Volto ao tema da toponímia portuense, agora para falar da relação dos nomes de algumas artérias com instituições que, no passado, tiveram um importante papel no desenvolvimento do Porto, não apenas no aspecto económico mas também no campo do urbanismo, como foi o caso da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
O assunto foi-me suscitado, se assim se pode dizer, pela pergunta de um jovem aluno de Arquitectura que me escreveu perguntando a que tipo de armazéns se refere uma rua de Miragaia com essa mesma designação a Rua dos Armazéns.
Através da leitura da carta, não me foi difícil concluir que o consulente deve ser muito jovem, pois qualquer pessoa que ande pelos 50 anos ainda se lembra, quase de certeza, do edifício na Rua de Miragaia que serviu de armazém à Companhia que também é evocada numa outra artéria local a Viela da Companhia.
A Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro foi fundada, como é sabido, pelo nosso rei D. José I ou, melhor dizendo, pelo seu primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, no ano de 1756. Nos seus três primeiros anos de existência foi administrada por uma Junta composta por um Provedor e 12 deputados que eram coadjuvados por seis conselheiros.
No Porto, a Companhia instalou a sua primeira Administração ou Sala de Despacho, como então se dizia, numas casas da Rua Chã, pertencentes a Manuel de Figueirôa Pinto.
Foi a estas casas que se dirigiram os revoltosos que, na manhã do dia 4 de Fevereiro de 1757, percorreram as ruas do Porto protestando contra uma das medidas que havia sido tomada pela recém-criada Companhia e que tirava aos taberneiros da cidade e arredores o direito da venda do vinho a retalho. Por essa razão o motim passou à história como a Revolta dos Taberneiros.
Da Rua Chã a sede da Companhia transferiu-se, pouco tempo depois, para a Rua das Flores, para um edifício que também pertencia a Manuel Figueirôa Pinto.
Inicialmente a casa foi alugada mas não tardou muito a ser comprada para a instalação definitiva dos serviços administrativos daquela instituição.
O edifício em causa, na esquina com a Rua do Ferraz, onde está a sede do Instituto da Juventude, ainda hoje é conhecido pela Casa da Companhia. No que se refere a armazéns, o primeiro que a Companhia teve no Porto foi criado há 200 anos, na praia de Miragaia. Com efeito, no ano de 1807, depois de já ter construído armazéns na Régua, junto á margem do rio Douro; em Vila Real de Santo António, no Algarve; no Pinhão e junto ao Tua; e no Vimieiro, na margem esquerda do Douro; a Companhia comprou uma série de casas térreas e vários barracões que havia no areal da praia de Miragaia que mandou demolir para, em seu lugar, construir os primeiros armazéns que teve no Porto.
O edifício, ainda existente, na actual Rua de Miragaia, era enorme. Inicialmente tinha capacidade para guardar mais de 4.000 pipas de vinho. Posteriormente, porém, essa capacidade viria a ser aumentada para poder acolher cinco e seis mil pipas.
Os armazéns de Miragaia, além das amplas e arejadas dependências que possuía para arrecadação dos vinhos, provenientes do Alto Douro, e dos escritórios, dispunha de grandes oficinas de tanoaria; dependências onde se procedia á destilação da aguardente; e um terceiro mas não menos importante sector para a fabricação de vinagre.
Ao fundar a Companhia dos Vinhos do Alto Douro o Marquês de Pombal não teve em mente apenas o desenvolvimento económico da região onde se produzia o vinho. Apostou também no desenvolvimento e na modernização do Porto contando, naturalmente, com os pingues lucros provenientes do comércio do vinho. Foi com base neste projecto, por exemplo, que entre 1754 e 1756 o mestre pedreiro Francisco Álvares trabalhou na construção do cais de Miragaia até à Ribeira.
A instituição no Porto, em 1803, da Academia Real de Marinha e Comércio, que daria, mais tarde, origem à Escola Politécnica de que resultaria, por sua vez, a criação da Universidade do Porto, foi outro importante melhoramento que a cidade ficou a dever à Companhia dos Vinhos que se ocupou ainda na construção de estradas, como foi o caso da que ia do Porto à Régua; e de outras obras mais ao longo do rio Douro, como a estrada marginal de Monchique até à Foz.
Luís Beleza de Andrade foi o primeiro Provedor da Companhia. Natural do Porto, da Rua Chã, vereador da Câmara Municipal no ano em que se fundou a Companhia, Beleza de Andrade era também um grande produtor de vinho com boas e vastas propriedades em Valdigem, na região do Douro. Com o religioso dominicano, D. frei João de Mansilha; e com o negociante biscainho, D. Bartolomeu Pancorbo, que vivia na Rua Nova, hoje Rua do Infante D. Henrique, Luís Beleza de Andrade foi um dos três impulsionadores da ideia para a criação da Companhia. Diz-se que tendo ido a Valdigem para as vindimas de 1756 sentiu de tal modo "a desgraça da terra do vinho" que imediatamente convocou para a sua casa da Rua Chã, os mais importantes viticultores durienses para uma reunião da qual saiu o projecto da Companhia de que viria a ser o primeiro Provedor. A família Beleza de Andrade viveu numa casa das Escadas do Monte dos Judeus, na esquina com a Viela da Ilha do Ferro, muito perto portanto dos armazéns da Companhia. A casa ainda lá está agora recuperada depois de ter estado muitos anos ao abandono. O brasão que figurava na fachada desapareceu corroído pela acção do tempo.
O assunto foi-me suscitado, se assim se pode dizer, pela pergunta de um jovem aluno de Arquitectura que me escreveu perguntando a que tipo de armazéns se refere uma rua de Miragaia com essa mesma designação a Rua dos Armazéns.
Através da leitura da carta, não me foi difícil concluir que o consulente deve ser muito jovem, pois qualquer pessoa que ande pelos 50 anos ainda se lembra, quase de certeza, do edifício na Rua de Miragaia que serviu de armazém à Companhia que também é evocada numa outra artéria local a Viela da Companhia.
A Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro foi fundada, como é sabido, pelo nosso rei D. José I ou, melhor dizendo, pelo seu primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, no ano de 1756. Nos seus três primeiros anos de existência foi administrada por uma Junta composta por um Provedor e 12 deputados que eram coadjuvados por seis conselheiros.
No Porto, a Companhia instalou a sua primeira Administração ou Sala de Despacho, como então se dizia, numas casas da Rua Chã, pertencentes a Manuel de Figueirôa Pinto.
Foi a estas casas que se dirigiram os revoltosos que, na manhã do dia 4 de Fevereiro de 1757, percorreram as ruas do Porto protestando contra uma das medidas que havia sido tomada pela recém-criada Companhia e que tirava aos taberneiros da cidade e arredores o direito da venda do vinho a retalho. Por essa razão o motim passou à história como a Revolta dos Taberneiros.
Da Rua Chã a sede da Companhia transferiu-se, pouco tempo depois, para a Rua das Flores, para um edifício que também pertencia a Manuel Figueirôa Pinto.
Inicialmente a casa foi alugada mas não tardou muito a ser comprada para a instalação definitiva dos serviços administrativos daquela instituição.
O edifício em causa, na esquina com a Rua do Ferraz, onde está a sede do Instituto da Juventude, ainda hoje é conhecido pela Casa da Companhia. No que se refere a armazéns, o primeiro que a Companhia teve no Porto foi criado há 200 anos, na praia de Miragaia. Com efeito, no ano de 1807, depois de já ter construído armazéns na Régua, junto á margem do rio Douro; em Vila Real de Santo António, no Algarve; no Pinhão e junto ao Tua; e no Vimieiro, na margem esquerda do Douro; a Companhia comprou uma série de casas térreas e vários barracões que havia no areal da praia de Miragaia que mandou demolir para, em seu lugar, construir os primeiros armazéns que teve no Porto.
O edifício, ainda existente, na actual Rua de Miragaia, era enorme. Inicialmente tinha capacidade para guardar mais de 4.000 pipas de vinho. Posteriormente, porém, essa capacidade viria a ser aumentada para poder acolher cinco e seis mil pipas.
Os armazéns de Miragaia, além das amplas e arejadas dependências que possuía para arrecadação dos vinhos, provenientes do Alto Douro, e dos escritórios, dispunha de grandes oficinas de tanoaria; dependências onde se procedia á destilação da aguardente; e um terceiro mas não menos importante sector para a fabricação de vinagre.
Ao fundar a Companhia dos Vinhos do Alto Douro o Marquês de Pombal não teve em mente apenas o desenvolvimento económico da região onde se produzia o vinho. Apostou também no desenvolvimento e na modernização do Porto contando, naturalmente, com os pingues lucros provenientes do comércio do vinho. Foi com base neste projecto, por exemplo, que entre 1754 e 1756 o mestre pedreiro Francisco Álvares trabalhou na construção do cais de Miragaia até à Ribeira.
A instituição no Porto, em 1803, da Academia Real de Marinha e Comércio, que daria, mais tarde, origem à Escola Politécnica de que resultaria, por sua vez, a criação da Universidade do Porto, foi outro importante melhoramento que a cidade ficou a dever à Companhia dos Vinhos que se ocupou ainda na construção de estradas, como foi o caso da que ia do Porto à Régua; e de outras obras mais ao longo do rio Douro, como a estrada marginal de Monchique até à Foz.
Luís Beleza de Andrade foi o primeiro Provedor da Companhia. Natural do Porto, da Rua Chã, vereador da Câmara Municipal no ano em que se fundou a Companhia, Beleza de Andrade era também um grande produtor de vinho com boas e vastas propriedades em Valdigem, na região do Douro. Com o religioso dominicano, D. frei João de Mansilha; e com o negociante biscainho, D. Bartolomeu Pancorbo, que vivia na Rua Nova, hoje Rua do Infante D. Henrique, Luís Beleza de Andrade foi um dos três impulsionadores da ideia para a criação da Companhia. Diz-se que tendo ido a Valdigem para as vindimas de 1756 sentiu de tal modo "a desgraça da terra do vinho" que imediatamente convocou para a sua casa da Rua Chã, os mais importantes viticultores durienses para uma reunião da qual saiu o projecto da Companhia de que viria a ser o primeiro Provedor. A família Beleza de Andrade viveu numa casa das Escadas do Monte dos Judeus, na esquina com a Viela da Ilha do Ferro, muito perto portanto dos armazéns da Companhia. A casa ainda lá está agora recuperada depois de ter estado muitos anos ao abandono. O brasão que figurava na fachada desapareceu corroído pela acção do tempo.
Germano Silva in Jornal de Notícias
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