3.10.06

Rua ANSELMO BRAANCAMP



A Rua de Anselmo Braancamp, que parte da Firmeza e corre pouco mais ou menos paralela à Rua de Santos Pousada, foi aberta em terrenos que haviam pertencido à Quinta do Tadeu. O nome desta desaparecida propriedade ainda hoje sobrevive, de resto, na Rua do Monte Tadeu, onde vai desembocar a de Anselmo Braancamp.


A toponímia portuense evoca ainda o antigo líder do Partido Progressista, falecido em 1885, numa Travessa de Anselmo Braancamp, que une a rua homónima à de Santos Pousada.

O roteiro do Porto levantado por F. Lopes para integrar o Guia da Cidade de 1895 não mostra ainda esta rua, cujo traçado - segundo o investigador Cunha Rodrigues - só vamos encontrar na planta de 1901. No entanto, foi justamente em 1895 - mais exactamente no dia 1 de Maio - que a autarquia, numa homenagem ao político progressista, decidiu atribuir à rua, que já antes existia, o nome de Anselmo Braancamp.

Tendo entrado na posse da Câmara em 1892, a artéria não recebeu imediatamente designação oficial, mas os portuenses chamavam-lhe Rua da Companhia das Águas, uma vez que se encontravam ali perto dois reservatórios da referida companhia. Nascido em Lisboa a 23 de Outubro de 1819, Anselmo Braancamp desenvolveu na capital o essencial da sua carreira política. Liga-o ao Porto, contudo, o facto de aqui ter integrado, em 1846, a Junta Provisória que emergiu da revolução de 9 de Outubro, provocada pelo golpe de estado contra o governo de Palmela.

De origem holandesa, os Braancamp instalaram-se em Portugal pelo terceiro quartel do século XVIII, quando o diplomata Hermano José Braancamp, oriundo de Amsterdão, assumiu em Lisboa o cargo de ministro residente - leia-se embaixador - do governo da Prússia. Chegado à capital portuguesa em 1751, este antepassado de Anselmo Braancamp, manteve-se em funções até 1775. Já em Lisboa, desposou D. Maria Inácia de Almeida Castelo Branco, cujos descendentes vieram a ser, sucessivamente, barões, viscondes e condes de Sobral.

Anselmo era ainda criança quando partiu para França, acompanhando seu pai - Anselmo José Braancamp de Almeida Castelo Branco - no exílio parisiense a que o forçou a regência de D. Miguel. E só voltou a Portugal em 1835, após a aclamação de D. Maria II, para prosseguir em Coimbra os estudos de Direito que iniciara em Paris. Já licenciado, exerceu o cargo de procurador régio em Almada e, a partir de 1845, em Lisboa.

Após o golpe de estado contra o ministério de Palmela, em 1846 - a "Emboscada" - e a consequente revolta portuense de 9 de Outubro, põe a sua fortuna e serviços à disposição da Junta Provisória. Parte depois para o Algarve, como governador civil dos distritos do Sul. Em 1851, data que assinala a queda definitiva do cabralismo e o advento da Regeneração, é pela primeira vez eleito deputado por Lisboa.

Nomeado em 1862 para a pasta da Fazenda, Anselmo Braancamp faz publicar a lei que abole os morgadios. Em 1868, é ministro da Marinha, mas regressa, logo no ano seguinte, à gestão da Fazenda, que abandona em 1870 na sequência da revolução protagonizada por Saldanha.

Quando os partidos Histórico e Reformista se fundem, em 1876, para dar origem ao Partido Progressista, Anselmo Braancamp ascende à liderança da nova formação política e, nessa qualidade, é chamado, em 1879, a organizar um governo, de que assume a presidência e a pasta dos Negócios Estrangeiros. Mas o executivo não tarda a cair, na sequência do Tratado de Lourenço Marques, firmado com a Inglaterra.

Anselmo Braancamp morre a 13 de Novembro de 1885, quando acabara de lançar, com Oliveira Martins e outros, o movimento Vida Nova, que pretendeu reorganizar e modernizar o progressismo.

Entre as várias distinções que recebeu em vida, contam-se as grã-cruzes da Ordem de Torre e Espada, da Ordem de Nossa Senhora da Conceição e da Legião de Honra. Em 1874, procuraram nomeá-lo par do Reino, mas Braancamp declinou a homenagem.

BRAAMCAMP, ANSELMO JOSÉ (Lisboa, 23/10/1819 - Lisboa, 13/11/1885) – Magistrado e político. (...)
Defendeu a Patuleia, eleito deputado em 1851. Foi ministro da Fazenda (1869 - 1870) e dos Estrangeiros (1879 - 1881)
Presidente do Conselho de Ministros de 1879 a 1881.
Pertenceu ao Partido Histórico e ao Partido Progressista desde a sua fundação (1875).

2 comentários:

Ortsnamenblog disse...

Quero chamar a atenção para a grafia errada com "n" em vez de "m" repetida ao longo do artigo "Rua de Anselmo Braamcamp" justificado pelo seguinte motivo:
Os topónimos Braamkamp/Braamheide/Braamwisch/Braamkoppelweg contêm todos por justaposição a palavra Braam- e estão todos igualmente localizados na mesma área postal (22297) ao noroeste de Hamburgo (Alemanha). O estanho é que se queira agora, em Portugal, trasladar o topónimo Braamcamp para a esfera linguística do neerlandês moderno (holandês, flamengo), língua da Bélgica e Países Baixos, onde não há qualquer registo antigo de igual topónimo.
O nobre conhecido por Anselm Braamcamp que viveu no Século XVII, era natural do Norte da Alemanha, então território do Sacro Império Romano Germânico, do qual o Ducado de Holstein (embora o seu soberano fosse o Rei da Dinamarca) fazia parte e a cidade de Hamburgo também. O dito Anselm Braamcamp foi ancestral de Hermann Joseph Braamcamp, o qual veio para Portugal no Século XVIII como ministro representante do Reino da Prússia colocado em Lisboa (1751-1775), e aqui se estabeleceu deixando descendência, entre os seus descendente se encontra Anselmo Braamcamp Freire, ilustre político da Primeira República, homenageado com uma via pública no Porto, freguesia do Bonfim à qual foi dado o nome Rua de Anselmo Braamcamp.
A atrás citada palavra Braam [do baixo alemão brām = Ginster] (norte-alemão): Ginster, significa em português giesta. O mácron sobre a vogal - ā - significa uma vogal longa, por isso a sua transliteração é feita com a sua representação gráfica aa no baixo-alemão Braam. A palavra alemã Kamp deriva do latim “campus” e significa em alemão “flaches Feld”. Esta locução toma em português o sentido de “terreno plano” ou simplesmente “chã” (Flachsland), o qual se escrevia no médio alto alemão “camp”. A palavra alemã que corresponde ao português “campo” em alemão se diz “Feld”, logo “Kamp” é um determinado tipo de “Feld”.
Como se depreende do esclarecimento atrás expendido, o apelido Braamcamp nada tem a ver com um suposto significado em neerlandês (antigo frâncico) “campo de amoras”, como alguns autores pretendem dar, significa sim “chã onde abundam giestas” ou simplesmente Giesteira.
Eis a razão por que não se pode aportuguesar o apelido (nome de família) Braamcamp corrompendo a sua grafia original braam + camp.

Ortsnamenblog disse...

Rua de Anselmo Braamcamp no Porto
As tabuletas de nome de rua afixadas na conhecida rua do Porto, em que consta a inscrição “RUA DE ANSELMO BRAAMCAMP - 1817-1885 – POLÍTICO”, dão a entender pela referência feita aos anos de 1817-1885 de que se trata de uma distinção destinada ao advogado e político português que viveu no Século 19, Anselmo José Braamcamp de Almeida Castelo Branco [* Lisboa (São Mamede), 23.10.1817 - † Lisboa, 13.11.1885]. Estranhamente o nome da referida personagem histórica está impropriamente abreviado por citar apenas o seu prenome Anselmo e o apelido Braamcamp, excluindo disso o seu segundo prenome José, que forma o prenome composto Anselmo José, quando o próprio Anselmo José se assinava: A. J. Braamcamp. A falta do prenome José nas tabuletas de nome da via pública do Porto induz em erro quem sabe que o nome composto apenas pelo prenome Anselmo e o apelido Braamcamp é predicativo do político, e ainda historiador, genealogista, arqueólogo Anselmo Braamcamp Freire [* Lisboa, 1.2.1849 - † Lisboa, 23.12.1921], sobrinho do citado Anselmo José Braamcamp e filho de uma irmã do mesmo, chamada Luísa Maria Joana Braamcamp de Almeida Castelo Branco, a qual havia sido casada com o barão de Almeirim, Manuel Nunes Freire da Rocha. Como está esclarecido aqui, a pessoa chamada apenas Anselmo Braamcamp não tinha prenome composto com um segundo nome próprio entre o prenome Anselmo e o apelido Braamcamp, pelo que esta omissão na inscrição das tabuletas de rua faz com que ambos se tornem indistinguíveis entre si, em especial quando se quer saber qual é o facto que pode ligá-los à cidade do Porto, pois ambos são naturais de Lisboa, de modo que nada têm a ver por via normal com a cidade do Porto. E mais, note-se que o citado Anselmo José Braamcamp de Almeida Castelo Branco recebeu uma distinção idêntica em Lisboa com a qual também se lhe foi atribuído o nome de uma via pública, só que o nome que aparece inscrito nas tabuletas é apenas o seu apelido Braamcamp, o que torna ainda mais difícil a consulta documental para se saber quem é a pessoa referenciada com apenas o apelido Braamcamp.

Significado e origem do apelido Braamcamp
Aproveitando a oportunidade convém fazer-se aqui alguns esclarecimento sobre o significado e origem do apelido Braamcamp. Este apelido é um nome de lugar de residência (Wohnstättename). Segundo a genealogia de diversas famílias, o apelido Braamcamp na sua forma original era escrito Braemcamp e provavelmente teve ori-gem em Oldemburgo (Baixa-Saxónia/Alemanha), dali passou ao território do país designado hoje Países Baixos através de famílias oriundas de Nordhorn (Baixa-Saxónia, hoje junto à fronteira alemã/neerlandesa e limitada a sul pelo estado federal alemão Renânia do Norte/Vestefália). Os ancestrais do pastor Rutgerus Braemcamp (Riessen/holandês Rijssen, hoje território dos Países Baixos) são oriundos de Oldemburgo através de Nordhorn. A antiga forma nominal Braemcamp (do baixo-saxão) hoje é grafada na forma Bramkamp. Este nome é pronunciado equivocadamente como se fosse um “a” longo “aa”. O elemento braem- (em baixo-saxão) significa giesta (hoje escrito em neerlandês “brem”) e nos tempos antigos a sua pronúncia era “braem” e não “braam”, o que altera o seu significado em neerlandês para “amora”. O topónimo Riessen (baixo-saxão)/Rijssen (neerlandês) localizado na província neerlandesa Overijssel nunca teve a grafia Ryssen, pois o topónimo com essa grafia foi sempre a sede do bailiado do Duque do Holstein e ao mesmo tempo Rei da Dinamarca, entre os séculos 16 e 19 que se situava ao sul da Jutlândia, Ducado de Holstein (hoje Rissen, o bairro mais ocidental de Hamburgo, no distrito de Altona. Na área administrativa de Hamburgo existe mais a leste a rua Braamkamp. O significado do elemento braam aqui é giesta e não amoreira. Os campos de amoreira (em alemão Brombeerstrauch) estão situado mais a norte em Brammer, distrito de Rendsburg.