«Há cinco dias (escrevo no sábado de manhã) que espero da Câmara do Porto uma resposta a uma pergunta muito simples que lhe enderecei, por mail, através do seu Gabinete de Imprensa.
A pergunta foi esta o que aconteceu às placas que estavam no sopé do pedestal da estátua equestre de D. Pedro IV, na Praça da Liberdade, que evocavam a memória dos 12 Mártires da Liberdade que naquele mesmo local foram enforcados, por ordem D. Miguel, nos dias 7 de Maio e 9 de Outubro de 1829 ?
Recordo, para quem não esteja lembrado, que o monumento em causa esteve entaipado, durante várias semanas, enquanto se procedeu a operações de conservação e limpeza. Terminadas estas, os taipais foram removidos e é a partir dessa altura que se dá pela ausência das placas que estavam colocadas no pedestal - uma de cada lado.
O silêncio da Câmara sobre este caso deixa-me apreensivo. A mim e a muitos leitores destas crónicas de quem estou constantemente a receber mensagens e telefonemas a indagar sobre o misterioso desaparecimento das placas. Mas eu sei tanto como eles nada. Este silêncio da Câmara é, no mínimo, preocupante. E justifica as mais variadas especulações. Será que, a par com o vazio cultural a que este executivo camarário nos remeteu, também vamos assistir ao banimento puro e simples da memória histórica da nossa cidade ?
As placas foram mandadas colocar, no sítio onde estavam, pela própria Câmara do Porto, em 1914. Esse gesto, dos edis de então, foi aplaudido porque representou o pagamento de uma dívida de gratidão aos heróis a quem, não apenas o Porto, mas o país inteiro, ficou a dever a sua carta de alforria, ou seja, o direito a sermos livres.
A morte por enforcamento dos 12 Mártires da Liberdade nas forcas miguelistas da Praça Nova passou a simbolizar a redenção politica de Portugal desses conturbados tempos. Foi, aliás, por causa desse acontecimento que àquele logradouro se deu, posteriormente, o nome de Praça da Liberdade. Pretender escamotear os factos referidos é querer apagar a própria história.
Recapitulemos os factos. Quando, em 1828, começaram a sentir-se os primeiros sintomas do absolutismo de D. Miguel, eclodiu, em Aveiro, no dia 16 de Maio daquele ano, uma revolta liberal. À testa do movimento estava uma prestigiada figura do liberalismo - Joaquim José de Queirós, avô do nosso Eça, antigo desembargador na Baia e então membro do Parlamento, digamos assim, que D. Miguel acabara de abolir.
O Porto, para onde os revoltosos aveirenses se dirigiram, aderiu de imediato ao movimento revolucionário que ficou conhecido pela Revolução de 16 de Maio. Mas os intentos dos revolucionários fracassaram. Derrotadas, as forças liberais tiveram que recuar. Os cabecilhas (alguns) recolheram-se ao "Belfast", um barco inglês que estava no Douro e nele viajaram para Inglaterra. Por isso, a revolução ficou conhecida pela "Belfastada".
Outros, a maioria, empreenderam uma longa caminhada para a Galiza, sempre acompanhados por duas extraordinárias figuras do liberalismo português Joaquim José de Queirós, o verdadeiro chefe da revolução, e o então major Sá Nogueira, mais tarde mutilado num combate, durante o Cerco, no Alto da Bandeira, em Gaia. Viria a ser agraciado com o título de Marquês de Sá da Bandeira.
Mas nem todos os revoltosos saíram da cidade. Muitos ficaram. E foi sobre esses que acometeu a ira miguelista. Acirrada por sermões de maus frades e de clérigos corruptos, a célebre alçada, o tribunal especial de D. Miguel, cometeu as maiores atrocidades sobre os liberais. Muitos foram condenados à morte. Constava das sentenças, iníquas, que o único crime dos condenados era o de terem ideias políticas próprias mas contrários às do absolutismo e de terem lutado por elas. Esses patriotas, só por o serem, perderam todos os seus direitos, honras e privilégios e viriam a ser levados pelas ruas da cidade, com baraço e pregão, e conduzidos às forcas levantadas na Praça Nova onde seriam enforcados perante o gáudio dos frades congregados e lóios que, enquanto os liberais morriam nas forcas, brindavam, das janelas das suas celas, com vinho do Porto e pão de ló, ao seu rei, D. Miguel e à santa religião. Mais uma vez, a Igreja, a apoiar a tirania.
Aos enforcados foram depois cortadas as cabeças para serem espetadas em altos paus que seriam levantados em frente as casas dos seus familiares. Foram doze, os Mártires da Liberdade cujos nomes acabam de ser retirados do sopé da estátua de D. Pedro IV.»
A pergunta foi esta o que aconteceu às placas que estavam no sopé do pedestal da estátua equestre de D. Pedro IV, na Praça da Liberdade, que evocavam a memória dos 12 Mártires da Liberdade que naquele mesmo local foram enforcados, por ordem D. Miguel, nos dias 7 de Maio e 9 de Outubro de 1829 ?
Recordo, para quem não esteja lembrado, que o monumento em causa esteve entaipado, durante várias semanas, enquanto se procedeu a operações de conservação e limpeza. Terminadas estas, os taipais foram removidos e é a partir dessa altura que se dá pela ausência das placas que estavam colocadas no pedestal - uma de cada lado.
O silêncio da Câmara sobre este caso deixa-me apreensivo. A mim e a muitos leitores destas crónicas de quem estou constantemente a receber mensagens e telefonemas a indagar sobre o misterioso desaparecimento das placas. Mas eu sei tanto como eles nada. Este silêncio da Câmara é, no mínimo, preocupante. E justifica as mais variadas especulações. Será que, a par com o vazio cultural a que este executivo camarário nos remeteu, também vamos assistir ao banimento puro e simples da memória histórica da nossa cidade ?
As placas foram mandadas colocar, no sítio onde estavam, pela própria Câmara do Porto, em 1914. Esse gesto, dos edis de então, foi aplaudido porque representou o pagamento de uma dívida de gratidão aos heróis a quem, não apenas o Porto, mas o país inteiro, ficou a dever a sua carta de alforria, ou seja, o direito a sermos livres.
A morte por enforcamento dos 12 Mártires da Liberdade nas forcas miguelistas da Praça Nova passou a simbolizar a redenção politica de Portugal desses conturbados tempos. Foi, aliás, por causa desse acontecimento que àquele logradouro se deu, posteriormente, o nome de Praça da Liberdade. Pretender escamotear os factos referidos é querer apagar a própria história.
Recapitulemos os factos. Quando, em 1828, começaram a sentir-se os primeiros sintomas do absolutismo de D. Miguel, eclodiu, em Aveiro, no dia 16 de Maio daquele ano, uma revolta liberal. À testa do movimento estava uma prestigiada figura do liberalismo - Joaquim José de Queirós, avô do nosso Eça, antigo desembargador na Baia e então membro do Parlamento, digamos assim, que D. Miguel acabara de abolir.
O Porto, para onde os revoltosos aveirenses se dirigiram, aderiu de imediato ao movimento revolucionário que ficou conhecido pela Revolução de 16 de Maio. Mas os intentos dos revolucionários fracassaram. Derrotadas, as forças liberais tiveram que recuar. Os cabecilhas (alguns) recolheram-se ao "Belfast", um barco inglês que estava no Douro e nele viajaram para Inglaterra. Por isso, a revolução ficou conhecida pela "Belfastada".
Outros, a maioria, empreenderam uma longa caminhada para a Galiza, sempre acompanhados por duas extraordinárias figuras do liberalismo português Joaquim José de Queirós, o verdadeiro chefe da revolução, e o então major Sá Nogueira, mais tarde mutilado num combate, durante o Cerco, no Alto da Bandeira, em Gaia. Viria a ser agraciado com o título de Marquês de Sá da Bandeira.
Mas nem todos os revoltosos saíram da cidade. Muitos ficaram. E foi sobre esses que acometeu a ira miguelista. Acirrada por sermões de maus frades e de clérigos corruptos, a célebre alçada, o tribunal especial de D. Miguel, cometeu as maiores atrocidades sobre os liberais. Muitos foram condenados à morte. Constava das sentenças, iníquas, que o único crime dos condenados era o de terem ideias políticas próprias mas contrários às do absolutismo e de terem lutado por elas. Esses patriotas, só por o serem, perderam todos os seus direitos, honras e privilégios e viriam a ser levados pelas ruas da cidade, com baraço e pregão, e conduzidos às forcas levantadas na Praça Nova onde seriam enforcados perante o gáudio dos frades congregados e lóios que, enquanto os liberais morriam nas forcas, brindavam, das janelas das suas celas, com vinho do Porto e pão de ló, ao seu rei, D. Miguel e à santa religião. Mais uma vez, a Igreja, a apoiar a tirania.
Aos enforcados foram depois cortadas as cabeças para serem espetadas em altos paus que seriam levantados em frente as casas dos seus familiares. Foram doze, os Mártires da Liberdade cujos nomes acabam de ser retirados do sopé da estátua de D. Pedro IV.»
Germano Silva
É verdade que não o posso afirmar com certeza absoluta, que não encontrei a devida referência nos meus arquivos, mas tenho a certeza que alguém me afirmou que as placas originais tinham sido oferecidas pelos operários da "Fundição do Bolhão.
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