A última crónica deu origem a uma verdadeira avalancha de cartas, e-mails, mensagens, telefonemas. Esta fartura de correspondência, se assim pode dizer-se, tem uma justificação na crónica do passado domingo, foi referida a existência, nos idos de quarenta, no Bairro da Sé, da Rua de Senhora de Agosto que, anteriormente, se havia chamado Rua das Tendas.
Os leitores que escreveram ou enviaram mensagens pedem informações sobre outros casos análogos, ou seja, de ruas que inicialmente tiveram uma denominação e ostentam hoje uma designação que nada tem a ver com o nome inicial.
A tarefa não é fácil porque os casos são muitos e o espaço disponível é escasso, não permitindo aquela abordagem profunda, pormenorizada e devidamente fundamentada que o assunto em causa merece. Mas dá para uma explicação, forçosamente sucinta, sem dúvida, mas, julgamos nós, perfeitamente esclarecedora.
Por exemplo passará pela cabeça de alguém que a Rua Alegre, na Foz, se tivesse chamado, antes de 1891, Rua Nova dos Prazeres ? Não sabemos explicar a origem da antiga denominação mas também não temos nenhuma justificação para a troca dos nomes. Uma coisa garantimos: se nos tivessem pedido a opinião diríamos que deixassem estar como estava. Nem sempre, de facto, as mudanças dos nomes de ruas têm sido feitas dentro do melhor critério.
A Rua de Cedofeita, que todo o portuense bem conhece, é uma artéria relativamente recente, tal como agora a conhecemos como grande centro comercial citadino e aglomerado urbano. Antes da actual designação chamava-se Rua da Cruz. Para este caso temos uma explicação. Ao findar o século XVI, toda a área por onde hoje corre a Rua de Cedofeita era ainda um sítio ermo de características tipicamente rurais e que ficava muito longe da vetusta Porta do Olival aberta na muralha fernandina. No século XVIII andava a abrir-se por entre campos de cultivo e quintas uma estrada para utilização dos viandantes que, saindo da Porta do Olival, pretendessem dirigir-se a Vila do Conde, Barcelos e Santiago de Compostela. Por esse motivo é que, em 1777, aparece num registo da Colegiada designada por Rua da Estrada. A artéria foi rasgada, como atrás se referiu, pelo meio de campos e quintas. Uma destas propriedades era a do Cruz e foi daí que veio a designação de Rua da Cruz.
Um outro enigma é o do antigo nome da actual Rua Bela da Fontinha. Estão a vê-la, empinada a subir até ao Alto da Fontinha, espécie de miradouro arcaico de todo o bairro ? Em tempos idos isto por aqui estuava de vida e de movimento quando ainda laborava a Fábrica Social ainda agarrada ao sítio através da toponímia. Passavam as vendedeiras cantantes, entre o formigueiro de operários chapeleiros, das gentes das oficinas das Carvalheiras, no alarido estríduo dos pregões. Pois esta Rua Bela da Fontinha teve, nos tempos, velhos, a designação de Rua de Trás de Deus. Porquê ? Se alguém o souber que nos informe. Nós não sabemos.
Na riquíssima e muito variada toponímia portuense houve ainda designações que nem sempre eram muito do agrado dos moradores locais. Atentem nestes dois exemplos Travessa da Feiticeira ou, como por vezes também aparece escrito, Monte as Feiticeiras, foi a designação da actual Travessa do Campo de 24 de Agosto; e o Beco do Campo, que sucedeu a uma rua e já foi uma travessa, ali para as bandas de Campanhã, chamou-se Viela dos Ladrões. Há mudanças perfeitamente compreensíveis...
Mais três ou quatro exemplos houve um tempo em que os artífices de determinados ofícios procuravam estar o mais perto possível uns dos outros e, em certas circunstâncias, ter as oficinas ou bancas na mesma artéria. É o caso dos caldeireiros que estavam fixados na rua que ainda hoje tem a designação do ofício, apesar de já por lá não haver caldeireiros; os bainheiros que viviam e trabalhavam na Rua da Bainharia, outra artéria medieval que chegou até aos nossos dias mas já sem as oficinas dos bainheiros; os homens que trabalhavam o ouro e a prata, e que ocupavam a Rua da Ourivesaria, infelizmente já desaparecida, etc. etc. Os tintureiros possuíam as suas tinas na actual Travessa do Bonjardim que, por essa razão, se chamava Viela dos Tintureiros, perfeitamente identificada num registo paroquial da freguesia de santo Ildefonso que a localiza "… defronte da Cancela Velha…".
Houve casos em que a designação de certas artérias tinha a ver com actividades que por ali perto se desenvolviam. Foi o caso da actual Rua de Álvaro Castelões que anteriormente teve o nome de Rua da Lealdade tirado, naturalmente, da Fábrica de Tabaco "A Lealdade" que funcionou por ali perto, na Rua de Costa Cabral.
Acerca da Rua Chã, a explicação mais vezes usada para justificar essa designação é a de que tem este nome por ser plana. Sabemos todos os que procuramos saber um pouco mais sobre a história do Porto que também foi conhecida por Rua Chã das Eiras ou só Rua das Eiras por ser por ali que secavam os cereais do Cabido. Agora o que julgamos ser uma novidade é o que vem registado num Roteiro da Cidade do Porto, elaborado para servir de guia aos visitantes da Exposição Industrial de 1891. Na referência que lá vem à Rua Chã, diz-se que anteriormente se chamara Rua das Lyras, assim mesmo com y grego.
Os leitores que escreveram ou enviaram mensagens pedem informações sobre outros casos análogos, ou seja, de ruas que inicialmente tiveram uma denominação e ostentam hoje uma designação que nada tem a ver com o nome inicial.
A tarefa não é fácil porque os casos são muitos e o espaço disponível é escasso, não permitindo aquela abordagem profunda, pormenorizada e devidamente fundamentada que o assunto em causa merece. Mas dá para uma explicação, forçosamente sucinta, sem dúvida, mas, julgamos nós, perfeitamente esclarecedora.
Por exemplo passará pela cabeça de alguém que a Rua Alegre, na Foz, se tivesse chamado, antes de 1891, Rua Nova dos Prazeres ? Não sabemos explicar a origem da antiga denominação mas também não temos nenhuma justificação para a troca dos nomes. Uma coisa garantimos: se nos tivessem pedido a opinião diríamos que deixassem estar como estava. Nem sempre, de facto, as mudanças dos nomes de ruas têm sido feitas dentro do melhor critério.
A Rua de Cedofeita, que todo o portuense bem conhece, é uma artéria relativamente recente, tal como agora a conhecemos como grande centro comercial citadino e aglomerado urbano. Antes da actual designação chamava-se Rua da Cruz. Para este caso temos uma explicação. Ao findar o século XVI, toda a área por onde hoje corre a Rua de Cedofeita era ainda um sítio ermo de características tipicamente rurais e que ficava muito longe da vetusta Porta do Olival aberta na muralha fernandina. No século XVIII andava a abrir-se por entre campos de cultivo e quintas uma estrada para utilização dos viandantes que, saindo da Porta do Olival, pretendessem dirigir-se a Vila do Conde, Barcelos e Santiago de Compostela. Por esse motivo é que, em 1777, aparece num registo da Colegiada designada por Rua da Estrada. A artéria foi rasgada, como atrás se referiu, pelo meio de campos e quintas. Uma destas propriedades era a do Cruz e foi daí que veio a designação de Rua da Cruz.
Um outro enigma é o do antigo nome da actual Rua Bela da Fontinha. Estão a vê-la, empinada a subir até ao Alto da Fontinha, espécie de miradouro arcaico de todo o bairro ? Em tempos idos isto por aqui estuava de vida e de movimento quando ainda laborava a Fábrica Social ainda agarrada ao sítio através da toponímia. Passavam as vendedeiras cantantes, entre o formigueiro de operários chapeleiros, das gentes das oficinas das Carvalheiras, no alarido estríduo dos pregões. Pois esta Rua Bela da Fontinha teve, nos tempos, velhos, a designação de Rua de Trás de Deus. Porquê ? Se alguém o souber que nos informe. Nós não sabemos.
Na riquíssima e muito variada toponímia portuense houve ainda designações que nem sempre eram muito do agrado dos moradores locais. Atentem nestes dois exemplos Travessa da Feiticeira ou, como por vezes também aparece escrito, Monte as Feiticeiras, foi a designação da actual Travessa do Campo de 24 de Agosto; e o Beco do Campo, que sucedeu a uma rua e já foi uma travessa, ali para as bandas de Campanhã, chamou-se Viela dos Ladrões. Há mudanças perfeitamente compreensíveis...
Mais três ou quatro exemplos houve um tempo em que os artífices de determinados ofícios procuravam estar o mais perto possível uns dos outros e, em certas circunstâncias, ter as oficinas ou bancas na mesma artéria. É o caso dos caldeireiros que estavam fixados na rua que ainda hoje tem a designação do ofício, apesar de já por lá não haver caldeireiros; os bainheiros que viviam e trabalhavam na Rua da Bainharia, outra artéria medieval que chegou até aos nossos dias mas já sem as oficinas dos bainheiros; os homens que trabalhavam o ouro e a prata, e que ocupavam a Rua da Ourivesaria, infelizmente já desaparecida, etc. etc. Os tintureiros possuíam as suas tinas na actual Travessa do Bonjardim que, por essa razão, se chamava Viela dos Tintureiros, perfeitamente identificada num registo paroquial da freguesia de santo Ildefonso que a localiza "… defronte da Cancela Velha…".
Houve casos em que a designação de certas artérias tinha a ver com actividades que por ali perto se desenvolviam. Foi o caso da actual Rua de Álvaro Castelões que anteriormente teve o nome de Rua da Lealdade tirado, naturalmente, da Fábrica de Tabaco "A Lealdade" que funcionou por ali perto, na Rua de Costa Cabral.
Acerca da Rua Chã, a explicação mais vezes usada para justificar essa designação é a de que tem este nome por ser plana. Sabemos todos os que procuramos saber um pouco mais sobre a história do Porto que também foi conhecida por Rua Chã das Eiras ou só Rua das Eiras por ser por ali que secavam os cereais do Cabido. Agora o que julgamos ser uma novidade é o que vem registado num Roteiro da Cidade do Porto, elaborado para servir de guia aos visitantes da Exposição Industrial de 1891. Na referência que lá vem à Rua Chã, diz-se que anteriormente se chamara Rua das Lyras, assim mesmo com y grego.
Germano Silva
Publicado no Jornal de Notícias
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