O mistério das ossadas da cerca dos padres Lóios
Fundação do Convento dos Lóios
Germano, Silva, Jornalista
Tomo conhecimento, através das páginas do "Jornal de Notícias", de que a SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto) vai abrir concurso público para a empreitada de demolição das inúmeras construções, clandestinas ou não, existentes no miolo do quarteirão compreendido entre a Praça da Liberdade, a Praça de Almeida Garrett, a Rua de Trindade Coelho e o Largo dos Lóios.
Trata-se, como facilmente se adivinha, do espaço que outrora serviu de cerca ao antigo mosteiro de Santo Elói, dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista, que por ali tinham, também, a sua igreja e respectivo claustro.
Do convento, construído "junto do muro da cidade" (muralha fernandina), só a imponente fachada, hoje conhecida pelo edifício das Cardosas, chegou até aos nossos dias.
Os frades começaram a construí-la em meados do século XIX mas não lograram vê-la concluída porque, com a entrada do Exército Liberal no Porto, em 1832, fugiram da cidade, abandonando o convento, que lhes foi confiscado, e deixando as obras a meio.
Quem acabou a fachada foi Manuel Cardoso dos Santos, um rico negociante com fortuna ganha no Brasil e que comprou o edifício quando ele foi posto em hasta pública.
Uma das condições da venda era a de que teria de concluir a obra começada. O que fez. Com a sua morte o imóvel passou, por herança, para a mulher e filhas, que, por serem esposa e descendentes do Manuel Cardoso, passaram a ser conhecidas por Cardosas e daí o nome do prédio.
É tempo de voltar às obras projectadas pela SRU.
Conforme noticia o JN, para o Palácio das Cardosas está prevista a construção de um hotel de luxo e no subsolo do local onde outrora estiveram a cerca, o claustro e a igreja do convento vai ser construído um parque de estacionamento com três pisos e 260 lugares.
Era aqui que eu queria chegar.
O dr. Eugénio de Andréa da Cunha e Freitas, numa interessante monografia que escreveu sobre o Convento dos Lóios, termina um dos capítulos da seguinte maneira "… agora, na Casa de Deus, em vez dos honrados frades de Santo Elói, estão os gordos e opulentos senhores da Finança e da Indústria, perturbando, na febre do negócio e do lucro, o eterno descanso de tantas cinzas veneráveis que ali jazem…"
Pois é. Vamos aguardar a ver se as obras que aí vêm irão, ou não, ajudar a desvendar o mistério que rodeia umas tantas histórias já lendárias de cadáveres enterrados na cerca do mosteiro e no interior da própria igreja.
É que, logo a seguir à demolição dos anexos, virão os arqueólogos para pesquisar, entre outros, o sitio onde se vai construir o parque de estacionamento. O que se pede e se espera é que esse trabalho se realize com toda a profundidade de modo a que ajude a esclarecer muitas histórias que ainda permanecem envoltas na névoa do mistério e da dúvida.
Por exemplo em 1808 o corpo do general D. Francisco Taranco e Lhano, comandante da divisão da Galiza que ocupava o Porto, foi sepultado no jazigo que o visconde de Balsemão (o do palacete da Praça de Carlos Alberto) tinha na igreja dos frades Lóios. Durante a usurpação de D. Miguel também ali terão sido guardados os restos mortais do general Bernardo da Silveira. Em 1838 (ver caixa) a igreja foi demolida por estar em ruína e ser uma ameaça pública. Quando se tentava saber o que fora feita do túmulo do Balsemão e dos cadáveres que lá estavam, um cronista da época (Peres Pinto) não teve dúvida em afirmar que essas "ossadas e entulhos estavam a descansar no aterro da praça ou mercado do Bolhão…"
Mas há noticias de muitas outras sepulturas no corpo da igreja e na cerca do convento dos padres Lóios, muitas elas de difícil localização. Por exemplo, "na asa do Capítulo, junto ao claustro" foi sepultado D. Manuel de Sousa, que foi arcebispo de Braga; Filipe Gonçalves, cidadão do Porto, "morador defronte da Porta do Olival, da parte de dentro" teve sepultura em Santo Elói onde instituiu um morgado a que vinculou as suas casas da "Travessa que vai dos Coronheiros (actual Rua da Vitória) para a Rua das Flores. Ao pé de um altar colateral, do lado do Evangelho, esteve sepultada D. Maria… mulher do dr. Estêvão Monteiro da Costa a qual morreu em Junho de 1693; e "no cruzeiro, junto às grades" ficava a sepultura, coberta com lâmina de latão e com as armas dos Correias de Mariz, de Francisco Correia de Mariz. António da Costa, barbeiro e sangrador, morador na Rua dos Canos (a parte da Rua das Flores que vai da Praça de Almeida Garrett até à Rua de Trindade Coelho) para ser sepultado em Santo Elói deixou ao convento o seu casal da Quinta, em S. Cosme, Gondomar.
Enfim, tantas cinzas veneráveis de cujo destino muito pouco se sabe após a venda do mosteiro e a demolição da igreja. E será que vamos ficar a saber mais alguma coisa ?
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Trata-se, como facilmente se adivinha, do espaço que outrora serviu de cerca ao antigo mosteiro de Santo Elói, dos Cónegos Seculares de S. João Evangelista, que por ali tinham, também, a sua igreja e respectivo claustro.
Do convento, construído "junto do muro da cidade" (muralha fernandina), só a imponente fachada, hoje conhecida pelo edifício das Cardosas, chegou até aos nossos dias.
Os frades começaram a construí-la em meados do século XIX mas não lograram vê-la concluída porque, com a entrada do Exército Liberal no Porto, em 1832, fugiram da cidade, abandonando o convento, que lhes foi confiscado, e deixando as obras a meio.
Quem acabou a fachada foi Manuel Cardoso dos Santos, um rico negociante com fortuna ganha no Brasil e que comprou o edifício quando ele foi posto em hasta pública.
Uma das condições da venda era a de que teria de concluir a obra começada. O que fez. Com a sua morte o imóvel passou, por herança, para a mulher e filhas, que, por serem esposa e descendentes do Manuel Cardoso, passaram a ser conhecidas por Cardosas e daí o nome do prédio.
É tempo de voltar às obras projectadas pela SRU.
Conforme noticia o JN, para o Palácio das Cardosas está prevista a construção de um hotel de luxo e no subsolo do local onde outrora estiveram a cerca, o claustro e a igreja do convento vai ser construído um parque de estacionamento com três pisos e 260 lugares.
Era aqui que eu queria chegar.
O dr. Eugénio de Andréa da Cunha e Freitas, numa interessante monografia que escreveu sobre o Convento dos Lóios, termina um dos capítulos da seguinte maneira "… agora, na Casa de Deus, em vez dos honrados frades de Santo Elói, estão os gordos e opulentos senhores da Finança e da Indústria, perturbando, na febre do negócio e do lucro, o eterno descanso de tantas cinzas veneráveis que ali jazem…"
Pois é. Vamos aguardar a ver se as obras que aí vêm irão, ou não, ajudar a desvendar o mistério que rodeia umas tantas histórias já lendárias de cadáveres enterrados na cerca do mosteiro e no interior da própria igreja.
É que, logo a seguir à demolição dos anexos, virão os arqueólogos para pesquisar, entre outros, o sitio onde se vai construir o parque de estacionamento. O que se pede e se espera é que esse trabalho se realize com toda a profundidade de modo a que ajude a esclarecer muitas histórias que ainda permanecem envoltas na névoa do mistério e da dúvida.
Por exemplo em 1808 o corpo do general D. Francisco Taranco e Lhano, comandante da divisão da Galiza que ocupava o Porto, foi sepultado no jazigo que o visconde de Balsemão (o do palacete da Praça de Carlos Alberto) tinha na igreja dos frades Lóios. Durante a usurpação de D. Miguel também ali terão sido guardados os restos mortais do general Bernardo da Silveira. Em 1838 (ver caixa) a igreja foi demolida por estar em ruína e ser uma ameaça pública. Quando se tentava saber o que fora feita do túmulo do Balsemão e dos cadáveres que lá estavam, um cronista da época (Peres Pinto) não teve dúvida em afirmar que essas "ossadas e entulhos estavam a descansar no aterro da praça ou mercado do Bolhão…"
Mas há noticias de muitas outras sepulturas no corpo da igreja e na cerca do convento dos padres Lóios, muitas elas de difícil localização. Por exemplo, "na asa do Capítulo, junto ao claustro" foi sepultado D. Manuel de Sousa, que foi arcebispo de Braga; Filipe Gonçalves, cidadão do Porto, "morador defronte da Porta do Olival, da parte de dentro" teve sepultura em Santo Elói onde instituiu um morgado a que vinculou as suas casas da "Travessa que vai dos Coronheiros (actual Rua da Vitória) para a Rua das Flores. Ao pé de um altar colateral, do lado do Evangelho, esteve sepultada D. Maria… mulher do dr. Estêvão Monteiro da Costa a qual morreu em Junho de 1693; e "no cruzeiro, junto às grades" ficava a sepultura, coberta com lâmina de latão e com as armas dos Correias de Mariz, de Francisco Correia de Mariz. António da Costa, barbeiro e sangrador, morador na Rua dos Canos (a parte da Rua das Flores que vai da Praça de Almeida Garrett até à Rua de Trindade Coelho) para ser sepultado em Santo Elói deixou ao convento o seu casal da Quinta, em S. Cosme, Gondomar.
Enfim, tantas cinzas veneráveis de cujo destino muito pouco se sabe após a venda do mosteiro e a demolição da igreja. E será que vamos ficar a saber mais alguma coisa ?
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