O célebre doce de Paranhos
Sabemos alguma coisa (alguma coisa, porque ninguém sabe tudo!) acerca da origem dos nomes de uma boa parte das ruas que integram o chamado Centro Histórico do Porto.
Já não sabemos tanto no que respeita às artérias das freguesias ditas da periferia. Como Paranhos, por exemplo. Até 1837, o antigo couto de Paranhos, pertença da Igreja portucalense, fazia parte das Terras da Maia. Foi só a partir deste ano que passou a integrar o concelho do Porto.
Couto, como é geralmente sabido, significa terra protegida, refúgio, abrigo. O topónimo Paranhos, na opinião de alguns historiadores, como Andrêa da Cunha e Freitas, quer dizer amparado ou defendido por honra "… amparam o amo enquanto é vivo, e desde que os amos são mortos, amparam o lugar pondo-lhe o nome de Paranho, isto é amparado ou defendido por honra…"
Mas esta não é a única versão sobre a origem do nome de Paranhos. Conta uma antiga lenda que possuindo esta terra boas e grandes pastagens era frequentada por inúmeras cabeças de gado lanígero e caprino e que os pastores costumavam recolher-se a uns casotos (pequenas cabanas de madeira) para se abrigarem da intempérie.
Dizia, então, o povo que os ditos casotos eram mais próprios PARA- A-NHOS do que para os pastores e daí o nome de PARANHOS.
O leitor tire daqui a ilação que mais lhe agrade…
As Memórias Paroquiais de 1758 registam na freguesia de Paranhos a existência de 15 aldeias, a saber Regado, Agueto, Couto, Igreja, Lamas, Tronco, Carvalhido, Vale, Cruz da Regateira, Antas, Travessa, Amial, Azenha, Bouça e Cabo.
Há, depois, as quintas Outeiro, Casal, Azenha, Telheira, Agra, Estrada, Monte Velho, Eira, Padrão, Pereira, Tojo de Lamas, Gandra do Vale, Aval, Covelo, Cortes, Regueiras e Asprela.
A esta riqueza toponímica temos que acrescentar, ainda, os nomes de alguns casais e campos Couto, Fonte do Pereira, Coalhães, Barrocas, Arroteias, Patusca, junto a Costa Cabral, sitio de grandes patuscadas; e ainda Crispelos, Carriçal, Marco e Chão dos Espinheiros.
Posteriores à data da elaboração das referidas Memórias Paroquiais apareceram mais estes lugares Aguardente (1764); Novo do Monte (1779); e Agrinhas (1818).
Ora, foi ao longo das antigas aldeias, quintas e casais que se rasgaram muitas das artérias da freguesia e algumas delas mantiveram a denominação de origem, como é o caso das travessas da Bouça, das Cortes e da Asprela; as ruas do Amial, Azenha, Antas, Aval de Cima e Aval de Baixo, Arroteia, Covelo e Barrocas, para citar apenas alguns exemplos.
Noutros casos houve mudanças de nomes. Como aconteceu com o Largo da Aguardente que, a partir de 1882, passou a chamar-se Praça do Marquês de Pombal.
A antiga e sinuosa Rua da Bouça é agora a Rua do Dr. Eduardo Santos Silva e o sítio da aldeia do cabo deu lugar à moderna Rua da Igreja de Paranhos.
A Rua de Monsato, designação que celebra a vitória dos Republicanos sobre os monárquicos que aconteceu na serra daquele nome, chamava-se, antes disso, Rua do Regado, em alusão à aldeia deste nome que subsiste na Rua Nova de Regado.
Ao longo da Quinta do Casal abriu-se a Rua de Delfim Maia. Com a designação de Estrada havia dois nomes a Estrada Velha e a Estrada de Baixo. Aquela corresponde a actual Rua do Lindo Vale; e a segunda é a parte da Rua de Antero de Quental que vai da Rua do Vale Formoso ao Largo do Campo Lindo.
O topónimo Regueiras alude, sem dúvida, aos inúmeros regos de água que, a céu aberto, cruzavam estas terras. Houve uma travessa com esta denominação que foi alargada e é, desde 1924, a Rua de Luís de Aguiar.
No campo de Coalhães, derivante de Coalhais ou Coalhal (nome dado à flor de certas plantas espinhosas), nas proximidades da Quinta do Paço, construiu-se a Rua do Dr. Manuel Laranjeira; e na antiquíssima aldeia de Currais abriu-se uma artéria que adoptou esta mesma denominação; um lado é da freguesia de Campanhã e o outro pertence a Paranhos.
Mais algumas curiosidades toponímicas a Rua do Visconde de Setúbal teve, antigamente, a designação de Viela dos Espinheiros; a Rua do Almirante Leote do Rego era a Rua Nova do Monte Louro; Rua da Bica Velha, era como se chamava a actual Rua de Nove de Abril; a Rua de Ribeiro de Sousa foi a Rua do Paiol; à antiga Viela do Covelo deram, em 1930, o nome de Rua do Bolama; e dois anos depois a Calçada do Campo Lindo passou a ter a designação de Rua do Dr. Pedro Dias; dois nomes diferentes teve a Rua do Dr. Carlos Ramos que começou por se chamar Viela do Amial e, depois disso, foi Rua do Sport Progresso; ligada ao topónimo Currais anda a actual Rua da Diamantina que anteriormente se chamou Travessa de Currais; a nossa conhecida Rua do Alto teve em tempos idos a curiosa designação de Rua do Alta da Rabeca.
Era a mais afamada iguaria de quantas se vendiam nas romarias nortenhas e nunca faltava num arraial. Chamava-se o "doce de Paranhos", por a sua confecção ser originária desta freguesia do Porto. Eram de tal modo vulgares e apareciam com tanta frequência em festa populares e romarias que das raparigas que andavam por todo o lado se diziam que eram "como o doce de Paranhos, estão em toda a parte…" O doce de Paranhos ainda hoje mantém a configuração que apresentava há cinquenta, setenta anos semelhantes a tijolos, até na cor. Inicialmente, na sua confecção, além da farinha de trigo entrava, também, a de centeio de mais fraca qualidade. Além das indispensáveis gemas de ovos juntava-se-lhes açúcar amarelo que ajudava muito a dar ao produto aquele tom de grés que ainda hoje apresenta. Eram as raparigas de Paranhos que vinham vender "ao Porto", como se dizia antigamente, os doces da Paranhos e também os tremoços que os rapazes acondicionavam no lenço de assoar a que atavam as pontas… Costumes antigos.
Sabemos alguma coisa (alguma coisa, porque ninguém sabe tudo!) acerca da origem dos nomes de uma boa parte das ruas que integram o chamado Centro Histórico do Porto.
Já não sabemos tanto no que respeita às artérias das freguesias ditas da periferia. Como Paranhos, por exemplo. Até 1837, o antigo couto de Paranhos, pertença da Igreja portucalense, fazia parte das Terras da Maia. Foi só a partir deste ano que passou a integrar o concelho do Porto.
Couto, como é geralmente sabido, significa terra protegida, refúgio, abrigo. O topónimo Paranhos, na opinião de alguns historiadores, como Andrêa da Cunha e Freitas, quer dizer amparado ou defendido por honra "… amparam o amo enquanto é vivo, e desde que os amos são mortos, amparam o lugar pondo-lhe o nome de Paranho, isto é amparado ou defendido por honra…"
Mas esta não é a única versão sobre a origem do nome de Paranhos. Conta uma antiga lenda que possuindo esta terra boas e grandes pastagens era frequentada por inúmeras cabeças de gado lanígero e caprino e que os pastores costumavam recolher-se a uns casotos (pequenas cabanas de madeira) para se abrigarem da intempérie.
Dizia, então, o povo que os ditos casotos eram mais próprios PARA- A-NHOS do que para os pastores e daí o nome de PARANHOS.
O leitor tire daqui a ilação que mais lhe agrade…
As Memórias Paroquiais de 1758 registam na freguesia de Paranhos a existência de 15 aldeias, a saber Regado, Agueto, Couto, Igreja, Lamas, Tronco, Carvalhido, Vale, Cruz da Regateira, Antas, Travessa, Amial, Azenha, Bouça e Cabo.
Há, depois, as quintas Outeiro, Casal, Azenha, Telheira, Agra, Estrada, Monte Velho, Eira, Padrão, Pereira, Tojo de Lamas, Gandra do Vale, Aval, Covelo, Cortes, Regueiras e Asprela.
A esta riqueza toponímica temos que acrescentar, ainda, os nomes de alguns casais e campos Couto, Fonte do Pereira, Coalhães, Barrocas, Arroteias, Patusca, junto a Costa Cabral, sitio de grandes patuscadas; e ainda Crispelos, Carriçal, Marco e Chão dos Espinheiros.
Posteriores à data da elaboração das referidas Memórias Paroquiais apareceram mais estes lugares Aguardente (1764); Novo do Monte (1779); e Agrinhas (1818).
Ora, foi ao longo das antigas aldeias, quintas e casais que se rasgaram muitas das artérias da freguesia e algumas delas mantiveram a denominação de origem, como é o caso das travessas da Bouça, das Cortes e da Asprela; as ruas do Amial, Azenha, Antas, Aval de Cima e Aval de Baixo, Arroteia, Covelo e Barrocas, para citar apenas alguns exemplos.
Noutros casos houve mudanças de nomes. Como aconteceu com o Largo da Aguardente que, a partir de 1882, passou a chamar-se Praça do Marquês de Pombal.
A antiga e sinuosa Rua da Bouça é agora a Rua do Dr. Eduardo Santos Silva e o sítio da aldeia do cabo deu lugar à moderna Rua da Igreja de Paranhos.
A Rua de Monsato, designação que celebra a vitória dos Republicanos sobre os monárquicos que aconteceu na serra daquele nome, chamava-se, antes disso, Rua do Regado, em alusão à aldeia deste nome que subsiste na Rua Nova de Regado.
Ao longo da Quinta do Casal abriu-se a Rua de Delfim Maia. Com a designação de Estrada havia dois nomes a Estrada Velha e a Estrada de Baixo. Aquela corresponde a actual Rua do Lindo Vale; e a segunda é a parte da Rua de Antero de Quental que vai da Rua do Vale Formoso ao Largo do Campo Lindo.
O topónimo Regueiras alude, sem dúvida, aos inúmeros regos de água que, a céu aberto, cruzavam estas terras. Houve uma travessa com esta denominação que foi alargada e é, desde 1924, a Rua de Luís de Aguiar.
No campo de Coalhães, derivante de Coalhais ou Coalhal (nome dado à flor de certas plantas espinhosas), nas proximidades da Quinta do Paço, construiu-se a Rua do Dr. Manuel Laranjeira; e na antiquíssima aldeia de Currais abriu-se uma artéria que adoptou esta mesma denominação; um lado é da freguesia de Campanhã e o outro pertence a Paranhos.
Mais algumas curiosidades toponímicas a Rua do Visconde de Setúbal teve, antigamente, a designação de Viela dos Espinheiros; a Rua do Almirante Leote do Rego era a Rua Nova do Monte Louro; Rua da Bica Velha, era como se chamava a actual Rua de Nove de Abril; a Rua de Ribeiro de Sousa foi a Rua do Paiol; à antiga Viela do Covelo deram, em 1930, o nome de Rua do Bolama; e dois anos depois a Calçada do Campo Lindo passou a ter a designação de Rua do Dr. Pedro Dias; dois nomes diferentes teve a Rua do Dr. Carlos Ramos que começou por se chamar Viela do Amial e, depois disso, foi Rua do Sport Progresso; ligada ao topónimo Currais anda a actual Rua da Diamantina que anteriormente se chamou Travessa de Currais; a nossa conhecida Rua do Alto teve em tempos idos a curiosa designação de Rua do Alta da Rabeca.
Era a mais afamada iguaria de quantas se vendiam nas romarias nortenhas e nunca faltava num arraial. Chamava-se o "doce de Paranhos", por a sua confecção ser originária desta freguesia do Porto. Eram de tal modo vulgares e apareciam com tanta frequência em festa populares e romarias que das raparigas que andavam por todo o lado se diziam que eram "como o doce de Paranhos, estão em toda a parte…" O doce de Paranhos ainda hoje mantém a configuração que apresentava há cinquenta, setenta anos semelhantes a tijolos, até na cor. Inicialmente, na sua confecção, além da farinha de trigo entrava, também, a de centeio de mais fraca qualidade. Além das indispensáveis gemas de ovos juntava-se-lhes açúcar amarelo que ajudava muito a dar ao produto aquele tom de grés que ainda hoje apresenta. Eram as raparigas de Paranhos que vinham vender "ao Porto", como se dizia antigamente, os doces da Paranhos e também os tremoços que os rapazes acondicionavam no lenço de assoar a que atavam as pontas… Costumes antigos.
Germano Silva
Publicado no Jornal de Notícias
2 comentários:
Boa noite,
Será que me poderia informar a razão do nome de "Rua Nova de Monte Louro"?
Naquela zona conhecia diversos "montes", Monte Pedral, Monte Cativo e outros, mas Monte Louro nunca tinha ouvida falar, só aqui ao lado na Galiza. Poderá ajudar-me, indicando-me a razão do nome Monte Louro?
Obrigado,
José Luís Lobo
Caro José Luís Lobo,
O meu blogue é somente sobre as ruas da cidade do Porto, mostro imagens e, de vez em quando, publico alguma informação extra.
Sobre os problemas de toponímia penso que deve consultar o blogue: http://toponimialusitana.blogspot.pt/
de José Cunha-Oliveira. Talvez lá encontre resposta à sua pergunta.
Agradeço a sua visita.
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