31.1.14

Efeméride - 31 de Janeiro 1891 no Porto

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Para relembrar a revolta


Mas como para além dos actos colectivos também há vidas pessoais aqui vai uma pequena história escrita aqui há uns anos


(A foto é da rua 31 de Janeiro)




“O rapaz tinha à sua frente uma ladeira cheia de movimento na rua ladeada de tabernas.

Acabara de chegar à estação do Pinheiro vindo de Barcelos.

Era Janeiro, estava frio, como o dinheiro era pouco tinha que ir a pé até à morada que estava escrita num papel que tinha no bolso. Não sabia se era longe ou se era perto mas aos 16 anos chegaria até ao mar se fosse preciso.

Lá ao cimo estava o Freixo, depois seguiu por uma grande rua recta. Seguia o movimento dos carros e das pessoas. A trouxa pouca coisa tinha, não pesava.

Naquela manhã pensava que tinha a vida à sua frente, mas ia andando sempre, não tinha a noção do tempo, só sabia que era longe, que tinha que passar para além da grande praça. Mas muita gente ia naquela direcção, parecia um dia de romaria. Não se espantou.

Por fim, lá chegou à Batalha. Uma grande confusão. Muita gente, cavalos, bois. Nunca imaginara que uma cidade seria assim.

A certa altura ouviu tiros, gente a correr, balas a assobiar. Não sabia o que se passava. Agarrou com mais força a trouxa com a roupa, descalçou os tamancos. Correu na direcção contrária de onde vinham os tiros, de onde pensava que vinham os tiros. Seguiu os outros pela rua do Cimo de Vila.

Abrigou-se numa porta da rua Chã, encostado ao granito da ombreira. Não sabia onde estava, não sabia para onde ir, pensava-se protegido.

A porta abriu-se e um homem perguntou-lhe o que estava ali a fazer. Que entrasse, senão ainda apanhava uma bala perdida.

E o rapaz entrou. Inácio Ferreira da Silva tinha encontrado um marçano para o ajudar no seu comércio. Teodósio de Faria, naquele momento encontrou um patrão, não aquele a que vinha destinado. Anos mais tarde tornar-se-ia genro do Inácio. “

Foi assim que chegou o pai do meu padrinho ao Porto, na manhã do 31 de Janeiro de 1891. Talvez por esta razão todos os seus filhos se declaravam republicanos.

A história foi-me contada nos anos 90 do século XX por um irmão do meu padrinho, em S. Miguel de Ceide. Eu ainda não a conhecia apesar de ter privado muito com a família nos anos 60.





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