17.3.08

Rua Nova de S. Crispim e sítio da Póvoa de Cima

Nomes de ruas da cidade



A actual Rua Nova de S. Crispim tem alguma ligação com a antiga Rua de S. Crispim que ficava nas proximidades da Ribeira ?

Largo da Póvoa e Quinta da Póvoa de Baixo. São a mesma coisa ou são designações diferentes ? É possível localizá-las ?

As questões acima transcritas chegaram por mail. Quem as coloca tem toda a legitimidade para o fazer. Por isso, vamos tentar esclarecer o atento consulente, dentro das nossas possibilidades que é como quem diz até onde soubermos.

Começando pela primeira pergunta diremos que há, efectivamente uma ligação entre os dois topónimos.

A Rua de S. Crispim, junto à Ponte de S. Domingos, nas proximidades do largo que ainda tem esta denominação, desapareceu quando, por meados do século XIX (1852), andava a ser aberta a Rua de Mouzinho da Silveira.

Também por essa altura foi demolida a bonita capela de S. Crispim e S. Crispiniano onde a Confraria dos Sapateiros tinha a sua sede.

Em 1878 o referido templo foi reconstruído ao cima da rua que nesse mesmo ano recebeu o nome de S. Jerónimo e que, desde 1913, mudou para Rua de Santos Pousada.

O largo que fica diante da capela e que, na actualidade, tem a designação de Praça da Rainha D. Amélia, chamava-se, naquele tempo, Largo da Póvoa.

A palavra Póvoa, "popula" do latim, significa pequeno povoado. Como havia outra Póvoa, nas proximidades da Rua das Oliveirinhas, que antes se chamou Rua das Oliveiras, "junto à Póvoa de Baixo", lê-se num documento da paróquia de Santo Ildefonso do ano de 1757, a outra era designada por Póvoa de Cima para se diferenciar, naturalmente, da de baixo.

Quando se reconstruiu a capela de S. Crispim e S. Crispiniano no antiquíssimo Largo da Póvoa, a Municipalidade desse tempo resolveu mudar o nome ao largo que passou a chamar-se Largo de S. Crispim.

Recentemente, já nos nossos dias, voltaram a alterar a denominação ao dar ao largo em questão ao darem-lhe o nome da rainha D. Amélia de Orleães que foi a esposa de D. Carlos I.

A Rua Nova de S. Crispim anda, também, ligada à mudança da capela de junto de S. Domingos para o sitio onde agora está. Evoca o topónimo antigo que o urbanismo ribeirinho fez desaparecer.

Acerca deste assunto resta dizer que o topónimo Póvoa ainda subiste naquela zona alta da cidade designando uma rua, uma travessa e uma calçada.

Aproveito a embalagem da crónica, se assim se pode dizer, para esclarecer um outro assunto que ainda há muito pouco tempo foi levantado por um outro leitor. Diz respeito à Rua da "Bateria". Diz esse leitor que já viu referida como "Rua da Bateria do Cativo" e desejava saber quem foi "aquele cativo".

Essa Rua da Bateria, ou Bataria, como o povo diz, evoca uma bateria de artilharia que as tropas Liberais ali instalaram durante o Cerco do Porto (1832-1833).

Na planta das linhas (defensivas) elaborada pelo coronel de Engenharia, F.P.A. Moreira, mais conhecida pela "Planta de Arbués Moreira", esse local vem, efectivamente, designado como "Bateria do Cativo".

Ao contrário do que se chegou a pensar, esta designação nada tinha a ver com o sítio do Monte Cativo situado a uma considerável distância daquele local.

Aconteceu que o bateria foi colocada no ponto mais alto de uma quinta que, em tempos distantes, fora emprazada pela Câmara ao fidalgo Francisco de Sousa Cirne, cuja residência era o edifício onde hoje está a Junta de Freguesia do Bonfim. Este, por sua vez, em 30 de Agosto de 1730, sub emprazou a propriedade mais "uma parcela do prazo do Monte da Forca de Mijavelhas" a José Pereira e mulher.

Quando o terreno em causa começou a ser urbanizado estava na posse de Vicente Francisco Guimarães, por alcunha "o Cativo". Daí o nome dado à bateria da artilharia liberal que ali foi instalada durante o Cerco do Porto.

Rua Nova de S. Crispim
e sítio da Póvoa de Cima

Foi a seguir à vitória do Liberalismo que, no Porto, se verificaram as mais profundas alterações na toponímia portuense, com a criação de novos arruamentos e a mudança de nomes de muitos outros. Tendo em conta a zona da cidade que foi objecto desta crónica começaremos por informar que em sessão camarária de 15 de Julho de 1875 foram dados os seguintes nomes a várias ruas da cidade ao lugar da Póvoa foi dado o nome de Largo de S. Jerónimo, actual Praça da Rainha D. Amélia. Fora daquela zona temos as seguintes alterações deliberadas na mesma reunião: deu-se o nome de Travessa de Fernandes Tomás à antiga Viela do Barbosa que também era conhecida por Viela da Tia Rosa; à Travessa da Feiticeira, na zona das Eirinhas, foi dado o nome de Travessa do Campo de 24 de Agosto; ao chamado Padrão de Campanhã, que anteriormente se chamara somente Padrão, foi dado o nome de Rua de S. Lázaro; a Rua das Eirinhas, por sua vez, substituiu a antiga Travessa da Prata. A vereação de 1883 procedeu às seguintes alterações: à Viela de Sacais deu-se o nome de Rua de Ferreira Cardoso; e a Rua do Barão de S. Cosme substituiu a antiga Viela da Nora.


Artigo de Germano Silva publicado no Jornal de Notícias


2 comentários:

Jonas disse...

Em 1914, minha avó viveu no lugar da Póvoa de Cima, nº 20, casa 2 (ilha)
Poderá informar-me onde se situa, presentemente, esta casa?
Um abraço
João Lima

Jonas disse...

Em 1914, minha avó viveu no lugar da Póvoa de Cima, nº 20, casa 2 (ilha)
Poderá informar-me onde se situa, presentemente, esta casa?
Um abraço
João Lima