3.11.08

Rua FELIZARDO DE LIMA

04|11|08

Fotografia publicada no Flickr



Anteriormente esta rua teve o nome de rua de S. Sebastião.



Quem foi FELIZARDO LIMA?

Nasceu em Lisboa em 3 de Novembro de 1839, com o nome completo de Joaquim Felizardo de Lima Camelo Pereira da Silva de Sousa Castelo Branco Vilhena e Bourbon, mais conhecido por Felizardo de Lima. Era filho de Joaquim Maria de Lima Camelo Pereira da Silva e de D. Isabel Mafalda de Sousa Castelo Branco Manoel de Vilhena e Bourbon.

Realiza os primeiros estudos no Liceu de Lisboa e frequentou o primeiro ano da Escola Politécnica. Assentou praça em Infantaria nº 7(março de 1854), mas pediu baixa quando era furriel de caçadores nº 2 (1858).

Foi um dos iniciadores e secretário do Grémio Industrial, quando era presidente o conselheiro Fradesso da Silveira. Foi um dos primeiros elementos anti-monárquicos e socialistas do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas.

Foi um dos fundadores do jornal República Federal, um dos primeiros jornais republicanos que apareceu em Portugal. Pela mesma época funda também um dos primeiros centros republicanos que existiu em Portugal, o Centro Democrático. Foi também um dos primeiros seguidores da Internacional, juntamente com João Bonança.

Sendo escriturário na estação das Devesas, no Porto, foi um dos principais impulsionadores da greve do Caminho de Ferro do Norte e Leste, pelo que foi demitido.

Pertenceu ainda a diversas sociedades e agremiações de carácter popular como a Fraternidade Operária, do Porto, de que foi secretário geral. Colaborou em numerosas publicações como Portuguez, Federação, publicou e foi director do Ensaio Literário, colaborou nas seguintes publicações de feição literária como Murmúrio e Aurora; escreveu folhetins no Diário de Notícias, combateu o catolicismo no jornal Opinião Nacional. No Porto, redigiu os jornais Bom Senso(1873), A Bandeira do Povo (1887), O Amigo do Povo e O Radical (1888). Foi também durante bastante tempo redactor da Discussão, onde combateu as medidas da fazenda apresentadas por Mariano de Carvalho.

Na vila da Moita, onde foi professor, publicou um semanário intitulado A Instrução Primária(1864), foi professor particular em Fafe, foi ainda primeiro redactor do Comércio de Penafiel, enquanto esta publicação alinhou ao lado dos republicanos e socialistas. Após a revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891 foi redactor do Democrata da Beira, de Lamego, onde viveu durante cerca de três anos e onde publicou ainda o jornal A Luz.

Escreveu ainda Vingar Regenerando (romance); A Felicidade ou a Miséria; O Registo Civil, carta ao Duque de Saldanha; Carta Aberta sobre a política Portuguesa; D. Fernando ou D. Carlos de Bourbon, quando da escolha do rei nas cortes constituintes espanholas; publicou ainda dois volumes de ciência popular sob o título geral de Biblioteca Geral de Instrucção Popular; Judeus, Cristãos e Maometanos perante a ciência; Apontamentos para a História do Proletariado; um Método de Ensino de Escrita e de Leitura (1861). Espalhou a sua colaboração por númeras publicações, especialmente as de carácter político ligadas ao Partido Republicano.

Devido às suas ideias começou a ser perseguido. A situação mais conhecida foi aquela que viveu quando era professor na Moita, tendo sido demitido pelo Ministério regenerador, devido à intransigência das suas ideias políticas. Sustentou algumas polémicas que lhe valeram as perseguições de uns e a admiração de outros. Devido às suas ideias e para sustentar a sua família vive de várias profissões como professor, tecelão, envernizador, auxiliar de construtor de pianos, como tipógrafo, como fabricante de meias de tear, de cartonagem, entre diversas actividades.

Em 1888 procurou criar o Partido Republicano Radical, na sequência das divisões crescentes entre republicanos desde o III Congresso do Partido Republicano de 1887, que tinha sido suspenso entre fortes tumultos. Porém, esta cisão quase só obteve adeptos na cidade do Porto. No entanto, desempenhou um papel fundamental a criação de condições para a revolta republicana de 31 de Janeiro.

Na sequência da sua acção através do jornal O Radical , Felizardo Lima propõe mesmo um novo programa federalista para o Partido Republicano, onde recuperavam os princípios federalistas, municipalistas e propondo a laicização crescente da sociedade.

Em 1889, estando empregado na construção do ramal do caminho de ferro entre Santa Comba Dão e Viseu, abandonou o lugar e partiu para o Porto, porque tomou parte no movimento patriótico provocado pelo Ultimato inglês de 1890. Foi implicado no movimento revolucionário de 31 de Janeiro de 1891 e julgado nos tribunais marciais de Leixões foi condenado a ano e meio de prisão, pena que cumpriu na Relação do Porto. Além desta prisão tem sofrido muitas outras por questões políticas, chegando a estar incomunicável e sendo mesmo uma vez metido no "segredo" da Relação.

Em 1900 volta a ser preso por estar presente na manifestação realizada no Porto, devido ao caso Rosa Calmon.

Diz Mayer Garção na sua obra Os Esquecidos, Lisboa, 1924, p. 107:
A sua raça era aristocrática, como a de tantos dos mais intrépidos audazes e generosos e generosos apóstolos ou lutadores da Revolução Francesa. O mesmo fogo devorava o seu espírito. Todavia, foi sempre obscuro, mesmo em vida, mesmo quando o seu nome era conhecido de todos os republicanos portugueses. Porque não dizê-lo? A maior destes republicanos considerava-o quase um louco. O que dele se contava fazia sorrir. Tinha duas filhas, a quem registara com os nomes de Liberdade e Marselhesa.

Faleceu no Porto em 24 de Junho de 1905.

Bibliografia Consultada:
Castelo, Cláudia, "Felizardo de Lima", Dicionário de Pedagogos Portugueses, dir. António Nóvoa, Asa, Porto, 2003, p. 762-763.
Garção, Mayer, Os Esquecidos, Empresa Editora e de Publicidade A Peninsular, Lisboa, 1924, p. 107-112.
Homem, Amadeu Carvalho, Da Monarquia à República, Palimage, Viseu, 2001.


artigo publicado no:
Almanaque Republicano



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