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Fachada da Celestial Ordem Terceira da Santíssima Trindade
"Estava o século XIX ainda a erguer-se dos alicerces quando os Terceiros da Ordem Trinitária decidiram dar maior ênfase a uma das actividades que sempre os ocupou, a assistencial, sem descurar as vertentes evangelizadora e cultural
Assim, no primeiro quartel do século demoliram algumas das casas que ladeavam a rua do lado poente a da igreja, conquistando espaço para a construção do hospital e para a regularização da fachada da igreja.
Com as obras do templo bastante adiantadas, as preocupações da Ordem viraram-se para o hospital, ou seja, para a forma de angariar fundos para a sua construção.
Festas teatrais, denominadas de "benefícios", foram um dos meios utilizados pela Ordem. E a fonte de receitas revelou-se de tal forma proveitosa que, em sinal de gratidão, os artistas teatrais, suas mulheres e filhos foram admitidos como Irmãos da Ordem.
Em 1817 foi organizada uma lotaria (iniciativa repetida em três anos) com 10.000 bilhetes, vendidos a 10$00 cada.
A longa história da construção do Hospital da Trindade está recheada de nomes ilustres e anónimos, sem os quais o Porto não teria um hospital dotado das principais valências e equipado com os mais modernos
equipamentos.
António Francisco Guimarães, por exemplo, um ex-prior e habitual benfeitor da Ordem, custeou as obras de carpinteiro no assoalhamento das salas do hospital.
Apesar de, em 1825, se terem organizado serviços de assistências aos irmãos, com a visita domiciliária de médicos e fornecimento de medicamentos, concluir o hospital era a grande meta da Ordem Terceira da Trindade.
Foi assim que, em 1847, se apelou à rica e generosa gente do Porto radicada no Brasil e a personagens gratas na sociedade da altura.
Um ano depois iniciou-se uma campanha de angariação de novos Irmãos, que se estendeu a Matosinhos, Guimarães e Régua.
Entre muitas personalidades que se distinguiram na tarefa de erguer o Hospital da Trindade, avulta José António de Sousa Basto, prior da Ordem Terceira da Trindade e generoso benemérito que, em 1854, foi titulado Visconde da Trindade.
Ajuda dos pescadores
A Ordem apelou, ainda, à generosidade dos pescadores de Ovar, de Espinho e da Póvoa de Varzim. Aos lavradores das freguesias limítrofes do Porto pediu-se transporte gratuito das pedras e doação de pinheiros das suas bouças. E também foram feitos Irmãos, usufruindo das fartas regalias que a Ordem concedia aos seus membros.
A correspondência foi boa, e para ela também contribuiu o empenho dos respectivos párocos. O de Moreira da Maia, por exemplo, conseguiu o apoio das outras 20 freguesias do concelho.
Em 1852 a Ordem já não pedia para as obras de construção, mas sim para construir um fundo de sustentação do hospital, cuja inauguração estava para breve.
E foi assim que em Fevereiro desse ano, a Mesa e a Junta da Ordem decidiram que o dia mais indicado para a inauguração solene do hospital seria o da Festa da Santíssima Trindade, isto é, a 6 de Junho de 1852.
Foi endereçado um pedido à fábrica de louças da Vista Alegre, que seria de imediato deferido: 60 pequenas jarras de porcelana para ornamento dos 30 lavatórios e 30 mesinhas que deveriam estar junto de outras tantas camas.
D. Maria Luísa de Sousa Basto foi encarregada pelo prior de organizar a comissão de senhoras para a preparação e asseio dos leitos. No final de Março, António Pinto ofereceu 30 cadeiras de pau de óleo.
Enchente
Na data prevista inaugurou-se, enfim, o Hospital da Trindade. As portas estavam franqueadas ao público às 10 horas e rápidamente o establecimento se encheu de uma multidão ávida de conhecer todos os cantos do mais notável hospital da cidade, de tal forma que as portas só voltariam a fechar-se às 22h30, depois de
pelo hospital terem passado muitos milhares de pessoas.
A colorida e pormenorizada descrição da época dá-nos conta dos mínimos detalhes do establecimento hospitalar. Das camas de ferro forjado, às colchas de fustão branco adamascado, passando pelos lençóis e travesseiros com folhos de cassa e uma mesinha e cadeira de pau de óleo nas camas da primeira enfermaria
dos homens,
"Para comemorar o grande dia de abertura do nosso hospital, tinha-se providenciado que nada faltasse para o fausto deste dia memorável nas páginas da nossa História Trinitária: a igreja estava ornada com a maior ostentação e asseio, sobressaindo, nos seis altares laterais, os ricos camarins de veludo carmesim bordados a ouro e o novo pálio de lhama de prata bordado a ouro que, com muita particularidade, atraía todas as atenções, cujas alfaias serviram a primeira vez. O orador, o reverendo abade José Alves Pereira da Fonseca, fez um eloquente discurso; na primeira parte mostrou os seus grandes recursos teológicos e, na segunda, o conhecimento histórico da nossa Ordem, dando a tudo isto realce com poesia e sentimento de dicção", escreveu na época Joaquim Ferreira Monteiro Guimarães.
No entanto, a aprovação de um projecto de regulamento prolongou-se, de tal forma que só no dia 22 de Maio de 1853, quase um ano depois de ter sido inaugurado, é que o Hospital da Trindade admitiu os seus primeiros doentes.
Mas, mais de duas dezenas de anos antes a Ordem já fornecia remédios aos Irmãos, uma prática que ganhou corpo com a inauguração, em Agosto de 1824, de uma farmácia, que vendia medicamentos aos Irmãos e público em geral, na que seria uma das primeiras farmácias sociais do país e que ainda hoje se mantém em funcionamento.
Ampliação
As primitivas instalações do Hospital da Trindade começaram a evidenciar as suas limitações físicas nas primeiras décadas do século passado e, em Julho de 1951, foi decidido avançar com o seu alargamento e investir em equipamento mais sofisticado.
A Ordem comprou os necessários terrenos, transacionou títulos em carteira para fazer face às despesas (que se anteviam enormes) e foi deliberado que a Mesa tivesse poderes de alienar alguns bens imóveis pertencentes à Ordem.
As obras começaram e a nova ala, na parte norte do Hospital da Trindade, foi inaugurada em 1970, com a presença do então presidente da República, Américo Tomás e do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.
As obras custaram 40 mil contos e não beneficiaram de qualquer apoio oficial.
Até aos finais do século passado, o Hospital apetrechou-se por forma a enfrentar novos desafios. Os serviços da Policlínica foram transferidos, em 1999, para instalações mais adequadas. Na mesma altura entrou em funções o Ambulatório, um novo departamento servido por prestigiados médicos e um corpo de enfermeiras, ao mesmo tempo que se alargou o número de valências.
O espaço da policlínca foi adaptado ao Serviço de Imagiologia, conluído muito recentemente, no que é a cereja em cima do bolo destes primeiros 150 anos de vida do Hospital da Trindade."
Texto publicado no "site" da Ordem da Trindade
Assim, no primeiro quartel do século demoliram algumas das casas que ladeavam a rua do lado poente a da igreja, conquistando espaço para a construção do hospital e para a regularização da fachada da igreja.
Com as obras do templo bastante adiantadas, as preocupações da Ordem viraram-se para o hospital, ou seja, para a forma de angariar fundos para a sua construção.
Festas teatrais, denominadas de "benefícios", foram um dos meios utilizados pela Ordem. E a fonte de receitas revelou-se de tal forma proveitosa que, em sinal de gratidão, os artistas teatrais, suas mulheres e filhos foram admitidos como Irmãos da Ordem.
Em 1817 foi organizada uma lotaria (iniciativa repetida em três anos) com 10.000 bilhetes, vendidos a 10$00 cada.
A longa história da construção do Hospital da Trindade está recheada de nomes ilustres e anónimos, sem os quais o Porto não teria um hospital dotado das principais valências e equipado com os mais modernos
equipamentos.
António Francisco Guimarães, por exemplo, um ex-prior e habitual benfeitor da Ordem, custeou as obras de carpinteiro no assoalhamento das salas do hospital.
Apesar de, em 1825, se terem organizado serviços de assistências aos irmãos, com a visita domiciliária de médicos e fornecimento de medicamentos, concluir o hospital era a grande meta da Ordem Terceira da Trindade.
Foi assim que, em 1847, se apelou à rica e generosa gente do Porto radicada no Brasil e a personagens gratas na sociedade da altura.
Um ano depois iniciou-se uma campanha de angariação de novos Irmãos, que se estendeu a Matosinhos, Guimarães e Régua.
Entre muitas personalidades que se distinguiram na tarefa de erguer o Hospital da Trindade, avulta José António de Sousa Basto, prior da Ordem Terceira da Trindade e generoso benemérito que, em 1854, foi titulado Visconde da Trindade.
Ajuda dos pescadores
A Ordem apelou, ainda, à generosidade dos pescadores de Ovar, de Espinho e da Póvoa de Varzim. Aos lavradores das freguesias limítrofes do Porto pediu-se transporte gratuito das pedras e doação de pinheiros das suas bouças. E também foram feitos Irmãos, usufruindo das fartas regalias que a Ordem concedia aos seus membros.
A correspondência foi boa, e para ela também contribuiu o empenho dos respectivos párocos. O de Moreira da Maia, por exemplo, conseguiu o apoio das outras 20 freguesias do concelho.
Em 1852 a Ordem já não pedia para as obras de construção, mas sim para construir um fundo de sustentação do hospital, cuja inauguração estava para breve.
E foi assim que em Fevereiro desse ano, a Mesa e a Junta da Ordem decidiram que o dia mais indicado para a inauguração solene do hospital seria o da Festa da Santíssima Trindade, isto é, a 6 de Junho de 1852.
Foi endereçado um pedido à fábrica de louças da Vista Alegre, que seria de imediato deferido: 60 pequenas jarras de porcelana para ornamento dos 30 lavatórios e 30 mesinhas que deveriam estar junto de outras tantas camas.
D. Maria Luísa de Sousa Basto foi encarregada pelo prior de organizar a comissão de senhoras para a preparação e asseio dos leitos. No final de Março, António Pinto ofereceu 30 cadeiras de pau de óleo.
Enchente
Na data prevista inaugurou-se, enfim, o Hospital da Trindade. As portas estavam franqueadas ao público às 10 horas e rápidamente o establecimento se encheu de uma multidão ávida de conhecer todos os cantos do mais notável hospital da cidade, de tal forma que as portas só voltariam a fechar-se às 22h30, depois de
pelo hospital terem passado muitos milhares de pessoas.
A colorida e pormenorizada descrição da época dá-nos conta dos mínimos detalhes do establecimento hospitalar. Das camas de ferro forjado, às colchas de fustão branco adamascado, passando pelos lençóis e travesseiros com folhos de cassa e uma mesinha e cadeira de pau de óleo nas camas da primeira enfermaria
dos homens,
"Para comemorar o grande dia de abertura do nosso hospital, tinha-se providenciado que nada faltasse para o fausto deste dia memorável nas páginas da nossa História Trinitária: a igreja estava ornada com a maior ostentação e asseio, sobressaindo, nos seis altares laterais, os ricos camarins de veludo carmesim bordados a ouro e o novo pálio de lhama de prata bordado a ouro que, com muita particularidade, atraía todas as atenções, cujas alfaias serviram a primeira vez. O orador, o reverendo abade José Alves Pereira da Fonseca, fez um eloquente discurso; na primeira parte mostrou os seus grandes recursos teológicos e, na segunda, o conhecimento histórico da nossa Ordem, dando a tudo isto realce com poesia e sentimento de dicção", escreveu na época Joaquim Ferreira Monteiro Guimarães.
No entanto, a aprovação de um projecto de regulamento prolongou-se, de tal forma que só no dia 22 de Maio de 1853, quase um ano depois de ter sido inaugurado, é que o Hospital da Trindade admitiu os seus primeiros doentes.
Mas, mais de duas dezenas de anos antes a Ordem já fornecia remédios aos Irmãos, uma prática que ganhou corpo com a inauguração, em Agosto de 1824, de uma farmácia, que vendia medicamentos aos Irmãos e público em geral, na que seria uma das primeiras farmácias sociais do país e que ainda hoje se mantém em funcionamento.
Ampliação
As primitivas instalações do Hospital da Trindade começaram a evidenciar as suas limitações físicas nas primeiras décadas do século passado e, em Julho de 1951, foi decidido avançar com o seu alargamento e investir em equipamento mais sofisticado.
A Ordem comprou os necessários terrenos, transacionou títulos em carteira para fazer face às despesas (que se anteviam enormes) e foi deliberado que a Mesa tivesse poderes de alienar alguns bens imóveis pertencentes à Ordem.
As obras começaram e a nova ala, na parte norte do Hospital da Trindade, foi inaugurada em 1970, com a presença do então presidente da República, Américo Tomás e do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes.
As obras custaram 40 mil contos e não beneficiaram de qualquer apoio oficial.
Até aos finais do século passado, o Hospital apetrechou-se por forma a enfrentar novos desafios. Os serviços da Policlínica foram transferidos, em 1999, para instalações mais adequadas. Na mesma altura entrou em funções o Ambulatório, um novo departamento servido por prestigiados médicos e um corpo de enfermeiras, ao mesmo tempo que se alargou o número de valências.
O espaço da policlínca foi adaptado ao Serviço de Imagiologia, conluído muito recentemente, no que é a cereja em cima do bolo destes primeiros 150 anos de vida do Hospital da Trindade."
Texto publicado no "site" da Ordem da Trindade
2 comentários:
Penso que há uma incorrecção no texto: em 1970 o bispo D. António Ferreira Gomes estava exilado no Vaticano e quem chefiava a Diocese era o bispo auxiliar (se bem me lembro, chamava-se Florentino de Andrade e Silva)
(como curiosidade, noto que o actual - em 2014 - secretário de Estado do Ensino Superior, Ferreira Gomes, foi meu professor na UP e é sobrinho do Bispo D. António)
António (Castilho Dias:
O texto publicado é da responsabilidade da Venerável Ordem!
O escriba recopiador, que eu sou, não tem culpa na transcrição.
O Florentino foi aquele que me crismou, disso não tenho dúvidas.
Mas após consulta na Wiki obtive isto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Ferreira_Gomes
O que confirma que o dito cujo bispo nosso já estava na cidade. A Ordem não se enganou.
A pertinência do teu comentário levou a pesquisa mais além! Obrigado pela colaboração.
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