1.10.07

Origem da Fonte Taurina e a idade da Fonte da Colher



O Porto e a água das fontes

"Fonte Aurina, D'Ourina, Tourina, ou Taurina ? Um jovem estudante, por causa de um trabalho académico que está a elaborar, tem andado a tentar saber mais sobre o abastecimento de água ao Porto, mas, é ele que o diz, a meio das investigações esbarrou em dois enigmas - o da Fonte Taurina e o da Fonte da Colher. Por isso mandou mail com duas perguntas a Fonte Taurina, existiu mesmo ou é produto da imaginação popular?; e qual a data da fundação da Fonte da Colher ?


Antes das respostas possíveis, uma curiosidade, para quem não saiba, evidentemente. A Fonte Taurina teve várias designações, algumas bastante estranhas e outras simplesmente incompreensíveis. Vejam só "Fonte Aurina" ou "Fonte de Aurina"; "Fonte Ourina" ou "Fonte d'Ourina"; e "Fonte Tourina" ou "Fonte Taurina". Esta designação é a que ainda hoje prevalece.

Que a Fonte Taurina existiu, não há dúvidas. Que foi de grande utilidade para as gentes ribeirinhas, em cuja zona se localizava, também é verdade. A dúvida maior, se assim se pode dizer, é estabelecer com rigor o local onde esteve.

Vamos, pois, à localização. A rua que tem o nome da fonte é das mais antigas da cidade. Já existia, pelo menos, em 1296. Em 1424, dizia-se que era "a rua que ia da Praça da Ribeira para a Fonte d'Aurina". Um documento de 1540 dá a fonte como ficando "no sítio da Ribeira, logo abaixo donde entra o Rio da Vila no Douro…" Mas há ainda quem assegure que a fonte ficava "cerca do Postigo e da Ponte das Tábuas…" E outro documento de 1535, existente no riquíssimo arquivo da Santa Casa da Misericórdia do Porto, indica a Rua da Ponte das Tábuas como sendo a actual Rua da Fonte Taurina.

Moral da história a fonte existiu, é um facto, porque há inúmeros documentos que o atestam, mas nada se sabe, em concreto, acerca da sua localização embora se presuma, com pequena margem de erro, que deve ter ficado algures no começo da Rua da Fonte Taurina, tomando como seu inicio a parte junto à Praça da Ribeira, ponde desagua o referido Rio da Vila que agora corre encanado por baixo das ruas de Mouzinho da Silveira e de S. João.

Agora, a Fonte da Colher que ainda funciona, embora não esteja no sítio primitivo. Está agora encaixada, se assim se pode dizer, na fachada de um prédio da Rua de Miragaia, perto das Escadas do Monte dos Judeus. O sítio onde se localiza a fonte, uma espécie de logradouro, ao fundo das Escadas do Monte dos Judeus e das embocaduras da Rua dos Armazéns e da Viela da Companhia, chamou-se, em tempos idos, Escampado, Escampadouro, Largo dos Navios e Largo da Fonte da Colher.

A mais antiga referência que se conhece à Fonte da Colher está num documento do cartório do Cabido que se guarda no Arquivo Distrital do Porto e refere-se ao ano de 1491 e diz respeito a um "contrato condicional de censo de 300 reis para aniversários, imposto nas casas que estão em Miragaia sobre a Fonte da Colher…"

O nome de Colher anda ligado a um antigo tributo que os feirantes pagavam quando vinham vender os produtos da sua lavra à cidade.

Pagava-se esse imposto de "todo o pão, farinha, nozes, castanhas e legumes que de fora chegassem ao Porto para aí serem vendidos".

Em 1868, os moradores de Miragaia que se serviam da água da Fonte da Colher reclamaram junto da Câmara porque a água, devido ao rebentamento do cano abastecedor, começava a escassear e porque "há muito tempo se não limpava o tanque ou depósito d'aquella fonte, onde a água se conserva estagnada e cheia de limo, produzindo emanações deletérias, reconhecidamente nocivas à saúde pública…"

Como facilmente se deduz do que acima fica escrito, a Fonte da Colher é muito antiga mas não é possível estabelecer a data exacta da sua fundação na praia de Miragaia. Sabe-se, no entanto, que o sitio onde agora está não é o que teve inicialmente. É verdade, também, que a sua água foi em tempos considerada "como a melhor em qualidade que teve a cidade". Pode-se avaliar da antiguidade desta fonte pela leitura da legenda, hoje quase imperceptível, que foi gravada na lápide da frontaria " Louvado seja o santíssimo Sacramento e a Puríssima Conceição da Virgem Nossa Senhora, concebida sem pecado original. 1629. A água d'esta fonte é da Cydade…"


O abastecimento de água, em qualidade e quantidade, a qualquer povoação, deve ser a primeira preocupação das entidades locais. Assim aconteceu no passado na cidade do Porto.

Desde sempre que os homens da Vereação Municipal se preocuparam com o abastecimento de água à cidade cuidando de que esse abastecimento fosse feito em quantidade suficiente mas, sobretudo, em qualidade. Exemplo disso é o teor da acta de uma reunião camarária de 1732.

Depois de ter "despachado vários papeis e petiçoens" e após ter "deferido seus requerimentos e partes" a Vereação tratou de nomear "Olheiros da limpeza das fontes e dos tanques da Cidade.

Estes "olheiros" tinham por missão zelar pela limpeza das fontes, tanques e chafarizes da cidade impedindo que nesses sítios as peixeiras tratassem do seu peixe ou as fressureiras lavassem as miudezas que andavam a vender de porta em porta.

Muitos anos mais tarde, o zelo municipal ainda se mantinha activo porque em 1868 o vereador Tomás Joaquim Dias pediu à Câmara que mandasse fazer um estudo sobre os tanques e nascentes do então já chamado Campo de 24 de Agosto, por estarem a ser conspurcados pelos tintureiros."

Texto de Germano Silva publicado no Jornal de Notícias


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