Fotografia publicada e localizada no Flickr
Sobre António Francisco Silva Porto - o Africanista - (1817-1890)
"Silva Porto
A Árvore das Patacas
Durante muitos anos, foi o único branco que os negros viram, porque muito antes de os mais conhecidos exploradores africanos cruzarem África, já ele se tinha estabelecido no Bié, em pleno sertão angolano. A sua experiência revelou-se preciosa para muitos comerciantes e aventureiros que demandavam o interior desconhecido. Chamava-se Silva e, porque era natural do Porto, ficou conhecido por Silva Porto.
Do Brasil a África
António Francisco Ferreira da Silva, assim se chamava, nasceu no Porto, no dia 24 de Agosto de 1817. Filho de gente humilde, o pai tinha-se distinguido na luta contra os franceses, aquando da última invasão, em 1810. Depois de completados os estudos primários, aliás os únicos que efectuou, o pequeno António Francisco nunca pensou seguir a carreira do progenitor. Inteligente e ambicioso, fascinavam-lhe novos mundos e outras paragens, e também o Porto era demasiado pequeno para os seus anseios.
O Brasil, lá bem longe, do outro lado do Atlântico, seduzia-o, especialmente pelas histórias de sucesso contadas pelos familiares dos emigrantes. Um dia, quando o pai o inquiriu sobre o queria da vida, o pequeno Silva Porto não hesitou e desenhou a árvore das patacas. Pronto, estava tomada a decisão. E assim, com apenas 12 anos, resolveu fazer-se ao mar, embarcando no brigue "Rio Ave" com destino ao Rio de Janeiro. Do pai ouvira uma última recomendação, incentivando-o ao trabalho: " Olha ... pedra boliça não cria musgo."
Na então capital brasileira, emprega-se como marçano mas, indignado com os tabefes que recebe do patrão, acaba por saltar de emprego em emprego, embora mantendo-se sempre ligado à área comercial. Aos 18 anos, constata a inutilidade dos sucessivos empregos e resolve partir para a Bahia. Aqui, num misto de querer romper com o passado mas também para evitar a confusão com outro António Ferreira da Silva, faz anunciar no jornal "Correio Mercantil" que, de futuro, passaria a assinar o seu nome como António Francisco Ferreira da Silva Porto.
Mas há uma razão íntima: ele quer prestar homenagem à sua terra natal. Todavia, a alteração do nome não significou mudança de vida. Nos dois anos seguintes continuou frustrado com o emprego de caixeiro, sujeito a todo o tipo de despotismo de patrões sem escrúpulos. Quando, no cais do Rio, tem conhecimento da partida de um navio para Angola, embarca sem fazer a mais pequena ideia do que vai encontrar." em sabia onde ficava Angola", confessaria mais tarde. Luanda, porém, não o fascina particularmente e, passado pouco tempo, ei-lo de regresso à Bahia, onde encontrou um clima de grande agitação política. Deflagrara há pouco a chamada revolta do Sabino e, como a instabilidade política é inimiga dos bons negócios, revolve voltar a Angola. Na capital angolana emprega-se numa taberna.
No Rio, emprega-se como marçano mas, indignado com os tabefes do patrão, salta de emprego em emprego. Pouco a pouco, surge o fascínio do comércio do interior. O feitiço da selva irá absorvê-lo por mais de 50 anos. Não é pessoa para estar parado atrás de um balcão e por isso, com os primeiros salários, compra fazendas e tecidos. Quando julga ter artigo suficiente, deixa a taberna e inicia a carreira de comerciante no sertão. Conta somente 22 anos.
Comerciar no mato pode ser um negócio próspero mas encerra múltiplos perigos. As caravanas que partem do litoral de Benguela para o Lui, Lunda e Catanga estão à mercê de todo o tipo de roubos, pilhagens e cobrança de imposto abusivos por parte dos sobas. E é frequente ser-se apanhado no meio de uma guerra tribal. Por isso, há que conhecer o terreno e travar amizades com o gentio, à partida avesso ao domínio do europeu. É o que faz Silva Porto e facilmente conquista amizades. Adapta-se bem a África e cria com o continente uma enorme empatia. A sua governanta é negra e os filhos mulatos. Sente-se em casa quando pernoita na embala do soba do Lui. Admita e elogia as técnicas agrícolas e artesanais indígenas. Inebria-se com toda a beleza daquelas terras virgens.
Uma fazenda chamada Belmonte
Todavia, o sertanejo não se estabeleceu logo no Bié. Primeiro errou pelas planícies do interior de Luanda; depois desceu para Benguela, lançando os seus comissários no caminho de Lui pelo Lutembo e Alto Zambeze. Só se fixa definitivamente no Bié na fazenda Belmonte, principiando a exploração do Barotce, que abriu ao comércio de Benguela. No armazém da grande libata de Belmonte o trânsito de gente e mercadorias é intenso.
As peças de fazenda, as missangas e a pólvora compradas em Benguela cruzam-se com o marfim, a cera e a borracha permutados no sertão. No seu diário regista, minuciosamente, tudo o que vê e ouve. Só está bem, como referiu Luciano Cordeiro, "a conversar com o papel". E acrescenta Cordeiro: "Com a sua letra apertada e tortuosa que lembra os zig-zagues através das florestas cerradas; na sua linguagem quasi creola, às vezes, pela longa isolação no meio selvagem, ele passava muitas horas n'estas silenciosas palestras ... " Dos 14 volumes do seu diário, que constitui um magnífico repositório geográfico, étnico e antropológico daquela região de África, apenas um foi publicado nos Annaes do Conselho Ultramarino.
A este respeito, Silva Porto afirmava: "Se a minha obra fosse o que deveria ser, há muito que estaria publicada, e talvez em diversas línguas." Em 1848, foi interinamente nomeado capitão-mor do Bié. No exercício destas funções revelou ser um verdadeiro apaziguador. Uma das suas primeiras medidas foi reunir todos os brancos, portugueses e estrangeiros que habitavam a região no intuito de conseguir que o soba Lhiumbulla obstasse a que "quimbumdos" e "guanguelas" acabassem com os sequestros que, pela mais pequena razão, faziam aos comerciantes brancos. Mas o soba morreu e, vendo-se na impossibilidade de recorrer à autoridade nativa, Silva Porto é obrigado a apelar ao governador-geral para que o Bié fosse ocupado militarmente, garantindo os interesses dos portugueses ali desterrados. Mas a voz da experiência não foi ouvida.
Antes a morte que a desonra
Por volta de 1850, dá-se início às grandes explorações africanas. Na embala de Belmonte, o sítio mais a leste onde flutua a bandeira portuguesa, há acolhimento certo para o explorador desinteressado ou comerciante audaz que demanda as terras do Leste. Como explorador experimentado, o sertanejo a todos dá conselhos: que caminhos seguir, os maiores perigos a evitar, o nível dos caudais dos rios, etc.
Chega mesmo a enviar os seus mais fiéis serviçais para os acompanhar. Livingstone, Stanley, Capelo, Ivens e Serpa Pinto servem-se dos seus conhecimentos e das suas boas relações com os nativos. Apesar disso, Livingstone, ingrata e invejosamente, apelida Silva Porto de "vulgar negreiro" quando chega às terras do Alto Zambeze. E mais: nos seus escritos, refere-se aos dois portugueses que encontrou (Silva Porto e Caetano Ferreira) como sendo "mulatos ou manbaris", omitindo que anteriormente Silva Porto o ajudara fornecendo-lhe preciosos elementos de orientação.
Em meados de 1889, depois de uma visita à metrópole, Silva Porto encontrou a embala de Belmonte devorada por um incêndio. Escreveu ao velho amigo Luciano Cordeiro: "Estou inválido e pobre. Não tenho pão e só ambiciono por consolação suprema a todas as minhas canseiras, poder morrer na pátria." Mas o Ultimato Inglês e sobretudo a perda de confiança do soba Dunduna na sua pessoa constituem o seu golpe de misericórdia.
O chefe autóctone chegou mesmo a puxar-lhe as barbas brancas quando correram rumores que uma expedição militar portuguesa se aproximava do Bié para ocupá-lo pela força. Indignado por Silva Porto não o ter avisado, afirmou inclusive que um homem sem carácter e sem vergonha não devia usar tal símbolo de respeito. Agora, para ele, tudo estava perdido: o Bié, que sempre considerara português, vinha sendo um campo de intrigas e sentia-se já claramente a intenção expansionista da Inglaterra. Desde 1850 que ele clamava pela ocupação militar daquela província, mas ninguém o escutou.
Contudo, o mais insuportável foi a sensação de desonra a que fora sujeito. Por isso, na madrugada do dia 1 de Abril de 1890, humilhado e moralmente de rastos, o velho sertanejo pegou na bandeira nacional que ele próprio fizera, enroscou-se nela, sentou-se num barril de pólvora e chegouse fogo. Morreria três dias depois numa intensa agonia.
A CIDADE FANTASMA "A cidade de Silva Porto é de aspecto gracioso e de ruas bem delineadas e recentemente asfaltadas em grande parte, dispõe de energia eléctrica e água canalizada, emissor de rádio e piscinas com medidas regulamentares para desportos. Na cidade foi recentemente erguida uma bela estátua em bronze, com 3,5 metros de altura, em honra deste grande português."
Era assim que o Anuário de Angola de 1962/1963 anunciava a capital do Bié, que com esta designação glorificava o seu grande colonizador. Em relação à população, referia: "Há 2400 europeus, 1.900 mestiços e pouco mais de 400 mil nativos." Hoje, passados 40 anos, é caso para dizer que qualquer semelhança com nomes, pessoas ou lugares é mera coincidência. Martirizada pelo conflito, a cidade actualmente chama-se Cuíto e encontra-se completamente arrasada pela guerra. Os mestiços são meia dúzia, os brancos não existem e até os negros encontram-se em número mais reduzido. Agora, pelas suas ruas, vagabundeiam pessoas, cães, gatos, todos eles esfomeados, removendo os contentores do lixo na busca quotidiana pela sobrevivência ..."
Artigo publicado aqui:
http://www.rss88.com/l/167121.html
"Silva Porto
A Árvore das Patacas
Durante muitos anos, foi o único branco que os negros viram, porque muito antes de os mais conhecidos exploradores africanos cruzarem África, já ele se tinha estabelecido no Bié, em pleno sertão angolano. A sua experiência revelou-se preciosa para muitos comerciantes e aventureiros que demandavam o interior desconhecido. Chamava-se Silva e, porque era natural do Porto, ficou conhecido por Silva Porto.
Do Brasil a África
António Francisco Ferreira da Silva, assim se chamava, nasceu no Porto, no dia 24 de Agosto de 1817. Filho de gente humilde, o pai tinha-se distinguido na luta contra os franceses, aquando da última invasão, em 1810. Depois de completados os estudos primários, aliás os únicos que efectuou, o pequeno António Francisco nunca pensou seguir a carreira do progenitor. Inteligente e ambicioso, fascinavam-lhe novos mundos e outras paragens, e também o Porto era demasiado pequeno para os seus anseios.
O Brasil, lá bem longe, do outro lado do Atlântico, seduzia-o, especialmente pelas histórias de sucesso contadas pelos familiares dos emigrantes. Um dia, quando o pai o inquiriu sobre o queria da vida, o pequeno Silva Porto não hesitou e desenhou a árvore das patacas. Pronto, estava tomada a decisão. E assim, com apenas 12 anos, resolveu fazer-se ao mar, embarcando no brigue "Rio Ave" com destino ao Rio de Janeiro. Do pai ouvira uma última recomendação, incentivando-o ao trabalho: " Olha ... pedra boliça não cria musgo."
Na então capital brasileira, emprega-se como marçano mas, indignado com os tabefes que recebe do patrão, acaba por saltar de emprego em emprego, embora mantendo-se sempre ligado à área comercial. Aos 18 anos, constata a inutilidade dos sucessivos empregos e resolve partir para a Bahia. Aqui, num misto de querer romper com o passado mas também para evitar a confusão com outro António Ferreira da Silva, faz anunciar no jornal "Correio Mercantil" que, de futuro, passaria a assinar o seu nome como António Francisco Ferreira da Silva Porto.
Mas há uma razão íntima: ele quer prestar homenagem à sua terra natal. Todavia, a alteração do nome não significou mudança de vida. Nos dois anos seguintes continuou frustrado com o emprego de caixeiro, sujeito a todo o tipo de despotismo de patrões sem escrúpulos. Quando, no cais do Rio, tem conhecimento da partida de um navio para Angola, embarca sem fazer a mais pequena ideia do que vai encontrar." em sabia onde ficava Angola", confessaria mais tarde. Luanda, porém, não o fascina particularmente e, passado pouco tempo, ei-lo de regresso à Bahia, onde encontrou um clima de grande agitação política. Deflagrara há pouco a chamada revolta do Sabino e, como a instabilidade política é inimiga dos bons negócios, revolve voltar a Angola. Na capital angolana emprega-se numa taberna.
No Rio, emprega-se como marçano mas, indignado com os tabefes do patrão, salta de emprego em emprego. Pouco a pouco, surge o fascínio do comércio do interior. O feitiço da selva irá absorvê-lo por mais de 50 anos. Não é pessoa para estar parado atrás de um balcão e por isso, com os primeiros salários, compra fazendas e tecidos. Quando julga ter artigo suficiente, deixa a taberna e inicia a carreira de comerciante no sertão. Conta somente 22 anos.
Comerciar no mato pode ser um negócio próspero mas encerra múltiplos perigos. As caravanas que partem do litoral de Benguela para o Lui, Lunda e Catanga estão à mercê de todo o tipo de roubos, pilhagens e cobrança de imposto abusivos por parte dos sobas. E é frequente ser-se apanhado no meio de uma guerra tribal. Por isso, há que conhecer o terreno e travar amizades com o gentio, à partida avesso ao domínio do europeu. É o que faz Silva Porto e facilmente conquista amizades. Adapta-se bem a África e cria com o continente uma enorme empatia. A sua governanta é negra e os filhos mulatos. Sente-se em casa quando pernoita na embala do soba do Lui. Admita e elogia as técnicas agrícolas e artesanais indígenas. Inebria-se com toda a beleza daquelas terras virgens.
Uma fazenda chamada Belmonte
Todavia, o sertanejo não se estabeleceu logo no Bié. Primeiro errou pelas planícies do interior de Luanda; depois desceu para Benguela, lançando os seus comissários no caminho de Lui pelo Lutembo e Alto Zambeze. Só se fixa definitivamente no Bié na fazenda Belmonte, principiando a exploração do Barotce, que abriu ao comércio de Benguela. No armazém da grande libata de Belmonte o trânsito de gente e mercadorias é intenso.
As peças de fazenda, as missangas e a pólvora compradas em Benguela cruzam-se com o marfim, a cera e a borracha permutados no sertão. No seu diário regista, minuciosamente, tudo o que vê e ouve. Só está bem, como referiu Luciano Cordeiro, "a conversar com o papel". E acrescenta Cordeiro: "Com a sua letra apertada e tortuosa que lembra os zig-zagues através das florestas cerradas; na sua linguagem quasi creola, às vezes, pela longa isolação no meio selvagem, ele passava muitas horas n'estas silenciosas palestras ... " Dos 14 volumes do seu diário, que constitui um magnífico repositório geográfico, étnico e antropológico daquela região de África, apenas um foi publicado nos Annaes do Conselho Ultramarino.
A este respeito, Silva Porto afirmava: "Se a minha obra fosse o que deveria ser, há muito que estaria publicada, e talvez em diversas línguas." Em 1848, foi interinamente nomeado capitão-mor do Bié. No exercício destas funções revelou ser um verdadeiro apaziguador. Uma das suas primeiras medidas foi reunir todos os brancos, portugueses e estrangeiros que habitavam a região no intuito de conseguir que o soba Lhiumbulla obstasse a que "quimbumdos" e "guanguelas" acabassem com os sequestros que, pela mais pequena razão, faziam aos comerciantes brancos. Mas o soba morreu e, vendo-se na impossibilidade de recorrer à autoridade nativa, Silva Porto é obrigado a apelar ao governador-geral para que o Bié fosse ocupado militarmente, garantindo os interesses dos portugueses ali desterrados. Mas a voz da experiência não foi ouvida.
Antes a morte que a desonra
Por volta de 1850, dá-se início às grandes explorações africanas. Na embala de Belmonte, o sítio mais a leste onde flutua a bandeira portuguesa, há acolhimento certo para o explorador desinteressado ou comerciante audaz que demanda as terras do Leste. Como explorador experimentado, o sertanejo a todos dá conselhos: que caminhos seguir, os maiores perigos a evitar, o nível dos caudais dos rios, etc.
Chega mesmo a enviar os seus mais fiéis serviçais para os acompanhar. Livingstone, Stanley, Capelo, Ivens e Serpa Pinto servem-se dos seus conhecimentos e das suas boas relações com os nativos. Apesar disso, Livingstone, ingrata e invejosamente, apelida Silva Porto de "vulgar negreiro" quando chega às terras do Alto Zambeze. E mais: nos seus escritos, refere-se aos dois portugueses que encontrou (Silva Porto e Caetano Ferreira) como sendo "mulatos ou manbaris", omitindo que anteriormente Silva Porto o ajudara fornecendo-lhe preciosos elementos de orientação.
Em meados de 1889, depois de uma visita à metrópole, Silva Porto encontrou a embala de Belmonte devorada por um incêndio. Escreveu ao velho amigo Luciano Cordeiro: "Estou inválido e pobre. Não tenho pão e só ambiciono por consolação suprema a todas as minhas canseiras, poder morrer na pátria." Mas o Ultimato Inglês e sobretudo a perda de confiança do soba Dunduna na sua pessoa constituem o seu golpe de misericórdia.
O chefe autóctone chegou mesmo a puxar-lhe as barbas brancas quando correram rumores que uma expedição militar portuguesa se aproximava do Bié para ocupá-lo pela força. Indignado por Silva Porto não o ter avisado, afirmou inclusive que um homem sem carácter e sem vergonha não devia usar tal símbolo de respeito. Agora, para ele, tudo estava perdido: o Bié, que sempre considerara português, vinha sendo um campo de intrigas e sentia-se já claramente a intenção expansionista da Inglaterra. Desde 1850 que ele clamava pela ocupação militar daquela província, mas ninguém o escutou.
Contudo, o mais insuportável foi a sensação de desonra a que fora sujeito. Por isso, na madrugada do dia 1 de Abril de 1890, humilhado e moralmente de rastos, o velho sertanejo pegou na bandeira nacional que ele próprio fizera, enroscou-se nela, sentou-se num barril de pólvora e chegouse fogo. Morreria três dias depois numa intensa agonia.
A CIDADE FANTASMA "A cidade de Silva Porto é de aspecto gracioso e de ruas bem delineadas e recentemente asfaltadas em grande parte, dispõe de energia eléctrica e água canalizada, emissor de rádio e piscinas com medidas regulamentares para desportos. Na cidade foi recentemente erguida uma bela estátua em bronze, com 3,5 metros de altura, em honra deste grande português."
Era assim que o Anuário de Angola de 1962/1963 anunciava a capital do Bié, que com esta designação glorificava o seu grande colonizador. Em relação à população, referia: "Há 2400 europeus, 1.900 mestiços e pouco mais de 400 mil nativos." Hoje, passados 40 anos, é caso para dizer que qualquer semelhança com nomes, pessoas ou lugares é mera coincidência. Martirizada pelo conflito, a cidade actualmente chama-se Cuíto e encontra-se completamente arrasada pela guerra. Os mestiços são meia dúzia, os brancos não existem e até os negros encontram-se em número mais reduzido. Agora, pelas suas ruas, vagabundeiam pessoas, cães, gatos, todos eles esfomeados, removendo os contentores do lixo na busca quotidiana pela sobrevivência ..."
Artigo publicado aqui:
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