Breve nota biográfica
«Natural do Porto, freguesia do Bonfim, onde nasceu em 27 de Abril de 1874 e onde veio a falecer, em 17 de Fevereiro de 1959.
Após ter frequentado a Escola Técnica de Faria Guimarães, no Porto, onde se matriculou no ano de 1891, iniciou a sua actividade profissional como operário da indústria têxtil, um sector em franca expansão na Cidade Invicta, nos finais do século XIX. O seu espírito de iniciativa, aliado a uma assinalável competência técnica, possibilitaram-lhe uma rápida afirmação profissional, de tal modo que ainda antes de completar 30 anos de idade já tinha ascendido ao cargo de Director da Fábrica de Tecidos do Bonfim. A experiência e os conhecimentos aí adquiridos irão ser-lhe de grande utilidade para os projectos e empreendimentos que irá concretizar nos anos seguintes. De facto, volvidos apenas alguns anos, Manuel Pinto de Azevedo era já um industrial de renome, desdobrando-se em múltiplas iniciativas, em seu nome próprio ou associado com outros industriais e capitalistas, fundando novas fábricas e adquirindo outras, ampliando-as e renovando os seus equipamentos, afirmando-se cada vez mais como um dos principais empresários do país no sector da indústria têxtil algodoeira.
Ao mesmo tempo que consolida e desenvolve a Fábrica de Tecidos do Bonfim – dotando-a, em 1914, de uma tinturaria – Manuel Pinto de Azevedo inicia a constituição de um verdadeiro império industrial, com sucessivas aquisições de fábricas têxteis, algumas delas de grande importância no panorama económico nacional. É o caso da Fábrica de Fiação e Tecidos de Soure, por ele arrendada em Outubro de 1917, a qual vem a adquirir em 1924, em associação com o empresário Manuel Alves Soares (1879-1941), seu parceiro em múltiplos negócios. A partir de então, e durante uma década, a estratégia de Manuel Pinto de Azevedo será a de criar um forte grupo industrial no sector têxtil algodoeiro adquirindo, sucessivamente, algumas das mais importantes unidades daquele ramo que então laboravam no Porto e nos concelhos limítrofes.
Actuando, em regra, através de sociedades formadas com outros industriais, Manuel Pinto de Azevedo vai constituindo, em apenas uma década, um autêntico império industrial. Uma das primeiras unidades então adquiridas será, em 1920, a Fábrica de Fiação de Tecidos da Areosa, no Porto, um importante estabelecimento industrial que tinha sido fundado em 1907 por Pantaleão C. R. Dias e Lobão Ferreira. Seguidamente, adquire em 1922 aquela que virá a ser a mais importante fábrica do seu empório industrial, a Empresa Fabril do Norte, na Senhora da Hora, Matosinhos, a conhecida fábrica de carrinhos e linhas de algodão, que tinha sido fundada em 1905 por Delfim Pereira da Costa (1862-1935). Manuel Pinto de Azevedo irá renovar e ampliar esta fábrica de uma forma notável, sendo de destacar a introdução de um importante conjunto de equipamentos sociais para os seus operários. O passo seguinte passará pela aquisição, em 1928, de duas outras unidades têxteis, a Fábrica de Fiação e Tecidos de Ermesinde e a Fábrica de Tecidos Aliança, em Rio Tinto, completando assim uma primeira fase de uma estratégia marcada pela sua afirmação no sector têxtil algodoeiro.
Uma parte considerável da produção destas unidades têxteis – composta por tecidos leves destinados a serem estampados com cores garridas – estava orientada para o abastecimento dos mercados coloniais. Tal orientação correspondia à segunda parte da estratégia que Manuel Pinto de Azevedo tinha estabelecido para o sector têxtil, cujos contornos se tornam claros em 1924 com a constituição do Entreposto Comercial e Industrial do Norte – onde, precisamente com esse objectivo, reuniu as suas empresas fabris -, complementada em 1933 com a constituição de duas sociedade distribuidoras, em cada uma das principais colónias africanas.
Efectivamente, a fim de aí desenvolver o consumo de tecidos de algodão instalou, nos principais distritos de Moçambique e de Angola, estabelecimentos para a venda e a propaganda dos seus produtos: a “União Industrial Algodoeira, Lda”, para o mercado moçambicano, e a “A Algodeira Colonial, Lda”, a sua congénere em Angola, onde possuía vastas plantações de algodão, nomeadamente no distrito de Quanza Sul. Na década de cinquenta, juntamente com outros industriais, criou a Sociedade Algodoeira de Portugal, com o objectivo de fomentar a indústria têxtil nas colónias de África.
Manuel Pinto de Azevedo não limitou a sua actividade empresarial exclusivamente ao sector têxtil algodoeiro. Ainda no domínio da indústria, interessou-se pelo sector conserveiro, fundando em 1929 a Continental Sociedade de Conservas, em Matosinhos, investindo, mais tarde, na Companhia Portuguesa do Cobre, com fábrica no Porto, assim como na importante firma portuense “António Maria Tavares, Júnior, Lda”, e na “Sociedade Corticeira Robinson Bros., Lda”, de Portalegre.
Particularmente importante foi a sua actuação no sector da imprensa, nomeadamente nas empresas dos jornais “O Norte” e “Jornal de Notícias”. Mas, foi na empresa do jornal “O Primeiro de Janeiro” – da qual, em Abril de 1923, tinha passado a ser o maior accionista e onde exerceu a presidência do seu Conselho de Administração, até à sua morte, em 1959 – onde a sua intervenção neste domínio se revelou particularmente notável. Introduzindo importantes transformações e melhoramentos, tanto na componente gráfica como redactorial, o jornal veio a afirmar-se como um dos mais bem elaborados no panorama da imprensa diária nacional, posição que manteve durante décadas.
Os seus interesses voltaram-se ainda para o investimento na vinicultura, na grande exploração agrícola, nos sectores eléctrico (União Eléctrica Portuguesa), bancário (Banco Borges & Irmão), de seguros (A Mutual do Norte) e ainda no sector da saúde, através da Clínica Heliântia.
Desenvolveu também uma activa intervenção em vários domínios da vida pública da cidade do Porto. Republicano desde a sua juventude, integrou a primeira vereação da Câmara Municipal da Cidade Invicta, eleita logo após a queda da monarquia, mantendo-se na municipalidade até 1917. Nos anos do primeiro conflito europeu organizou, por delegação da autarquia, os serviços de abastecimento da cidade, evitando que o acesso aos mesmos só pudesse ser efectuado através do mercado negro. Voltou a ser eleito vereador em 1919, cargo que desempenhou até Outubro de 1921, ano em que se afastou voluntariamente, abandonando toda a actividade política. Contudo, a sua acção ao serviço da causa pública prosseguiu, vindo a desempenhar durante doze anos, a partir de 1926, o cargo de Mesário da Santa Casa da Misericórdia daquela cidade, sendo reeleito para um novo período, entre 1941 e 1945. Nessa qualidade, assumiu a administração do Hospital-Sanatório Rodrigues Semide, ao qual facultou inúmeros benefícios e melhoramentos, procedimento que exerceu, igualmente, em relação a vários hospitais e casas de caridade do Norte e Centro do país.
Galardoado com o grau de Grande Oficial da Ordem de Cristo e de Oficial da Ordem da Instrução Pública, desenvolveu também uma actividade filantrópica nas suas empresas, criando bairros operários, creches, lactários, cantinas, bibliotecas e outros benefícios para o operariado.»
CORDEIRO, José Manuel Lopes (2004), O Rasgo e a Vontade. [Porto] : Associação Empresarial de Portugal, pp. 87-89.
Publicada aqui
Sem comentários:
Enviar um comentário