28.9.07

Travessa de REQUEZENDE


Requezende

foto publicada e localizada aqui


Na freguesia de Ramalde há Rua e Travessa de Requesende, nome de remoto proprietário de uma «vila» neogótica, portanto de etimologia germânica: Rek + Send. Requesende figura já como topónimo em documento de 1010. (Toponímia Portuense de Andrea da Cunha e Freitas)

Travessa da RUA CHÃ II



1880

editada e localizada aqui

24.9.07

Quinta da Prelada


Segundo projecto parcialmente desenhado por Nasoni, a casa senhorial da Quinta da Prelada data do início da segunda metade do século XVIII. Pertenceu à família Noronha de Meneses até 1904, data em que foi doada à Santa Casa da Misericórdia do Porto. O portal que dá acesso à Quinta, do lado da Rua dos Castelos, é do século XVII. A zona florestal da Quinta, essencialmente pinheiros e eucaliptos, é actualmente o Parque de Campismo da Prelada. A Quinta inclui igualmente jardins desenhados por Nasoni. Esta área encontra-se em degradação e com ameaça de novas construções, pelo que poderia ser de futuro um vasto
espaço verde inserido numa zona densamente urbana da cidade. A Quinta da Prelada constitui também um dos espaços agrícolas e semi-abandonados remanescentes da cidade do Porto. Esta proposta pode ir mais longe do que salvaguardar a área verde já existente. A ideia seria criar uma autêntica rede ecológica. O espaço proposto foi rasgado pela construção da VCI em 1989. Quem o visitar, pode reparar num viaduto abandonado, sobre a via rápida.

Talvez fizesse parte de um antigo plano de urbanização que felizmente não foi para a frente.

O que fazer com este monstro de betão? As soluções convencionais seriam demoli-lo, ou aproveitá-lo para um novo plano de urbanização. Isso significaria a destruição de toda a envolvente, com uma nova avenida e edifícios a nascer do chão. Mas com imaginação e um pouco de ousadia podia-se aproveitá-lo de uma forma muito mais positiva. Se a área verde fosse salvaguardada, as duas metades poderiam ficar ligadas por um viaduto verde.
Tecnicamente, isso seria simples de concretizar. O viaduto é largo e foi construído para aguentar o peso dos carros e camiões que lhe iriam passar em cima. Bem integrado paisagisticamente e poder-se-ia percorrê-lo sem sequer perceber que se está sobre a estrada mais movimentada do Porto. Existem precedentes para este tipo de projecto: uma ponte verde numa cidade perto de Frankfurt e outra em Londres

(ver os links http://www.sublimephotography.co.uk/eastendphotos/milendpk/pages/greenbrpan.htm e
http://www.millennium.gov.uk/cgi-bin/item.cgi?id=1230&d=11&h=24&f=46&dateformat=
%25o-%25B-%25Y)

Texto publicado no Campo Aberto

ver igualmente a página publicada sobre a rua dos Castelos

Rua dos CASTELOS

rua dos castelos

Foto publicada aqui

D. Francisco de Noronha e Meneses, morreu a 25 de Fevereiro de 1904, deixando a Misericórdia do Porto como herdeira da quase toda a totalidade dos seus bens na Quinta da Prelada, em Ramalde, e propriedades anexas, para ali se fundar um hospital de convalescentes. Entre as verbas do inventário consta o muro da Rua dos Castelos. A Rua da Prelada é que ficou com a denominação actual de rua dos Castelos, nome certamente inspirado nas torres que Nicolau Nasoni imaginara para a magnifica quinta e palácio que à roda de 1740, e tantos desenhos para os fidalgos da Prelada. (Toponímia Portuense de Andrea da Cunha e Freitas)

Rua de CANDEMIL

2007

Rua de MEIXOMIL


meixomil


Beco de Carreiras


só hoje



21.9.07

Antigos nomes de ruas do Porto XI

Nomes Antigos _ _ _ Nomes Actuais

Rua Particular _ _ _ Rua Dr. Jacinto Nunes

Rua Particular de Agramonte _ _ _ Rua Particular de Meneses Rus­sel

Rua Particular dos Arcos _ _ _ Rua Honório Barreto

Rua Particular da Cruz _ _ _ Rua Nau S. Gabriel

Rua Particular da Fonte da Moura _ _ _ Rua do Lidador

Rua Particular do Monte Cativo _ _ _ Rua do Marão

Rua Particular de Fernão de Maga­lhães _ _ _ Rua de Brás Cubas

Travessa Particular de Júlio Dinis _ _ _ Rua Rodrigues Lobo

Rua Particular de Miguel Bombarda _ _ _ Rua Diogo Brandão

Rua Particular da R. Nova da Constituição _ _ _ Rua João Ramalho

Primeira Rua Particular de Salgueiros _ _ _ Rua da Fábrica de Salgueiros

Segunda Rua Particular de Salgueiros _ _ _ Rua do Monte Pedral

Rua Particular do Vale Formoso _ _ _ Rua de Alcácer Ceguer

Rua de Passos _ _ _ Rua de Fez

Travessa Passos Manuel _ _ _ Rua do Ateneu Comercial do Porto

Viela do Pasteleiro _ _ _ Rua Estreita dos Lóios

Avenida Patricio _ _ _ Rua Honório Lima

Viela das Pedras _ _ _ Travessa do Campo do Rou

Largo de Pereiró _ _ _ Praça Afrânio Peixoto

Largo da Picaria _ _ _ Largo de Mompilher

Travessa da Picaria _ _ _ Praça D. Filipa de Lencastre

Rua do Pinhal _ _ _ Rua Pêro de Alenquer

Travessa do Pinheiro _ _ _ Rua Dr. Ricardo Jorge

Rua das Pirâmides _ _ _ Avenida de França

Rua do Poço das Patas _ _ _ Rua Coelho Neto

Viela dos Poços _ _ _ Travessa do Carmo

Largo da Polícia _ _ _ Largo Actor Dias

Viela das Pombas _ _ _ Travessa do Grande Hotel

Porta Nobre _ _ _ Rua Nova da Alfândega

Porta do Olival _ _ _ Campo dos Mártires da Pátria

Largo da Póvoa _ _ _ Praça da Rainha D. Amélia

Praça Nova _ _ _ Praça da Liberdade

Rua da Praia _ _ _ Rua Coronel Raúl Peres

Bairro da Prelada _ _ _ Colónia Estêvão de Vasconcelos

Viela do Preto _ _ _ Rua do Castanheiro

Travessa da Princesa _ _ _ Rua João de Oliveira Ramos

Rua do Príncipe da Beira _ _ _ Rua de Cinco de Outubro

Rua do Príncipe Real _ _ _ Rua Latino Coelho e João Pedro Ribeiro

Travessa do Priorado _ _ _ Rua de S. Martinho

Rua Prof. Augusto Lessa _ _ _ Rua Augusto Lessa

Rua Públia Hortênsia _ _ _ Praceta Públia Hortência

Quelha de S. Pedro _ _ _ Rua da Senhora da Hora

Escadas da Rainha _ _ _ Terreiro de D. Afonso Henriques

Muro da Reboleira _ _ _ Muro dos Bacalhoeiros

Rua da Rainha _ _ _ Rua Antero de Quental

Bairro de Rebordões _ _ _ Bairro de S. João de Deus

Rua do Regado _ _ _ Rua de Monsanto

Campo da Regeneração _ _ _ Praça da República

Travessa das Regueiras _ _ _ Rua Luís de Aguiar

Largo do Repouso _ _ _ Largo Soares dos Reis

Travessa do Rosário _ _ _ Rua Professor Jaime Rios de Sousa

Rotunda da Boavista _ _ _ Praça Mouzinho de Albuquerque

Rotunda do Castelo do Queijo _ _ _ Praça Gonçalves Zarco

Lugar de Sacais _ _ _ Rua Ferreira Cardoso

Rua de Sacais _ _ _ Avenida Camilo

Bairro Salazar _ _ _ Bairro do Ilhéu

Rua de Salgueiros _ _ _ Rua Cervantes

Viela da Sampaia _ _ _ Travessa Alferes Malheiro

Travessa de Santa Catarina _ _ _ Rua João de Oliveira Ramos

Travessa de Santa Catarina ( Lor­delo) _ _ _ Travessa de Luís Cruz

Largo de Santa Clara _ _ _ Largo Primeiro de Dezembro

Rua Santa Isabel _ _ _ Rua do Tenente Vidal Pinheiro

Praça de Santa Teresa _ _ _ Praça Guilherme Gomes Fernandes

Largo de Santo André _ _ _ Praça dos Poveiros

Rua de Santo António _ _ _ Rua 31 de Janeiro

Campo de Santo Ovídio _ _ _ Praça da República

Travessa de Santos _ _ _ Rua Paulo Dias de Novais

Travessa de Santos Pousada _ _ _ Rua dos Abraços

Largo de S. Crispim _ _ _ Largo da Póvoa

Beco de S. Dionísio _ _ _ Pátio de S. Dionísio

Rua de S. Jerónimo _ _ _ Rua Santos Pousada

Travessa de S. João _ _ _ Rua do Clube Fluvial Portuense

Jardim de S. Lázaro _ _ _ Jardim Marques de Oliveira

Rua de S. Lázaro _ _ _ Avenida Rodrigues de Freitas

Travessa de S. Paulo _ _ _ Rua de Chaimite

Viela de S. Paulo _ _ _ Rua de Coolela

Rua de S. Roque _ _ _ Pátio de S. Salvador

Viela de S. Salvador _ _ _ Rua da Vitória

Travessa S. Sebastião _ _ _ Rua Felizardo de Lima

Avenida Saraiva de Carvalho _ _ _ Avenida Vímara Peres

Largo da Sé _ _ _ Terreiro da Sé

Viela do Seixal _ _ _ Rua Aurélia de Sousa

Monte do Seminário _ _ _ Largo Padre Baltazar Guedes



O Forte da Ervilha

"O período mais empolgante da história do Porto é, para mim, o do Cerco que, entre 22 de Agosto de 1832 e 18 de Agosto de 1833, lhe foi imposto pelo exército Absolutista. Defendido por um corpo de 8 000 homens do exército liberal, o burgo foi sitiado por cerca de 80.000 soldados, providos de larga superioridade também de armamento. A partir de 26 de Julho, em que D. Pedro e o seu Conselho Militar, perante os insucessos das acções ofensivas, optaram por uma guerra defensiva, a sorte da cidade estava traçada resistir a todo o custo ("a guerra seria um cerco; o Porto um baluarte defendido pelas suas íngremes encostas, pelo fosso natural do rio, ligado ao Mundo pelo cordão umbilical da Foz; um baluarte de gente perdidamente heróica, no meio de um aluvião de soldados; um ponto, como uma ilha no vasto pélago do reino inteiro miguelista!", Oliveira Martins). Meses depois, a situação tornar-se-ia quase desesperada e tudo os portuenses tiveram de suportar: fome, epidemias (cólera e tifo), deserções de soldados, bombardeamentos e destruições. (Oliveira Martins: "As noites seguiram tremendas, com o céu constelado de estrelas errantes portadoras de morte. Havia tifos e a fome era já tanta que os soldados de Shaw saíam a caçar os cães que vinham cevar-se nos cadáveres, para os venderem à libra às casas de pasto. Havia frio sem lenha.")

A defesa da cidade, delineada por Bernardo Sá Nogueira, assentava num sistema de fortificações - as "linhas" - constituído por parapeitos, trincheiras e fossos, guarnecidos por estacadas. As linhas iam, inicialmente, da Quinta da China até ao Bicalho, passando pelo Padrão de Campanhã, Lomba, Bonfim, Póvoa de Cima, Aguardente, Monte Pedral, Carvalhido, Bom Sucesso. Ao longo delas, havia redutos e batarias. Posteriormente, seriam ampliadas do Carvalhido por Francos, Van Zeller e Pasteleiro até à Senhora da Luz.

Fora das linhas, nuns sítios próximos, noutros afastadas, os miguelistas construíram também batarias e fortes. Alguns destacavam-se pela sua importância, entre os quais o da Ervilha. Construído em 1832, aproveitando talvez a elevação (com 4x6 metros) já utilizada como Linha de Defesa do Porto, em 1809, contra os franceses, dominava a vizinhança e tinha ligação visual com elevações semelhantes, cuja utilização militar concedia relativo domínio sobre as forças inimigas postadas nas proximidades. Em cima, existiam duas pequenas grutas servindo de paiolins ou de abrigos das guarnições dos canhões ali postados.

O Espaldão ou Forte da Ervilha, juntamente com os do Monte do Crasto e de Serralves, integrava um conjunto fortemente organizado das linhas sitiantes. Eram obras bem concebidas e executadas, rodeadas por muros de sebes e estevas, reforçados com parapeitos à prova de bala. No interior, havia instalações para as guarnições. Em 24.1.1833, o forte foi atacado e temporariamente ocupado por uma força liberal, na tentativa de o neutralizar. O que resta do Forte da Ervilha constitui a única posição desta área fortificada ainda existente e único vestígio material da saga heróica das Linhas do Porto e testemunho essencial à memória histórica da cidade.

Há quase 25 anos, o meu saudoso amigo Manuel Matos Fernandes levou-me lá e mostrou-me o sítio, ainda como elevação verdejante, homogénea, mostrando nítidos sulcos que seriam marcas dos rodados das peças de artilharia. O aspecto geral parecia estabilizado mas, à volta, a construção civil começava a aproximar-se. Aquele tripeiro indefectível falou-me da sua preocupação quanto ao futuro do "monumento" e facultou-me um documento que elaborara no sentido de defendê-lo perante ataques, não já dos combatentes do cerco, mas de inimigos mais insidiosos. Nesse documento, dizia "Este lugar ainda não desfeito pela construção civil está na iminência de o ser, se nada ou ninguém o preservar. Sugeria-se a sua manutenção como espaço verde no meio do cimento, onde, por meio de uma lápide, se recorde a quem por ali passe os eventos históricos que neste lugar aconteceram."

Tempos depois, o ataque estava em curso e o espaldão convertera-se em terreno de actuação de motoqueiros, que devastaram a sua cobertura vegetal, arrasaram o cume e destruíram as marcas dos canhões. À volta, crescia o mato e os caixotes aproximavam-se. A abertura de uma rua ameaçava-o. Felizmente a rua (Prof. Rudolfo Abreu) desviou-se e passou ao lado (o que poderá, pela acessibilidade, valorizar o monumento). Mas com ela poderá vir o assalto imobiliário definitivo. Por tudo isto, pela salvaguarda da memória do Porto, pela consciência histórica da cidade, pelo respeito devido ao heroísmo do burgo na defesa da liberdade, apelo à Câmara Municipal para que fique lembrada pela protecção e valorização deste sítio venerável da cidade que se tornou "Heróica, Eterna e Invicta", e rejeite colocar-se ao lado da «série patológica de delinquentes" (Ramalho Ortigão dixit) que têm destruído o espírito do burgo."

Texto de Hélder Pacheco , Professor e escritor, publicado no Jornal de Notícias


19.9.07

Compreender a toponímia lendo velhos almanaques

Artigo de Germano Silva publicado no Jornal de Notícias


Quem quer que pretenda saber um pouco mais acerca da antiga toponímia do Porto dificilmente conseguirá atingir os seus objectivos se dispensar a leitura dos roteiros , insertos em velhos almanaques dos finais do século XIX, guias e elucidários.

Acabo de folhear um desses livrinhos ("Elucidário do Viajante no Porto"), publicado em 1864, e confesso que os meus conhecimentos sobre a localização de algumas artérias da cidade, entretanto desaparecidas, ficaram muito mais enriquecidos depois da leitura desse volume de pouco mais de 150 páginas e que se vendia por 600 reis o exemplar.

Começo por um sítio que me é muito querido a zona da Praça dos Poveiros e imediações. Ainda hoje por ali topamos com nomes de artérias que nos trazem à memória o ambiente de ruralidade que deve ter caracterizado aqueles sítios em tempos idos: Arrabalde e Campinho, por exemplo.

Leio sobre esta zona uma curiosa descrição "… a estrada que da cidade do Porto conduzia, pelo lugar de Valongo, até Penafiel e Vila Real, principiava na Rua de Entre-Muros ou de Entre- Paredes, a qual ainda conserva esse nome, seguia pelo Campinho, Largo do Arrabalde, devesal do Caramujo, no ponto do Padrão, passava no Largo de Mijavelhas (actual Campo de 24 de Agosto) e indo pelo chão dos Olivais (Rua do Bonfim) passava ao lado do monte de Godim…"

O devesal do Caramujo (lugar abundante em árvore e pastos) desapareceu quando se rasgou a Rua da Alegria. Ao certo não se sabe qual é a origem desse nome, mas o mais provável é que tenha origem no apelido de um dos dois mais importantes proprietários locais André Gonçalves, o Caramujo, que vivia em Miragaia; e o licenciado João Alvares Caramujo. Com a designação de Caramujo houve uma rua e uma viela, que são já coisa do passado.

A propósito do "chão dos Olivais", nome antigo dado à actual Rua do Bonfim, era por esse "chão" que, no tempo da Quaresma, passava uma imponente Via Sacra que tinha o seu começo junto da capela de Nossa Senhora da Batalha, à entrada da Rua de Cima de Vila, e que terminava no alto do Monte de Godim, onde se construiu a igreja paroquial do Bonfim.

A actual Rua de Santo Ildefonso (antiga Rua Direita) ainda não existia como artéria, quando se deu início ao culto da Via Sacra.

A rua, que também teve o nome de 23 de Julho, em memória do combate da Ponte de Ferreira, travado entre liberais e absolutistas durante a guerra civil (1832/33), foi rasgada ao longo de terrenos que faziam parte do Campo dos Trapeiros, no lugar da Pocinha, e daí que a sua primeira designação tivesse sido a de Rua dos Trapeiros.

Tomando como ponto de partida a Praça da Batalha, ao tempo em que ainda lá existia a Capela de Nossa Senhora da Batalha, quem, ainda no século XVIII, se dirigisse na direcção do Norte tinha obrigatoriamente que meter por uma estreita artéria chamada Viela dos Matos, posteriormente crismada de Viela do Adro ( do adro da igreja de Santo Ildefonso) que dava acesso à actual Rua de Santa Catarina.

Por aqueles tempos, os terrenos compreendidos entre as actuais ruas de 31 de Janeiro e de Santa Catarina ainda não estavam totalmente urbanizados. Faziam parte de quintas ou eram terrenos de cultivo e lavradio. A dona das mais importantes parcelas era a D. Antónia Adelaide Ferreira, a célebre Ferreirinha da Régua.

Onde foi construído o edifício do actual Grande Hotel do Porto havia a Viela das Pombas, que é hoje uma rua com o nome de António Pedro. Em tempos idos, esta artéria tinha ligação com a desaparecida Viela da Neta, que foi substituída, em parte, pela moderna Rua de Sá da Bandeira. A Viela da Neta, de triste memória, tinha também ligação com a actual Rua Formosa, numa altura em que a esta artéria se dava a popular designação de Rua do Enforcado. Esta denominação anda ligada a um triste episódio que ocorreu por ali e teve como protagonistas um galego e a sua ama. Aquele assassinou a patroa para a roubar. Não tardou a ser preso e a forca, onde foi condenado a morrer, levantou-se em frente à casa da ama. Depois da execução, a cabeça e as mãos do galego ficaram pregadas na forca por muito tempo…




18.9.07

Antigos nomes de ruas do Porto X


Nomes Antigos _ _ _ Nomes Actuais

Travessa das Musas _ _ _ Rua Raúl Dória

Avenida das Nações Aliadas _ _ _ Avenida dos Aliados

Rua do Nogueira _ _ _ Rua Padre José Pacheco Monte

Rua Nova dos Arcos _ _ _ Rua Freire de Andrade

Travessa Nova dos Arcos _ _ _ Rua Conde de Vilas Boas

Rua Nova da Constituição _ _ _ Rua Carlos Malheiro Dias

Rua Nova da Estação _ _ _ Rua Justino Teixeira

Rua Nova da Estação de Contu­mil _ _ _ Rua Avelino Ribeiro

Rua Nova da Granja _ _ _ Rua Oito de Setembro

Rua Nova da Lomba _ _ _ Rua de Vera Cruz

Travessa Particular Nova da Lomba _ _ _ Travessa Particular Vera Cruz

Rua Nova de Montebelo _ _ _ Avenida Fernão de Magalhães

Rua Nova de Montelouro _ _ _ Rua Almirante Leote do Rego

Rua Nova do Monte Pedral _ _ _ Rua Egas Moniz

Rua Nova do Palácio _ _ _ Rua Jorge Viterbo Ferreira

Rua Nova de Paranhos _ _ _ Rua do Carvalhido

Travessa Nova de Paranhos _ _ _ Travessa do Carvalhido

Rua Nova da Paz _ _ _ Rua do Padre Cruz

Rua Nova de Pereiró _ _ _ Rua Dr. Pedro de Sousa

Rua Nova da Prelada _ _ _ Rua Airosa

Rua Nova de S. Domingos _ _ _ Rua Dr. Sousa Viterbo

Nova Travessa de Álvaro de Castelões _ _ _ Rua António José da Silva

Rua Nova do Túnel _ _ _ Rua Cândida Sá de Albergaria

Travessa de Nove de Abril _ _ _ Travessa da Bica Velha

Travessa de Nove de Julho _ _ _ Rua D. Nicolau Monteiro

Praça de Nunes da Ponte _ _ _ Praça de Goa

Rua das Olaias _ _ _ Rua Furriel Guilherme Dantas

Rua Oliveira Martins _ _ _ Rua das Aguas Férreas

Travessa Oliveira Monteiro _ _ _ Rua D. António Barroso

Rua Oriental do Bolhão _ _ _ Rua Alexandre Braga

Largo do Ouro _ _ _ Largo António Cálem

Lugar do Outeiro _ _ _ Rua da Fonte do Outeiro

Travessa do Outeiro _ _ _ Travessa da Paz

Rua do Paço _ _ _ Rua Clemente Menéres

Largo do Paço Episcopal _ _ _ Terreiro de D. Afonso Henriques

Rua do Paço Episcopal _ _ _ Terreiro de D. Afonso Henriques

Rampa dos Padeiros _ _ _ Praça da Alegria

Rua do Paiol _ _ _ Rua Ribeiro de Sousa

Rua Paiva Couceiro _ _ _ Rua Honório Barreto

Viela da Palha _ _ _ Rua do Amparo

Avenida das Palmeiras _ _ _ Avenida D. Carlos I

Beco de Pamparona _ _ _ Pátio das Japoneiras

Rua das Pamplonas _ _ _ Rua Álvares Cabral

13.9.07

Largo SOARES DOS REIS

Busto da engenheira Virgínia Moura no Largo Soares dos Reis

Virgínia Moura nasceu em 19 de Julho de 1915 em S. Martinho do Conde, Guimarães e faleceu no Porto a 19 de Abril de 1998).

Data de 1933 a sua ligação ao PCP, tendo nesse ano participado na organização da secção portuguesa do Socorro Vermelho (Organização de Socorro aos Presos Políticos Portugueses e Espanhóis).

Primeira mulher portuguesa a obter o título de engenheira civil, foi-lhe negado o acesso à Função Pública, pois a ficha policial já então a assinalava como séria opositora da ditadura fascista. Cursou ainda Matemáticas e frequentou a Faculdade de Letras de Coimbra.

Desenvolveu uma intensa actividade cultural no Porto nos anos quarenta e cinquenta, tendo colaborado (sob o pseudónimo de Maria Selma) em vários jornais e revistas, promovido a edição da revista «Sol Nascente» e diversas conferências com a participação de Teixeira de Pascoais, Maria Isabel Aboim Inglês e Maria Lamas.

A sua intensa, firme e corajosa actividade política contra o regime fascista levou-a a em 1949 à primeira prisão o que, até ao 25 de Abril, viria a repetir-se 15 vezes.

Ainda na clandestinidade, foi membro do Comité Central do Partido Comunista Português.

Depois do 25 de Abril e nas novas condições de liberdade, Virgínia Moura continuou a luta em defesa e consolidação do regime democrático, pelas transformações capazes de assegurar uma sociedade mais justa, por um Portugal de Abril rumo ao socialismo.

Virgínia Moura foi distinguida com a Ordem da Liberdade e recebeu a Medalha de Honra da Câmara Municipal do Porto e do Movimento Democrático de Mulheres.

Por ocasião do seu octogésimo aniversário, foi-lhe prestada, no Palácio de Cristal, uma expressiva homenagem, tendo sido então publicado, pelas edições «Avante!», o livro «Virgínia Moura, mulher de Abril - Álbum de memórias».

Texto publicado no AVANTE

Curiosidades:

O edifício da esquina com a rua do Heroísmo, actualmente ocupado pelo Museu Militar, albergou, durante o fascismo, a delegação da PIDE/DGS.
Também aqui se encontram outras referências.

Sobre Soares dos Reis pode consultar a "wikipedia"


Rua das ANDREZAS


2007



Esta artéria começa na rua do Pinheiro Manso


e termina na rua Direita de Francos.


Rua RICARDO SEVERO



Foto editada e publicada no Flickr

RICARDO SEVERO DA FONSECA E COSTA ( Lisboa, 3/2/1869 - S. Paulo (Brasil) - 3/4/1940). Formado em Engenharia pela Escola Politécnica do Porto. Em 1908 emigrou para o Brasil. Casou-se com FRANCISCA DUMONT DA FONSECA. Foi jornalista, conferencista e arqueólogo. Colaborador da "Portugália". Estudou na Academia Politécnica do Porto, fundou com outros companheiros, e com o apoio de JÚLIO DE MATOS, BASÍLIO TELES e depois do conselheiro Venceslau de Lima, a Sociedade de Carlos Ribeiro (1888), que no ano seguinte começou a publicar a importante «Revista de Ciências Naturais e Sociais», a que sucedeu, em 1899, a notabilíssima «Portugália» (1899-1908), com Rocha Peixoto e Fonseca Cardoso. Retirando-se Ricardo Severo neste ano de 1908 para o Brasil, aí se estabeleceu definitivamente, exercendo brilhantemente a sua profissão de engenheiro, devendo-se-lhe muitos dos mais importantes edifícios da cidade paulista. Continuou sempre um fervoroso cultor dos assuntos portugueses, que apaixonadamente estudava, mantendo as ideias que inspiraram a sua obra desde a mocidade - republicano de doutrinação nacionalista.

Para saber mais sobre Ricardo Severo > Aqui


No gaveto desta rua com a avenida da Boavista encontra-se um "Edifício para Consultórios e Clínica" cujo autor do projecto foi o arquitecto João Serôdio. A entrada para este prédio ao nível da avenida perfura um muro pré-existente.

12.9.07

Rua das DOZE CASAS



A mais antiga menção, que conhecemos, das Doze Casas, data de 1820, num registo paroquial de Santo Ildefonso.... ("Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)

11.9.07

As Ruas do Porto no século XIX

O Porto de Júlio Dinis

por Jorge Vilas em "Jornal de Notícias"

Júlio Dinis em "Uma Família Inglesa", editado em 1867, escreve que o Porto do seu tempo se dividia naturalmente em três regiões, distintas por (possuírem) fisionomias particulares. Eram elas a região oriental, a central e a ocidental ... sendo que na segunda predominava o portuense propriamente dito; na oriental, o brasileiro de "torna viagem" ; e na ocidental, o inglês, por nela terem as suas residências os súbditos de Sua Majestade que se dedicavam ao comércio do Vinho do Porto.

Aquele que deu à estampa, um ano mais tarde, "A Morgadinha dos Canaviais" é muito crítico em relação ao que ele designa, também de bairro central. Diz ele que ali predominam "a loja, o balcão, o escritório, a casa de muitas janelas, as crueldades arquitectónicas a que se sujeitam velhos casarões com o intuito de os modernizar"... Fala ainda da "rua estreita muito vigiada de polícias"; das "ruas em cujas esquinas estacionam galegos armados de pau e corda"; das "ruas ameaçadas de procissões, as mais propensas à lama"; daquelas "onde mais se compra e vende, onde mais se trabalha de dia, onde mais se dorme de noite". Para aquele que, além de escritor, também foi lente da Escola Médico Cirúrgica do Porto, no bairro central do Porto tinha ainda "muitos ares do velho burgo do bispo, não obstante as aparências modernas que revestiu".

E agora, que pensava Júlio Dinis da região (ou bairro) ocidental ? Era, naquele tempo - e ainda hoje o é em grande medida - uma zona da cidade onde predominava uma "arquitectura despretensiosa, mas elegante; janelas rectangulares; o peitoril mais usado do que a sacada". Em suma era "uma manifestação de um viver mais íntimo, porque o peitoril tem muito menos de indiscreto do que a varanda". Muitas dessas residências situavam-se ao fundo dos jardins "assombrados de acácias, tílias e magnólias, cortados de avenidas tortuosas". A todos os títulos, um viver recolhido "chaminés fumegando quase constantemente, persianas e transparentes de fazerem desesperar curiosidades"...

Por último o bairro (ou região) ocidental, segundo Júlio Dinis. Ele descreve-o, já o referimos, como a zona da cidade mais procurada pelos "capitalistas que recolhem da América". Camilo Castelo Branco era muito caustico com os usos e costumes destes "brasileiros"; Júlio Dinis, não lhe fica atrás, embora a sua crítica fosse mais "soft". Predominam, escreveu ele ainda em "Uma Família Inglesa", que as construções naquela zona eram "enormes moles graníticas, a que chamam palacetes, o portal largo, as paredes a azulejo azul, verde ou amarelo, liso ou de relevo (...) portões de ferro com o nome do proprietário e a era da edificação". "E , remata ele, pelas janelas quase sempre algum capitalista ocioso" !

Este "Bairro dos Brasileiros" desenvolveu-se à custa de Quinta do Cirne, um vasto território portuense que ficaria hoje entre S. Lázaro e o cemitério do Prado do Repouso; e entre o Campo de 24 de Agosto e a Praça da Alegria. Aquela vasta quinta fora comprada por uma parceria de capitalistas, entre eles alguns "brasileiros", aos herdeiros de Francisco Cirne Madureira e, a pouco e pouco, transformou-se numa urbanização populosa e elegante. Não obstante, os abastardamentos que foram introduzidos ao longo de mais de um século aquela zona da cidade ainda hoje mantém um ar de "boulevard" parisiense em miniatura, é certo, mas mesmo assim digna da admiração de dois jornalistas gauleses que, comigo, flanaram pelas duas do Duque de Saldanha, do Barão de S. Cosme e Avenida de Rodrigues de Freitas, entre outras.

A zona desenvolveu-se a partir de 1875, quando, concluída a Ponte de Maria Pia, abriu a que é hoje Estação de Campanhã. Ela, por si só, uma outra fisionomia da cidade.


10.9.07

Largo DR. TITO FONTES


Já se chamou Largo do Bonjardim. Entre a Rua do Bonjardim antes desta atravessar a Rua Gonçalo Cristóvão. Em frente já na Rua Gonçalo Cristóvão estavam as escolas primárias: Escolas Paroquiais de Santo Ildefonso, fundadas em 1886. No mesmo edifício encontravam-se instaladas a Regedoria e a Junta de Santo Ildefonso assim como uma Biblioteca Popular.

estátua de Raúl Dória

Sobre o Dr. Tito Fontes:
TITO AUGUSTO FONTES – (Valença, 1854 – Valença 2/12/1933) Formou-se em Medicina em 1880. Em 1910 era membro do Centro Regenerador do Porto (juntamente com o conde de Lumbrales, de Alijó, Clemente Meneres, etc). Nomeado sócio benemérito da Sociedade Protectora dos Animais em Setembro de 1909. Teve um particular interesse pela tuberculose, que estudou em Berlim e em Paris. Foi director do Hospital da Misericórdia do Porto (S. António). Com Júlio de Matos, Magalhães Lemos e Franchini, fundou a Casa de Saúde Portuense. Com Alfredo de Magalhães e C. de Pinho organizou o Congresso de Tuberculose no Porto. Entre outros cargos políticos foi Deputado e Governador Civil. Também pertenceu à junta Geral do Distrito e à Câmara Municipal. Foi um dos primeiros médicos a utilizar um automóvel, e, graças a ele foram plantadas árvores em várias artérias da cidade por crianças das escolas primárias.


Pequena nota biográfica sobre Raúl Dória:

RAÚL MONTES DA SILVA DÓRIA - (1878 - 15 /9/1922), aos 44 anos. Fundador aos 24 anos da famosa “Escola Prática Comercial Raúl Dória”. Frequentou o velho Instituto Industrial e Comercial do Porto. Começou por dar explicações. Era exímio em caligrafia. (ver uma biografia completa aqui)

Mais acima, mesmo antes de chegar à Fontinha fica a rua Raúl Dória.


Sobre a "Escola Prática e Comercial Raúl Dória", situada ali bem perto deste largo, na rua Gonçalo Cristóvão (onde actualmente se encontra o edifício do "Jornal de Notícias", pode encontrar mais informação e fotografias no blogue "Restos de Colecção".

9.9.07

Rua do MIRANTE

mirante

Sobre a origem do nome desta rua:
" MIRANTE, QUINTA - Propriedade dos irmãos Bragas.
A origem deste topónimo tem a ver exactamente com um mirante ou caramanchão (conhecido também por casa de fresco) que existia mais ou menos a meio da actual rua do Mirante, do lado esquerdo para quem sobe da rua de Cedofeita.


O povo referia-se-lhe como o “mirante dos Bragas”, donde se podia abarcar um vasto panorama até ao mar.


Antes esta quinta chamava-se Quinta dos Carvalhos do Monte. Dela faziam parte os terrenos onde esteve instalado o Colégio Almeida Garrett. Era uma enorme propriedade que se estendia pela parte alta da Rua de Cedofeita até bastante além da actual Rua dos Bragas. Arruamento que os Bragas cederam para a sua abertura.


No século XVII era senhorio directo da Quinta dos Carvalhos do Monte o Cabido da Colegiada de Cedofeita e pertencia a Maria Gonçalves, mulher de Lourenço Alvares que foram os ascendentes directos de António e José Ribeiro Braga que a habitavam desde 1827.


Quando as tropas miguelistas cercaram a cidade, a casa da Quinta do Mirante foi ocupada pelo exército Liberal que nela instalou o Regimento de Infantaria nº 10. O casal acima referido teve uma filha que se casou com um abastado lavrador de Lordelo do Ouro." - Apontamento coligido por Jorge Rodrigues


7.9.07

Buracos na página da Toponímia da Câmara Municipal do Porto

Por razões mais ou menos óbvias devo ser um dos leitores mais assíduos daquele cantinho, quase desconhecido, do "website" municipal.

Hoje, procurando algo, verifiquei o silêncio absoluto em relação à "rua Mário Bonito" e à "rua do Mirante". Também fiquei a saber que a ponte Maria Pia é uma das artérias da cidade!

Procurai, senhores, o nome do Mário Bonito para os lados do "FCP" (Futebol Clube do Porto) ou para os lados do "CPC - CCP" (Clube Português de Cinematografia), senão o "IAP XX" talvez vos diga que foi o arquitecto que traçou o prédio onde se encontra a Livraria Leitura.


5.9.07

Rua do PARAÍSO


Foto publicada e localizada aqui

Na planta de 1813 aparece como travessa da Senhora da Lapa.
Segundo o Roteiro de 1891 tinha o nome de rua dos Ferreiros.

A Cooperativa de Solidariedade Social do Povo Portuense (CRL) encontra-se no número 217 desta rua, na esquina da rua de Camões.

4.9.07

Rua PADRE HIMALAYA

busto do Padre Himalaya em Arcos de Valdevez

Manuel Himalaya (1868-1933) *






Padre Himalaya numa fotografia datada de 1902. A dedicatória manuscrita é dirigida aos pais e irmãos (Arquivo Professor Jacinto Rodrigues)

[clique nas imagens para as ampliar]














Manuel António Gomes nasceu a 9 de Dezembro de 1868 em Santiago de Cendufe, concelho de Arcos de Valdevez, no seio de uma família de agricultores pobres. Viveu a infância em casa dos avós na aldeia do Souto, perto de Cendufe, onde, segundo Jacinto Rodrigues, o seu principal biógrafo, auxiliou nos trabalhos agrícolas e pecuários. Como era vulgar na época, para aceder aos estudos foi enviado para o seminário de Braga, em 1882. E terá sido ali que um jovem chamado Roriz o alcunhou de Himalaya, devido à sua estatura invulgar. Manuel Gomes aceitou a brincadeira e adoptou o nome, passando a assinar Manuel Himalaya.


Defendendo ideias filosóficas próprias e opondo-se, por vezes, ao discurso dogmático dos professores, o jovem seminarista preferia voltar-se para outras fontes do saber: "Li quanto nesse tempo existia sobre astronomia popular de Flammarion, sobre Antropologia de Quatrefages, Topinard etc., sobre Física de Jasmin e Bouffi, sobre Química de Troost, Schutzemberger, etc., sobre Zoologia de Breme, sobre Geologia, Botânica, etc., não falando nas obras apologéticas 'A Religião em face da Ciência', obra de Vigouroux.", escreveria numa carta datada de 9 de Agosto de 1901, dirigida a Gaspar – um dos seus seis irmãos.

Em Junho de 1890, terminou o curso teológico e foi para o Colégio da Formiga, em Ermesinde, onde foi ordenado padre a 26 de Julho de 1891. A investigação e o interesse pela energia solar eclodiram por esta altura. O Jornal "A Província" publicara em Janeiro de 1888 um artigo em que descrevia as experiências realizadas em França por Mouchot. Aquele inventor criara um forno solar, um prato cónico que reflectia a luz para um foco, onde um cadinho era aquecido a temperaturas elevadas.

Na Primavera de 1899, Himalaya partiu para Paris com o patrocínio de uma benfeitora, D. Emília Josefina dos Santos, e o encorajamento do bispo de Braga e do químico portuense Ferreira da Silva. Chegou à capital francesa com as obras da Exposição Universal de 1900 em curso, onde se erguia na altura a Torre Eiffel, hoje o mais famoso dos ícones da cidade.


Apesar de não possuir uma formação avançada em ciências, o padre Himalaya pôde, em certa medida, compensar essa falta com a frequência de cursos ministrados por cientistas de renome ou através do contacto com esses sábios. Aí assistiu às aulas do químico Berthelot, conhecido pelos seus trabalhos no domínio da termodinâmica e como historiador da alquimia e da química vegetal, no Collège de France. Também frequentou os cursos de Moissan e Violle, na Universidade de Paris, e as conferências de Edouard Brandy no Institut Catholique. O engenheiro Jacques Ainé, professor no Conservatório Nacional das Artes e Ofícios, também o ajudou permitindo que o registo de patentes fosse realizado através do seu gabinete. A grande motivação de Himalaya para as inovações no campo da energia solar era a oxidação do azoto atmosférico, produzindo assim um componente usado no fabrico de fertilizantes para a agricultura.


Em 1900, começam as experiências de Himalaya com protótipos de fornos solares.

Em Castel d'Ultrera, nos Pirenéus franceses, numa região isolada, longe de olhares indiscretos, foi montado o primeiro protótipo que fazia uso de uma lente de Fresnel. Um conjunto de anéis concêntricos desviava a luz, por reflexão, para um foco colocado debaixo da "lente". Todo o modelo era orientado para o Sol através de um sistema de carris circulares. Os resultados obtidos não foram tão bons como o esperado, mas, ainda assim, segundo os registos da época, atingiram-se temperaturas da ordem de 1.500º C, suficientes para fundir o ferro.


Após a experiência gaulesa, o padre Himalaya aperfeiçoou a concepção de um novo forno solar que apresentou em Lisboa, na Tapada da Ajuda, mas desta vez sem sucesso. A experiência correu mal e lançou o descrédito sobre o seu trabalho. Foi assim com enorme esforço que conseguiu convencer a sua principal financiadora, a condessa da Penha Longa, a pagar o investimento da participação na Feira Mundial de St. Louis. Este era, aliás, um projecto em que Manuel Himalaya estava particularmente empenhado. Em Abril de 1904, partiu para a América com o objectivo de apresentar o seu Pyrheliophero.

Outros inventores, nomeadamente nos Estados Unidos, perfilavam-se entre os visionários que viam com preocupação o dia em que as jazidas de carvão chegariam ao fim. Em 1870, o engenheiro norte-americano de origem suíça John Ericsson criou o que disse ser a primeira máquina a vapor alimentada pela energia solar. Os seus primeiros aparelhos eram muito semelhantes aos de Mouchot. Um outro inventor, Aubrey Eneas, de Boston, começou a sua actividade em 1892 e em 1900 lançou a primeira empresa dedicada à energia solar ("The Solar Motor Co."). Mas enquanto os dispositivos solares de Mouchot e Ericsson incorporavam o forno – onde eram concentrados os raios solares – na estrutura reflectora, as primeiras patentes do padre Himalaya compreendiam um parabolóide independente e um forno móvel, montado sobre carris. A ideia de Himalaya era evitar que o forno fizesse sombra sobre o reflector retirando assim algum poder colector ao engenho. Na Feira Mundial, o Pyrheliophero foi instalado entre olhares curiosos. Ali, 500 edifícios albergavam as últimas novidades do progresso científico e tecnológico.




O Pyrheliophero era constituído por um grande reflector parabolóide instalado numa montagem equatorial, ou seja, rodava sobre um eixo paralelo ao eixo de rotação da Terra. Esta montagem permitia seguir o lento movimento aparente do Sol, de este para oeste, através de um mecanismo de relojoaria, e manter-se sempre apontado para o Sol com grande precisão. A superfície reflectora, com uma área de 80m2, estava revestida por 6 117 pequenos espelhos, e concentrava a radiação solar num círculo com 15cm de diâmetro. A altura da estrutura era de 13m. O forno encontrava-se, como era habitual, no foco do parabolóide, ou seja, no ponto onde se concentram raios luminosos que chegavam paralelamente ao seu eixo, como acontecia com os raios solares.


Segundo Manuel Collares-Pereira, investigador do Departamento de Energias Renováveis do INETI e um dos estudiosos portugueses das invenções do padre Himalaya, "a montagem equatorial e o ajuste azimutal, por exemplo, eram coisas que já existiam e se conheciam no seu tempo. Mas ninguém tinha ainda combinado estes elementos todos". Com o Pyrheliophero, Himalaya alegou ter atingido a temperatura recorde de 3.800º C. Depois de uma análise técnica quer às patentes produzidas quer a outros dispositivos concentradores de energia solar da época, Collares Pereira, chegou à conclusão de que, àquela data e perante os conhecimentos disponíveis sobre aplicações solares, apenas o invento do padre terá atingido, de facto, essa marca.



Manuel Himalaya foi pupilo de Sebastião Kneipp (à esquerda), sacerdote pioneiro de práticas terapêuticas naturais que entusiasmou a Europa científica no final do século XIX. Na imagem, uma sessão de tratamento de Kneipp em Bad-Worishoffen (Arquivo Professor Jacinto Rodrigues)

Após o sucesso da Exposição de St. Louis, que teve amplo eco na imprensa, Himalaya dedicou-se a outras áreas técnicas e imaginou métodos para fazer chover, inventou um novo explosivo (a himalayite), continuou a cultivar o seu interesse pelas medicinas naturais e a defender ideias precursoras da ecologia moderna. Depois de uma vida repleta de actividade, Himalaya morreu em Viana do Castelo, a 21 de Dezembro de 1933. Tinha então 65 anos, e a notícia foi vagamente narrada na imprensa da época.

Luís Tirapicos
* – Artigo adaptado de "O Domador do Sol", publicado na edição de Julho de 2004 da revista National Geographic Portugal .




Bibliografia


COLLARES- PEREIRA, Manuel, "A highly innovative, high temperature, high concentration, solar optical system at the turn of the nineteenth century. The Pyreheliophoro", Proceedings, Euro Sun, Freiburg, June 2004.
RODRIGUES, Jacinto, "A Conspiração Solar do Padre Himalaya", Porto, Cooperativa Árvore, 1999.


Apontadores

História da Energia Solar

Artigo publicado aqui.

Também podem consultar a entrevista (em francês, en français) de Jacinto Rodrigues sobre o Padre Himalaya aqui