Uma velha tradição, sem qualquer fundamento Histórico, atribuiu remotissímas origens à igreja de São Pedro de Miragaia. Recentemente defendeu-se que a tese que a igreja de São Paulo seria a capela da mesma invocação, em Campanhã o que nos parece pouco de aceitar. Este largo de S. Pedro de Miragaia vem, com certo pormenor descrito no «Portugal Antigo e Moderno» de Pinho Leal sobre indicações fornecidas pelo seu continuador, o abade de Miragaia, Dr. Pedro Augusto Ferreira. Actualmente, o Largo de S. Pedro de Miragaia fica entre as ruas de S.Pedro, de Tomás Gonzaga, Travessa de S. Pedro e Rua Ancira. (Toponímia Portuense de Andrea da Cunha e Freitas)
Um pouco sobre a história de Miragaia:
"Não podemos ignorar que o itinerário de António Pio situava na margem direita do Douro uma pequena povoação, de seu nome Gale, que, segundo Pinho Leal, significava defronte de Gaia. Seria o local dos que, vindos da Bracara Augusta para o sul, tinham de descansar antes de entrar nos barcos, no portus, e rumando a nascente do Castelo de Gaia seguiam para Lancobrica (a actual cidade da Feira), Talabrica (Aveiro) ou Aeminium (cerca da actual Coimbra).
O Castelo de Gaia, ou o que restava dele, desapareceu aquando das lutas liberais. Os miguelistas tinham-se apoiado naquele local, montando aí uma forte bateria que, segundo consta, seria a que bombardeou o Palácio dos Carrancas onde D. Pedro tinha estabelecido o seu quartel-general. D. Pedro, bombardeado no seu próprio quarto, mudou para Cedofeita, mas, no dia seguinte, na sua habitual visita as linhas, foi até aos canhões que tinham montado no local que chegou a ser conhecido como o da Bateria das Virtudes (onde esta hoje o SAOM) e, afinando a pontaria, desfez o reduto do Castelo de Gaia e, claro, as ruínas do próprio castelo. Se calhar e só uma interpretação dos factos, mas a verdade é que o que restava do castelo de Gaia desapareceu naquela altura.
Outros querem, por exemplo, que a antiguidade deste lugar seja atestada pela inscrição existente na Igreja e onde se lê "Prima Cathedralis fecit haec. Basilius oh egris quam pedibus sanus, condidit inde Petro", o que em versão portuguesa daria "Esta foi a primeira catedral do Porto. S. Basílio, apenas se viu são dos pés, a edificou, e por aquele motivo a dedicou a S. Pedro". Ora este S. Basílio morreu no ano 37, e segundo algumas opiniões poderá ter sido o primeiro bispo do Porto.
A ser assim, a Igreja de Miragaia teria sido fundada no ano 37, o que, convenhamos, seria antiguidade a mais....... E das duas uma: ou a tradução (ou a inscrição em si) é deficiente ou o S. Basílio é outro que não o referido como bispo do Porto, até porque no primeiro século da nossa era o Porto nem sequer existia. Carlos Passos, na vertical "Guia Histórica e Artística do Porto" supõem-na remontando ao século XIII e do tipo românico, mas a actual é do século XVIII, já que em 1740 foi a anterior demolida na sua quase totalidade - só escapou a capela-mor e os lados do transepto.
Na primeira metade do século XV, um grupo de arménios, fugindo dos turcos, em 1453, vejo até ao Porto, trazendo consigo as relíquias de S. Pantaleao, martirizado em 1305, em Nicomedia, e que haveria de ficar como patrono da cidade. Foram estas relíquias depositadas na Igreja de Miragaia e em cofre de prata lavrada oferecido por D. Manuel I, para dar cumprimento a uma das ultimas disposições do seu antecessor e primo D. João II, e mais tarde, em 12 de Dezembro de 1499, transferidas para a Sé do Porto por ordem do bispo de então, D. Diogo de Sousa.
Curiosamente, e aquando das lutas liberais, alguém fez desaparecer da Sé o cofre das relíquias... e nunca mais apareceu nem um, nem as outras. Pinho Leal escreveu que o ladrão tinha sido um nobre, que ele sabia quem era, mas não o dizia...
O nome desta nossa freguesia é controverso e, como não podia deixar de ser, a lenda entrou na vida (ou será que a vida entrou na lenda?), e o miragaiense Almeida Garrett, que nasceu, em 1779, na Rua do Calvário, recolheu da oralidade popular um romance que, pela sua mão, viu a luz do dia pela primeira vez no primeiro volume do Jornal de Belas Artes, em 1845.
Em resumo, no ano de 932, o rei Ramiro desceu da Galiza e veio raptar Zahara, a bela irmã do xeque Alboazar, e este, ofendido e por vingança, rapta a não menos bela esposa de Ramiro, a rainha Gaia, vindo a apaixonarem-se perdidamente um pelo outro. Ramiro, ignorando esta situação, vem com o filho e as suas gentes de armas até ao castelo do rei mouro que, na margem esquerda do Douro, se erguia no caminho do rio para a foz. Ramiro esconde as suas gentes na encosta, sob a folhagem, e vestido de romeiro sobe a rampa e fica junto a uma fonte, a espera de novidades. Uma criada vem buscar água fresca à fonte para a sua nova ama – a cristã. E logo Ramiro aproveita para esconder o seu próprio anel na água da bilha e fica a aguardar.
A rainha Gaia, ao encontrar o anel na água, pressente a verdade e manda chamar o romeiro a sua presença. Apaixonada pelo mouro, resolve desfazer-se do marido e, embriagando-o, prende-o num quarto, que se abre quando chega Alboazar. Ramiro tenta reagir mas é logo preso pelas gentes do mouro que, sorrindo, lhe pergunta o que lhe faria ele, rei cristão, se tivesse as mãos o seu inimigo. Ramiro, lembrando-se do que acordara com os seus homens, responde que lhe faria comer um capão, beber um canjirão de vinho, e depois coloca-lo-ia no alto da torre a tocar trompa até rebentar. Alboazar acha graça e diz-lhe que será então essa a sua morte e, para mais gáudio, manda abrir os portões do castelo a convidar todos os moradores extramuros a virem assistir.
Ramiro come, bebe, toca a trompa e de repente as suas gentes, ouvindo o sinal combinado, irrompem pelos portões abertos do castelo, chacinando as tropas sarracenas desprevenidas. O próprio Ramiro mata Alboazar e, pegando na mulher, ruma para o barco, seguido pelos seus homens. Já a bordo, encara, atónito, o pranto da esposa, que fita desolada as ruínas do castelo, e pergunta-lhe qual a razão:
Perguntas-me o que miro?
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
As torres daquele Alcácer
Que ainda estão a fumegar!
Se eu fui ali tão ditosa,
Se ah soube o que era amar,
Se ah me fica a alma e a vida...
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
Pois mira, Gaia! E, dizendo,
Da espada foi arrancar:
Mira Gaia, que esses olhos
Não terão mais que mirar!
Ainda hoje está dizendo
Na tradição popular,
Que o nome tem – Miragaia
Daquele fatal mirar.
Poderá ser só lenda, poderá... mas a encosta que o rei subiu chama-se a Rua do Rei Ramiro, a fonte e a Fonte do Rei Ramiro, as armas da cidade de Gaia estão encimadas por um cavaleiro tocando trompa, e a zona do Porto, frente ao local onde a rainha foi degolada, chama-se Miragaia...
O Padre J. Augusto Ferreira escreveu, nas suas Memórias Archeologico-Históricas da Cidade do Porto, que Miragaia começou a ser povoada em 1243 e, ao escrever-se sobre o Porto a morte do bispo D. Pedro Salvadores, em 24 de Junho de 1247, revela-se que nessa data Miragaia era um pequeno lugarejo de pescadores a beira-rio, haviam sido construídas setenta e cinco casas e mais algumas se estavam a construir.
Estes textos levar-nos-iam levianamente a supor que só em 1243 se começa a povoar Miragaia e que em 15 anos só se tinham levantado 75 casas nesta zona, mas o já citado escritor, no mesmo primeiro volume da sua obra, informa que das Inquirições de 1258, consta que, junto de Monchique, em menos de quinze anos se tinham erguido setenta e cinco casas, o que demonstra que se dilatava a cidade pelo Ocidente até Miragaia.
Quanto a nós, o que será mais correcto de interpretar destes textos e que Miragaia estava já ligada a cidade, e viria a adossar-se inclusive a muralha que D. Afonso IV viria a edificar, e que este desenvolvimento, de facto, e o caminho do ocidente, portanto de Monchique.
Alias, este nosso ponto de vista é reforçado pela leitura de Alexandre Herculano, em Lendas e Narrativas, onde escreve "A povoação de Miragaia assenta ao redor da Ermida de S. Pedro, que nos fins do século XIV trepava já para o lado do Olival e vinha entestar pelo norte com o couto de Cedofeita e pelo oriente com a vila no burgo episcopal".
E é nesta freguesia que se encontra a maior parte do que resta da mal chamada "Muralha Femandina". E esclareço que lhe chamo mal chamada muralha fernandina, porque tal titulo só lhe advém do facto de ter sido no reinado de D. Fernando que ela se acabou, quando, na verdade, quem teve a ideia da sua construção e a principiou foi D. Afonso IV, mais precisamente em 1336.
Os quintais e alguns prédios da Rua Barbosa de Castro, que contactam com as traseiras dos da Rua das Taipas, estão separados por panos de muralha, que só foi cortada para abertura da Rua das Taipas (fazendo desaparecer a porta deste nome), muralha que continua nos terrenos da Brevia dos Religiosos de S. Bernardo, hoje SAOM, onde existe o único postigo aberto na muralha para terra. Continua pelas traseiras dos prédios da Rua Tomas Gonzaga e só interrompe no local onde existiria o postigo da Esperança; e logo temos ali, ao nosso lado, um grande pano da muralha a descer as escadas do Caminho Novo até lá ao fundo, onde deveria ter estado a Porta Nobre.
Porta Nobre que teria sido mandada edificar por D. Manuel I para substituir ou, se quisermos, e supomos ser o mais correcto, para ampliar o velho Postigo da Praia de Miragaia. A Praia, que se estendia desta porta até Monchique, era conhecida como a "Praia do Mosqueiro", mas as gentes de então chamavam-Ihe somente a praia, e chegava. E é curioso que ainda nau há muito tempo, quando tentávamos a identificação de um postal existente na colecção da Biblioteca Municipal, ao contactarmos com as gentes mais antigas da zona, elas ainda denominaram o largo que forma a Rua de Miragaia, frente a Alfândega, como o "Largo da Praia"
Há por aí uma grande confusão e, talvez por se romper por aí a Rua Nova da Alfândega, ou, como costumo dizer por brincadeira, a Rua da Alfândega Nova, há quem queira nomear a tal porta como Porta Nobre.
Pinho Leal, no seu sempre consultado Portugal Antigo e Moderno, esclarece de vez este assunto, escrevendo: "Continua a muralha em direcção ao Sul, em linha ao rio Douro, atravessando a Rua da Esperança, em cujo sitio havia um pequeno postigo com o mesmo nome, o qual creio ter estado em terreno próximo a pequena Capela de Nossa Senhora dessa invocação, correndo como se vê, junto a ela, a muralha até fechar na porta nobre, assim nomeada por ser por ela que costumavam fazer a sua entrada "os Príncipes e grandes Senhores".
Alias, seguindo pela Rua de Miragaia, que foi cortada quando se criou ah o Largo da Alfandega, vamos encontrar uma antiquíssima fonte, simples, adossada a um prédio (alias protegida pela varanda do primeiro andar desse prédio), no local onde aparentemente a rua acaba, intitulada a Fonte da Colher. Foi restaurada em 1940, aquando da febre das comemorações dos centenários. Era um local de portagem, que desenvolveremos mais a frente, quando tratarmos das fontes da freguesia.
Alias, se há freguesia que ainda tenha locais e denominações a lembrar tempos recuados, essa é, por certo, Miragaia. E assim lembramos a Rua Ancira, frente a Igreja, que Sousa Reis acha que, porque e muito apertada (como alias quase todas as daquela época), derivaria o seu nome de "arecia-augusta-apertada". Supomos que a explicação e mais simples e derivara, na linha da Rua dos Arménios, de uma homenagem a lembrar a Ancara ou Angora, nome actual da antiga capital da província romana da Galasia, na Ásia Menor. Outra rua de nome curioso e a da Atafona, nome de um engenho de moer grão - e não nos podemos esquecer que relativamente perto, se bem que já na freguesia de S. Nicolau, existe a zona do forno comunitário, e ainda por lá ficou a Calcada do Formo Velho. E vamos, uma vez mais, chamar à puridade o "velho Sousa Reis, que informa que Atafona é um moinho de moer em seco e deriva o nome da palavra árabe Tamane, que significaria moer, ou do hebraico Tahane, que significa mó.
Esta atafona, e este moinho velho, trazem-nos a baila outra das grandes zonas desta freguesia – a dos judeus! Alias bem lembrada na toponímia miragaiense, com a Escada do Monte dos judeus, a Rua do Monte dos judeus e Os Cidrais – de baixo e de cima. Frei Fernando da Soledade, na sua História Seráfica, lembra que em 1410 foi dada autorização a Gil Vaz da Cunha para construir umas moradas no pequeno monte em que tinham habitado os judeus, e onde existia uma sinagoga abandonada. Era o Bairro dos judeus, em Monchique.
O Porto teve varias judiarias, os locais onde "arrumavam" os judeus. Eram perseguidos, na teoria, como culpados pela morte de Cristo, mas, na prática, por problemas económicos. A religião cristã proibia os fieis de ganharem com a onzena, o que, ao fim e ao cabo, os proibia de ganhar dinheiro com o dinheiro. Por aqui não surgiram grandes problemas - a Igreja cristã não os hostilizava e foram-se mantendo até ao decreto que, por força de umas saias, D. Manuel I promulgou. Mas mesmo aí não tiveram problemas os judeus de Miragaia e os outros do restante Porto. Quando receberam da Câmara a comunicação do decreto real, puderam, sem o menor vexame, embarcar no Douro com destino a Inglaterra e a Holanda.
O seu bairro, em Miragaia, ocupava um largo espaço entre a praia, a escarpa da bandeirinha e a zona de Monchique. Tinham a sua sinagoga própria e cemitério privativo. A sinagoga situar-se-ia no terreno onde, no século XVI, se construiu o Convento de Monchique, e o cemitério - o almocavar - localizar-se-ia ao fundo da rua da Bandeirinha, nuns terrenos hoje murados e que confinam com o local da dita Bandeirinha.
Quanto a bandeirinha propriamente dita, foi durante muito tempo mais uma das marcas do rio, uma das que serviam de orientação para quem subia o rio. Depois, no século XVIII, passou a ser conhecida como "bandeirinha da saúde", por ser o sinal indicativo de que nenhum barco devia ultrapassar essa zona sem receber primeiro a visita da inspecção sanitária. Eram tempos de peste e todos os cuidados eram poucos. Havia necessidade de evitar o contágio a cidade. Durante algum tempo, ainda que muito pouco, a paragem foi também obrigatória para a visita dos homens de Santo Oficio, à procura de livros ou símbolos de heresia ou desvio da religião oficial.
Era um plinto de granito, que sempre se manteve no seu sítio, onde se arvorava uma haste de ferro que suportava uma bandeira de chapa pintada de amarelo (a cor da peste). O ferro era encimado por uma espécie de esfera armilar. Por força do vento ou da corrosão, a haste, a bandeira e a esfera desapareceram, mas voltaremos a falar deste assunto com mais pormenor quando tratarmos da zona da Bandeirinha.
Do outro lado do largo fica o Palácio da Bandeirinha ou, para o portuense vulgar, o Palácio das Sereias, com o brasão dos Cunhas Portocarrero na frontaria, virada ao rio, ladeado por duas sereias em granito. Nos anos 4o era um local de peregrinação oculta dos "grandes" das escolas primarias das redondezas, para ver as "mamudas". E que naquele tempo ainda não havia televisão com programas hardcore e a pomografia ficava-se por uns beijos "à artista", em filmes mais ousados do Carlos Alberto ou do Parque das Camélias. E ter logo aí dois pares das ditas era mesmo motivo para peregrinação. Hélder Pacheco faz-se eco da lenda, que se contava nos tempos da avó dele, de que as sereias desnorteavam os rapazes. E a sua miragaiense avó retorquia sempre que "os encantamentos eram mas é os castigos dos meninos que iam lá acima ver as mulheres nuas. E ela bem sabia porquê...
O palacete foi mandado construir em 1575 pelo fidalgo D. Pedro da Cunha, enquanto sua esposa, D. Brites de Vilhena, mandava edificar o convento de Monchique. Durante o século XVII, foi o Palácio das Sereias habitado pela família dos Cunhas e Vilhenas. No século XVIII, passou para a família Portocarrero.
Aquando das invasões francesas, o então proprietário, oficial de artilharia, foi considerado, talvez pelo seu nome (Portocarrero), estrangeiro e o seu corpo foi arrastado pelas ruas, sendo depois lançado ao rio junto aos muros de Miragaia.
Por razão de partilhas, o Palácio foi vendido ao Instituto das Filhas da Caridade Canossianas Missionarias.
E, já que referimos Monchique, é altura de lembrar um dos privilégios dos homens do Porto e que, resumidamente, se cifrava no facto de ser proibido aos fidalgos residir ou passar largas temporadas no Porto. A evolução foi-se dando e os fidalgos foram abusando, fazendo esquecido o direito, até que, e como Camilo Castelo Branco tão bem evoca no seu Mosaico,"concedeu o Porto a Fernão Coutinho que vivesse nas suas casas de Monchique quarenta e cinco dias cada ano, repartidos em três temporadas, cada uma de quinze dias. Vindo o seu descendente Rodrigues Pereira ao Porto, e demorando-se mais de três dias para alem dos determinados, se ajuntou o povo e lhe pôs fogo às casas e houve mortos. Queixou-se Rodrigues Pereira ao juiz e vereadores. Os criminosos foram absolvidos por matarem e incendiarem em defesa dos seus privilégios.
A baixa de Miragaia, com as suas famosas arcadas, que mais não eram do que a frente das casas que davam para o areal, foi pouco a pouco sendo invadida pelo grupo terciário da nossa população, neste caso concreto os despachantes e transitários, e os seus escritórios foram tomando conta, como e habito, dos andares onde vivia gente. Mas o rio deixou de ter tráfego e as cargas por contentores, com muitas entregas directas aos importadores, foram cerceando a actividade dos despachantes e transitários e assiste-se agora ao fenómeno inverso: os escritórios partem e voltam as gentes, mas ainda há por cá muito inestética tabuleta a pedir legislação apropriada...
E, ao recordar a zona ribeirinha da vizinha Sé, temos de lembrar a da nossa freguesia. Nos tempos em que o rio era grande, como diz o nosso amigo e arrais Mestre Domingos, ou seja, no tempo em que não havia barragens no Douro, mal começavam as aguas a ameaçar a zona da Ribeira, já Miragaia as via a ameaçar as suas casas. E que a Alfândega foi construída sobre estacaria e dai que o contacto directo das aguas se faca rapidamente do rio para terra, através dos bueiros abertos para o movimento oposto. No ano de 1966, a agua foi tanta que algumas vezes voltou a entrar nas casas e os barcos tomaram a sulcar a Rua de Miragaia. A luta deste povo reflecte afinal o querer, a vontade indómita desta gente miragaiense, que se ergue impávida, briosa, a honrar-se como legitima descendente dos marinheiros de antanho que por aqui viviam.
Sendo uma das mais pequenas freguesias do Porto, não deixa de ser muito procurada por artistas do desenho e do pincel, que nas suas arcadas e ruelas vão encontrando, ao longo dos séculos, motivos de inspiração. Prova disso são, ao acaso, dois quadros que reproduzimos, de dois períodos tão diferentes: o romântico Gouvêa Portuense, publicado em livro de sua autoria, e o contemporâneo Angel Vasquez."
Júlio Couto ... "Guia de Miragaia"
Publicado pela Junta de Freguesia de Miragaia
Publicado pela Junta de Freguesia de Miragaia
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