O Edifício que eu conheci como o "Conservatório", e tinha sido dos Viscondes de Vilarinho, é hoje o Colégio Horizonte. A escola primária da Ordem do Carmo, já está abandonada há mais de uma década, agora funciona no piso térreo uma Clínica de Radioterapia. É uma rua com pouca passagem, é uma rua esquecida no centro da cidade, com uns passeios que dão para se estrocegarem os tornozelos e uma calçada em paralelo que deve ainda datar do século XIX. Uma parte desta travessa sobrepõe-se ao Rio Frio. No tempo em que eu frequentava a escola primária, ainda não estava totalmente aberta a rua Diogo Brandão.
CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO PORTO
«Foi António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, 1.º Visconde de Vilarinho de S. Romão, quem mandou edificar este magnifico edifício. Por sua morte, sem descendência, passou o titulo para seu sobrinho, Álvaro Ferreira Girão, casado com D. Julia Clamowse Brown (filha da poetisa portuense Felicidade Brown), que aqui viveram muito tempo e aqui lhes nasceram os seus quatro filhos. Faziam gala do uso da sua capela dedicada a Santo António do Carregal, que ficava (e fica) logo a seguir ao portão da entrada, mas perfeitamente autónoma, com porta para a rua, encimada por uma coroa condal e, no granito, sobrepujando a porta, a pedra de armas da família e a data "1487 - 1903".
Em 1851, estava aqui alojado o Asilo da Infância, com a particularidade de ter a porta da rua uma caixa de esmolas, solicitando donativos aos transeuntes. Em 1 de Junho de 1917, foi aqui fundado, sob a direcção de Valentim Moreira de Sá, o Conservatório Superior de Musica, que aqui se conservou ate 13 de Marco de 1976, quando, sob direcção de Fernanda Wandschneider, ocupou o antigo palacete da família Pinto Leite, na Rua da Maternidade, ate o D.L. 310/83 o ter transformado em escola secundaria.»
CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO PORTO II
«Desde finais do séc. XIX que o Porto sentia a necessidade da criação de uma instituição pública destinada ao ensino da Música, à imagem do que em Lisboa aconteceu com a criação do Conservatório Nacional, em 1835.
Após algumas tentativas falhadas, da qual se destaca uma proposta nesse sentido elaborada por Ernesto Maia a pedido da Direcção Geral de Instrução Pública, uma aparece finalmente com mais consistência, desta vez da responsabilidade do pianista e director de orquestra Raimundo de Macedo. Desde Dezembro de 1911, logo após a implantação da República, que esta importante figura da vida musical portuense vinha desenvolvendo um conjunto de iniciativas, que culminaram na definitiva sensibilização do poder local para tal empreendimento. Assim, em reunião levada a efeito a 17 de Maio de 1917, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, composta pelo então Presidente Eduardo dos Santos Silva, por Armando Marques Guedes e Joaquim Gomes de Macedo, foi incumbida de estudar a organização de um conservatório de música nesta cidade. Finalmente, a 1 de Julho de 1917, o Senado da Câmara Municipal do Porto aprovou por unanimidade a criação do Conservatório de Música do Porto.
O número de alunos matriculados no ano lectivo de 1917/18 foi de 339, distribuídos pelos cursos de Piano, Canto, Violino e Violeta, Violoncelo, Instrumentos de Sopro e Composição. O Corpo Docente fundador era constituído por Raimundo de Macedo, Joaquim de Freitas Gonçalves, Luís Costa, José Cassagne, Pedro Blanco, Óscar da Silva, Ernesto Maia, Moreira de Sá, Carlos Dubbini, José Gouveia, Benjamim Gouveia e Angel Fuentes. Por indicação do Conselho Escolar e decisão da Câmara Municipal, a primeira direcção foi constituída por Moreira de Sá como director e Ernesto Maia como subdirector. Oficialmente inaugurado no dia 9 de Dezembro de 1917, o Conservatório de Música do Porto ficou instalado no n.º 87 da Travessa do Carregal até ao dia 13 de Março de 1975, quando passou a ocupar o palacete municipal, outrora pertencente à família Pinto Leite, no nº 13 da Rua da Maternidade, Porto.
Até Abril de 1974, altura em que novos modelos de gestão foram adoptados nas escolas, o Conservatório de Música do Porto teve como Directores Moreira de Sá, Ernesto Maia, Hernâni Torres, Luís Costa, José Gouveia, Joaquim Freitas Gonçalves, Maria Adelaide Freitas Gonçalves, Cláudio Carneyro, Stella da Cunha, Silva Pereira e José Delerue.»
GIRÃO, António Lobo de Barbosa Ferreira
«Nasceu em 5.11.1785 em Vilarinho de S. Romão. Ficou conhecido, sobretudo, como 1.° Visconde de Vilarinho de S. Romão. Faleceu em 17.03.1863. Jornal Vos do Nordeste de 28.09.1999 publicou uma longa nota biográfica acerca deste ilustre transmontano. A Voz de Trás-os- Montes transcreveu essa nota na sua edição de 4.11.1999. Pela sua oportunidade aqui se reproduz: "Iniciamos esta crónica com um dos deputados transmontanos que mais se distinguiu nas Cortes vintistas e um dos nomes mais importantes do liberalismo e da história parlamentar portuguesa. Teixeira Girão foi um dos grandes oradores e uma das vozes que normalmente era ouvida e admirada pelos outros deputados. Foi também autor de diversas obras de cariz económico, com destaque para a vitinicultura, onde deixou de forma clara as suas ideias. Comecemos com uma pequena biografia deste ilustre transmontano. Um Nobre Liberal O primeiro Visconde de Vilarinho de S. Romão nasceu em 5 de Novembro de 1785. Era filho de António José Girão Teixeira Lobo de Barbosa, senhor do morgado de Vilarinho de S. Romão e de Dona Teresa Luísa de Jesus Sousa Maciel Teixeira Girão. Faleceu na terra natal, em 17 de Março de 1863, após uma vida rica em peripécias e marcada por uma brilhante carreira política e literária. Podemos dizer que António Girào foi um autodidacta, uma daquelas personalidades que aproveitavam todas as ocasiões para se instruir, bem ao jeito de Luzes e também um espírito prático e inventivo. A primeira educação recebeu a no próprio domicílio, onde teve como preceptor António Pinheiro de Azevedo, famoso professor de Provesende. Com ele aprendeu Latim, Filosofia e Eloquência. Em 1804, aproveitando uma viagem que com seu tio, António Caetano Girão. tez a Lisboa. estudou Francês. Inglês e adquiriu uma boa biblioteca, composta por livros de Física e Ciências Naturais. Reforçando a componente prática da formação, estudou Desenho. Geometria e .Arquitectura com arquitecto Francisco Correia de Matos, que estudara em Roma. Dedicou-se à agricultura, como era tradição na família, e introduziu nas terras de S. Romão muitas inovações, baseadas nos conhecimentos empíricos e nos estudos e experiências. Um bom exemplo foi a máquina de extracção do mosto, que ofereceu à Academia das Ciências de Lisboa e lhe valeu ser admitido como sócio da ilustre corporação. A inovação agrícola era já uma tradição na família dos morgados de S. Romão. Com efeito, sua mãe, Dona Teresa Maciel, recebeu em 1798 uma medalha de ouro da Academia das Ciências, como prémio de qualidade e inovação agrícola, por ter desenvolvido, com grande sucesso, a cultura da batata na Quinta de Vilarinho de S. Romão. Quando triunfou a Revolução de 1820, apesar da sua condição de nobre, declarou se liberal; considerando que a nobreza deveria guiar as novas ideias em vez de a elas se opor. Foi então eleito deputado às Cortes pela Província de Trás os Montes e nelas fez parte da Comissão de Agricultura. Nos debates assumiu uma posição nitidamente liberal e pela sua grande influência foi o principal responsável pela orientação de voto dos deputados transmontanos. Foi reeleito deputado para as cortes ordinárias de 1822. para as cartistas de 1826-28 e posteriormente Par do Reino (1834). Após a Vilafrancada foi exilado para o Algarve (Sagres) onde teve como companheiro Manuel Gonçalves Miranda, outro deputado transmontano. Aproveitou o exílio para aprender Matemática com o colega. Com o estabelecimento do Governo absolutista homiziou se nas terras de S. Romão e só voltou a aparecer publicamente em 1833. Durante cinco anos esteve escondido no sótão do seu solar, gozando apenas da companhia dos seus pincéis e livros. As únicas visitas que teve foram da mulher e de alguns amigos, que, tal como ele, se encontravam escondidos para fugir ao terror miguelista e, por isso, eram obrigados a vestir se de soldados, de criados, ou até a usar trajes de mulher, para se deslocarem. Aproveitou António Girão este quinquénio para se dedicar ao estudo e redigir grande parte das obras numa das quais narrou esta experiência e significativamente intitulada: Histórias de Meninos, para quem não for creança. escriptas por um homisiado que sofreu o marmrio de estar escondido cinco annos e dou meies. Em 1833 alistou se para combater ao lado de D. Pedro e teve papel preponderante. durante o cerco de Lisboa, ao fazer os planos para reabastecer de água a cidade que se encontrava cercada pelas tropas miguelistas. Regressado à vida política foi nomeado Par do Reino e recebeu diversos cargos e honras dos quais se destaca o título de visconde de S. Romão, que lhe foi concedido por decreto de D. Maria II de 17.11.1835. Recebeu e desempenhou ainda outros importantes cargos: Inspector das Águas Livres e das Fábricas Anexas; Provedor do Papel Selado; Presidente Honorário de Instituto de África; Fidalgo e Cavaleiro da Casa Real; Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição; Administrador da Casa da Moeda: Prefeito de Trás-os-Montes e da Estremadura. Era também importante agricultor e reconhecido economista e nesta qualidade foi sócio da Sociedade Promotora da Indústria Nacional. As ideias económicas dum viticultor O primeiro visconde de S. Romão deixou uma extensa e interessante bibliografia. Nela sobressaem os estudos sobre a agricultura, especialmente das vinhas. sendo o mais conhecido a Memória histórica e analytica sobre a Companhia dos Vinhos denominada da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1833), que, de acordo com Inocêncio Silva, é o que de mais completo se escreveu sobre esta instituição. São também muito interessantes os seus estudos sobre economia, e nomeadamente sobre economia doméstica e até a culinária. Citemos aqui apenas dois títulos: Memória sobre a economia do combustível por meio de vários melhoramentos que se devem fazer nos lares ordinários, fornalhas, fornos e fogões (1834); e Arte do Cosinheiro e do Copeiro, compilada dos melhores que sobre isto escreveram modernamente (...) (1841). Alguns dos seus trabalhos foram publicados nas Memórias da Academia das Ciências e escreveu ainda diversos artigos para a Revista Universal Lisbonense, para os Annaes da Sociedade Promotora da Indústria Nacional e para outros periódicos. A sua obra constitui um bom exemplo do modo como a herança do movimento das luzes, e do reformismo que o caracterizou, se fez sentir entre nós, durante a primeira metade do século XIX. Além da grande variedade de temas abordados, nela perpassa a defesa da instrução e do saber como bases do progresso e do desenvolvimento económico do país. Dotado de espírito prático e inventiva, para ele a aquisição de conhecimentos tinha, acima de tudo, um sentido pragmático e operativo. Divisamos na obra e intervenção política de Teixeira Girão duas ideias bases: em primeiro lugar a defesa do desenvolvimento agrícola e sobretudo o aumento da produção vinícola. A quantidade e a qualidade eram para ele conciliáveis. Deveriam, assim, eliminar se todos os entraves que bloqueavam a expansão da produção e do comércio livre e por isso insurge se contra os tributos e monopólios. Em segundo lugar, considerava que para conseguir este desenvolvimento económico do país, a instrução e inovação científica e tecnológica, que ela origina, eram as estratégias indispensáveis. Era preciso pôr em prática os ensinamentos dos economistas, modernizar e inventar novas máquinas, divulgar e introduzir novas culturas agrícolas, como a batata e, enfim, aprofundar os estudos agronómicos.
O romantismo e ardor que colocou na defesa das novas ideias conduzem a situações que podem parecer paradoxais, tais como, vermos um morgado a combater os morgadios e a reclamar a liberdade das terras, o fim dos vínculos. dos dízimos e de todas as formas que entravem a produção. Valorizando a terra livre e o trabalho livre, base da inovação, as ideias económicas de Teixeira Girão continuam a ser uma referência obrigatória para todos os que consideram o sector vinícola e, em especial a vitivinicultura duriense, como uma das melhores apostas para o progresso moral e económico da nação. Muito teríamos a escrever sobre a vida e obra de Teixeira Girão, que aguardam, tal como a de muitos outros portugueses, por investigadores ou até por cineastas em busca de inspiração.
In "A Voz do Nordeste" 28/09/2000»
CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO PORTO
«Foi António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira Girão, 1.º Visconde de Vilarinho de S. Romão, quem mandou edificar este magnifico edifício. Por sua morte, sem descendência, passou o titulo para seu sobrinho, Álvaro Ferreira Girão, casado com D. Julia Clamowse Brown (filha da poetisa portuense Felicidade Brown), que aqui viveram muito tempo e aqui lhes nasceram os seus quatro filhos. Faziam gala do uso da sua capela dedicada a Santo António do Carregal, que ficava (e fica) logo a seguir ao portão da entrada, mas perfeitamente autónoma, com porta para a rua, encimada por uma coroa condal e, no granito, sobrepujando a porta, a pedra de armas da família e a data "1487 - 1903".
Em 1851, estava aqui alojado o Asilo da Infância, com a particularidade de ter a porta da rua uma caixa de esmolas, solicitando donativos aos transeuntes. Em 1 de Junho de 1917, foi aqui fundado, sob a direcção de Valentim Moreira de Sá, o Conservatório Superior de Musica, que aqui se conservou ate 13 de Marco de 1976, quando, sob direcção de Fernanda Wandschneider, ocupou o antigo palacete da família Pinto Leite, na Rua da Maternidade, ate o D.L. 310/83 o ter transformado em escola secundaria.»
CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DO PORTO II
«Desde finais do séc. XIX que o Porto sentia a necessidade da criação de uma instituição pública destinada ao ensino da Música, à imagem do que em Lisboa aconteceu com a criação do Conservatório Nacional, em 1835.
Após algumas tentativas falhadas, da qual se destaca uma proposta nesse sentido elaborada por Ernesto Maia a pedido da Direcção Geral de Instrução Pública, uma aparece finalmente com mais consistência, desta vez da responsabilidade do pianista e director de orquestra Raimundo de Macedo. Desde Dezembro de 1911, logo após a implantação da República, que esta importante figura da vida musical portuense vinha desenvolvendo um conjunto de iniciativas, que culminaram na definitiva sensibilização do poder local para tal empreendimento. Assim, em reunião levada a efeito a 17 de Maio de 1917, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, composta pelo então Presidente Eduardo dos Santos Silva, por Armando Marques Guedes e Joaquim Gomes de Macedo, foi incumbida de estudar a organização de um conservatório de música nesta cidade. Finalmente, a 1 de Julho de 1917, o Senado da Câmara Municipal do Porto aprovou por unanimidade a criação do Conservatório de Música do Porto.
O número de alunos matriculados no ano lectivo de 1917/18 foi de 339, distribuídos pelos cursos de Piano, Canto, Violino e Violeta, Violoncelo, Instrumentos de Sopro e Composição. O Corpo Docente fundador era constituído por Raimundo de Macedo, Joaquim de Freitas Gonçalves, Luís Costa, José Cassagne, Pedro Blanco, Óscar da Silva, Ernesto Maia, Moreira de Sá, Carlos Dubbini, José Gouveia, Benjamim Gouveia e Angel Fuentes. Por indicação do Conselho Escolar e decisão da Câmara Municipal, a primeira direcção foi constituída por Moreira de Sá como director e Ernesto Maia como subdirector. Oficialmente inaugurado no dia 9 de Dezembro de 1917, o Conservatório de Música do Porto ficou instalado no n.º 87 da Travessa do Carregal até ao dia 13 de Março de 1975, quando passou a ocupar o palacete municipal, outrora pertencente à família Pinto Leite, no nº 13 da Rua da Maternidade, Porto.
Até Abril de 1974, altura em que novos modelos de gestão foram adoptados nas escolas, o Conservatório de Música do Porto teve como Directores Moreira de Sá, Ernesto Maia, Hernâni Torres, Luís Costa, José Gouveia, Joaquim Freitas Gonçalves, Maria Adelaide Freitas Gonçalves, Cláudio Carneyro, Stella da Cunha, Silva Pereira e José Delerue.»
Sobre o primeiro Visconde de Vilarinho de S. Romão
GIRÃO, António Lobo de Barbosa Ferreira
«Nasceu em 5.11.1785 em Vilarinho de S. Romão. Ficou conhecido, sobretudo, como 1.° Visconde de Vilarinho de S. Romão. Faleceu em 17.03.1863. Jornal Vos do Nordeste de 28.09.1999 publicou uma longa nota biográfica acerca deste ilustre transmontano. A Voz de Trás-os- Montes transcreveu essa nota na sua edição de 4.11.1999. Pela sua oportunidade aqui se reproduz: "Iniciamos esta crónica com um dos deputados transmontanos que mais se distinguiu nas Cortes vintistas e um dos nomes mais importantes do liberalismo e da história parlamentar portuguesa. Teixeira Girão foi um dos grandes oradores e uma das vozes que normalmente era ouvida e admirada pelos outros deputados. Foi também autor de diversas obras de cariz económico, com destaque para a vitinicultura, onde deixou de forma clara as suas ideias. Comecemos com uma pequena biografia deste ilustre transmontano. Um Nobre Liberal O primeiro Visconde de Vilarinho de S. Romão nasceu em 5 de Novembro de 1785. Era filho de António José Girão Teixeira Lobo de Barbosa, senhor do morgado de Vilarinho de S. Romão e de Dona Teresa Luísa de Jesus Sousa Maciel Teixeira Girão. Faleceu na terra natal, em 17 de Março de 1863, após uma vida rica em peripécias e marcada por uma brilhante carreira política e literária. Podemos dizer que António Girào foi um autodidacta, uma daquelas personalidades que aproveitavam todas as ocasiões para se instruir, bem ao jeito de Luzes e também um espírito prático e inventivo. A primeira educação recebeu a no próprio domicílio, onde teve como preceptor António Pinheiro de Azevedo, famoso professor de Provesende. Com ele aprendeu Latim, Filosofia e Eloquência. Em 1804, aproveitando uma viagem que com seu tio, António Caetano Girão. tez a Lisboa. estudou Francês. Inglês e adquiriu uma boa biblioteca, composta por livros de Física e Ciências Naturais. Reforçando a componente prática da formação, estudou Desenho. Geometria e .Arquitectura com arquitecto Francisco Correia de Matos, que estudara em Roma. Dedicou-se à agricultura, como era tradição na família, e introduziu nas terras de S. Romão muitas inovações, baseadas nos conhecimentos empíricos e nos estudos e experiências. Um bom exemplo foi a máquina de extracção do mosto, que ofereceu à Academia das Ciências de Lisboa e lhe valeu ser admitido como sócio da ilustre corporação. A inovação agrícola era já uma tradição na família dos morgados de S. Romão. Com efeito, sua mãe, Dona Teresa Maciel, recebeu em 1798 uma medalha de ouro da Academia das Ciências, como prémio de qualidade e inovação agrícola, por ter desenvolvido, com grande sucesso, a cultura da batata na Quinta de Vilarinho de S. Romão. Quando triunfou a Revolução de 1820, apesar da sua condição de nobre, declarou se liberal; considerando que a nobreza deveria guiar as novas ideias em vez de a elas se opor. Foi então eleito deputado às Cortes pela Província de Trás os Montes e nelas fez parte da Comissão de Agricultura. Nos debates assumiu uma posição nitidamente liberal e pela sua grande influência foi o principal responsável pela orientação de voto dos deputados transmontanos. Foi reeleito deputado para as cortes ordinárias de 1822. para as cartistas de 1826-28 e posteriormente Par do Reino (1834). Após a Vilafrancada foi exilado para o Algarve (Sagres) onde teve como companheiro Manuel Gonçalves Miranda, outro deputado transmontano. Aproveitou o exílio para aprender Matemática com o colega. Com o estabelecimento do Governo absolutista homiziou se nas terras de S. Romão e só voltou a aparecer publicamente em 1833. Durante cinco anos esteve escondido no sótão do seu solar, gozando apenas da companhia dos seus pincéis e livros. As únicas visitas que teve foram da mulher e de alguns amigos, que, tal como ele, se encontravam escondidos para fugir ao terror miguelista e, por isso, eram obrigados a vestir se de soldados, de criados, ou até a usar trajes de mulher, para se deslocarem. Aproveitou António Girão este quinquénio para se dedicar ao estudo e redigir grande parte das obras numa das quais narrou esta experiência e significativamente intitulada: Histórias de Meninos, para quem não for creança. escriptas por um homisiado que sofreu o marmrio de estar escondido cinco annos e dou meies. Em 1833 alistou se para combater ao lado de D. Pedro e teve papel preponderante. durante o cerco de Lisboa, ao fazer os planos para reabastecer de água a cidade que se encontrava cercada pelas tropas miguelistas. Regressado à vida política foi nomeado Par do Reino e recebeu diversos cargos e honras dos quais se destaca o título de visconde de S. Romão, que lhe foi concedido por decreto de D. Maria II de 17.11.1835. Recebeu e desempenhou ainda outros importantes cargos: Inspector das Águas Livres e das Fábricas Anexas; Provedor do Papel Selado; Presidente Honorário de Instituto de África; Fidalgo e Cavaleiro da Casa Real; Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição; Administrador da Casa da Moeda: Prefeito de Trás-os-Montes e da Estremadura. Era também importante agricultor e reconhecido economista e nesta qualidade foi sócio da Sociedade Promotora da Indústria Nacional. As ideias económicas dum viticultor O primeiro visconde de S. Romão deixou uma extensa e interessante bibliografia. Nela sobressaem os estudos sobre a agricultura, especialmente das vinhas. sendo o mais conhecido a Memória histórica e analytica sobre a Companhia dos Vinhos denominada da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1833), que, de acordo com Inocêncio Silva, é o que de mais completo se escreveu sobre esta instituição. São também muito interessantes os seus estudos sobre economia, e nomeadamente sobre economia doméstica e até a culinária. Citemos aqui apenas dois títulos: Memória sobre a economia do combustível por meio de vários melhoramentos que se devem fazer nos lares ordinários, fornalhas, fornos e fogões (1834); e Arte do Cosinheiro e do Copeiro, compilada dos melhores que sobre isto escreveram modernamente (...) (1841). Alguns dos seus trabalhos foram publicados nas Memórias da Academia das Ciências e escreveu ainda diversos artigos para a Revista Universal Lisbonense, para os Annaes da Sociedade Promotora da Indústria Nacional e para outros periódicos. A sua obra constitui um bom exemplo do modo como a herança do movimento das luzes, e do reformismo que o caracterizou, se fez sentir entre nós, durante a primeira metade do século XIX. Além da grande variedade de temas abordados, nela perpassa a defesa da instrução e do saber como bases do progresso e do desenvolvimento económico do país. Dotado de espírito prático e inventiva, para ele a aquisição de conhecimentos tinha, acima de tudo, um sentido pragmático e operativo. Divisamos na obra e intervenção política de Teixeira Girão duas ideias bases: em primeiro lugar a defesa do desenvolvimento agrícola e sobretudo o aumento da produção vinícola. A quantidade e a qualidade eram para ele conciliáveis. Deveriam, assim, eliminar se todos os entraves que bloqueavam a expansão da produção e do comércio livre e por isso insurge se contra os tributos e monopólios. Em segundo lugar, considerava que para conseguir este desenvolvimento económico do país, a instrução e inovação científica e tecnológica, que ela origina, eram as estratégias indispensáveis. Era preciso pôr em prática os ensinamentos dos economistas, modernizar e inventar novas máquinas, divulgar e introduzir novas culturas agrícolas, como a batata e, enfim, aprofundar os estudos agronómicos.
O romantismo e ardor que colocou na defesa das novas ideias conduzem a situações que podem parecer paradoxais, tais como, vermos um morgado a combater os morgadios e a reclamar a liberdade das terras, o fim dos vínculos. dos dízimos e de todas as formas que entravem a produção. Valorizando a terra livre e o trabalho livre, base da inovação, as ideias económicas de Teixeira Girão continuam a ser uma referência obrigatória para todos os que consideram o sector vinícola e, em especial a vitivinicultura duriense, como uma das melhores apostas para o progresso moral e económico da nação. Muito teríamos a escrever sobre a vida e obra de Teixeira Girão, que aguardam, tal como a de muitos outros portugueses, por investigadores ou até por cineastas em busca de inspiração.
In "A Voz do Nordeste" 28/09/2000»
Publicado em: Notícias do Douro
8 comentários:
Também andei na escola primária da Ordem do Carmo.... Que saudades! como gostaria de ver e de estar com colegas dessa época. Andei lá nos anos de 1969 a 1973.
Céu
Já experimentou ir ao facebook ao grupo Antigos Alunos da Escola Primária da Ordem do Carmo? Eu andei lá até 68/69.
Helena Gonçalves Pereira
O Grupo de Antigos Alunos da Escola do Carmo tem este endereço: http://www.facebook.com/group.php?v=wall&gid=174788586210#!/group.php?v=info&gid=174788586210
Gostei muito daquela foto nas escadinhas do recreio! E as carteiras na sala eram as mesmas que existiam no meu tempo. A única mudança, ao fim de décadas deve ter sido a existência de turmas mistas. No meu tempo, as Meninas tinham o segundo andar reservado. Oa horários eram diferentes para os dois sexos. Só uma vez por ano, na Festa de Natal é que havia um momento em que todos se encontravam no mesmo recinto.
Frequentei a Escola Primária da Ordem do Carmo, suponho que entre 1960 e 1964. Foi há já muito tempo! Foi minha professora a D. Maria Teresa Fortuna e fiz parte da primeira turma que leccionou. Lembro-me do recreio que dava para o recinto de equitação da GNR, das camaratas das velhinhas cujas janelas davam para o recreio, do Salão de Festas, antigo e belíssimo, com um palco decorado com telas pintadas, de gosto oitcentista. À quinta-feira de manhã tínhamos aulas de canto coral com a D. Luísa, aulas essas que eram mistas,(embora as meninas se sentassem dum lado e os meninos do outro), e de ginástica, só para os rapazes, ministradas pelo Sr. Pinto, que tenho ideia que seria um militar. As meninas faziam ginástica noutra hora!
Obrigado Afcveiga!
Isso foi pouco depois de eu ter saído de lá! No meu tempo também era um militar (já não me lembro do nome) que dava as "aulas de ginástica". Estava um frio em certos dias que nem tirávamos as camisolas. A D. Luísa era a mesma que tocava piano e abanava a cabeça. O recreio era aquele corredor ao ar livre que nos conduzia à Ordem... e que era o caminho até à igreja em dias de missa importante.
A escola já desapareceu à muito e, pelo que ouço, a Ordem não se aguenta nas finanças.
Já agora, outra figura do meu tempo. O senhor Francisco que era o porteiro. Mais tarde foi o porteiro da entrada principal do Hospital da Ordem.
Escapava-me o Sr. Francisco! O filho dele, o Manuel, frequentou a escola nessa altura. Recordo ainda a procissão do Corpus Christi (suponho que era essa), em que desfilavamos todos vaidosos com a opa da Ordem do Carmo. É pena que uma instituição tão veneranda esteja na situação económica em que se encontra!
A Capela está em obras. Disseram-me que dentro de dois meses estarão concluídas.
"(...) Em 1 de Junho de 1917, foi aqui fundado, sob a direcção de Valentim Moreira de Sá, o Conservatório Superior de Musica...".
Mas que raio de ideia essa de referir "Valentim Moreira de Sá"? Como, de forma igualmente disparatada, se deu o mesmo nome à "Academia de Música Valentim Moreira de Sá" em Guimarães, sua terra natal!!!
Lamento que a ignorância continue a imperar, pois nunca meu bisavô foi conhecido por tal nome, antes sempre como "BERNARDO Moreira de Sá", ou somente como "PROF. MOREIRA DE SÁ", ou então pelo nome completo que era, efectivamente, "BERNARDO VALENTIM MOREIRA DE SÁ". Mas nunca como VALENTIM Moreira de Sá, até porque dava confusão com o nome de uma tio paterno, (Valentim Moreira de Sá e Menezes, escritor, dramaturgo, que foi director do Colégio S. Luiz, no Rio de Janeiro, mas veio a morrer em Guimarães); e do pai deste e avô paterno do musicólogo, violinista, pedagogo aqui referido (Valentim Brandão Moreira de Sá Sotomayor e Menezes, major do Batalhão da Guarda Nacional, fixo em Guimarães, cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, tabelião em Guimarães e Vila Nova de Famalicão, e administrador de Guimarães na Patuleia).
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