30.10.06

Rua GUILHERME DA COSTA CARVALHO

Já foi rua da Cancela Velha.


Guilherme da Costa Carvalho (nasceu no Porto em 1921 e faleceu a 25/03/1973) foi militante do Partido Comunista Português. Esteve preso em Peniche, de onde se evadiu em companhia de Álvaro Cunhal e outros.


sobre Guilherme da Costa Carvalho



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Actualização de Julho 2014

GUILHERME DA COSTA CARVALHO (1921- 1973)

Nasceu no Porto, numa família de grandes posses que o apoiou sempre na sua opção e na sua dedicação à luta antifascista. Guilherme da Costa Carvalho cedo trocou uma vida, que podia ter sido igual à de tantos jovens da sua idade pertencentes a uma elite da burguesia portuense, pela de “funcionário” clandestino do Partido Comunista Português.
Esteve no Tarrafal, no Aljube, em Peniche e em várias outras prisões, num total de 16 anos e seis meses de cativeiro. Foi durante vários anos membro do Comité Central do PCP.
Participou naquelas que são, porventura, as duas mais espectaculares fugas das prisões do fascismo: Peniche, em Janeiro de 1960, e Caxias, em Dezembro do ano seguinte.


Morreu novo, com 52 anos de idade – exactamente a idade com que falecera sua Mãe, Herculana Carvalho - no Instituto de Oncologia de Lisboa. Tinha sido posto em liberdade pelo facto de estar já muito doente. Não chegou a ver a Democracia pela qual dera a sua vida de adulto quase toda.

Em complemento aos poucos dados biográficos formais que conseguimos recolher, deixamos-vos algumas notas e testemunhos pessoais, a que tivemos acesso.

Raúl de Castro (dirigente do MDP/CDE e da Intervenção Democrática, deputado, vereador e membro da Assembleia Municipal do Porto) definiu-o assim, em 2002, quando se deliberava a atribuição do seu nome a uma rua do Porto: «um comunista, um exemplo de militante do PCP a cujos ideais, e ao serviço do seu povo, dedicou toda a sua vida, desde a juventude. Embora fosse então estudante da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e a fortuna de seu pai lhe pudesse garantir que vivesse com todas as comodidades, Guilherme da Costa Carvalho trocou essa vida pela dura vida de funcionário do PCP, conheceu o Campo de Concentração do Tarrafal e outras prisões fascistas, tendo sido um dos participantes na fuga do Forte de Peniche, e só foi libertado pela PIDE quando esta verificou que a sua vida em breve terminaria»

Foi Armando Bacelar, o prestigiado antifascista dedicado às causas da «oposição democrática», competente e generoso advogado de vários presos políticos durante a ditadura fascista, quem defendeu Guilherme da Costa Carvalho no Tribunal Plenário. Eva Bacelar, sua filha, falou-nos daquela família num interessante testemunho:

«Nunca conheci pessoalmente Guilherme da Costa Carvalho, porque na minha juventude esteve sempre preso ou na clandestinidade. Portanto, só indirectamente o conheci através da família. O pai dele, Luís Alves Carvalho, era corretor da Bolsa do Porto, onde tinha ganho uma enorme fortuna. Lembro-me de alguém dizer que os “papéis” que ele tinha davam para forrar a Rua de Santa Catarina de um lado e de outro, no Porto….O Sr. Carvalho, como eu lhe chamava, era uma pessoa de grande generosidade, que sempre lembro no seu trato afável – um homem de cabelos grisalhos e olhos azuis, com um amplo sorriso e um ar muito distinto.

Guilherme da Costa Carvalho teve 2 filhos gémeos. Um menino e uma menina, com cerca de 5 ou 6 anos nos anos 1960. É possível que a mãe dos meninos estivesse na clandestinidade ou presa – isso não sei. A verdade é que eles foram educados pelos avós, D. Herculana Carvalho e Sr. Luis Carvalho.

Nos meus 16 anos, quando o meu pai (Armando Bacelar) andava fugido da PIDE numa quinta do Douro, a minha família mandou-me para Londres, para me afastar de todas as dificuldades políticas e familiares. Acontece que o neto do Sr. Carvalho era asmático, e o avô resolveu mandá-lo a Londres na mesma altura, para consultar médicos especialistas em asma. A senhora que o levava (militante do PC de cujo nome não me lembro, mas de quem tenho fotografias) não falava inglês e eu, estudante e futura tradutora de inglês, fui contratada pelo Sr. Carvalho para servir de intérprete dos médicos e apoiar o neto dele na visita a Londres. Claro, que a visita foi acompanhada de um envelope recheado com algumas notas, que muito agradeci ao Sr. Carvalho. A partir daí, sempre que, nas férias, eu ia estudar para o estrangeiro, o Sr. Carvalho mandava-me sempre um envelope com um dinheirinho de bolso. (E que bem me sabia…)

Fiquei, portanto, com a recordação de pessoas muito generosas e dedicadas. O menino, Manuel Carvalho, chegou a Londres e passou a dar-se bem com o clima, sem ter ataques de asma. Eu estava instalada num lar de freiras irlandesas, muito severas, que a troco de poucas libras por semana me fizeram trabalhar loucamente. Valeu-me a companhia do “Manelinho” e da senhora que vinha com ele, para passearmos por Londres.

Infelizmente perdi de vista o Manuel Carvalho (filho de Guilherme da Costa Carvalho). Pode ser que um dia o reencontre e que ele se lembre de mim em Londres...»

Em 1949, num período que contrasta com os anos de chumbo vividos antes, Salazar autoriza a visita a Cabo Verde e ao Tarrafal dos pais de Guilherme da Costa Carvalho. Herculana Carvalho e Luís Alves Carvalho ( primeiro corretor da Bolsa do Porto e figura influente) viajam de paquete, levam alimentos e bens. Herculana homenageia, um a um, todos os tarrafalistas ali falecidos e enterrados, colocando flores em cada campa. São autorizados a fazer fotografias. O campo vive uns dias de festa; e, no regresso, Herculana Carvalho viaja pelo país a distribuir fotos dos presos e notícias pelos seus familiares. (ver biografia de Herculana Carvalho).

Luís Carvalho, no 15º aniversário da morte do filho, editou, para circulação entre amigos, um conjunto de 42 pequenos poemas de Guilherme da Costa Carvalho, dedicados à memória de sua mãe e das suas avós, quando tinha 42 anos. O livro intitula-se «42 Hai-Kais, Relâmpagos do meu coração». Esses poemas foram escritos por Guilherme em papel de mortalha. A letra das palavras era tão minúscula que só foi possível decifrá-las à lupa e, segundo a própria irmã, também deverão ter sido escritas do mesmo modo. Os papéis com os poemas saíram da prisão do Aljube onde se encontrava, muito escondidos nos enchumaços de um casaco que fora entregue à família para a lavandaria.

http://www.pcp.pt/avante/20020801/496t4.html

http://www.avante.pt/pt/1985/pcp/117748/

http://silenciosememorias.blogspot.pt/2013/12/0421-herculana-de-jesus-da-costa-dias.html

“Senegâmbia”, Boletim Cultural da Guiné-Bissau e regiões vizinhas”, senegambia.blogspot.pt, 17.9.2004)

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1 comentário:

Anónimo disse...

Por isso lá existe o Café...