Fotografia publicada e localizada no Flickr
Ezequiel de Campos - Engenheiro civil, político (Beiriz, Póvoa de Varzim n. 12/12/1874 - f. Leça do Bailio, Matosinhos 26/08/1965). Iniciou a sua vida profissional ao serviço das obras Públicas em S. Tomé estudando o Caminho de Ferro da cidade à Vila da Trindade. Depois de proclamada a República em 1910 foi deputado às constituintes em 1912, lugar que abandonou para em 1914 ser nomeado Director das Obras Públicas da Província de S. Tomé. Em 1916 apareceu-nos nos Serviços de Obras Públicas em Évora, tendo o Governo de 1918 incumbido do estudo para o aproveitamento dos rios Douro, Cávado e Tejo. Amigo e votado aos assuntos de S. Tomé, escreveu em 1921 um valioso trabalho que intitulou - A Revalorização da Ilha de S. Tomé. Desde 1922 a 1939 dirige os S.M.G.E. desta cidade onde desenvolve grande actividade. Em 1923 é nomeado Ministro da Agricultura lugar que ocupou durante 2 escassos meses dada a instabilidade política da época. Em 1925 é nomeado professor do Instituto Superior do Comércio, tendo atingido em 1944 o limite de idade como professor de Ciências Económicas - Sociais da Faculdade de Engenharia do Porto. Fez parte do Concelho Superior das Públicas e foi Procurador da Câmara Cooperativa. Em 1954, apareceu-nos ainda chefiando na Junta das Missões Geográficas de S. Tomé com o objectivo de estudar os aspectos da história natural etno-sociológica e económica de S. Tomé e Príncipe. Aos vindouros se apresenta assim como exemplo magnífico pelo trabalho em favor da Nação.
(Arquivo da Toponímia)
Para saber mais sobre o engenheiro Ezequiel de Campos e a história da energia:
http://www.historia-energia.com/imagens/conteudos/A3ACMeFF.pdf
E encontrei mais um texto interessante onde se fala da sua obra:
Ezequiel à descoberta do Porto
In " O Tripeiro", edição de Janeiro de 2007,crónica de Jorge Villas ( jornalista)
"Com as botas calçadas, como ele afirmou na sessão pública em que apresentou o seu trabalho, Ezequiel de Campos caminhou Porto fora e descobriu que o território municipal não era mais do que "um agregado de aldeias mais ou menos densamente povoadas em torno de S.Nicolau" e que o resto eram zonas rurais, nomeadamente e, Lordelo, em Ramalde, em Paranhos e em Campanhã. Enfim, um "Porto sem destino e sem directrizes" -sem um "verdadeiro programa de cidade". E apontou algumas mazelas, como é o facto de se ter rasgado a Rua de Pinto Bessa, desde a Estação de Campanhã até à Rua do Bonfim, sem "grandeza e metro de cidade", sucedendo o mesmo em relação à Avenida dos Combatentes que começava, "sem perspectiva", em campos longínquos ( antas e Vale de Campanhã) e terminava na Rua de Costa Cabral, em vez de prosseguir a direito até Ramalde, onde se deveria enconrtar com a Avenida do Marechal Gomes da Costa, esta por seu turno prolongada para norte da Boavista.
Se os leitores mais atentos se munirem de um lápis e de uma régua e, sobre um mapa da cidade, traçarem o prolongameento das referidas artérias, depressa darão conta que deste modo o Porto teria ganho uma "via de cintura interna" adeuqada à sua dimensão e exclusivamente ao seu serviço, ao contrário da VCI dos nossos dias que comtempla, sobretudo, os intereces das Estradas de Portugal e é causa de arrelia de milhares de portuenses.
Quando Ezequiel de Campos escreveu "metro de cidade" estava a pensar em avenidas e acessos largos e adeuqdos à dimensão de uma cidade que se queria "traçada ao modo europeu". De Valbom a Gondomar, defendeu ele, "deveria subir-se pela marginal de Campanhã até às Fontaínhas, para atingir principalmente a Rua de Alexandre Herculano, com linda vista sobre o Douro". Se isto não é um traçado idêntico à famosa cota/baixa-cota/alta que tanta celeuma tem dado no seio da vereação de Rui Rio, vamos ali e já voltamos....
Propunha também que a estrada de Penafiel tivesse franco acesso à Avenida Camilo e ao Campo 24 de Agosto, com um traçado idêntico ao túnel rodoviário que foi desenhado no primeiro mandato da Câmara presidida por Fernando Gomes, e que ficou no tinteiro. Só que na altura a nova artéria podia ser construída à superficie; 80 anos depois, nem pensar! Entretanto, Ezequiel de Campos propunha que a estrada deGuimarães chega-se à Trindade; a de Braga e de Viana à Praça de Carlos Alberto; a da Senhora da Hora à Rotunda da Boavista. Pelo sul, a penetração na cidade deveria fazer-se pelo tabuleiro da ponte de Luis I até à Praça de Almeida Garrett. A famigerada Avenida da Ponte aí está a atestar o caminho preconizado por Ezequiel de Campos, que quando a desenhou não estaria certamente à espera de que ela viesse a dar no que deu. Por último - e tal como Cunha Morais - defendeu oprolongamento da Rua de Gonçalo Cristóvão até Lordelo, onde amarraria na nova ponte da Arrábida, que só foi concretizada 30 anos depois, mas sem o acesso que ele antevia.
Uma nota curiosa a termninar este capítulo: Ezequiel de Campos propôs a criação da "super-higway" de Ramalde, que coincide, mais coisa menos coisa, com a actual Avenida da AEP que atravessa a zona industrial. Para o autor, o seu traçado não tinha qualquer problema, na medida em que, tal como todas as outras avenidas por ele advogadas, ela iria "atrvés do Porto desconhecido - campos, pinheirais, pedreiras e dunas - que a maior parte da gente que vive na cidade jamais viu, e que eu, valha a verdade, também não tinha visto nunca, antes de agora percorrer metódicamente a cidade com as botas" para depois a "riscar com um lápis".
Era, efectivamente um Porto feito à medida dos ecologistas e ambientalistas dos nossos dias...
Um homem multifacetado e controverso
Ezequiel de Campos era uma personalidade brilhante, mas controversa. Nasceu na Póvoa de Varzim em 1874 e, em 1899, estava licenciado pela Academia Politécnica do Porto em Engenharia Civil, Industrial e de Minas. Trabalhou em STomé e Principe, fez parte da Constituinte em 1911 -na sequência da implantação da República -, mas manifestou-se contra a nossa participação na Grande Guerra. Depois recusou participar nos governos de Sidónio Pais e de Bernardino Machado e, mais tarde, aproximou-se dos homens que inspiravam a Seara Nova.
Foi, entretanto, ministro da Agricultura num dos governos de José Domingos dos Santos e muito próximo de personalidades como Antunes Guimarães e Quirino de Jesus. Destacou-se, porém. com presidente da comissão executiva dos Serviços Municipalizados de Gás e Electricidade, entre 1922 e 1938, altura em que se tornou um homem controverso ao advogar o abandono da produção de gás e a construção, em Bitetos, de uma barragem hidroeléctrica no rio Douro para o abastecimento de elctricidade ao Porto e ao Norte do país. Em volta deste projecto, que viria a mostra-se inexequível, grassou na cidade violenta polémica, tendo o prestígio de Ezequiel de Campos saído chamuscado, sobretudo por causa das suas relações preferencias com a União Eléctrica Portuguesa ( UEP), de que era um dos acccionistas.
Regressemos, porém, ao seu "Prólogo ao Plano da Cidade do Porto". Depois do "terremoto inicial de El´sio de Melo" que levou à abertura da Avenida dos Aliados, Ezequiel de Campos considerou que, afinal de contas, o "inglês" ( ou seja, Barry Parker) nos havia "calçado uma bota na Praça Nova" pelo que, na tentativa de remediar o caso, considerou que o novo edifício da Câmara do Porto deveria ser construído onde ele está hoje, tendo a seu lado e em seu redor os serviços municipalizados de electricidade e águas.
Outras ideias: o "Centro Universitário" deveria ficar entre a Praça de Carlos Alberto e a Cadeia da Relação; o Hospital de Santo António, transferido para local "mais salubre", aproveitando-se o majestoso edifício para lá instalar os tribunais da cidade. Do mesmo passo, defendeu que a GNR devia abandonar as suas intalações no Carmo, entregando-as à Universidade do Porto e que, se fosse ele a decidir, o Mercado do Anjo deveria ser arrasado, deixando o local livre.
Gaia, Matosinhos, Leça... e logo também Gondomar
Segundo Ezequiel de campos, "a fatalidade das coisas e dos acontecimentos deveria vencer a ignorância e a teimosia dos homens", pelo que, no que toca à "área futura da cidade do Porto", não se ficava pelas meias tintas: " Vila Nova de Gaia, com os seus vinhos do Porto e o seu movimento comercial nos cais fronteiriços aos que vão da Ribeira até à Alfândega, é uma parte da vida económica do Porto; como Matosinhos e Leça da Palmeira, com o porto de Leixões (era) outra parte da cidade". E concluia ele, categóricamente: "Por isso, o plano da Cidade do Porto deve compreender Gaia, Matosinhos e Leça; logo também Gondomar, seguindo-se a práctica universal do plano de expansão urbana, adoptada em tantíssimas cidades de todo o mundo."
No mais e ao resto, no que respeita a grandes infra-estruturas, considerava as seguintes localizações: a estação cebtral de caminho de ferro no Campo Alegre ou em Ramalde; o estádio municipal em Lordelo e o campo de aviação na Senhora da Hora, a não mais do que a 20 minutos do centro da cidade...perto de Leixões. Para ele, a aviação comercial tendia em 1932 a decair, e mesmo em relação ao porto de Leixões considerava que este último não teria grandes condições para "derrotar definitivamente o porto do Douro", a "menos que fechassem a barra com penedos, o que é muito fácil".
Há se ele viesse ao mundo dos nossos dias..."
(fim da transcrição)
Como prometido, aqui está a crónica...deu um trabalhão....
prof. Godin, podia postar o sei mapa da planta utópica do Ezequiel de Campos para o Porto, que está no seu thread "Cartografia do Porto"!
do site da revista, transcrevo a defenição da própria:
«O Tripeiro», propriedade da Associação Comercial do Porto, é uma revista de culto e tradição, coleccionável, com preocupações de natureza literária e que guarda a memória colectiva da nossa comunidade. Cultivando a identidade Portuense, recorda-nos o Porto que fomos, para que o preservemos, mostra-nos o Porto que somos, para que o sintamos, e ajuda-nos a antever o Porto que seremos, para que o possamos prevenir.
E tenta fazer passar uma ideia de Porto a construir - um Porto que extravasa os limites da Circunvalação e é pólo de funções centrais de todo o Noroeste da Península Ibérica.
Entre tudo o mais, cabe-lhe contribuir para a passagem de testemunhos culturais de geração em geração.
A crónica transcrita está presente numa secção intitulada: "Pensar a cidade"
Bem hajam....
Publicado aqui:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=439231
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