Fotografia publicada e localizada no Flickr
Sobre Manuel Laranjeira:
«Duas notas prévias: uma para dizer que, conforme prometido, cá estou para deixar umas palavras mais que justas sobre o homem; uma outra para referir que as linhas que se seguem são, quase todas (”tomos” 1 e 2), extractos do livro “A Génese de Espinho - Histórias e Postais”, da autoria de Carlos Morais Gaio. A guitarra a quem tem unhas…
O nascimento
Às 20h do dia 17 de Agosto de 1877, uma sexta-feira, nascia no lugar da Vergada, freguesia de São Martinho de Mozelos, concelho da Feira, Manuel (Fernandes) Laranjeira.
Em Espinho
Aos 22 anos, fixou residência em Espinho numa casa com o n.º 275 da Rua Bandeira Coelho (actual Rua 19). “Padecia de sífilis e preparava-se para formalizar a sua inscrição na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Iria destacar-se como um vulto influente da cultura portuguesa e marcaria a primeira década do século, já que Espinho lhe serviu de palco para a produção intelectual e para a participação cívica.”
O homem e a obra
“Considerado como o autor que melhor encarnou a obsessão no naturalismo em encontrar a verdade sobre a sociedade portuguesa, concebida como uma entidade dotada das características psicológicas dos seus habitantes, publicava, em 1902, a peça ‘Amanhã (prólogo dramático)’, via representado, em 1905, o seu manuscrito ‘Às Feras’ e concluía, em 1907, a licenciatura com uma tese intitulada ‘A Doença da Santidade (ensaio psico-patológico sobre o misticismo de forma religiosa)’. Na sua vasta colaboração em jornais e revistas, defendia a ideia de que os suicídios célebres (Soares dos Reis, Antero de Quental, Camilo Castelo Branco) reflectiam o mal-estar colectivo, julgando necessário que alguém fosse capaz de escrever a verdade sobre Portugal.”
As tertúlias
“Numa época em que a neurose e o esgotamento se popularizavam, Laranjeira abusava do café e do tabaco, tinha insónias prolongadas e passava noites a escrever, depois das boémias e das tertúlias. Frequentador habitual do Café Chinês, rodeava-se de um grupo fiel, onde pontificavam, entre outros, o artista Amadeo de Souza-Cardozo (que frequentava a praia [de Espinho]) e um grupo de jovens influentes no meio local (…)”
“A Génese de Espinho - Histórias e Postais”
Carlos Morais Gaio
Campo das Letras, Porto, Dezembro de 1999
(págs. 381 a 392, Capítulo VI - Uma vila à Beira-mar, Os Anos de Laranjeira)
A causa
Manuel Laranjeira sentia-se um “D. Quixote de braços cruzados” perante a “força cruel da realidade, defendia ser preciso uma ‘mentira vital’ para se acreditar nalguma coisa. A causa republicana levou-o a participar, empenhadamente, na luta contra a monarquia, pelo que reagiu euforicamente à implantação da República.”
O político
“Em 1911, desdobrou-se em iniciativas, fez uma conferência, no Teatro Aliança, sobre as invasões do mar e as obras de defesa da costa [espinhense], lutou pela criação da comarca, como forma de consumar a independência face à Vila da Feira, escreveu (…) artigos sobre o assunto (…) e foi nomeado presidente da Comissão Administrativa Municipal [de Espinho], cargo que desempenhou durante poucos meses (entre Agosto e Outubro), por razões de saúde.”
A morte
O poeta, médico, escritor, filósofo & tudo suicidou-se no dia 22 de Fevereiro de 1912, aos 34 anos. No jornal “Rumo” de 30/06/1949, Roberto Fernandes escrevia assim, a propósito do fim de Laranjeira: “Uma tarde, avizinhando-se a noite, retirei-me da cabeceira da sua cama para regressar a casa. Tinham decorrido uns vinte minutos, se tanto, quando estava a jantar e alguém veio dizer-me que Manuel Laranjeira se suicidara, disparando um tiro de revólver na cabeça. Abandonei a refeição e corri apressadamente a sua casa. Quando entrei no seu quarto, onde antes conversara com ele, verifiquei a realidade da má notícia. Um fio de sangue, manchando o travesseiro, corria dum ferimento do lado direito da cabeça, um pouco abaixo da orelha. O seu corpo, reduzido a quase um esqueleto nos últimos dias em que guardava o leito, sumia-se sob as roupas, depois de morto, apenas se divisando a sua cabeça de farta cabeleira, a boca aberta como se ainda pudesse dizer a todos: “Irreverente como sempre fui, até me ri da Morte porque me antecipei a ela…”
Nota: Orlando da Silva publicou em 1992, numa edição de autor, uma interessante fotobiografia intitulada “Manuel Laranjeira: Vivências e Imagens de uma Época (1887-1912)”. Imprescindível para quem quiser conhecer ao pormenor a vida do poeta, com reproduções de documentos e fotografias de Laranjeira e das pessoas e dos sítios que nele habitavam.»
«Duas notas prévias: uma para dizer que, conforme prometido, cá estou para deixar umas palavras mais que justas sobre o homem; uma outra para referir que as linhas que se seguem são, quase todas (”tomos” 1 e 2), extractos do livro “A Génese de Espinho - Histórias e Postais”, da autoria de Carlos Morais Gaio. A guitarra a quem tem unhas…
O nascimento
Às 20h do dia 17 de Agosto de 1877, uma sexta-feira, nascia no lugar da Vergada, freguesia de São Martinho de Mozelos, concelho da Feira, Manuel (Fernandes) Laranjeira.
Em Espinho
Aos 22 anos, fixou residência em Espinho numa casa com o n.º 275 da Rua Bandeira Coelho (actual Rua 19). “Padecia de sífilis e preparava-se para formalizar a sua inscrição na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Iria destacar-se como um vulto influente da cultura portuguesa e marcaria a primeira década do século, já que Espinho lhe serviu de palco para a produção intelectual e para a participação cívica.”
O homem e a obra
“Considerado como o autor que melhor encarnou a obsessão no naturalismo em encontrar a verdade sobre a sociedade portuguesa, concebida como uma entidade dotada das características psicológicas dos seus habitantes, publicava, em 1902, a peça ‘Amanhã (prólogo dramático)’, via representado, em 1905, o seu manuscrito ‘Às Feras’ e concluía, em 1907, a licenciatura com uma tese intitulada ‘A Doença da Santidade (ensaio psico-patológico sobre o misticismo de forma religiosa)’. Na sua vasta colaboração em jornais e revistas, defendia a ideia de que os suicídios célebres (Soares dos Reis, Antero de Quental, Camilo Castelo Branco) reflectiam o mal-estar colectivo, julgando necessário que alguém fosse capaz de escrever a verdade sobre Portugal.”
As tertúlias
“Numa época em que a neurose e o esgotamento se popularizavam, Laranjeira abusava do café e do tabaco, tinha insónias prolongadas e passava noites a escrever, depois das boémias e das tertúlias. Frequentador habitual do Café Chinês, rodeava-se de um grupo fiel, onde pontificavam, entre outros, o artista Amadeo de Souza-Cardozo (que frequentava a praia [de Espinho]) e um grupo de jovens influentes no meio local (…)”
“A Génese de Espinho - Histórias e Postais”
Carlos Morais Gaio
Campo das Letras, Porto, Dezembro de 1999
(págs. 381 a 392, Capítulo VI - Uma vila à Beira-mar, Os Anos de Laranjeira)
A causa
Manuel Laranjeira sentia-se um “D. Quixote de braços cruzados” perante a “força cruel da realidade, defendia ser preciso uma ‘mentira vital’ para se acreditar nalguma coisa. A causa republicana levou-o a participar, empenhadamente, na luta contra a monarquia, pelo que reagiu euforicamente à implantação da República.”
O político
“Em 1911, desdobrou-se em iniciativas, fez uma conferência, no Teatro Aliança, sobre as invasões do mar e as obras de defesa da costa [espinhense], lutou pela criação da comarca, como forma de consumar a independência face à Vila da Feira, escreveu (…) artigos sobre o assunto (…) e foi nomeado presidente da Comissão Administrativa Municipal [de Espinho], cargo que desempenhou durante poucos meses (entre Agosto e Outubro), por razões de saúde.”
A morte
O poeta, médico, escritor, filósofo & tudo suicidou-se no dia 22 de Fevereiro de 1912, aos 34 anos. No jornal “Rumo” de 30/06/1949, Roberto Fernandes escrevia assim, a propósito do fim de Laranjeira: “Uma tarde, avizinhando-se a noite, retirei-me da cabeceira da sua cama para regressar a casa. Tinham decorrido uns vinte minutos, se tanto, quando estava a jantar e alguém veio dizer-me que Manuel Laranjeira se suicidara, disparando um tiro de revólver na cabeça. Abandonei a refeição e corri apressadamente a sua casa. Quando entrei no seu quarto, onde antes conversara com ele, verifiquei a realidade da má notícia. Um fio de sangue, manchando o travesseiro, corria dum ferimento do lado direito da cabeça, um pouco abaixo da orelha. O seu corpo, reduzido a quase um esqueleto nos últimos dias em que guardava o leito, sumia-se sob as roupas, depois de morto, apenas se divisando a sua cabeça de farta cabeleira, a boca aberta como se ainda pudesse dizer a todos: “Irreverente como sempre fui, até me ri da Morte porque me antecipei a ela…”
Nota: Orlando da Silva publicou em 1992, numa edição de autor, uma interessante fotobiografia intitulada “Manuel Laranjeira: Vivências e Imagens de uma Época (1887-1912)”. Imprescindível para quem quiser conhecer ao pormenor a vida do poeta, com reproduções de documentos e fotografias de Laranjeira e das pessoas e dos sítios que nele habitavam.»
Publicado no Boblog
Sobre a Colónia Dr. Manuel Laranjeira existe um documento publicado pela Associação Portuguesa de Sociologia que trata do alojamento social no Porto, com especial referência aos primeiros bairros sociais da cidade, que pode ver aqui.
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