em 1774. Tinha o seu começo junto à igreja de Santo Ildefonso e estendia-se pelo sitio da actual Rua de Santa Catarina, até à antiga Travessa do Grande Hotel, hoje Rua de António Pedro. Consta de uma antiga descrição que "era uma propriedade toda cercada de muro com terras de lavradio, hortas, árvores de fruta e de vinho, suas ramadas e uma fonte; parte de nascente com a Rua de Santa Catarina e de poente com o cano da água que vai para as religiosas de S. Bento (convento de S. Bento da Ave Maria, onde agora está a estação ferroviária de S. Bento); e do norte com o caminho que vai para a Viela da Neta ( actual Rua de Sá da Bandeira, junto ao Bolhão).
A outra Quinta do Pinheiro ficava "junto aos Carvalhos do Monte (actual Praça do Coronel Pacheco) ao lado da estrada que vem de Guimarães para a Porta do Olival (a Rua dos Mártires da Liberdade) prez (próximo) da cidade…"
Esta vasta propriedade, que compreendia muitos campos de cultivo, laranjais, hortas e pomares, começou a ser urbanizada no século XVIII incluída no chamado plano de urbanização do Bairro dos Laranjais promovido por João de Almada e Melo e no qual se incluía a abertura, por exemplo, da Rua do Almada, assim denominada em homenagem ao promotor do projecto, bem como outras artérias adjacentes como as actuais ruas da Conceição, de Ricardo Jorge e outras.
Uma das artérias que também se abriu por esse tempo foi a actual Rua do Pinheiro onde se encontra a pequena capela da invocação de Nossa Senhora da Conceição.
Antes de ter a denominação que evoca a existência da Quinta do Pinheiro, esta artéria chamou-se da Misericórdia, por ter sido aberta em terrenos que pertenciam à Santa Casa.
Germano Silva
publicado no Jornal de Notícias
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