A Rua dos Mercadores foi, juntamente com a Bainharia e a Rua Escura, um dos eixos de circulação vital para o Porto Mediévico, ligando a zona ribeirinha, centro
mercantil, ao burgo episcopal e assegurando a comunicação com as principais vias medievais que saiam do Porto em direcção ao Entre-Douro-e-Minho e a Trás-os-Montes. Percorrendo a zona extra-muros desde as imediações da Porta de Sant'Ana até à Praça da Ribeira, junto ao Douro - ia, segundo documento antigo, "de Sant'Ana para baixo até a Praça da Ribeira" - ela seria, como o seu nome indica, um dos locais eleitos pelos mercadores portuenses para instalarem as suas moradias e estabelecimentos. Era assim, uma zona rica da cidade, com estruturas bem cuidadas, embora algumas, desde cedo oferecessem problemas de conservação.
mercantil, ao burgo episcopal e assegurando a comunicação com as principais vias medievais que saiam do Porto em direcção ao Entre-Douro-e-Minho e a Trás-os-Montes. Percorrendo a zona extra-muros desde as imediações da Porta de Sant'Ana até à Praça da Ribeira, junto ao Douro - ia, segundo documento antigo, "de Sant'Ana para baixo até a Praça da Ribeira" - ela seria, como o seu nome indica, um dos locais eleitos pelos mercadores portuenses para instalarem as suas moradias e estabelecimentos. Era assim, uma zona rica da cidade, com estruturas bem cuidadas, embora algumas, desde cedo oferecessem problemas de conservação.
texto e foto de Francisco Oliveira
O tempo em que a Ribeira foi centro cívico da cidade
Os "mercatores do Porto"
Os "mercatores do Porto"
A partir da conquista de Lisboa aos mouros, por D. Afonso Henriques, em 1147, cessaram, por assim dizer, as incursões árabes aos territórios do Norte do país e a costa portuguesa deixou de andar, como acontecia até ali, infestada de navios
mouriscos, cujas tripulações assaltavam os barcos dos mercadores portuenses, mal eles saíam barra fora.
Tentando aproveitar, entretanto, as vantagens foraleiras concedidas, anos antes, pela "Carta de Foral", dada pelo bispo D. Hugo à cidade, novos moradores, provenientes especialmente das terras do interior, chegam ao velho burgo para se empregarem nos mesteres e, sobretudo, nas actividades ribeirinhas, porque o rio começava a ser a via dorsal de todo o comércio, não apenas com as terras do interior mas, fundamentalmente, com o exterior.
A cidade expandia-se para fora do primeiro muro defensivo, crescia em prestígio económico, assistia ao aumento cada vez mais acentuado do seu comércio com o exterior e via a sua população a aumentar de dia para dia.
Com o interesse que começa a despertar o intenso labutar da vida mercantil, mas não só, na zona ribeirinha da cidade, a população arrisca descer de Cimo de Vila para ao pé do rio, onde a vida fervilhava de tal modo que o Senado Municipal, a certa altura, teve que tomar medidas para evitar brigas e morticínios, tão intensa era a actividade que ali se desenvolvia no carregar e descarregar de navios, que ali chegavam todos os dias vindos das mais distantes paragens.
Da parte do Porto, eram os próprios burgueses da cidade que em seus navios faziam o comércio com a Flandres e outros portos do Norte da Europa e da França. E os pescadores da Lada, de Miragaia e de Massarelos também iam, em seus próprios barcos, até aos mares afastados da Bretanha e da Inglaterra. Levavam o sal das salinas de Matosinhos e de Guifões e traziam o pescado com que abasteciam os mercados do burgo.
A população aumentou com tal rapidez na zona ribeirinha que, em 1249, o bispo D. Julião Fernandes, para prover essa gente de assistência religiosa condigna, designou um capelão para a ermida de S. Nicolau, na Reboleira, precursora da actual igreja paroquial de S. Nicolau.
Desde muito cedo que os homens de negócios, que actuavam com seus barcos a partir do rio Douro, procuravam furtar-se ao pagamento dos impostos, levando as suas embarcações para o entreposto de Vila Nova de Gaia, criado por iniciativa de D. Afonso III, no ano de 1255.
O monarca, para retirar ao bispo do Porto e ao Cabido as pingues rendas que ambos recebiam da intensa actividade comercial que os mercadores da cidade desenvolviam, mandou ordem aos mestres e capitães dos navios que entrassem no Douro, para que "desembarcassem as mercadorias que trouxessem nos seus barcos no novo bairro de Vila Nova, afim de lhe pagarem aí a ele Rei os direitos devidos e não ao bispo nem ao Cabido…"
Esta atitude de D. Afonso III viria a gerar, no futuro, uma série de questões, pendências e conflitos entre a Mitra e os burgueses da cidade que, por seu vez, deram origem a excomunhões, interditos e queixas dos bispos ao Papa.
Numa data que não é possível determinar, mas que coincidiu com este surto de desenvolvimento do comércio marítimo, criou-se no Porto a primeira Bolsa destinada a acudir aos percalços da navegação e do comércio dos barcos do Porto que comercializavam com os portos do Norte da Europa. A iniciativa, para que não fiquem dúvidas, foi dos próprios armadores de navios da cidade. Muito anterior à que D. Dinis instituíra em Lisboa.
Na base desta iniciativa esteve o naufrágio na costa flamenga, em 1149, no tempo de D. Sancho I, portanto, de um navio da praça do Porto.
Pode dizer-se que se o progresso mercantil se fazia sentir especialmente na Ribeira, junto ao rio, onde se criara o novo centro cívico da urbe, a indústria, com os seus mesteres, prosperava nas encostas da Penha Ventosa e da Vitória como ainda hoje o atestam os nomes de arruamentos que nos trazem à memória os mesteirais de antanho agora evocados nos nomes de algumas das ruas portuenses Caldeireiros, Pelames, Mercadores, Bainharia.
No reinado de D. Pedro I (1357-1367 ), havia no Porto mais naves e navios do que em todos os outros portos do país. E a maior parte dessas embarcações de alto bordo eram construídas nos estaleiros da Ribeira e de Miragaia que competiam em qualidade e quantidade com os maiores estaleiros da Europa.
O tempo em que a Ribeira foi centro cívico da cidade
Nas inquirições de Entre Douro e Ave, de 1258, há frequentes referências aos "mercatores do Porto" e ao seu comércio com as praças do Norte da Europa e da Flandres. São aí mencionados muitos produtos agrícolas e industriais, a maioria deles portugueses com origem nas terras do interior ou manufacturados por artesãos portuenses vinhos, panos, sal, peles, couros. Gado cavalar, asinino, suíno, bovino e caprino. Alfaias agrícolas como ferros de arado, enxadas, ferraduras e cravos. Picões e cutelos. Caldeiras, grelhas e trempas. Mantas de Ferreira, de Barcelos e mesmo de Castela. Ourelos (panos grosseiros) , tecidos de algodão, sedas, sapatos e botas. E ainda cera, unto, sebo, vinagre, queijo e manteiga. Pelos séculos fora, de 1300 a 1700, através de tantas vicissitudes da vida nacional, a cidade do Porto continuou a singrar como principal centro mercantil e isto devido, fundamentalmente, às condições de navegabilidade do seu rio e do seu entreposto ribeirinho firmado na Ribeira ainda hoje uma verdadeira atracção porque continua a ser a varanda aberta sobre o Douro…
mouriscos, cujas tripulações assaltavam os barcos dos mercadores portuenses, mal eles saíam barra fora.
Tentando aproveitar, entretanto, as vantagens foraleiras concedidas, anos antes, pela "Carta de Foral", dada pelo bispo D. Hugo à cidade, novos moradores, provenientes especialmente das terras do interior, chegam ao velho burgo para se empregarem nos mesteres e, sobretudo, nas actividades ribeirinhas, porque o rio começava a ser a via dorsal de todo o comércio, não apenas com as terras do interior mas, fundamentalmente, com o exterior.
A cidade expandia-se para fora do primeiro muro defensivo, crescia em prestígio económico, assistia ao aumento cada vez mais acentuado do seu comércio com o exterior e via a sua população a aumentar de dia para dia.
Com o interesse que começa a despertar o intenso labutar da vida mercantil, mas não só, na zona ribeirinha da cidade, a população arrisca descer de Cimo de Vila para ao pé do rio, onde a vida fervilhava de tal modo que o Senado Municipal, a certa altura, teve que tomar medidas para evitar brigas e morticínios, tão intensa era a actividade que ali se desenvolvia no carregar e descarregar de navios, que ali chegavam todos os dias vindos das mais distantes paragens.
Da parte do Porto, eram os próprios burgueses da cidade que em seus navios faziam o comércio com a Flandres e outros portos do Norte da Europa e da França. E os pescadores da Lada, de Miragaia e de Massarelos também iam, em seus próprios barcos, até aos mares afastados da Bretanha e da Inglaterra. Levavam o sal das salinas de Matosinhos e de Guifões e traziam o pescado com que abasteciam os mercados do burgo.
A população aumentou com tal rapidez na zona ribeirinha que, em 1249, o bispo D. Julião Fernandes, para prover essa gente de assistência religiosa condigna, designou um capelão para a ermida de S. Nicolau, na Reboleira, precursora da actual igreja paroquial de S. Nicolau.
Desde muito cedo que os homens de negócios, que actuavam com seus barcos a partir do rio Douro, procuravam furtar-se ao pagamento dos impostos, levando as suas embarcações para o entreposto de Vila Nova de Gaia, criado por iniciativa de D. Afonso III, no ano de 1255.
O monarca, para retirar ao bispo do Porto e ao Cabido as pingues rendas que ambos recebiam da intensa actividade comercial que os mercadores da cidade desenvolviam, mandou ordem aos mestres e capitães dos navios que entrassem no Douro, para que "desembarcassem as mercadorias que trouxessem nos seus barcos no novo bairro de Vila Nova, afim de lhe pagarem aí a ele Rei os direitos devidos e não ao bispo nem ao Cabido…"
Esta atitude de D. Afonso III viria a gerar, no futuro, uma série de questões, pendências e conflitos entre a Mitra e os burgueses da cidade que, por seu vez, deram origem a excomunhões, interditos e queixas dos bispos ao Papa.
Numa data que não é possível determinar, mas que coincidiu com este surto de desenvolvimento do comércio marítimo, criou-se no Porto a primeira Bolsa destinada a acudir aos percalços da navegação e do comércio dos barcos do Porto que comercializavam com os portos do Norte da Europa. A iniciativa, para que não fiquem dúvidas, foi dos próprios armadores de navios da cidade. Muito anterior à que D. Dinis instituíra em Lisboa.
Na base desta iniciativa esteve o naufrágio na costa flamenga, em 1149, no tempo de D. Sancho I, portanto, de um navio da praça do Porto.
Pode dizer-se que se o progresso mercantil se fazia sentir especialmente na Ribeira, junto ao rio, onde se criara o novo centro cívico da urbe, a indústria, com os seus mesteres, prosperava nas encostas da Penha Ventosa e da Vitória como ainda hoje o atestam os nomes de arruamentos que nos trazem à memória os mesteirais de antanho agora evocados nos nomes de algumas das ruas portuenses Caldeireiros, Pelames, Mercadores, Bainharia.
No reinado de D. Pedro I (1357-1367 ), havia no Porto mais naves e navios do que em todos os outros portos do país. E a maior parte dessas embarcações de alto bordo eram construídas nos estaleiros da Ribeira e de Miragaia que competiam em qualidade e quantidade com os maiores estaleiros da Europa.
O tempo em que a Ribeira foi centro cívico da cidade
Nas inquirições de Entre Douro e Ave, de 1258, há frequentes referências aos "mercatores do Porto" e ao seu comércio com as praças do Norte da Europa e da Flandres. São aí mencionados muitos produtos agrícolas e industriais, a maioria deles portugueses com origem nas terras do interior ou manufacturados por artesãos portuenses vinhos, panos, sal, peles, couros. Gado cavalar, asinino, suíno, bovino e caprino. Alfaias agrícolas como ferros de arado, enxadas, ferraduras e cravos. Picões e cutelos. Caldeiras, grelhas e trempas. Mantas de Ferreira, de Barcelos e mesmo de Castela. Ourelos (panos grosseiros) , tecidos de algodão, sedas, sapatos e botas. E ainda cera, unto, sebo, vinagre, queijo e manteiga. Pelos séculos fora, de 1300 a 1700, através de tantas vicissitudes da vida nacional, a cidade do Porto continuou a singrar como principal centro mercantil e isto devido, fundamentalmente, às condições de navegabilidade do seu rio e do seu entreposto ribeirinho firmado na Ribeira ainda hoje uma verdadeira atracção porque continua a ser a varanda aberta sobre o Douro…
2 comentários:
Boa-noite,
Necessito, se me puder esclarecer, aos dois seguintes grupos de questões:
1) Existe/existiu alguma rua com a designação de "Rua do Poço das Patas"? Se sim, onde é/era? Alterou o nome?
2) Suponho que o Largo das Mijavelhas é hoje a localização do Campo 24 de Agosto, certo? Quando se deu a alteração do nome?
Cumprimentos,
João Moreira (e-mail: np02hn@mail.telepac.pt)
Existe a Travessa do Poço das Patas, entre a Rua Coelho Neto a Rua de Santo Ildefonso. A Rua do Poço das Patas chama-se agora Rua Coelho Neto.
O Campo 24 de Agosto foi realmente o lugar de Mijavelhas.
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