26.3.08

Praça NOVE DE ABRIL

jardim

Fotografia localizada no Flickr

Mas eu, como muitos portuenses, continuo a dar o nome de Jardim da Arca d'Àgua.

Para ler mais sobre o "9 de Abril de 1918" ver aqui.


"Para sabermos um pouco mais sobre esta praça, podemos recorrer ao que sobre ela escreveu Luís Miguel Queirós, no Público de 13 de Fevereiro de 1994:

«Em 1865, a imprensa da Universidade de Coimbra dava a lume um opúsculo intitulado "Bom-senso e Bom-gosto: Carta ao Excelentíssimo Senhor António Feliciano de Castilho". Antero de Quental, o autor da missiva respondia a dobrar às ironias que o patriarca das hostes ultra-românticas, o velho Castilho, ousara endereçar-lhe num posfácio que redigira para o "Poema da Mocidade", do então jovem escritor Pinheiro Chagas. Esta inofensiva troca de sarcasmos serviu de faúlha para acender uma violenta polémica, que envolveu boa parte das principais figuras literárias da segunda metade do século XIX.

Camilo foi um dos saiu a terreiro a defender o poeta cego. E Ramalho Ortigão, que mais tarde se integraria plenamente na chamada Geração de 70, talvez influenciado pelo facto de ter tido Castilho como professor de Grego e Humanidades, não lhe regateou também a sua pena-e o seu braço, como veremos...-,repreendendo duramente Antero no seu "Literatura de Hoje". A ramalhal figura foi mesmo ao ponto de publicamente crismar de covarde o poeta das "Odes Modernas". Antero não gostou. E a coisa esteve para se resolver numa trivial pancadaria de rua. Mas chegado ao porto para se esclarecer com Ramalho, Antero deu de caras com Camilo, que o persuadiu a desistir da cena de rua em favor de um duelo "comme il faut". Ramalho foi pois convidado a escolher as armas e optou pela espada, que manejava com reconhecida destreza. Antero, por seu turno, dirigiu-se a uma sala de esgrima para se inteirar das regras básicas da modalidade. Na manhã de 6 de Fevereiro 1866, paravam dois coches no
largo da Arca d'Água. Apearam-se contendores e testemunhas e logo se deu início ao duelo. Foi uma coisa rápida, e pouco depois as viaturas voltavam a partir, levando, uma delas, um Ramalho combalido e de braço ao peito, a outra o impetuoso Antero, que não sofrera a mínima beliscadura.
Quando serviu de cenário à resolução da célebre pendência, a Arca d'Água pouco mais era do que um descampado, ainda que o grande manancial de água de Paranhos conferisse ao local, desde tempos medievais, assinalável importância na vida do burgo.
O seu topónimo secular-na carta de couto que a rainha D.ª Teresa outorgou em 1120 ao bispo D.Hugo mencionam-se já duas "arcas", supondo-se que esta seria uma delas- deriva do lençol de água que corre sob o actual jardim. Sabe-se que no século XVI ali existiam três fontes, justificando que em documentos antigos surja a denominação "Arca das Três Fontes", e que no reinado de Filipe I se levou a água de Paranhos, através de condutas de granito, aos vários chafarizes da cidade.
O belo jardim que hoje embeleza este local, outrora praticamente deserto, transformou a Arca d'Água num dos largos mais aprazíveis do Porto. E os que nele habitam, ou nas suas imediações, prezam tanto o seu tranquilo reduto que recentemente se insurgiram contra a utilização do jardim como palco de uma festa popular, que ali se realiza anualmente. Mas temos vindo a falar do jardim de Arca d'Água e esquecemo-nos de mencionar que, na verdade, não se chama hoje assim.
O seu nome oficial é Praça de Nove de Abril, designação que, segundo já vimos escrito, recordaria um dos combates que, durante as lutas liberais, opuseram os partidários de D. Pedro aos absolutistas fiéis a D.Miguel. De facto, o Covelo fica ali perto e a sua tomada pelas tropas liberais, o fim da tarde do dia 9 de Abril de 1833, constituiu um gravíssimo revés para o exército miguelista. No entanto, a generalidade dos autores que têm tratado a toponímia portuense defende que a data evocada é antes a da batalha de La Lys. Travada na Flandres a 9 de Abril de 1918, nela participaram, como se sabe, forças portuguesas que, ao lado das tropas britânicas, defrontaram nos campos da Flandres, entre Armentières e o canal de La Bassée, o 6.º Exército germânico comandado por Von Quast. Os alemães não venceram a guerra, mas ganharam esta batalha, na qual perderam a vida muitos soldados portugueses. Pudemos apurar que a praça recebeu o seu nome actual no dia 6 de Abril 1922, data que, sendo posterior a 1918, não elimina nenhuma das duas hipóteses aventadas, embora, dada a proximidade cronológica, pareça reforçar a segunda. Até essa data, os mapas registam ainda a velha denominação de Largo da Arca d'Água. Registe-se que, nas proximidades da praça, e na direcção oposta ao Covelo, existem ainda uma rua e uma travessa de Nove de Abril. Em relação à primeira, sabemos apenas que a designação constava já de um guia do Porto de 1933.

Resultaram vãs as tentativas de aclarar esta incógnita junto da Comissão de Toponímia da Câmara Municipal e do Arquivo Histórico do Porto. Dado que a mudança de nome ocorreu já neste século, é de crer que a decisão tenha ficado registada e que o respectivo documento, decerto consultável, justifique a atribuição do novo topónimo. Mas os responsáveis autárquicos por este sector afirmam não possuir "registos tão antigos" e ignoram onde estes possam ser consultados. Em todo o caso, aos portuenses tanto se lhes dá que a Praça de Nove Abril evoque a batalha do Covelo ou a de La Lys. É que continuam a chamar-lhe, simplesmente, Arca d'Água. E sendo o nome tão antigo e tão apropriado, por que carga de água-apetece perguntar-é que lhe haviam de chamar outra coisa?»"

Publicado no Blog "Paranhos"

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