22.10.14

Rua Aristides de Sousa Mendes

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Nota biográfica do antigo Cônsul de Portugal em Bordéus (1940):

Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu a 19 de Julho de 1885, em Cabanas de Viriato (Carregal do Sal), localidade situada a cerca de 30km a sul de Viseu. Pertencia a uma família aristocrática e católica da Beira-Alta. O pai, José de Sousa Mendes, terminou a carreira de juiz no Tribunal da Relação de Coimbra. A mãe, Maria Angelina do Amaral e Abranches, também da região, descendia da “Casa de Midões”, uma Casa com tradições “Liberais”.  Aristides de Sousa Mendes tinha um irmão gémeo, César, e um irmão mais novo, José Paulo.

Aristides cursou Direito na Universidade de Coimbra, juntamente com seu irmão César, tendo sido um dos seis melhores estudantes do seu curso. Depois de se licenciar, em 1907, com 22 anos, fez o estágio de advocacia, tendo defendido alguns casos no início da sua carreira.

Em 1910, ainda durante a monarquia, Aristides e César ingressaram na Carreira Diplomática. Aristides exerceu funções como Cônsul de
Carreira na Guiana Britânica, em Zanzibar, no Brasil (Curitiba e Porto Alegre), nos Estados Unidos, (San Francisco e Boston), em Espanha (Vigo), no Luxemburgo, na Bélgica  e, finalmente, em França (Bordéus).

Casado com sua prima direita Maria Angelina, em 18 de Fevereiro de 1909, a família de Aristides de Sousa Mendes foi crescendo a par da sua carreira diplomática. Assim, quatro dos seus filhos nasceram em Zanzibar, dois no Brasil, dois nos Estados Unidos, um em Espanha, dois na Bélgica e três, perfazendo o total de 14, em Portugal. Valorizando a presença da família, Aristides de Sousa Mendes optou por nunca dela se separar, assegurando a educação dos seus filhos, em todos os países por onde passou. Assim, para além da educação académica, todos tiveram acesso a aulas de pintura, desenho e música. “Lá em casa, havia uma verdadeira orquestra de câmara e, regularmente, convidavam-se pessoas para assistir a concertos. Tocava-se Chopin, Mozart, Bach, Beethoven, etc", disse um dos filhos.

Detentor de uma grande cultura geral, era uma pessoa com muita delicadeza e “savoir-faire”. Facilmente fazia amigos. Em Zanzibar, por exemplo, o Sultão foi padrinho de dois dos seus filhos. O Rei Leopoldo da Bélgica terá dito uma vez em público: “ah, voilà mon ami, le Consul Général du Portugal!” Durante os 9 anos em que viveu na Bélgica, Aristides de Sousa Mendes conviveu com o dramaturgo Maeterlinck, Prémio Nobel da Literatura, assim como com Albert Einstein, que “lá foi a casa”, em 1935, quando deixou a Alemanha.

A 23 de Junho de 1940, Salazar determina o seu afastamento do cargo, e envia o Embaixador Teotónio Pereira. Em Portugal, Sousa Mendes solicita, em vão, uma audiência a Oliveira Salazar, mas este Salazar determina, a 4 de Julho, a abertura de um processo disciplinar ao diplomata que é instaurado a 1 de Agosto de 1940.

Como consequência, Aristides de Sousa Mendes é afastado da Carreira Diplomática e afastado de qualquer actividade profissional, sendo ostracizado pelos seus pares, familiares e amigos. Os filhos, perseguidos e não podendo encontrar trabalho em Portugal, são obrigados a emigrar.

Dois deles, logo em 1943, juntam-se ao exército americano e até participam na invasão da Normandia a 6 de Junho de 1944.

A 4 de Julho de 1940, Salazar ordena a abertura de um processo disciplinar contra Aristides de Sousa Mendes.

O processo é instruído por Francisco de Paula Brito Júnior a partir de 19 de Agosto

A 30 de Outubro Salazar condena-o a «um ano de inactividade, com direito a metade do vencimento, devendo em seguida ser aposentado». No entanto, esta determinação não é cumprida, sendo Sousa Mendes pura e simplesmente expulso da carreira, sem passar à situação de aposentação. Fica interdito até de trabalhar como advogado.

Elabora a sua própria defesa, argumentando que agiu em defesa dos valores éticos e humanitários e solicita por diversas vezes uma audiência a Salazar, que nunca o recebe e se mantem implacável na sua decisão.

Entre 1940 e 1954, Aristides entra num processo de “decadência”, perdendo, mesmo, a titularidade do seu gesto salvador pois, Salazar apropria-se desse acto. Através da propaganda do Estado Novo, os jornais do regime louvam Salazar: “Portugal sempre foi um país cristão” é o título de um Editorial do Diário de Notícias do mês de Agosto de 1940, em que Salazar é louvado por ter salvo refugiados no Sul de França. Até Teotónio Pereira, reclama, nas suas “Memórias”, a acção de Aristides de Sousa Mendes como sendo de sua autoria! O cônsul morre a 3 de Abril de 1954.

Pode continuar a leitura na página de Fundação Aristides de Sousa Mendes.



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