6.2.08

Rua RAMALHO ORTIGÃO



Fotografia publicada e localizada no Flickr



O edifício do gaveto com a rua do Almada, onde se encontra a Papelaria Nelita, também conhecido pelo nome de "António Soares Marinho" foi projectado em 1942 pelos arquitectos JofreAntónio Justino e Rogério de Azevedo. 


nelita
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José Duarte Ramalho Ortigão - algumas notas

n. 24 de Outubro de 1836.
f. 27 de Setembro de 1915.



Escritor, jornalista, bibliotecário da Biblioteca da Ajuda, oficial da secretaria da Academia Real das Ciências, etc.

N. no Porto a 21 de Novembro de 1836, sendo filho do professor Joaquim da Costa Ramalho Ortigão, oriundo duma nobre família do Algarve.

Fez os seus estudos preparatórios no Porto, e dedicou-se também ao magistério como seu pai. Leccionou no colégio da Lapa, que seu pai dirigia, e sentindo uma grande inclinação para as letras, entrou para a redacção do Jornal do Porto, tomando a seu cargo a secção noticiosa e folhetim. Naquela folha colaboravam então os políticos mais em evidência. Ramalho Ortigão logo se afirmou um espírito cintilante e pitoresco, revelando as altas qualidades que lhe deviam dar nas letras um lugar tão especial. Lançado na vida do jornalismo, e tendo sido nomeado oficial da Academia Real das Ciências, veio em 1879 para Lisboa estabelecer definitiva residência.

Colaborou então nos seguintes jornais: Revolução de Setembro, Diário de Notícias, Diário Popular, Jornal do Comércio, Diário da Manhã, etc. A sua prosa, cheia de plasticidade e brilho, a riqueza do seu vocabulário, a graça tão picante e fina do seu comentário, lhe criaram a reputação de eminente escritor. Foi convidado a escrever cartas semanais para a Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro. De colaboração com o já falecido escritor Eça de Queirós, escreveu em 1871 o interessante romance O mistério da estrada de Sintra, que se publicou em folhetins no Diário de Notícias, e mais tarde foi reimpresso numa colecção romântica editada pela Parceria Pereira. Este livro motivou um grande movimento de curiosidade, por se julgar que os factos ali narrados eram verdadeiros e não fantasiados. No mesmo ano de 1871, também de colaboração com o citado escritor, fundou a publicação intitulada: As Farpas, chronica mensal da politica, das letras e dos costumes. Esta colecção que consta de 39 volumes, foi muito apreciada por toda a imprensa, e a ela se referiram também diferentes cronistas estrangeiros com palavras elogiosas. De Ramalho Ortigão conhecemos os seguintes livros: Litteratura de hoje, Porto, 1866; Em Paris, Porto, 1868; são estudos e observações do autor na digressão que fizera a Paris por ocasião da exposição universal de 1867; Contos côr de rosa, Lisboa, 1870; este volume contém: A dança, A morte de Rosinha, Gastão, Ella e elle, Uma visita de pezames, e Na Aldeia; Hygiene da alma, pelo barão de Feuchterleben, versão portugueza; Lisboa, 1873; É o tomo I da Bibliotheca dos livros uteis, da que foi editor o antigo livreiro António Maria Pereira; Ginx's Baby, versão portuguesa, 1874; 2 tomos; constituem os n.os 9 e 10 da Bibliotheca da Actualidade, do Porto; Banhos de caldas e aguas mineraes, Porto, 1875, com gravuras intercaladas no texto e 13 estampas em separado; tem uma introdução escrita por Júlio César Machado; Notas de viagem, Rio de Janeiro, 1878; saíra primeiro no jornal a Gazeta de Notícias da mesma cidade; As praias de Portugal; guia do banhista e do viajante, Porto, 1876; com 10 estampas; La Rénaissance et les Lusiades; préface d'une nouvelle édition des Lusiades, faite par le «Cabinet Portugais de Lecture» de Rio de Janeiro, etc.; Traduit du portugais par F. F. Steenakers, Lisbonne, 1880; é a versão do prólogo de que fora incumbido Ramalho Ortigão para a edição luxuosa dos Lusíadas, mandada fazer por conta do Gabinete Português de Leitura, do Rio de Janeiro, em comemoração do tricentenário de Camões; A instrucção secundaria na camara dos senhores deputados, Rio de Jaueiro, 1883; John Bull, A Hollanda, O Culto da Arte em Portugal, etc. Também lhe pertencem o prólogo da edição das Primaveras, de Casimiro de Abreu, feita pelo editor portuense Cruz Coutinho; e um estudo francês, intitulado Coup d'oeil sur Ia civilisation au Brésil, fazendo parte do Catálogo da Exposição do Brasil em Amesterdão. Escreveu nos primeiros anos do jornal satírico e de caricaturas Antonio Maria, fundado por Bordalo Pinheiro; e também publicou algumas biografias humorísticas no Album das Glorias, etc., sob o pseudónimo de João Ri baixo. Ramalho Ortigão foi um dos jornalistas que trabalharam com mais entusiasmo para a celebração do tricentenário de Camões, fazendo parte da comissão executiva das brilhantes festas que se realizaram em Lisboa, no ano de 1880.

Ele e Pinheiro Chagas foram os delegados que o governo mandou como representantes de Portugal, em 1893, à Exposição Histórico Europeia de Madrid, por ocasião das festas comemorativas do centenário de Cristóvão Colombo. Traduziu a comédia em 4 actos, de George Sand O marquez de Villemer que se representou no teatro de D. Maria lI. Também publicou algumas poesias no antigo jornal portuense A Grinalda. Ramalho Ortigão tem viajado muito, e o seu excelente livro Hollanda, já, mencionado, é a descrição duma dessas viagens. Ainda que avançado em idade, o seu espírito não envelhece. Diz um dos seus biógrafos:

«Ramalho não acusa nem cansaço nem esmorecimento. É o mesmo artista de sempre, o burilador delicioso da frase, o anotador pitoresco e alegre, o crítico austero e delicado, o ironista delicioso e brilhante. Duma grande exuberância de fantasia e conhecendo perfeitamente a sua língua, que maneja com abundância e gosto, Ramalho é um dos escritores mais notáveis da sua geração. A sua prosa elegante, tersa, plástica, cheia de cor e de harmonia, é inconfundível como a sua personalidade. Alto, direito, forte, duma solidez perfeita e duma robustez magnífica, Ramalho com mais de 70 anos é ainda um rapaz, ágil, vibrante, e com o mesmo espírito e a mesma vivacidade dos anos juvenis. Ao passo que em volta de si tudo e todos envelhecem numa tristeza apagada, Ramalho como que rejuvenesce realizando o milagre da suprema força na idade em que ainda os mais animosos se deixam vencer e dominar pelos achaques e pelas desilusões da vida. Varão magnífico, poucos são os rapazes que possam competir com ele em louçanias de espírito e em robustez física. Os seus hábitos de vida simples e confortável, a sua higiene rigorosa, à inglesa, a sua alegria constante deram-lhe essa consistência formidável que o assentaram com firmeza na vida.»

Ramalho Ortigão foi nomeado há bastantes anos bibliotecário da Biblioteca da Ajuda. Por decreto de 23 de Janeiro de 1901 foi agraciado com o titulo de académico de mérito da Academia Real de Belas Artes e por decreto de 30 de Novembro de 1907 foi nomeado vogal do Conselho Superior de Instrução Pública por parte da mesma Academia.


Transcrito por Manuel Amaral e publicado aqui


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