28.2.08

Rua D. MIGUEL DA SILVA


0208 foz

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D. Miguel da Silva - (Séc. XV)- Filho dos 1ºs condes de Portalegre, estudou e doutorou-se em Parisd. Fez notáveis obras, designadamente a capela de S. Miguel o Anjo, que mandou edificar em 1528, com a sua torre, onde funcionou o primeiro farol da barra do Douro, e onde se lê ainda a inscrição latina que, traduzida diz: «D. Miguel da Silva, Bispo eleito de Viseu, fez esta torre para governo da entrada dos navios e deu e consignou campos comprados com o seu dinheiro para que do resperctivo rendimento se acendessem na torre fogos perpetuamente». (Arquivo da Toponímia da Câmara Municipal do Porto)


Viela da SENHORA DA LAPA

Rua do PASSEIO ALEGRE

27.2.08

Rua da IGREJA DE RAMALDE



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Nova Igreja S. Salvador de Ramalde


Construída por vontade e fé do povo de Ramalde e sob o ministério pastoral do Pe. António Almiro Mendes, a nova Igreja de Ramalde foi dedicada a S. Salvador pelo Bispo D. Armindo Lopes Coelho.

Inaugurada em 16 de Junho de 2002, esta Igreja é obra do Arq. Vasco Marais Soares. Edificação Moderna em betão maciço, granito, tijolo, e com o tecto em madeira, apresenta um forte aproveitamento da iluminação natural, tornando-se numa referência ao nível da estética e da acústica.

O painel de azulejos do seu exterior, obra do mestre Rogério Ribeiro, retrata a história do Homem.

Se procura o mapa da freguesia de Ramalde, ele encontra-se aqui


Calçada de SERRÚBIA


serrúbia

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Já se chamou Travessa da Bela Vista


Na esquina da Calçada de Serrúbia com a rua do Passeio Alegre encontra-se a Fundação Eugénio de Andrade

Breve biografia de Eugénio de Andrade:

"A cidade deve ter sido sensível a tal escolha, pois fê-lo cidadão honorário, concedendo-lhe por duas vezes a sua medalha de ouro. Eugénio de Andrade nasceu em Povoa de Atalaia (Fundão), a 19 de Janeiro de 1923. A família que lhe coube em sorte vai de camponeses abastados a mestres de obras, que, nos primeiros anos do século, nada tinham de parecido com os actuais - portanto gente que trabalhava a terra e a pedra. Mas será a mãe, com quem emigra aos sete anos, primeiro para Castelo Branco e um ano depois para Lisboa, a figura tutelar e poética da sua vida, como todo o leitor da sua poesia sabe. (A mãe, o falar materno, "o quente de uma vida infantil muito perto da natureza mais elementar", virão a desempenhar um papel central na sua poesia). Em Lisboa vai viver e estudar, com um interregno de 43 a 46 em Coimbra, até finais dos anos 50. Em 1947, ingressa nos quadros dos Serviços Médico-Sociais, do Ministério da Saúde, onde desempenhará durante 35 anos a mesma função - a de inspector administrativo - por sempre se ter recusado a fazer concursos de promoção. A sua transferência para o Porto, por razões de serviço, deu-se em Dezembro de 1950.
Apesar do seu prestígio (Eugénio de Andrade é dos nossos raros escritores com repercussão internacional, com os seus 55 títulos traduzidos, e cuja obra, entre nós, tem conhecido sucessivas reedições), viveu sempre extremamente distanciado do que se chama vida social, literária ou mundana, avesso à comunicação social, arredado de encontros, colóquios, congressos, etc., e as suas raras aparições em público devem-se a «essa debilidade do coração, que é a amizade», devendo encarar do mesmo modo o facto de ser membro da Academia Mallarmé, de Paris. Cabe aqui referir que nunca concorreu aos prémios que lhe foram atribuídos, quer em Portugal ou na França, quer no Brasil ou na Jugoslávia, como nunca ninguém o viu usar qualquer insígnia das condecorações com que foi agraciado.
A obra de Eugénio de Andrade, escrita ao longo dos últimos 50 anos, tem início em 1942 com Adolescente, livro hoje renegado, tal como Pureza, de 45, dos quais fez mais tarde uma breve selecção que designou por Primeiros Poemas (77), é constituída, principalmente pelos seguintes títulos de poesia: As Mãos e os Frutos (48), Os Amantes sem Dinheiro (50), As Palavras Interditas (51), Ate Amanhã (56), Coração do Dia (58), Mar de Setembro (61), Ostinato Rigore (64), Obscuro Domínio (72), Véspera de Água (73), Escrita da terra (74), Limiar doa Pássaros (76), Memória Doutro Rio (78), Matéria Solar (80), O Outro Nome da Terra (88), Rente ao Dizer (92), Oficio da Paciência (94), O Sal da Língua (95), Pequeno Formato (97), Os Lugares do Lume (98), Os Sulcos da Sede (2001); de prosa: Os Afluentes do Silêncio (68), Rosto Precário (79), À Sombra da Memória (93); para crianças: História da Égua Branca (77), Aquela Nuvem e Outras (86). Traduziu principalmente Safo, Garcia Lorca e Cartas Portuguesas, tendo ainda organizado algumas antologias, quase todas sobre a terra Portuguesa, caracterizadas pela ausência de preconceitos e sectarismos literários, das quais se destacam: Daqui Houve Nome Portugal, Memórias de Alegria, Canção do Mais Alto Rio, Poesia - Terra da Minha Mãe, os últimos com a colaboração do fotógrafo Dario Gonçalves, A Cidade de Garrett, com desenhos de Fernando Lanhas, e Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa. Traduzido em cerca de 20 línguas, a poesia de Eugénio de Andrade tem sido estudada e comentada por, entre outros, Vitorino Nemésio, João Gaspar Simões, Óscar Lopes, António José Saraiva, Eduardo Lourenço, Jorge de Sena, Eduardo Prado Coelho, Arnaldo Saraiva, Joaquim Manuel Magalhães, Fernando Pinto do Amaral, Luís Miguel Nava, Angel Crespo, Carlos V. Cattaneo, e suscitado o interesse de vários músicos, entre os quais Fernando Lopes-Graça, Jorge Peixinho, Filipe Pires, Clotilde Rosa, Mário Laginhas e Paulo Maria Rodrigues.
Viveu no Porto - de que foi cidadão honorário e onde foi criada uma Fundação com o seu nome - até a sua morte a 13 de Junho de 2005."


Pode continuar a ler a biografia de Eugénio de Andrade aqui:
http://www.fundacaoeugenioandrade.pt/biblio_fr1.htm




Rua MOTA PINTO



"Ínclita Geração" escultura de Laureano Ribatua


Biografia de Carlos Alberto da Mota Pinto (1936-1985) publicada por José Adelino Maltez

Doutor em Ciências Jurídicas pela Univ. de Coimbra (1972).

Ministro do Comércio e Turismo de 25 de Março de 1977 a 9 de Dezembro de 1977.

Primeiro-ministro do IV Governo Constitucional (1978/79).

Vice-primeiro-ministro e Ministro da Defesa no IX Governo Constitucional, dito do "bloco central". (1983/85)

Presidente do PSD, a partir de 1984, até à sua morte prematura no ano seguinte.

De 1983-06-09 até 1985-02-15 Ministro da Defesa Nacional do IX Governo Constitucional

De 1983-06-09 até 1985-02-15 Vice Primeiro- Ministro do IX Governo Constitucional

De 1978-11-21 até 1979-06-11 Primeiro- Ministro do IV Governo Constitucional

De 1977-03-25 até 1977-12-09 Ministro do Comércio e Turismo do I Governo Constitucional

Pode ver mais na Wikipédia

Rua das MOTAS



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Antiga palavra portuguesa, hoje em desuso, mas que Santa Rosa de Viterbo regista no seu «Elucidário», dizendo que «antigamente se tomava pelos muros, torres, fossos ou cavas que defendiam e mesmo formoseavam uma casa de campo, e que por erma e solitária necessitava de ser guarnecida a modo de castelo ou fortaleza». E citando um documento de 1280, que fala de «uma casa com sua mota», acrescenta o doutíssimo frade: «Toma-se hoje por açude ou levada de água, que se forma de torrões, faxinas ou pedras». Mais recentemente, diccionaristas como Cândido de Figueiredo e Brunswick dão-lhe significado de «aterro com que se resguarda de inundações um campo, campos ou lugar», «aterro à borda de um rio para impedir inudações». Provavelmente será esta a origem do topónimo de que nos ocupamos. ("Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)



Nesta Rua encontra-se o "Orfeão da Foz do Douro":

"Fundado em 1 de Janeiro de 1916 por um grupo de jovens amantes da música e do teatro, sob o lema Arte e Beneficiência, o Orfeão instalou-se primeiro num edifício da esquina entre a Rua do Paraíso e a Rua Central, hoje Padre Luís Cabral (onde funcionou também a Cooperativa da Foz).

Sebastião Campos, Alfredo José de Pinho, António Cunha Matos, José Vitório F. Iglésias, Hernâni Júlio Rocha Lima, José Matos Vilar, entre outros são dos fundadores e dos primeiros activistas. Iniciou a sua actividade com um Grupo Coral que chegou a ter a participação de mais de cem elementos e era considerado um dos principais da cidade e do norte do país. Dentre as várias sedes que conheceu, antes de se instalar na Rua das Motas, realce-se a passagem pelo Café Central na Rua Senhora da Luz.

Presentemente, existe um Grupo Coral Misto, dirigido pelo Maestro Afonso Alves e que tem actuado em diversos encontros e concertos, quer na cidade do Porto, quer noutros concelhos.

O Orfeão da Foz do Douro em 1934 foi agraciado pelo Presidente da República com o Grau Oficial de Ordem de Benemerência e, pela Câmara Municipal do Porto, em 1966, com a Medalha de Ouro de Mérito Municipal. Em representação da Foz do Douro participa, desde 1991, ininterruptamente, no concurso de Rusgas de S.João do Porto, onde já obteve primeiros lugares em 3 anos de participação, e no cortejo do traje de papel integrado nas Festas de S. Bartolomeu da Foz do Douro."


Os arquitectos José Bernardo Távora e Miguel Mesquita são os autores do projecto de um conjunto de casas em banda existente nesta rua.

26.2.08

Avenida D. CARLOS I

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D. Carlos I - Rei de Portugal de 1889 a 1908 (Lisboa 28.9.1863 - ib.1.2.1908). Filho de D. Luís I e de D.Maria de Sabóia. (Arquivo da Toponímia da Câmara Municipal do Porto)

Curiosidade minha:
Só que não consegui saber quando a Avenida das Palmeiras alterou o nome.


Travessa da CARVALHOSA

carvalhosa

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A toponímia portuense está muito ligada ao antigo coberto vegetal duma cidade que evoluiu, lentamente, desde tempos pré-históricos. Porto, Gaia e Portugal estão, igualmente, ligados à existência da Gália, uma planta palustre em vias de extinção, nas turfeiras e zonas húmidas do litoral. Por hoje, gostaríamos de analisar uma grande quantidade de topónimos, que conotam Carvalhos ou os lugares onde eles predominavam. Os espaços que hoje chamamos de parques eram designados, nas Terras do Norte de Bouças, com origem no adj. lat. baltea, pl., que significa várias coisas: «terreno que produz lenha, chamiços, guiços, e mato para a cama do gado, com vista à correcção das terras fundas, especialmente tojo, urzes, carqueja, arbustos; e árvores, normalmente pinheiros, eucaliptos e carvalhos». A designação nortenha de Bouça oscila entre bouzas, balça, bauzas, bustelos, etc. A sua verdadeira origem é, de certeza, pré-latina, isto é, celta. O actual Concelho de Matosinhos fora chamado de Bouças! Na toponímia portuense, temos a Viela da Bouça, a Bouça do Canastreiro, o lugar da Bouça do Ribas, a Rua das Bouças, a travessa da Bouça. Estas designações urbanas, praticamente em desuso, provam que os Carvalhos tinham muitos espaços na Cidade. Seguindo, agora, pelo caminho dos chaparros, tão queridos dos Alentejanos, vamos encontrar a Rua das Azinheiras, como prova que, por estas terras do Baixo-Douro também havia burros e Azinheiras, ou seja Quercus ilex L. Toponímia dos Carvalhos Ligada mais directamente à existência de Carvalhos Robles, Q. robur L., intramuros, encontrámos um número importante de nomes que conotam o Carvalho comum dos tempos primitivos: Carvalheiras, Carvalhido, Carvalho, Carvalhosa, com referência e ruas, travessas, vielas e uma freguesia, que é o Carvalhido.

Começando por um espaço que deve ser dos mais antigos, referimos os Carvalhos do Largo do Priorado, ali mesmo junto da Igreja Românica de Cedofeita, muito perto da antiga Rua e lugar da Carvalhosa, hoje Rua de Aníbal Cunha. A existência destes Carvalhos junto da Igreja prova do apreço que as civilizações pré-cristãs tinham pelos Carvalhos sagrados. Em termos de topónimos nacionais, os Carvalhos fornecem um enorme leque de nomes de lugares, freguesias, vilas, povos, etc. É interessante verificar como os povos distinguiam entre Carvalhinhos, Chaparros, Carvalheiras e Carvalhos. As Carvalheiras são nomes que os Minhotos atribuem às árvores mais velhas, geralmente muito fecundas em frutos (bolotas ou glandes). A designação de chaparro é, de preferência, extensiva aos juvenis dos Sobreiros, Azinheiras e Carrascos. Esta última designação também se reporta a plantas jovens. Gostaríamos, agora, de confrontar o nome genérico do Carvalho, Quercus, com outros nomes que conotam Carvalhos, mormente: Cerca, Cerquido, Cerquinho, Cercal, Cercado e Carvalhido.
É, realmente. muito difícil demonstrar que Carvalho e Quercus têm origem e raiz comuns. José Pedro Machado ajuda-nos a essa compreensão ( 1). Cerca vem do lat. circa, «à volta de, à roda, de todos os lados; nas vizinhanças de». Cercal lat. *cerquale, de *cerquu- por quercuu- / *kuerkuu > Quercuu-, com o sentido de «Carvalho». Paul Aerbischer diz que *Quercus provém duma forma dissimilada, no Latim de Espanha e Itália: * Cerquus > Quercus ( * Kuerkus ), equivalente ao Celta Carbalium. A forma Carvalhido provém do colectivo medieval *Carballietum ( de *Karballiu), que evolui foneticamente para Carvalhido: Karballium > *Karballetum > * Karballetu > * Karballedo > *Karballido > Carvalhido. Como se trata dum nome de origem Celta, devemos ter em atenção e articulação do -CE- latino, que deve pronunciar-se /KE/, afastando-se das pronúncias portuguesa, castelhana e italiana. Ver a pronúncia restaurado do Latim Clássico. Assim chegámos ao Q. E. D. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Livros Horizonte, Lisboa., 1997, vol. I, II e III.


Publicado por João Soares aqui:
http://bioterra.blogspot.com/2004/03/toponmia-portuense-ligada-aos-carvalhos.html


Travessa da FIGUEIROA




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Há todas as probabilidades de dever o seu nome a Manuel de Figueirôa Pinto, fidalgo da Casa de Sua Majestade, contador da Fazenda Real no Porto, comendador de Santa Maria Madalena, no Ordem de Cristo, alcaide-mor da vila de Portel, donatário do concelho de Portocarreiro, que em 1770, comprara aos sucessores do Dr. João Carneiro de Morais, chanceler-mor do reino, a Quinta chamada de Santo Ovídio ou da Boavista... ("Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)

Como outras pessoas que se interessam pela toponímia, eu continuo a dizer que o verdadeiro nome deveria ser Travessa ou Rua do Figueiroa!

Figueiroas e João de Barros vizinhos na Rua das Flores

Algumas delas deviam ser, do ponto de vista arquitectónico, verdadeiras obras de arte, como parece ter sido o caso, por exemplo, da moradia em que viveu o dr. João de Barros, o consagrado autor da "Geografia de Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes". Dessa casa existe um belo desenho que foi publicado no catálogo da exposição "O Porto e a Europa do Renascimento" e que nos mostra uma bela moradia ao melhor estilo daquela época mas que, infelizmente, já não existe.

É no entanto possível identificar o local onde ficava essa casa na Rua das Flores e fazer, também, a reconstituição, embora muito resumida, da sua história.

No século XVI (1524), a casa pertencia ao padre Martinho do Couto, abade de Santa Maria de Fiães, que, à sua morte, a deixou a uma filha chamada Joana do Couto, que veio a casar com o dr. João de Barros.

Daquele casal a moradia passou, por venda (200$000 réis), em 1571, para Estêvão Ribeiro, que era o prior de Lagos.

Em 1897, para abreviar, já nos finais do século XIX, a casa em referência era propriedade do Banco Comercial do Porto, que a vendeu a José Bento Pereira.

Trata-se do edifício onde funcionou até há pouco tempo a célebre Papelaria Reis e que acaba de ser objecto de uma profunda intervenção realizada pela Porto Vivo, que transformou um imóvel, em vias de degradação, num excelente condomínio fechado destinado a habitação.

Já agora, vale a pena lembrar aqui a história da Papelaria Reis, que foi um dos estabelecimento emblemáticos da Rua das Flores.

Nasceu na Rua do Almada, em 1865, tendo sido seu fundador Manuel Alves dos Reis. À morte deste sucedeu-lhe na administração do negócio seu filho José Alves dos Reis, de quem Carlos Bastos traçou uma pormenorizada biografia no "Livro de Ouro do Comércio e Indústria do Porto", onde fomos colher alguns dados para este trabalho.

A transferência da Papelaria Reis para a Rua das Flores ocorreu há exactamente 100 anos - em 1907. Mas não foi logo para o sítio onde esteve a casa de João de Barros. Instalou-se, primeiro, no prédio com os números de 21 a 25, onde já funcionava um estabelecimento do mesmo ramo - a Papelaria Rebelo, que havia sido fundada em 1877 por João Vieira Rebelo. Foi só muito mais tarde (Dezembro de 1931) que a Papelaria Reis se mudaria para o prédio com a numeração de 150 a 160, onde ficou praticamente até aos nossos dias.

Uma outra casa importante da Rua das Flores foi aquela que fica na esquina da Rua do Ferraz e que passou à história com a designação de Casa da Companhia, por ter servido, durante muitos anos, de sede à Real Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Em 1523 construiu ali uma moradia um tal Brás Brandão, camareiro do bispo do Porto D. Pedro da Costa. O prédio actual deve ter sido edificado entre 1697 e 1747 e, antes de servir de sede à Companhia dos Vinhos, foi a residência da influente e rica família dos Figueiroas Pinto. Com efeito, em 1697, João de Figueiroa Pinto, contador das sisas da cidade, pagava pela casa onde vivia na Rua das Flores o foro de 900 réis.

A recolha das rendas estava confiada aos rendeiros do bispo, que as arrematavam. O Cabido, para tratar das suas rendas, tinha o "cónego prebendeiro". O pagamento dos foros podia ser feito em diferentes épocas. Por norma, os pagamentos, com raríssimas excepções, eram efectuados em Setembro pela festa do S. Miguel. O pagamento tanto podia ser em géneros como em dinheiro. Para arrecadar os pagamentos em cereais, o Cabido tinha um celeiro diante da porta principal da catedral. Se assim fosse acordado, o pagamento também podia ser feito em três prestações pelo Natal, pela Páscoa e pelo S. João.

Uma descrição da casa datada de 1747 corresponde exactamente ao prédio que ainda hoje existe "… huma morada de casas nobres que (eles, Figueiroas Pinto) poshuem nesta Rua de Santa Catarina das Flores, para onde tem a principal fronteyra e fazem quina à Viela do Ferraz, para onde tem outra face e nella sua capella em que se diz missa…". A frontaria da capela ainda lá está.

Referindo-se à Rua das Flores, João de Barros, na sua "Geografia de Entre Douro e Minho e Trás -os -Montes", informa que "as casas desta rua têm todas quintais e jardins mui frescos e hortas que quase todas tem agoa com que Regão e a mor parte destas casas são boas e nobres…"


No século XVI entendia-se por Rua de Santa Catarina das Flores à parte da actual Rua das Flores que vai " do chafariz de S. Domingos thé a boca do Souto e Caldeireyros…" Daqui até à actual Praça de Almeida Garrett era a Rua de Carros, por ficar próxima da porta da muralha fernandina com esta designação. Como é geralmente sabido, a Rua das Flores foi mandada abrir por iniciativa do rei D. Manuel I, em 1521, ao longo do rio da Vila, por onde vicejavam hortas que eram propriedade da Igreja por estarem dentro do perímetro compreendido na doação que D. Teresa fez ao bispo D. Hugo. Uma vez delineada a rua, em cada um dos lados da nova artéria marcaram-se talhões para a construção de casas e quintais, revertendo as rendas das casas da Rua de Santa Catarina das Flores para o bispo; e as das casas da Rua de Carros, para o Cabido. Ora, a casa onde viveu o dr. João de Barros situava-se exactamente no ponto de encontro dos terrenos da Mitra e do Cabido.

Publicado no Jornal de Notícias




25.2.08

Escadas da IGREJA

Rua RAÚL BRANDÃO

foz 02 08

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Esta rua já foi chamada da Bela Vista (até 1937)



Raul Brandão
por Vítor Viçoso


Nascido na Foz do Douro (Porto), em 1867, Raul Brandão, filho e neto de pescadores, morreria em Lisboa em 1930. A partir de 1912, já reformado no posto de capitão do exército, onde ingressara em 1888, alternaria entre a sua “Casa do Alto”, na Nespereira (Guimarães), e Lisboa, onde passava parte do Inverno.

Elemento activo da “geração de 90” (século XIX), influenciada pela estética decadentista-simbolista de matriz parisiense, Raul Brandão, superado o período do “nefelibatismo” – seria um dos elementos do cenáculo portuense responsável pela elaboração do opúsculo “Os Nefelibatas” (1892), simultaneamente manifesto em prol da arte moderna e pastiche decadentista –, do esteticismo e do ludismo decadente e libertário que comungara com os seus companheiros geracionais (António Nobre, Alberto de Oliveira, Júlio Brandão, Justino de Montalvão, D. João de Castro, entre outros), foi desenvolvendo, num clima visionário, uma perspectiva crítica relativamente aos valores materialistas burgueses dominantes na sociedade do seu tempo. Da fase da originalidade “nefelibata” e do artificialismo “dândi”, enquanto estilo geracional, o autor transitaria para uma fase de uma obsessiva responsabilização ética e aí fundaria a sua sensibilidade estética. Os seus textos, publicados a partir de 1893 no jornal Correio da Manhã, reflectem já um acentuado pendor ético-social e uma obsessiva interrogação sobre o sentido de um mundo sem valores e em acelerado processo de dessacralização. Nele as chamadas Questão Social e Questão Religiosa fundem-se numa mesma problemática que passará a dar conteúdo às suas obras. Já em História d’um Palhaço (1896) – ultrapassado o efémero naturalismo das suas narrativas de Impressões e Paisagens (1890) – podemos detectar uma projecção desta temática numa tensão entre a idealidade “adolescente” (o sonho) e o pragmatismo do princípio de real, assente numa mentira fundadora a legitimar uma sociedade iníqua. O protagonista K. Maurício tipifica simultaneamente um onirismo decadente específico do ensimesmamento estético finissecular (o romance do eu), uma centração metafísica no tema da morte e um embrião de rebeldia infrutífera contra as forças sociais corruptoras.

O catastrofismo “finissecular” de pendor apocalíptico, ora desesperante ora esperançoso, atinge progressivamente na sua obra uma dimensão patética e interrogativa. Orientada por uma polarização discursiva egocêntrica, aquela oscila entre uma desesperada verificação de um mundo esvaziado espiritualmente e a apetência ambivalente por uma messiânica revolução (redenção) humanitarista, algo que emergirá nebulosamente em Húmus (1917), nas Memórias (1919-1923-1933) e em O Pobre de Pedir (1931).

Já no opúsculo de teor parenético, O Padre (1901), podemos ler: «A época é de tragédia. O que domina é o oiro». Este apelo a uma nova espiritualidade, não poupando a Igreja Católica, pretenderia redimir o mundo então dominado por um hedonismo predador, revalorizando a vertente sacrificial de pendor sacralizante que havia sido um alicerce fundamental de toda a arquitectura social. De outro modo, o “darwinismo social” e o hegemonismo do “Deus-Milhão” só poderiam conduzir vertiginosamente a um Apocalipse sem Deus ou a um demonismo carnavalesco, pelo que só uma postura neo-franciscana, com evidentes ecos do evangelismo socializante de Tolstoi, poderia constituir aí um contraponto soteriológico: «O futuro é daqueles a quem o heroísmo da pobreza atrai» (O Padre). É, aliás, deste fascínio ambivalente pela sacrificialidade dos humildes, quer absurda quer redentora, que se fará a narrativa poética Os Pobres (1906). Nesta o fluxo dolorista desse submundo trágico-grotesco urbano – a sua colaboração regular com a imprensa a partir de 1893 possibilitar-lhe-ia um conhecimento mais profundo das classes mais pobres de Lisboa – constitui um energismo, indutor de perplexidades em função do enigmático sentido da dor num mundo aparentemente desabitado por Deus, mas talvez capaz de o orientar para uma nova religiosidade: «uma terra toda alma». Como diria na “Introdução” a O Cerco do Porto (1915), «cada vez que um Deus morre o seu cadáver corrompe o mundo». Contudo, a sua crítica ao regime republicano pelas expectativas goradas aquando da revolução de 1910, implícita neste texto, não o transporta para uma nostálgica ressurreição do passado, pois «A liberdade é-nos já tão necessária como o ar que respiramos. [...] Precisamos de um ideal comum, se queremos viver. Precisamos de fazer disto uma pátria, onde caibamos todos». Esta aspiração levá-lo-ia, aliás, a constituir o grupo fundador da Seara Nova, em 1921. A História tornava-se assim um pesadelo e a realidade uma mera caricatura grotesca, algo que consagraria dramaticamente nas suas obras historiográficas El-Rei Junot (1912) e A Conspiração de 1817 (1914).

A dor do outro social interioriza-se e traduz-se em visões alucinadas e, por outro lado, as feridas íntimas (o remorso, a má consciência burguesa) transcendem o espaço da subjectividade individual e projectam-se nas figuras ambulantes e esboçadas (os “grotescos”) que simbolizam o dolorismo agónico e nocturno que o obceca. É esta bipolaridade interactiva que orienta a estrutura enunciativa da sua ficção, fundada simultaneamente num redundante compromisso ético e numa consciência extremada das contradições inerentes à condição humana, dividida entre o infinito e o vómito.

As suas prosas constituirão, pois, uma progressão sem soluções de continuidade entre um imaginário decadentista-simbolista finissecular (um egocentrismo catastrofista) e um expressionismo grotesco, materializado numa espécie de teatro de títeres manipulados em função dos fluxos e refluxos emocionais e reflexivos do “autor” ou dos seus duplos (a encenação dos seus fantasmas) e comprometido numa inquirição comovida sobre a natureza humana (o espanto) na busca paradoxal do seu sentido na dinâmica universal. Daí que na sua ficção haja uma evidente desvalorização da história (a intriga), como se esta servisse apenas, no seu fragmentarismo e na sua desconexão discursiva ou na sua temporalidade descontínua, para ilustrar simbolicamente as pulsões que se confrontam no “teatro” interior do egocêntrico narrador.

Outra face da sua cosmovisão sugere-nos um lirismo telúrico, arquitectado nos símbolos nucleares da pedra, da árvore e dos humildes (expressão da ternura matricial do húmus), ou seja, de uma religiosidade que se pontua por uma simpatia irradiante por tudo aquilo que, na sua simplicidade espontânea e pregnante, exprime o esplendor enigmático da alma universal. Para lá, portanto, da efemeridade do social, com o seu cortejo de máscaras, e da mesquinha luta pelo poder, releva-se essa capacidade solidária com a perenidade simbólica e estética de um ser humilde (a Joana de A Farsa, 1903, ou de Húmus, por exemplo) ou de uma paisagem. E tudo isso se torna nele simultaneamente interior e exterior e pode designar-se, nas suas diversas variantes, como o energismo onírico que radicaliza a vida e, em última instância, lhe propicia o único sentido possível. Aquém disto, apenas a relação promíscua com a máscara (o formalismo social ou a morte). E às palavras da sua ficção cabe, por vezes, iluminar esses instantes eternos, que actualizam, no recolhimento quase místico, essa necessária, redentora e poética presença do absoluto. Por isso, em todas as obras do autor é nuclear a oposição reiterada entre o eu social (a máscara) e o eu profundo (o sonho); a imposição do ser para consumo social (o domínio do parecer) e a vertigem do ser autêntico – uma latência obscura apenas revelável socialmente em momentos de crise. O recalcado aí emerge, abalando então a arquitectura frágil que sustentava a identidade e a sua coesão. A ordem desintegra-se e a desordem instala-se, como acontece em Húmus, na farsa trágica O Doido e a Morte (1923) ou no romance póstumo O Pobre de Pedir. A este fascínio ambíguo pela rebelião ou pela centração no drama social dos pobres não seria, de resto, alheio a sua relação simpática com o anarquismo desde a última década do século XIX.

Em Húmus, a enunciação enquanto espaço de estranheza extremada associa-se, por outro lado, à emergência de duas entidades enquanto alteridade ameaçadora na voz do enunciador: eu sou os outros (a máscara social) e eu sou o não-ser (a morte). Ou, num enunciado paradoxal: «Eu não sou quem falo». As suas ficções desenvolvem-se, portanto, sobretudo a partir deste “teatro da consciência”, no qual as forças ocultas e abissais esperam essa situação-limite de revelação (o apocalipse interior) e se expõem enquanto transgressão caótica da Lei, em suma, de um mundo até então vivido como ilusão e baseado numa mentira, mas sem a qual paradoxalmente o homem se submeteria à voragem. A intrusão, mais ou menos abrupta, desse outro niilista na minha própria voz constitui um dos cernes da estrutura enunciativa, quer das suas narrativas (Húmus ou O Pobre de Pedir), quer do seu teatro, publicado entre 1923 e 1929 (O Gebo e a Sombra, O Doido e a Morte, O Rei Imaginário, Eu Sou um Homem de Bem ou O Avejão).

No caso de A Farsa, a protagonista, Candidinha, encarnação ensimesmada do ódio, assume a aventura, simultaneamente trágica e grotesca, desse dualismo insuperável. Ela é tanto a comparsa submissa e histriónica dos cerimoniosos hipócritas de uma burguesia provinciana neófoba, como o vector de uma rebeldia indómita e maquiavélica face aos códigos socioculturais dessa casta dominante, fossilizada e dividida entre os rituais da caridade e os temores do inferno. Este exorcismo da mentira e esta dissecação dos formalismos de uma moral burguesa perpassam, aliás, toda a obra de Raul Brandão e essa má consciência burguesa atingirá o seu acme com a revolta milenarista de O Pobre de Pedir.

Num outro plano, a dor e o sonho são, na ficção brandoniana, os únicos vectores que intensificam a vida e lhe dão plenitude. Sem eles, a vida reduzir-se-ia aos protocolos da rotina, na espera absurda do desenlace final, às palavras rançosas ditas e reditas, ou seja, à banalização do ser e da linguagem que o sustenta. O sonho e a dor são também, por isso, os fundamentos da sua própria criação estética. O sonho que, por vezes, se confunde, na sua cosmovisão com o ideal é, assim, um vector que funciona como um antídoto relativamente ao absurdo de ser para não ser. Aliás, a estética do grotesco no autor estrutura-se a partir da fusão promíscua entre a vida e a morte ou da tensão entre a função repressora da máscara e um energismo profundo, caótico e inominável. O sonho dá sentido à vida, pois, sem ele, o homem ver-se-ia condenado à insignificância e ao simulacro. Daí a polivalência do onirismo em A Farsa ou em Húmus. Este é tanto a erupção dos demonismos mais absurdos, como o desejo da aventura mística ou o estabelecimento de humildes laços de ternura. Os santos e os demónios cruzam-se, por vezes, nessa amálgama, porque ambos são a condição para uma relativa superação das limitações ignóbeis impostas ao homem. Mais do que projecção para a acção, o sonho é uma plenitude que coloca o tempo vectorial entre parêntesis e aponta para uma vertical mítico-poética. Mesmo na sua visão da História universal (cf. El-Rei Junot) aquele cristaliza-se simbolicamente numa árvore matricial que condensaria as aspirações irrealizadas pelos homens, desde tempos imemoriais até aos confins dos tempos.

Para lá da vertente nocturna da sua obra, as suas narrativas de viagens, Os Pescadores (1923) e As Ilhas Desconhecidas (1926), abrem-nos sobretudo à embriaguez da luz e do policromatismo da paisagem (o apolíneo), escrevendo ao jeito impressionista de quem pinta, do mesmo modo que nos “Prefácios” das Memórias se abre a um intimismo autográfico que é simultaneamente uma reinvenção dos espaços e seres da infância e a exaltação da ternura num tempo crepuscular, o dos estertores da monarquia constitucional e o das desiludidas esperanças do período republicano.


Bibliografia activa

1890 – Impressões e Paisagens

1896 – História d’um Palhaço (A Vida e o Diário de K. Maurício)

1901 – O Padre

1903 – A Farsa

1906 – Os Pobres

1912 – El-Rei Junot

1914 – A Conspiração de 1817

1915 – O Cerco do Porto – Pelo Coronel Owen (Prefácio e Notas)

1917 – Húmus

1919 – Memórias – vol. I

1923 – Teatro – “O Gebo e a Sombra”, “O Rei Imaginário” e “O Doido e a Morte”

– Os Pescadores

1925 – Memórias – vol. II

1926 – As Ilhas Desconhecidas

– A Morte do Palhaço e O Mistério da Árvore (2ª edição refundida de História d’um Palhaço)

1927 – Eu sou um Homem de Bem (monólogo teatral)

– Jesus Cristo em Lisboa (tragicomédia em colaboração com Teixeira de Pascoaes)

1929 – O Avejão – Episódio Dramático

1930 – Portugal Pequenino (em colaboração com Maria Angelina)

1931 – O Pobre de Pedir (edição póstuma)

1933 – Memórias – vol. III (edição póstuma)

1981 – A Noite de Natal (em colaboração com Júlio Brandão) – Leitura, introdução e notas por José Carlos Seabra Pereira

1984 – Os Operários – Fixação do texto, introdução e notas por Túlio Ramires Ferro

2000 – Húmus (1917; 1921; 1926) – Edição crítica de Maria João Reynaud



Obras traduzidas (apuradas)

La Farsa – Trad. castelhana de Valentin de Pedro, s/d.

Los Pobres – Trad. castelhana de Valentin de Pedro, Madrid, Ed. Rivadeneyra, 1921.

Humus – Trad. castelhana de Ribero i Rovira, Barcelona, Ed. Cervantes, s/d.

Humus – Trad. francesa e prefácio de Françoise Laye, Paris, F. Calouste Gulbenkian/Centre Culturel Portugais, PUF, 1981.

Humus – Trad. francesa e prefácio de Françoise Laye, Paris, Flammarion, 1992.

...

Publicado no "site" do Instituto Camões



Jardim do PASSEIO ALEGRE


jardim à beira-rio plantado

Fotografia publicada e localizada no Flickr


A designação da Rua do Passeio Alegre, na Foz do Douro, substituiu um muito velho topónimo que não se perdeu de tudo, porque ainda no dizer do povo : a Cantareira. Cantareira significa ou significava, o poial onde se colocavam as cântaras, à espera de vez na fonte. Remonta, pelo menos, ao século XIII, porque o mencionam as Inquirições ordenadas por D. Afonso III, em 1258. No Passeio Alegre há dois monumentos dignos de menção: O lindo Chafariz, que veio de Monchique, e as pirâmides que ornamentavam antes os jardins da Quinta da Prelada. E ainda aquela malograda capela e farol quinhentista, mandados edificar pelo comendatário de Santo Tirso, o famoso D.Miguel da Silva, Bispo de viseu. ("Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)


Escadas do PINHEIRO

pinheiro

Fotografia publicada e localizada no Flickr



24.2.08

Rua ANTERO DE QUENTAL


Fotografia de Zwigmar publicada e localizada aqui

Sinceros agradecimentos à cedência da fotografia


Diz-nos Horácio Marçal, na sua monografia de Paranhos, que até 1875 «teve o antigo lugar do Sério a designação de travessa do Campo Lindo; a seguir foi Rua da Rainha, e hoje é Rua de Antero Quental». Com este nome de Rua da Rainha encontramos as plantas de Mangeon e de 1902. ("Toponímia Portuense" de Eugénio da Cunha e Freitas)

Anteriormente teve o nome de Rua da Raínha.

Curiosidade sobre esta rua:

Era nesta rua onde se encontrava o antigo (primeiro?) campo de futebol da do F.C.Porto. O campo, relvado havia sido inaugurado em 6 de Dezembro de 1908 com um jogo em que o Porto venceu o Leixões por 6-3. Foi transferido em 4 de Novembro de 1912 para a Rua da Constituição onde ainda existe.

* * *
Antero Tarquínio de Quental era originário dos Açores, tendo nascido em Ponta Delgada a 18 de Abril de 1842. É possível que a tradição familiar tenha contribuído para a sua inclinação humanística, dado que entre os seus antepassados havia um pregador de mérito, P. Bartolomeu de Quental, e um poeta amigo de Bocage, o avô André Ponte de Quental. Recebeu da família, principalmente de sua mãe, uma educação religiosa e tradicional, que viria a abandonar mais tarde, nos seus aspectos mais visíveis, se bem que tenha conservado até ao fim um fundo de religiosidade.

Frequentou, em 1852, o Colégio do Pórtico, em Ponta delgado, na altura em que Castilho era o seu director. Veio para o continente em 1855, matriculando-se inicialmente no Colégio de S. Bento, em Coimbra, frequentando depois o curso de direito, entre 1858 e 1864. Durante a juventude publicou diversos textos nos jornais "Prelúdios Literários", "O Académico" e "O Instituto".

Em 1861 publicou a primeira obra em livro, Sonetos, seguida nos anos seguintes por Beatrice (1863), Fiat Lux! (1863) e Odes Modernas (1865). Em Coimbra foi presidente de uma organização secreta, de contestação à tradição académica, a "Sociedade do Raio". É também desta época o seu interesse pelas ideias socialistas e pela filosofia. Torna-se um leitor atento de Proudhon e Hegel.

Em 1865 desencadeou uma acirrada polémica com os escritores românticos, ao reagir à carta-prefácio de Castilho que apresentava o livro Poema da Mocidade, de Manuel Pinheiro Chagas. Na sua carta, Castilho criticava os jovens escritores de Coimbra, tendo Antero reagido com o famoso folheto Bom Sendo e Bom Gosto. Num segundo texto, A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, defendia a ideia de que a literatura deveria ter uma função social, por oposição ao lirismo ultra-romântico. Ramalho Ortigão envolveu-se também na polémica ao lado de Castilho, tendo mesmo travado um duelo com Antero. A "Questão Coimbrã" marca a entrada em cena de uma nova geração literária, que pretendia demarcar-se da escola romântica — a Geração de 70.

Concluído o curso, Antero voltou aos Açores por pouco tempo, instalando-se depois em Lisboa (1866). Viveu durante alguns meses em Paris, onde trabalhou como tipógrafo. A sua intenção era conhecer de perto o modo de vida das classes trabalhadoras, movido pelos ideais socialistas que então defendia.

Novamente em Lisboa, colaborou com José Fontana na organização de associações operárias e na divulgação das ideias revolucionárias. Nesta fase publicou regularmente textos de carácter político e literário nos jornais "Diário Popular", "Jornal do Comércio" e "O Primeiro de Janeiro". Foi na casa que partilhava com Jaime Batalha Reis que nasceu o chamado grupo do "Cenáculo", espécie de tertúlia onde se discutiam as novas ideias que chegavam de França.

Entre 1870 e 1872, integrou a redacção de jornais de orientação socialista: "A República" e o Pensamento Social". Em 1872 ajudou a fundar a Associação Fraternidade Operária, que era a representante em Portugal da 1ª Internacional Operária.

Dentro do mesmo espírito de intervenção, participou em 1871 na organização das "Conferências do Casino", tendo sido o autor de um dos textos mais célebres dessa série — Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos.

Em 1973 o pai faleceu e a herança permitiu a Antero viver nos anos seguintes em desafogo económico. Em 1876 faleceu a mãe. Por essa altura já ele era afectado por crises de depressão que ajudam a explicar o abrandamento da sua actividade política e literária. Em 1875 encontramo-lo a dirigir com Batalha Reis a "Revista Ocidental". Os anos seguintes são de pessimismo e desilusão, bem evidentes nos Sonetos Completos (1886).

Em 1881 instalou-se em Vila do Conde e procurou assegurar a educação das filhas de Germano Meireles, após o falecimento do amigo. Os anos seguintes foram de relativa calma, depois da agitação que a depressão lhe trouxe.

Em 1890 presidiu à Liga patriótica do Norte, um dos movimentos nacionais de reacção ao ultimato inglês, que obrigava Portugal a renunciar à ocupação das terras situadas entre Angola e Moçambique. É provável que a constatação do estado de decadência a que o país chegara tenha contribuído para agravar a sua tendência crónica para a depressão. Foi neste ano que publicou na "Revista de Portugal", dirigida por Eça de Queirós, um dos textos mais importantes da filosofia portuguesa — Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX.

No ano seguinte, regressou aos Açores, suicidando-se a 11 de Setembro (1891).

22.2.08

Detalhe da Planta Redonda de George Balck




Praça GUILHERME GOMES FERNANDES


estátua

Fotografia publicada e localizada no Flickr


Guilherme Gomes Fernandes (Baía n. 6/02/1850 - Lisboa f. 31/10/1902). Comandante dos Bombeiros Voluntários do Porto. Praça ou Largo de Sta. Teresa, vulgarmente conhecida por Praça do Pão ou Praça da Feira do Pão, à volta de 1850. Tinha anteriormente o nome de Campo da Via Sacra e Feira da Farinha (Roteiro de 1933). Recebeu a denominação actual de Guilherme Gomes Fernandes em 1915. (Arquivo da Toponímia)


Ainda sou do tempo em que havia, na própria praça e à sua volta, um grande número de farinheiros e de padarias. Nos dias de hoje só nos resta a Padaria Ribeiro e o farinheiro do Largo do Moínho de Vento.

GUILHERME GOMES FERNANDES

(Nota biográfica a partir de documento gentilmente cedido por Jorge Rodrigues)

Nasceu na Baía, Brasil em 1850 e morreu em Lisboa em 1902.

O seu monumento, bronze de Bento Cândido da Silva, data de 1915.

Estudou em Inglaterra, no colégio de Santa Maria, em Ascott, e regressou ao Porto aos 19 anos, impecável de elegância, de porte e de maneiras, atleta superior, falava cinco línguas e guiava as mais belas equipagens da capital do Norte.

Possuidor de grande fortuna, sempre a dedicou à benemerência mais perfeita, custeando a primeira organização portuguesa de bombeiros voluntários - a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto.

Comandante de 1875 a 1885 dos Voluntários.

Depois, porque as relações com os bombeiros já eram muito más, a Câmara nomeia-o Inspector-geral dos Incêndios, Chefe do Corpo de Salvação Pública (bombeiros sapadores). Ganhou em 1894 em Lyon um concurso. Mal visto como Chefe pelos seus homens que por várias vezes expuseram à Câmara as razões das suas queixas. Usava processos iníquos, violentos, vexando amiúde os seus subordinados. Os seus defeitos revelam-se pela má criação, pela prepotência, pelo arbítrio.

A propósito deste concurso de Lyon que, durante décadas, ficou célebre na memória popular, a qual atribuía todos os louros a G. G. F., diga-se que este tendo sido convidado pela entidade organizadora preparou-o no maior segredo com os Municipais.
Só dez dias antes da partida para França é que Luís Faria Guimarães presidente dos Voluntários soube da marosca. Como já não se podia inscrever obrigou o Guilherme G. F. a aceitar que os Voluntários fizessem parte da representação. Só tiveram um exercício de conjunto.
Este Faria Guimarães tinha muita influência na cidade pois era originário de uma família burguesa da indústria e notável empresário teatral. Só nestas condições poderia ter conseguido esta pressão. Afinal os Voluntários saíram-se da tarefa tão bem quanto os Municipais. Parece até que estavam mais adestrados, pois eram todos da burguesia e frequentavam o Ginásio Lauret.

Faleceu em Lisboa, a 31 de Outubro de 1902, em consequência duma melindrosa operação.


20.2.08

Rua de CEUTA

café ceuta

Fotografia localizada e publicada aqui


"A Rua de Ceuta é um exemplo de bom gosto urbanístico, ou não tivesse sido gizada no Gabinete de Urbanização do Município, então liderado (1942) pelo jovem Arménio Losa que, animado pelos ideais da arquitectura moderna, se tornaria com o tempo numa das referências da sua arte a nível nacional. Mas é, também, o exemplo acabado da falta de arrojo. E de dinheiro.

Na memória descritiva do empreendimento que deu azo à abertura daquela artéria está fundamentada a razão pela qual foi abandonado o projecto de Geovanni Muzio de prolongar a Rua de Elísio de Melo, que na altura parava na Rua do Almada, até à Praça de Guilherme Gomes Fernandes - implicava um volume avultado de expropriações - e define-se a sua directriz a partir da Praça de D. Filipa de Lencastre em direcção à Praça de Carlos Alberto. Arménio Losa e os seus colaboradores iam mais longe, ao propor que o novo arruamento deveria atravessar aquela praça em direcção ao Jardim do Carregal. Para eles, a nova Rua de Ceuta - cuja abertura só se iniciou em 1950 - justificava-se por razões "imperiosas de economia, salubridade e estética".

Que a rua foi aberta e constitui hoje em dia uma lufada de ar fresco no conturbado miolo urbano do Porto não há que ter dúvidas. O pior foi o resto em 1952, o seu prolongamento até o Carregal, passando por Carlos Alberto e cruzando a Rua de José Falcão, foi protelado por razões financeiras e, no mesmo ano, Antão de Almeida Garrett, no Plano Regulador da Cidade do Porto, fixou a Rua de Ceuta tal como hoje se apresenta. Inacabada. E assim "morreu" a ideia de Arménio Losa e do seu Gabinete, tanto mais que o Plano Auzelle (1962) confirmou o destino amputado daquela artéria, que seria rematada no topo, segundo aquele urbanista francês, com um edifício em "U". Era o abandono de um travessamento da cidade que deveria começar na Praça dos Poveiros e terminar no Carregal.

Admitiu-se, nos anos 70 do século passado, que o prolongamento da Rua de Ceuta poderia ir até Carlos Alberto ou, de forma modesta, até ao Largo do Moinho de Vento, chegando mesmo a Câmara a autorizar a construção de dois imóveis que preencheriam o gaveto com a Rua de José Falcão. Mas nada mais foi decidido quanto à continuação propriamente dita. O certo é que até Carlos Alberto já não poderá ir na medida em que para isso acontecer deveria ser demolido um dos prédios que vai ser alvo de reabilitação pela SRU - precisamente aquele onde esteve sediada a sede de campanha de Humberto Delgado, o general sem medo...

Esta história faz parte do imaginário da minha juventude na medida em que meu pai, que também foi jornalista, ma contou por mais de uma vez. Pelo menos sempre que passávamos, a caminho de casa, na Rua do Almada. Ora acontece que um dos opúsculos do Guia da Arquitectura Moderna (Porto, 2001) é dedicado inteiramente à Rua de Ceuta, com uma abundância de pormenor notável. Escrito por Francisco Barata Fernandes e por Rui Pinto, este trabalho, do qual retirei muitos dados para esta prosa, acaba de forma surpreendente "Actualmente, em 2001, retoma-se o seu prolongamento para poente: constrói-se um túnel na Praça de D. Filipa de Lencastre que ligará esta ao Jardim do Carregal. Atravessará finalmente a Praça de Carlos Alberto mas a duas dezenas de metros de profundidade". Et voilá... Só agora o túnel está a chegar, não ao Jardim do Carregal, mas à Rua de D. Manuel II, no termo de uma polémica de se lhe tirar o chapéu. E ainda dizem que o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita..."

Texto publicado aqui: http://jn.sapo.pt/2006/04/03/porto/rua_ceuta.html


Algumas referências de prédios da rua de Ceuta:

Edifício "Soares & Irmãos" - 1954
Rua de Ceuta, 16
Autoria: Arménio Losa, Cassiano Barbosa
* * *

Edifício "Livraria Divulgação"
Rua de Ceuta, 70-78
Autoria: Mário Bonito
* * *

Edifício "Café Ceuta" - 1954
Rua Ceuta, 20-34
Autoria: Carlos Neves
* * *

Edifício "Harker Summer" - 1953
Rua Ceuta, 38-48
Autoria: Agostinho Ricca
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Edifício "Molaflex" - 1955
Rua Ceuta, 60-66
Autoria: Márcio Ferreira
* * *

Edifício de Gaveto - 1954
Rua Ceuta 3-17
Autoria: José Moura da Costa
* * *

Edifício - 1956
Rua de Ceuta, 33
Autoria: Manuel Magalhães
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Edifício - 1956
Rua Ceuta, 39-43
Autoria: Júlio José de Brito
* * *

Edifício - 1956
Rua Ceuta 53-73
Autoria: Carlos Neves
* * *


Pode ver mais aqui: http://iapxx.arquitectos.pt/ que actualmente se encontra em: http://www.iap20.pt



A ermida e o seu ermitão em terras do Calvário Velho

Breve história de um desastre

"Um colega meu, de nacionalidade italiana, jornalista num grande diário de Milão, mas que também é arquitecto, deslocou-se recentemente ao Porto, por causa de um estudo sobre urbanismo medieval que anda a elaborar para uma revista da especialidade.

Por indicação de um amigo comum procurou-me e pediu-me que o acompanhasse nas pesquisas que cá veio fazer.

Era a primeira vez que nos visitava. Não conhecia a cidade. Melhor o que dela sabia recolhera-o de folhetos turísticos, na internet em um ou outro artigo publicados em revistas que se ocupam especialmente com o urbanismo medieval.

Surpreendeu-me, por isso, quando, naquele pequeno logradouro onde se cruzam, digamos assim, as ruas das Carmelitas, de Cândido dos Reis, de S. Filipe de Néri, do Conde de Vizela e dos Clérigos, ele tivesse feito esta observação reveladora, sem dúvida, de uma grande perspicácia profissional " Ora aqui está uma zona que deve ter sido profundamente alterada em menos de duzentos anos…" É que foi isso mesmo que aconteceu.

Demoliu-se o convento das Carmelitas. Acabou-se com a vergonha dos "Ferros Velhos". Arrasaram-se casebres. E, no lugar de tudo isso, construiu-se o airoso e bem delineado Bairro das Carmelitas.

Já ninguém se lembra e poucos saberão que, ainda nos começos do século XVIII, por aqui, num sitio que hoje podemos considerar como podendo ter sido à entrada da Rua de Cândido dos Reis, na esquina com as Carmelitas, havia uma pequena ermida e, muito perto, a casa do ermitão em cujo quintal fora levantado um cruzeiro que uma lamparina de azeite alumiava toda a noite. Era, aliás, por aquele tempo, a única iluminação pública do local.

A viela do Correio

Estou a falar de uma área que há 200 anos ficava da parte de fora da muralha fernandina que, verdadeiramente, só começou a ser demolida em meados do século XIX. Nos finais do século XVIII a actual Rua do Conde de Vizela era ainda um simples e tortuoso caminho a que davam o nome de Viela do Correio por viver ali perto "o correio assistente da cidade do Porto com os seus serviços postais".

A movimentada e ampla Rua dos Clérigos, por seu lado, começou por ser uma simples serventia que pela parte de fora da muralha levava até à Cruz da Cassoa, junto ao Campo das Malvas e Adro dos Enforcados onde se enterravam os criminosos que na forca expiavam as suas culpas.

A existência do Campo das Malvas ainda é referida num documento da Santa Casa da Misericórdia do ano de 1843, já no século XIX.

Por ali perto corre a Rua de Santa Teresa que obteve esta designação do mosteiro das Carmelitas de S. José e Santa Teresa, edificado no ano de 1704 junto ao campo denominado da Via Sacra ou do Calvário Velho por ser o término de uma "Via Crucis" que começava junto à Sé, passava pela Rua do Loureiro e subia a íngreme ladeira onde depois se rasgaram as ruas da Fábrica e a de Santa Teresa. Esta, anteriormente, chamava-se "Rua do Moinho de Vento junto aos arcos das Carmelitas…"

O Largo do Moinho de Vento ainda lá está. A actual Rua de S. Filipe de Néri era, desde tempos imemoriais, um simples caminho rústico que, depois de 1672, ano em que ali perto foi fundado o Recolhimento do Anjo, passou a denominar-se " viela do Recolhimento do Anjo".

Com a construção, já no século XVIII, da igreja e torre dos Clérigos, foi aberta uma outra artéria paralela aquela a Rua da Assunção assim denominada em louvor da padroeira da igreja dos Clérigos. Esta rua foi aberta em terrenos cedidos para esse efeito pela Irmandade dos Clérigos Pobres.

Mudanças de nome

E a Rua das Carmelitas ? Até ao final do século XIX praticamente não existia. O que havia era um simples caminho ladeado pelos elevados muros das cercas do convento que depois veio a dar o nome à artéria em causa e do Recolhimento do Anjo.

Em 1839 chamava-se Rua do Anjo. Depois foi Rua Nova do Anjo e ainda Rua Nova de Jesus do Anjo. Todas estas designações andavam ligadas ao tal Recolhimento do Anjo que uma tal Helena Pereira da Maia fundara, para recolhimento de meninas órfãs, filhas de pais nobres, no sitio onde depois se construiu o Mercado do Anjo, também já desaparecido.


Foi há cem anos. Vão completar-se em 28 de Novembro. Corria o ano de 1907. A Rua dos Clérigos, em termos comerciais, era uma das mais movimentadas artérias da cidade. Tinham ali as suas lojas os chamados mercadores de tecidos ou fanqueiros.

Ora foi exactamente num destes estabelecimentos, "A Vianeza", que no dia 28 de Novembro de 1907 um eléctrico entrou inesperadamente, matando uma cliente que estava a ser atendida ao balcão.

O carro eléctrico descia a Rua das Carmelitas. Ao entrar na Rua dos Clérigos descarrilou ao dar a curva e foi enfiar-se na loja. A partir daí "A Vianeza" passou a ser mais conhecida por "Casa do Eléctrico" e os seus proprietários, para lembrança do sucedido, mandaram pendurar no tecto um eléctrico em miniatura.

Uma característica desta artéria consistia na exposição ao longo dos passeios dos artigos que se vendiam nas lojas. Os produtos que se expunham eram de tal modo abundantes e tão semelhantes que parecia estarmos a apreciar o mostruário de uma só loja. "

texto de Germano Silva publicado no Jornal de Notícias



MERCADO DO BOLHÃO



postal antigo


Postal de 1932


19.2.08

Rua da AGRA

agra

Fotografia publicada no Flickr

A Rua da Agra, na Foz do Ouro, deriva a sua denominação de um nome comum - agra - que isolado, acompanhado de adjectivo ( Agra Nova, etc. ) ou de sufixo diminutivo ela ou elos ( Agrela, Agrelos ), significa fundamentalmente campos localizados longe de casas, que se diziam agros ou agras, do latim ager, agri, campo.("Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas)


"Agra, Agrela, Agro - ainda a ruralidade na toponímia
trata-se de topónimos comuns à Galiza e a Portugal. "Agra" significa "campo", lavrado, mal lavrado ou por lavrar. "Agro" tem mais a conotação de "campo lavrado". são muitos os aumentativos, os diminutivos e os derivados e compostos de um e de outro" - encontrado na: Toponímia galego-portuguesa e brasileira


Rua das CARMELITAS



Fotografia publicada no Flickr (clique para ver a localização)


No ano de 1704, o bispo D. Fr. José de Santa Maria de Saldanha fundou no campo da Via Sacra, ou do Calvário Velho, o Convento de S. José e de Santa Teresa de Carmelitas Descalças. Da sua igreja e casa conventual não resta hoje qualquer vestígio, a não ser na designação oficial das Rua das Carmelitas e de Santa Teresa. A planta redonda de Balck (1813) mostra a rua já com a denominação actual. Em 1839, Costa Lima chama-lhe Rua do Anjo. E regista também uma Travessa das Carmelitas, que parece corresponder, mais ou menos, à actual Rua do Conde de Vizela. ("Toponímia Portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas).

Segundo o Arquivo Municipal da Toponímia já se chamou: Calvário Velho (Roteiro de 1933)




CARMELITAS, RUA - Era uma rua estreita entalada entre os altos muros do convento e os do Recolhimento do Anjo, falta de alinhamento e do necessário espaço para a tornar mais apta ao trânsito e a comunicação entre duas praças. Para a alargar demoliram-se, em 1838 (?), o pátio do convento o muro e a cerca. Assim ficou a descoberto o terreno da cerca. Era de tal modo amplo que em 1845 foi marcado para ali “um jogo da bola que as autoridades proibiram.” Foi neste espaço que se instalou o mercado popular de “Os Ferros Velhos”. Teve vários nomes Rua do Anjo, Nova do Anjo e de Jesus do Anjo. Actualmente segue-se à Rua do Clérigos após a esquina com a Rua do Conde de Vizela. No final do século XIX era ladeada de árvores seculares, formando um lindo túnel com os seus ramos. Também havia destas árvores na praça dos Leões e nos Ferros Velhos. Sofreu grande modificações com a construção, em 1903, do chamado bairro das Carmelitas que integra todo o quarteirão compreendido entre a Praça Guilherme Gomes Fernandes. As ruas de Santa Teresa, Conde de Vizela e Carmelitas. Os poucos prédios que haviam resistido ao redor das instalações monásticas e mesmo o pouco que ainda restava do convento, incluindo os barracos dos Ferros Velhos, começaram a ser demolidos em meados de 1903. Logo nesse ano se começou a abrir a Rua da Galeria de Paris assim chamada porque era para ser coberta de vidro. No interior deste bairro ficam portanto esta última rua e a de Cândido Reis, primeiro chamada Rainha D. Amélia.


Notas cedidas por Jorge Rodrigues


Sobre a Livraria Lello e Irmão:

No dia 13 de Janeiro de 1906 inaugurava, no Porto, a Livraria Lello, causando grande impacto no meio cultural da época. Tratava-se, no entanto, de um espaço de tradição livreira, uma vez que já aí tinha sido fundada a Livraria Chardron em 1869. No período que decorre entre esta data e a inauguração da Livraria Lello, o edifício conheceu outros proprietários, tendo sido vendido em 1894 a José Pinto de Sousa Lello, que se dedicava ao comércio e importação de livros, possuindo já uma outra livraria na cidade, em sociedade com o seu cunhado David Lourenço Pereira. Por morte deste último, José Pinto de Sousa Lello constituiu sociedade com o seu irmão António Lello, passando a livraria a designar-se Lello & Irmão, Lda.
O edifício, de carácter ecléctico, com fachada neogótica, foi concebido segundo projecto do engenheiro Xavier Esteves, destacando-se fortemente na paisagem urbana envolvente.
A fachada apresenta um arco abatido de grandes dimensões, com entrada central e duas montras laterais. No segundo registo, três janelas rectangulares ladeadas por duas figuras pintadas por José Bielman, representando a Arte e a Ciência, respectivamente. Uma platibanda rendilhada remata as janelas, e a fachada termina em três pilastras encimadas por coruchéus, com vãos de arcaria de gosto neogótico. A decoração é complementada por motivos vegetais, formas geométricas e a designação "Lello e Irmão", sobre as janelas.
No interior, os arcos em ogiva apoiam-se nos pilares em que o escultor Romão Júnior esculpiu os bustos de escritores como Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga, Tomás Ribeiro e Guerra Junqueiro, sob baldaquinos rendilhados, de linguagem neogótica. O grande vitral, onde se pode ler a divisa "Decus in Labore", é uma das marcas mais significativas da livraria, pelas dimensões e riqueza de tons; tal como a escadaria de grandes dimensões, de acesso ao 1º piso, e os tectos trabalhados (QUARESMA 1995).
Um conjunto em que a arquitectura e os elementos decorativos deixam transparecer o estilo dominante naquele início de século. De facto, a Livraria Lello é um dos mais emblemáticos edifícios do neogótico portuense, ainda que ligeiramente tardio, mas em perfeita actualidade com algumas das tipologias estéticas da época, a que a literatura não foi alheia.
Actualmente, a Livraria modernizou-se, com o objectivo de se adaptar aos tempos presentes. Foi criada uma nova sociedade - Prólogo Livreiros, S.A. -, onde se inclui ainda um dos herdeiros da família Lello; todo o espaço foi restaurado em 1995 e a Livraria está, hoje, apta a responder aos novos desafios com um serviço actualizado e informatizado, disponibilizando ainda um espaço de galeria de arte e de tertúlia entre intelectuais, que deverá constituir um importante pólo cultural da cidade do Porto.
Rosário Carvalho
Publicado aqui
No número 100 desta rua encontra-se o chamado "Edifício das Quatro Estações" (1905) desenhado pelo arquitecto Marques da Silva.


Do mesmo arquitecto é o prédio (1917 - 1923) que faz esquina com esta rua e as ruas do Conde de Vizela e de Cândido dos Reis. O projecto inicial é de Émile Boutin.

Rua do MONTE DA LUZ

18.2.08

Rua do PADRÃO

Rua do CARMO




Fotografia publicada e localizada aqui

"D Bernarda Ferreira de Lacerda, ilustre dama portuense, poetisa muito laureada no seu tempo, autora de poemas «Espanha Libertada» e «Soledades do Buçaco», patrocinou, junto de Filipe II, a vinda dos Carmelitas para o Porto, em 1616. Logo no ano seguinte vieram os frades. Logo ao local começou a chamar-se o Carmo, abrangendo no todo ou em parte, a actual Praça Gomes Teixeira, antes Praça da Universidade, antes Praça dos Voluntários da Rainha. Hoje o topónimo está reduzido à Rua e Travessa do Carmo".("Toponímia portuense" de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas).


15.2.08

Praça GOMES TEIXEIRA

Por causa da fonte, no meio da praça, com os "leões" a jorrarem água, ainda é conhecida por: "Praça dos Leões". A fonte, oferecida pela "Lyonnaise des Eaux", nada tem de uma obra de arte, sobretudo porque foi totalmente reformulada, assim como a praça, pelas obras da "Capital da Cultura 2001".



Foi Largo do Carmo até 1835 ano em que por Deliberação Camarária de 28 de Outubro se passou a designar por Praça dos Voluntários da Raínha, posteriormente Praça da Uníversidade até 17/12/1936. Vulgarmente conhecida por Praça dos Leões. (Arquivo da Toponímia)

O arquivo da toponímia também nos dá esta visão de:
Francisco Gomes Teixeira (São Cosmado, Armamar n. 28/01/1851 - Porto f. 8/02/1933). Matemático e prof. Universitário.

Mas eu, preferi ir procurar esta ao Instituto Camões:

"Francisco Gomes Teixeira, matemático, nasceu a 28 de Janeiro de 1851 na aldeia de S. Cosmado, freguesia de Armamar, no distrito de Viseu.

Fez os estudos elementares na sua terra natal, e depois foi para o Colégio do Padre Roseira, em Lamego. Matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra em Outubro de 1869. Ainda durante o curso Gomes Teixeira escreveu o seu primeiro trabalho, que foi publicado na imprensa da Universidade, em 1871. Concluiu o curso em 1874, com a classificação máxima, de Muito Bom por Unanimidade, com 20 valores. Em 1875 fez exame de licenciado com apresentação de dissertação e logo de seguida o doutoramento que obteve também com a classificação máxima.

Em 1876 tornou-se sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e lente substituto da Faculdade de Matemática. Em 1878 foi nomeado terceiro astrónomo do Observatório Astronómico de Lisboa, mas apenas ocupou esse cargo durante cerca de quatro meses, voltando à Universidade de Coimbra.

Em 1879 foi eleito deputado pelo Partido Regenerador, tendo participado em sessões do Parlamento nesse ano e ainda em 1883 e 1884. Em Novembro de 1879 foi encarregado da cadeira de análise matemática, passando a catedrático em Fevereiro de 1880. Em 1884 Gomes Teixeira pediu transferência para a Academia Politécnica do Porto, onde dirigiu a cadeira de Cálculo diferencial e integral. Veio a ser pouco tempo depois director desta Academia, cargo que desempenhou até 1911, quando foi nomeado reitor da recém formada Universidade de Porto.

Relacionou-se com alguns dos mais destacados matemáticos de renome mundial da sua época, e publicou trabalhos em periódicos científicos de vários países. Deslocou-se várias vezes a outros países onde contactava com outros matemáticos e participava em congressos. Foi membro de várias sociedades científicas e academias de ciências, nacionais e estrangeiras.

Faleceu no Porto a 8 de Fevereiro de 1933.

Actividade Científica

Ainda estudante elaborou um trabalho intitulado Desenvolvimento das funções em fracção contínua, onde apresenta fórmulas para desenvolver as funções em fracções contínuas, que depois transforma em fracções ordinárias, e aplica as fracções contínuas ao cálculo integral e à determinação das raízes de equações, obtendo desta forma resultados mais convergentes do que pelos métodos de Newton (1643-1727) e Lagrange (1736-1813). Este trabalho chamou a atenção sobre as suas capacidades, não só na Universidade de Coimbra, como também fora dela, como é o caso de Daniel da Silva, que a partir desta publicação apoiou e incentivou os trabalhos de investigação de Gomes Teixeira.

Em 1872 Daniel da Silva apresentou na Academia das Ciências o trabalho de Gomes Teixeira Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações, onde fazia a aplicação de fracções à determinação das raízes das equações. A dissertação com que fez exame de licenciatura intitulava-se Integração das equações às derivadas parciais de segunda ordem. Nesta dissertação antecipou resultados que Andrew Forsyth (1858-1942) só mais tarde veio a conseguir obter, tendo também sido destacada por Edouard Gousat (1858-1936), o grande tratadista matemático da época. Para ocupar o lugar de lente substituto na Faculdade de Matemática elaborou a dissertação Sobre o emprego dos eixos coordenados oblíquos na mecânica analítica.

Fundou, em 1877, o Jornal de sciencias matemáticas e astronómicas, que foi publicado durante 28 anos, até ser integrado nos Anais Scientificos da Academia Politécnica do Porto. Este periódico científico desempenhou um papel muito importante na divulgação dos progressos das ciências matemáticas e astronómicas, e contribuiu igualmente para divulgar o trabalhos dos investigadores portugueses.

Em 1887, já na Academia Politécnica do Porto, publicou o Curso de análise infinitesimal, Cálculo Diferencial (um volume) onde actualizou o ensino da matemática em Portugal. Em 1889 publicou o primeiro volume do Curso de Análise infinitesimal, Cálculo integral, e o segundo volume em 1892. Nesta obra faz uma síntese dos progressos realizados pela análise e introduz um novo nível de rigor na apresentação da matemática.

Em 1895 levou o trabalho Sobre o desenvolvimento das funções em série ao concurso aberto, em 1893, pela Academia Real das Ciências de Madrid. A Academia concedeu-lhe prémio, embora fora do concurso, por ter apresentado o texto em português. Em 1897 concorreu de novo ao prémio da Academia das Ciências de Madrid com o Tratado de las curvas especiales notables, tanto planas como alabeadas (Tratado das curvas especiais notáveis, tanto planas como torsas, tendo ganho o prémio ex-aequo com Gino Loria (1862-1954). É considerada uma obra clássica de grande qualidade científica e histórica com impacto internacional, tendo sido reeditada em 1971, em Nova York, e em 1995 em Paris.

Continuou a produzir e a publicar regularmente textos científicos, em revistas científicas nacionais e estrangeiras. Após uma primeira fase dedicada à Análise, passou a prestar cada vez maior atenção à Geometria. Nos últimos anos dos seus estudos dedicou-se à História da Matemática em Portugal, tendo elaborado uma obra que constitui uma referência para os estudiosos das ciências em Portugal, a História das Matemáticas em Portugal.

Publicações

Em virtude da vasta lista de textos publicados, que quase atinge as três centenas , apresentam-se apenas as referências para alguns dos trabalhos que marcaram o início da carreira científica de Gomes Teixeira e as Obras de Matemática, que reúnem em vários volumes muitos dos textos publicados anteriormente. Para uma listagem extensa dos textos publicados devem os interessados consultar a obra de Henrique Vilhena, O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira.

Desenvolvimento das funções em fracções contínuas. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1871.

“Aplicação das fracções contínuas à determinação das raízes das equações”, Jornal de Ciências matemáticas, físicas e naturais., Lisboa, IV, 1872-73.

Integração das equações à derivadas parciais de 2ª ordem, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1875.

Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1877. Jornal fundado por Gomes Teixeira, publicado até 1905, dedicado inicialmente às Matemáticas superiores e às Matemáticas elementares, mas que a partir de certa a altura se dedicou exclusivamente às Matemáticas superiores.

Anais Científicos da Academia Politécnica do Porto, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1905-1906. Substitui, na parte referente às matemáticas, o Jornal de Ciências matemáticas e astronómicas.

Obras sobre Matemática, Coimbra, Imprensa da Universidade, vol. I, 1904; vol. II, 1906; vol. III, 1906; vol. IV, 1908; vol. V, 1909; vol. VI, 1912; vol. VII, 1915.

Panegíricos e conferências, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925.

História das matemáticas em Portugal, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1934."

Fernando Reis

Bibliografia

GUIMARÃES, Rodolfo, Biografia de Francisco Gomes Teixeira, Lisboa, Imprensa Nacional, 1914.

VILHENA, Henrique de, O Professor Doutor Francisco Gomes Teixeira (Elogio, Notas, Notas de Biografia, Bibliografia, Documentos), Lisboa, 1935.

Apontadores

História das Matemáticas em Portugal


Talvez, mais tarde, encontre maneira de falar da Academia Politécnica do Porto e do edifício que se encontra a sul desta praça.