24.2.08

Rua ANTERO DE QUENTAL


Fotografia de Zwigmar publicada e localizada aqui

Sinceros agradecimentos à cedência da fotografia


Diz-nos Horácio Marçal, na sua monografia de Paranhos, que até 1875 «teve o antigo lugar do Sério a designação de travessa do Campo Lindo; a seguir foi Rua da Rainha, e hoje é Rua de Antero Quental». Com este nome de Rua da Rainha encontramos as plantas de Mangeon e de 1902. ("Toponímia Portuense" de Eugénio da Cunha e Freitas)

Anteriormente teve o nome de Rua da Raínha.

Curiosidade sobre esta rua:

Era nesta rua onde se encontrava o antigo (primeiro?) campo de futebol da do F.C.Porto. O campo, relvado havia sido inaugurado em 6 de Dezembro de 1908 com um jogo em que o Porto venceu o Leixões por 6-3. Foi transferido em 4 de Novembro de 1912 para a Rua da Constituição onde ainda existe.

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Antero Tarquínio de Quental era originário dos Açores, tendo nascido em Ponta Delgada a 18 de Abril de 1842. É possível que a tradição familiar tenha contribuído para a sua inclinação humanística, dado que entre os seus antepassados havia um pregador de mérito, P. Bartolomeu de Quental, e um poeta amigo de Bocage, o avô André Ponte de Quental. Recebeu da família, principalmente de sua mãe, uma educação religiosa e tradicional, que viria a abandonar mais tarde, nos seus aspectos mais visíveis, se bem que tenha conservado até ao fim um fundo de religiosidade.

Frequentou, em 1852, o Colégio do Pórtico, em Ponta delgado, na altura em que Castilho era o seu director. Veio para o continente em 1855, matriculando-se inicialmente no Colégio de S. Bento, em Coimbra, frequentando depois o curso de direito, entre 1858 e 1864. Durante a juventude publicou diversos textos nos jornais "Prelúdios Literários", "O Académico" e "O Instituto".

Em 1861 publicou a primeira obra em livro, Sonetos, seguida nos anos seguintes por Beatrice (1863), Fiat Lux! (1863) e Odes Modernas (1865). Em Coimbra foi presidente de uma organização secreta, de contestação à tradição académica, a "Sociedade do Raio". É também desta época o seu interesse pelas ideias socialistas e pela filosofia. Torna-se um leitor atento de Proudhon e Hegel.

Em 1865 desencadeou uma acirrada polémica com os escritores românticos, ao reagir à carta-prefácio de Castilho que apresentava o livro Poema da Mocidade, de Manuel Pinheiro Chagas. Na sua carta, Castilho criticava os jovens escritores de Coimbra, tendo Antero reagido com o famoso folheto Bom Sendo e Bom Gosto. Num segundo texto, A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, defendia a ideia de que a literatura deveria ter uma função social, por oposição ao lirismo ultra-romântico. Ramalho Ortigão envolveu-se também na polémica ao lado de Castilho, tendo mesmo travado um duelo com Antero. A "Questão Coimbrã" marca a entrada em cena de uma nova geração literária, que pretendia demarcar-se da escola romântica — a Geração de 70.

Concluído o curso, Antero voltou aos Açores por pouco tempo, instalando-se depois em Lisboa (1866). Viveu durante alguns meses em Paris, onde trabalhou como tipógrafo. A sua intenção era conhecer de perto o modo de vida das classes trabalhadoras, movido pelos ideais socialistas que então defendia.

Novamente em Lisboa, colaborou com José Fontana na organização de associações operárias e na divulgação das ideias revolucionárias. Nesta fase publicou regularmente textos de carácter político e literário nos jornais "Diário Popular", "Jornal do Comércio" e "O Primeiro de Janeiro". Foi na casa que partilhava com Jaime Batalha Reis que nasceu o chamado grupo do "Cenáculo", espécie de tertúlia onde se discutiam as novas ideias que chegavam de França.

Entre 1870 e 1872, integrou a redacção de jornais de orientação socialista: "A República" e o Pensamento Social". Em 1872 ajudou a fundar a Associação Fraternidade Operária, que era a representante em Portugal da 1ª Internacional Operária.

Dentro do mesmo espírito de intervenção, participou em 1871 na organização das "Conferências do Casino", tendo sido o autor de um dos textos mais célebres dessa série — Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos.

Em 1973 o pai faleceu e a herança permitiu a Antero viver nos anos seguintes em desafogo económico. Em 1876 faleceu a mãe. Por essa altura já ele era afectado por crises de depressão que ajudam a explicar o abrandamento da sua actividade política e literária. Em 1875 encontramo-lo a dirigir com Batalha Reis a "Revista Ocidental". Os anos seguintes são de pessimismo e desilusão, bem evidentes nos Sonetos Completos (1886).

Em 1881 instalou-se em Vila do Conde e procurou assegurar a educação das filhas de Germano Meireles, após o falecimento do amigo. Os anos seguintes foram de relativa calma, depois da agitação que a depressão lhe trouxe.

Em 1890 presidiu à Liga patriótica do Norte, um dos movimentos nacionais de reacção ao ultimato inglês, que obrigava Portugal a renunciar à ocupação das terras situadas entre Angola e Moçambique. É provável que a constatação do estado de decadência a que o país chegara tenha contribuído para agravar a sua tendência crónica para a depressão. Foi neste ano que publicou na "Revista de Portugal", dirigida por Eça de Queirós, um dos textos mais importantes da filosofia portuguesa — Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX.

No ano seguinte, regressou aos Açores, suicidando-se a 11 de Setembro (1891).

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